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    — Perdoe-me, padre, pois eu falhei. Não consegui trazê-las de volta.

    O general Kézar estava sentado ao lado do confessionário com semblante envergonhado, cabeça baixa e olhos fixos num ponto aleatório do chão.

    — Não há o que perdoar, garoto. — A voz do padre veio compassiva de dentro do confessionário. — Todos falhamos às vezes. Mas atenção! Erros não mais serão tolerados. Deus é bom, mas é justo e sabe punir aqueles que o desagradam.

    — Dê-me mais uma chance, padre! Eu não falharei. Certamente matarei aquela súcubo e trarei as garotas de volta, mesmo que precise arrastá-las pelos cabelos — disse o general, com ódio nos olhos, passando a mão pelo pulso enfaixado sem a mão.

    — Não. Você já teve sua chance. Chame aquele a quem chamam de Mercenário Possuído, o Lúkin Ivanov.

    — Mas, padre, um mercenário? Um homem que não liga para os propósitos sagrados?! Um homem que deu permissão a um espírito demoníaco para habitar dentro do próprio corpo?! E isso em troca de poder? O corpo dele é habitado por um demônio, padre! Ele é um profano! Um pecador maldito! Não devíamos nos envolver com essa gente estranha. Ele não é digno de fazer o trabalho de Deus!

    O padre estalou a língua, irritado.

    — Deixe que os profanos lutem até a morte, garoto. Depois nós só precisamos matar os sobreviventes. Deus trabalha por caminhos misteriosos e, às vezes, até um possuído pode ser útil.

    Kézar quis insistir em seu protesto, mas mudou de ideia. Sabia que não adiantaria. Levantou-se e foi para a saída, mas não sem antes admirar um pouco mais a arquitetura luxuosa do templo.

    Do lado de fora, o cenário era outro. O luxo e brilho dava lugar ao chão de terra e pessoas sujas de trabalho nas plantações. No centro do pátio, havia um poste de madeira usado em punições físicas.

    Kézar suspirou. Era hora de preparar o pacote com as instruções para o Mercenário Possuído.

    *

    Os braços estavam erguidos, presos por braceletes ligados às correntes. Os dedos dos pés tocavam o chão, mas não o suficiente para que ele pudesse apoiar o peso do corpo.

    A pressão que os braceletes de ferro faziam contra seus pulsos parecia que estilhaçaria seus ossos e arrancaria as mãos a qualquer momento. Como estava nu, incontáveis hematomas, cortes e todo tipo de ferimento podia ser visto.

    Diante dele havia um outro, musculoso, de olhos sádicos, desferindo socos contra o abdome do acorrentado.

    A cada soco, o corpo do pobre se contorcia e ele grunhia de dor.

    — Onde está? Onde está o cristal? — disse o agressor entre dentes cerrados.

    — Eu não… droga… eu já disse que não sei. — A voz do pobre saiu fraca, com uma tosse tão fraca quanto.

    — Então vai continuar apanhando.

    E a sessão de socos continuou feroz por mais alguns minutos. O desafortunado homem parecia não se incomodar mais com os golpes, ele só esperava a morte. Ele queria a morte.

    — Droga! — Lúkin Ivanov, que assistia tudo de uma cadeira no canto, levantou-se com um suspiro. — Eu tô entediado.

    Ele caminhou até o monte de músculos diante do acorrentado e deu tapinhas em seu ombro.

    — Vá descansar esses braços, Andrei.

    Lúkin olhou para o homem acorrentado e suspirou de novo.

    Nesse momento, a porta se abriu e uma garota entrou. Ela vestia um terninho preto e tinha uma bela franja sobre a testa. Trazia consigo uma pequena caixa de madeira.

    — Lúkin, chegou uma caixa de missão. É da Cruz do Atalaia.

    — A Cruz? Há quanto tempo! Quem será que eles querem que eu mate agora?

    A garota deu de ombros.

    — Já sabe o que fazer, Kath.

    Ela assentiu. Já havia feito centenas de vezes. Antes de sair, porém, olhou para o homem acorrentado no meio da sala com interesse. Passou a língua pelos lábios e sentiu um calor subindo pelas coxas até certas partes.

    — Tira umas fotos legais desse aí, Lúkin. Ele é bem gostoso.

    Ela se virou e saiu pela porta. Levou a caixa para seu escritório para abrí-la, ver qual seria a missão, checar se uma quantidade mínima de bitcoins já havia sido transferida, identidade do alvo, possível localização, fazer uma busca por satélite e iniciar a invasão das devidas câmeras de segurança, e mais o que for necessário. Uma amostra do sangue do alvo, quando presente, seria de grande ajuda. Assim poderiam usar a bússola de Leif.

    Logo que Kath saiu, Ivanov olhou para o acorrentado e suspirou mais uma vez.

    — Gostoso? A kath tem gostos estranhos, isso sim!

    — Gostos estranhos é pouco — disse Andrei. — Essa mulher é encapetada, isso sim! Onde é que já se viu ter tesão por foto de defunto?!

    Ivanov franziu o cenho. Andrei abaixou o rosto, envergonhado, lembrando da situação de seu chefe.

    — Não que ser encapetado seja ruim. Pelo contrário! No senhor isso até tem um certo charme!

    Possuído gargalhou.

    — Relaxa, Andrei. A Kath tem algo de encapetada mesmo.

     Lúkin rodeou o homem acorrentado, pondo-se atrás dele, e fazendo a mão em forma de garra, a pressionou contra as costas do homem logo embaixo da coluna cervical.

    Ele podia sentir as vértebras de sua vítima.

    O homem acorrentado se debatia e grunhia.

    Os dedos de Lúkin estavam afundando na carne machucada, penetrando como espinho. O sangue vermelho vivo escorreu pelas costas e manchou o chão.

    O homem já não mais grunhia, mas gritava de dor e desespero, se debatia, as correntes tilintavam ferozes. Os pés desesperados tentavam encontrar o chão, mas só roçavam nele.

    Lúkin afundou os dedos dentro da carne do homem e pôde segurar com a própria mão uma vértebra.

    — Sua última chance. Onde está o cristal?

    — Arrrrg! Por favor! Eu não sei! Eu não sei! Mas… mas eu sei quem sabe! Por favor!

    — Olha! Temos uma evolução aqui. Me dá um nome.

    — Pontes! Tenente coronel Juan Pontes! Arrrrg! Foi ele! Ele ficou com o cristal desde que aqueles garimpeiros filhos da puta desenterraram aquela merda do subsolo! Droga! Agora eu já falei tudo o que sei.

    — Acredito em você — disse Lúkin Ivanov, com olhos tranquilos e um sorriso que transmite paz.

    Ele puxou a vértebra das costas do homem, fazendo a coluna cervical saltar pra fora do pescoço junto de algumas vértebras torácicas.

    Sangue espirrou para todo lado, manchando a roupa e sujando o rosto do assassino.

    O homem deu um último e dolorido grito que logo se extinguiu. Ivanov puxou mais uma vez, até trazer para fora do corpo toda a coluna vertebral.

    A coluna ficou exposta, pendurada no corpo do homem como um rabo, enquanto uma poça com sangue e gosma esbranquiçada se formava no chão.

    — Eu vou tomar um banho — disse Lúkin, para Andrei. — Tire as fotos para a Kath, por favor, e depois vamos todos nos encontrar no escritório dela.

    Andrei assentiu e puxou o celular do bolso.

    Ivanov inspirou o ar com prazer.

    — Sinto que as coisas vão ficar bem violentas daqui pra frente — disse, com olhar apático.

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