Capítulo 339 - Rede de Mana
O alto escalão do Batalhão rapidamente se reuniu na sala de reuniões. Os Oficiais e patentes mais altas estavam sentados na grande mesa retangular, com Fernando na ponta. Os Cabos estavam em pé, localizados na ponta oposta ao seu jovem Tenente, devido a sua quantidade, formavam um semicírculo ao redor da mesa.
Mesmo sem que Fernando dissesse qualquer coisa, todos sabiam o motivo da reunião. A saída deles de Belai já estava programada, assim como o início do avanço dos exércitos dos Leões Dourados, com eles estando entre aqueles que serviriam como ponta de lança.
Com um rosto sério, Fernando olhou para todos na sala.
“Vamos partir pela manhã, antes do exército principal deixar a cidade. Acredito que todos já tenham feito seus preparativos.” disse.
Todos os Oficiais, bem como os Cabos, assentiram em resposta. Vendo isso, Fernando olhou para Kelly.
“Trouxe o que eu pedi?”
A garota rapidamente se levantou em resposta.
“Sim, líder.” disse, movendo o pulso. Logo vários cubos apareceram sobre a grande mesa, assim como alguns objetos reluzentes em formato hexagonal. Após isso, voltou a se sentar.
Todos olharam surpresos, sem entender o que estava acontecendo.
Nesse momento foi Ilgner quem se levantou, causando em todos uma sensação de estranhamento, já que ele, mesmo sendo um Subtenente, raramente se envolvia com qualquer coisa que não fosse treinamento.
“Agora que somos um Batalhão, não podemos mais agir como no passado, precisamos passar por uma reestruturação interna em relação a algumas coisas.” O bárbaro loiro disse, olhando para as pessoas na sala. “Primeiro, comunicação. Até então, éramos um Pelotão recém nomeado por causa da guerra, e agora somos um Batalhão que foi criado recentemente no meio dela. Por causa disso, não passamos pela avaliação da guarnição e não temos todo o aparato que deveríamos. Temos usado Pedras de Comunicação com o Cubo Comunicador do Tenente como centro de triagem da comunicação, mas isso não vai mais funcionar.”
Ao dizer isso, pegou um dos cubos na mesa e jogou em direção a Lina, que ficou sem entender.
“Como vocês sabem, Cubos Comunicadores são artigos destinados a Cabos e patentes superiores, e como nosso pequeno líder aqui tem bolsos fundos…” disse, olhando para Fernando com um largo sorriso, que apenas levantou os lábios, forçando um meio sorriso, em resposta. “Vamos mudar o esquema de comunicação. A partir de agora, toda a cadeia de comando do Batalhão Zero, com início nos Cabos, terá seu próprio Cubo Comunicador, com Pedras de Comunicação conectadas, que serão entregues aos Soldados de cada Esquadrão. Dessa forma, teremos uma rede mais complexa e interligada, que dificilmente sofrerá interferência no campo de batalha.”
Todos olharam uns para os outros, sem acreditar no que estavam ouvindo.
Normalmente, os Cabos deveriam receber Cubos Comunicadores dos mais simples, com uma faixa de alcance de no máximo 1km. Mas estes Cubos de alta qualidade que Fernando comprou cobriam um raio pelo menos três vezes maior, com seu custo sendo igualmente proporcional, chegando a custar, cada um, cerca de 200 moedas de prata. Claro, poucos ali sabiam da real qualidade dos Cubos a sua frente.
Trayan, que estava em silêncio, se comparado aos demais, não pareceu estar tão contente com essa mudança.
“Eu entendo que isso é benéfico, mas não acha um desperdício de dinheiro gastar tanto dos nossos fundos com algo que seria fornecido pela legião futuramente? Além disso, mesmo que todos tenham Cubos Comunicadores, se não estivermos próximos a uma cidade aliada, nossa comunicação ainda será falha. Como não há Redes de Mana para distribuição de informações, o máximo que vamos conseguir fazer é nos comunicar com Cubos e Pedrasque estão conectados e dentro de um raio de alcance limitado.” falou, com um rosto apático.
Lenny e alguns outros, que entendiam bem como os Cubos Comunicadores funcionavam, não ficaram surpresos, apenas aqueles menos informados pareciam não estar cientes dessa limitação da ferramenta.
“Isso seria verdade, se não tivéssemos isso.” Ilgner disse, pegando um objeto hexagonal levemente reluzente sobre a mesa. “Essa é uma Rede de Mana Móvel. Com ela, podemos estabelecer um fluxo de comunicação local, sem depender das Redes de Mana de cidades.”
Dessa vez, ao ouvir isso, os olhos de Trayan se arregalaram, cheios de perplexidade.
“Isso… É uma Rede de Mana Móvel?” falou, com um rosto incrédulo.
Lenny e Gabriel, como pessoas experientes no mundo de Avalon, também entenderam do que se tratava, e seus rostos estavam tão surpresos quanto o de Trayan.
“Essa coisa, ela não custa, tipo, muito dinheiro?” Lenny perguntou, se aproximando rapidamente e arrancando um dos seis objetos hexagonais sobre a mesa, então começou a brincar com ele como se fosse uma bola de tênis.
Trayan, ao ver isso, sentiu todo seu corpo tremer.
“Larga isso!” gritou alarmado, se levantando e arrancando o objeto das mãos do sujeito. “Se quebrar essa coisa, mesmo que você se venda, não vai conseguir pagá-la!”
Ouvindo essa afirmação e a entonação de medo de Trayan, todos não puderam deixar de olhar para os objetos sobre a mesa com novos olhos. O que antes parecia ser só mais um item aleatório, na realidade era algo de alto valor.
“Você está certo, é bem caro. O preço varia de acordo com a qualidade, mas não custam menos que 3 moedas de ouro.” Ilgner disse, com os braços cruzados.
Quando essas palavras foram ditas, toda a sala caiu em completo silêncio por um momento.
Isso era equivalente a 25 meses de salário de um Oficial.
“Isso é uma piada, né?” Emily falou, com seus olhos focados nas Redes de Mana Móveis.
“Não, nem um pouco, ruivinha.” Ilgner respondeu, com um sorriso satisfeito, ao ver os olhos incrédulos nos rostos das pessoas.
A verdade é que nem ele conseguia acreditar. Mesmo em sua antiga Guilda Guarda-Chuvas, que havia reunido uma quantidade razoável de recursos, eles só conseguiram comprar uma única Rede de Mana Móvel. Isso depois de passar por um longo período de tempo tentando reunir fundos.
Mas apesar de ser caro, ele tinha que admitir que era absolutamente necessário ter uma no campo de batalha. A diferença entre um exército com meios de comunicação e um sem, era como um homem saudável lutando com um cego. Por mais que o cego se esforçasse, dificilmente se sobressairia.
Devido a isso, mesmo sabendo que um batalhão recém formado não teria tantos fundos, ainda mais com as inovações e aumento de salários, Ilgner ainda resolveu solicitar a compra de uma Rede de Mana Móvel a Fernando.
Ele estava pronto para uma discussão acalorada com o rapaz e não planejava desistir disso, mas não imaginava que o Jovem Tenente simplesmente aceitaria seu pedido sem pestanejar. Não só isso, ele não comprou uma única Rede de Mana Móvel, mas seis!
No fim, os gastos totais com a nova rede de comunicação eram de 24000 moedas de prata, um valor absurdo. Mesmo que as Redes fossem de baixa qualidade, o que era suficiente para um batalhão, cada uma havia custado 3 moedas de ouro. Já os Cubos, de alta qualidade, cada um valia cerca de 200 moedas de prata, com um total de 30 deles para os membros do alto comando que ainda não tinham.
“As Redes de Mana Móvel serão distribuídas entre os cinco Pelotões, ou seja, cada Oficial ficará a cargo de uma. Kelly, Trayan, Archie, Noah e Gabriel, vocês precisam manter isso a salvo, custe o que custar. A comunicação é vital para nossa sobrevivência, ainda mais atuando em território dominado pelo inimigo como tropas exploratórias.” Ilgner disse, com uma forte entonação.
Ouvindo o sujeito narigudo e de cabelo loiro ondulado, ninguém na sala conseguia associá-lo ao Ilgner que conheciam. O bárbaro que costumava se gabar de sua força e fazer todos sofrerem nos treinos sobre-humano.
Fernando estava contente ao ver Ilgner assumindo responsabilidades. Como um sujeito experiente, sua contribuição era de grande valia para o Batalhão Zero.
Kelly, Trayan, Archie, Noah e Gabriel. Cada um levantou-se de sua cadeira, pegando um dos objetos hexagonais sobre a mesa. Suas expressões ansiosas mostravam que sabiam do peso de sua missão.
“Obviamente, não preciso dizer que informações sobre a posse ou quantidade de Redes de Mana Móveis que possuímos não deve jamais sair dessa sala.” Ilgner disse, com uma expressão desleixada, mas que carregava uma intenção de ameaça, com seu olhar lentamente passando por várias pessoas.
A verdade é que, mais cedo ou mais tarde, informações sobre o Batalhão Zero possuir uma Rede de Mana Móvel vazaria, isso era inevitável. Se ficarem longe de cidades aliadas, e ainda sim, o Batalhão conseguir manter a conexão estável fora do alcance das Redes de Mana Móvel do próprio exército, o fato estaria exposto. O que Ilgner planejava era evitar que a informação de que possuíam mais de uma rede vazasse.
“Ei, Subtenente narigudo, ainda tem uma.” Emily falou, apontando para a última Rede.
Ouvindo isso, Ilgner ficou irritado, franzindo a testa e se sentando em silêncio.
“Poderia ser que vocês… Pra mim?” A pequena ruiva disse entusiasmada, como se tivesse encontrado um novo brinquedo. “Eu sei que sou muito querida, mas isso não é demais? Mas tudo bem, eu aceito com gratid-”
Plac!
“Ai!”
Assim que a pequena ruiva avançou para pegar a Rede de Mana Móvel, Karol acertou-a com um tapa na cabeça.
“Sua bruta!” reclamou, esfregando a nuca.
“Anãzinha atrevida.” Karol disse, rindo. “Não é óbvio quem fica com a última?” Ao dizer isso, olhou na direção de Fernando.
Logo todos olharam para o Jovem Tenente, concordando. Quem mais seria apto a carregar algo tão importante se não o próprio líder?
Argos pegou o objeto, passando para Theodora, que entregou a Fernando. Segurando-o na mão, olhou para o objeto que reluzia levemente em azul, então sentiu o poderoso fluxo de mana contido naquilo.
Como algo assim é feito? pensou, se arrepiando ao sentir a pressão do mana condensado dentro daquilo. Então lembrou-se do que Dakota havia dito-lhe no passado, sobre as Redes de Mana serem construídas por meio de poderosas matrizes.
Com o portador da última Rede sendo definido, o restante dos membros que ainda não tinham Cubos Comunicadores pegaram os seus, então conectaram uns aos outros. Com isso, o objetivo central da reunião havia sido alcançado.
“E quanto as pessoas lá fora? O que devemos fazer?” Noah perguntou, com uma expressão complicada.
Por mais que tentassem afastá-los, os indivíduos recusaram-se a partir, mesmo quando ameaçaram de usar violência.
“Apenas ignore-os, os fracos não têm direito a nada, essa é a lei de Avalon.” Theodora falou, com desdém.
Ouvindo isso, Fernando balançou a cabeça. Como alguém treinada desde a tenra idade pra matar e cumprir missões, a mulher tinha dificuldades em sentir coisas como compaixão a estranhos.
“Eles só querem ver a família, me parece um pouco cruel não fazer nada a respeito.” Karol falou.
“Família? Que família? Só há cadáveres multilados e desmembrados ao sul dessas muralhas.” Theodora respondeu, revirando os olhos.
Com essas palavras, todos ficaram em silêncio. No caminho de Meridai para Belai, mesmo sendo por trás das linhas de frente, grupos dispersos de Orcs haviam conseguido se infiltrar, dizimando várias vilas. Todos eles haviam visto com seus próprios olhos o massacre realizado.
Quando todos pensaram que o assunto estava decidido, a voz de Fernando levantou-se.
“Traga todos para dentro, eu conversarei com eles.” disse, com um rosto inexpressivo.
Theodora, Gabriel e alguns outros olharam para o jovem com olhos surpresos.
“Fernando, isso não é aconselhável… Temos que nos mover rápido, essas pessoas vão nos atrasar.” Noah disse. Mesmo que parecesse cruel, era a realidade. “Levá-los conosco vai ser um risco, tanto para nós quanto para eles.”
Fernando olhou com um rosto calmo para o sujeito.
“Se não os levarmos, eles irão por conta própria e acabarão tendo uma morte sem sentido. Além disso, eu tenho uso para essas pessoas.”
Ouvindo isso, Noah queria dizer algo, mas vendo a expressão inabalável no rosto do Jovem rapaz, abaixou a cabeça.
“Então, essa reunião está encerrada, façam seus preparativos, sairemos em breve.” Ilgner disse.
Quando todos estavam prestes a começar a sair, a expressão de Argos mudou, quando um de seus Cubos Comunicador brilhou. Era um dos que ele mantinha, conectado a Cubos e Pedras de vários ‘ratos’. Pessoas do submundo que ele contratava para recolher informações e fazer alguns trabalhos sigilosos. A maioria era gente que não tinha muito a perder e toparia qualquer coisa, contanto que fossem pagos.
Com um rosto ansioso e hesitante, o homem se levantou repentinamente.
“Um momento. Tenho algo a relatar.” disse, com uma voz alta, fazendo todos prestarem atenção nele. “Acabei de receber algumas notícias, e… Não são boas.” falou, com uma expressão sombria.
Ouvindo isso, todos olharam para o sujeito, com dúvidas em seus rostos.
“O que aconteceu? Os Orcs moveram-se primeiro?” Ilgner perguntou, com uma expressão séria. Se o inimigo agisse antes da incursão, as vidas deles seriam muito mais difíceis nos dias seguintes.
Argos manteve-se em silêncio por alguns segundos, então, no final, balançou a cabeça, em negação, fazendo com que todos ficassem insertos e ansiosos com sua atitude.
“O problema dessa vez não são os inimigos no Sul, mas no Norte.” disse, olhando para o seu Tenente com uma expressão franzida. “Os Elfos Negros declararam guerra a humanidade. Mais de vinte cidades no Norte caíram, e… Vento Amarelo parece estar entre elas.”
Crack!
A grande mesa de pedra estalou, com rachaduras semelhantes a teias de aranha se espalhando, com seu início sendo uma mão, fincada ferozmente. Era a mão de Fernando, que tinha uma expressão bestial em seu rosto.
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