Índice de Capítulo

    Fernando, após as tropas se prepararem, reuniu os Cabos e patentes superiores em um espaço aberto, onde estava aguardando por novas ordens do QG, o que deixou muitos dos membros centrais do Batalhão irritados, pois já fazia muito tempo desde que o seu Tenente havia enviado a mensagem e já estava prestes a amanhecer.

    “Precisamos avançar! Quanto tempo vai levar até o exército principal nos alcançar? Até lá, eles…” Louise falou alto e com uma voz trêmula.

    Todos olharam para a garota loira com pena, pois sabiam de sua relação com Archie, um dos membros da Equipe de infiltração.

    “Você só diz isso porque seu namorado está lá. Mas o que você quer que façamos? Mesmo que cheguemos nas coordenadas passadas, como vamos enfrentar um acampamento inteiro?” Ilgner perguntou, de forma sarcástica.

    Louise tinha uma expressão furiosa e ao mesmo tempo desesperada, então olhou para Tom. Os dois tinham pessoas próximas nessa missão.

    “Isso não está certo! Você também pensa o mesmo que eu, Sargento?”

    O rapaz tinha uma expressão de conflito e hesitação, mas só durou alguns segundos. Logo encostou-se numa árvore próxima, cruzando os braços.

    “O Batalhão Zero é a nossa prioridade. Se tivermos que sacrificar dezenas ou centenas de vidas para resgatá-los, essa missão não terá valido de nada. Acredito que é assim… que todos eles pensam.” falou, referindo-se àqueles que aceitaram participar da missão, incluindo Theodora.

    A expressão da Cabo, que possuía estatura baixa e cabelos loiros, era de incredulidade, pois se nem mesmo o Sargento a apoiava, quem a apoiaria? 

    O olhar da mulher focou-se em Fernando, que estava em silêncio esse tempo todo.

    “Tenente, por favor! Nós sempre o seguimos sem questionar. Lutamos tantas batalhas, arriscamos nossas vidas várias vezes por você. Então por favor, salve-os.”

    Todos olharam para o jovem líder, aguardando sua decisão.

    A expressão de Fernando era impassível, mesmo após ouvir as súplicas da garota. Então aproximou-se dela e segurou sua mão, surpreendendo-a. Após isso, ajoelhou-se à sua frente.

    “Vocês costumam sempre ajoelhar para prometer lealdade a mim, então hoje eu farei o mesmo. Se eu puder salvá-los, farei tudo que estiver ao meu alcance, isso é um juramento,” falou, com o rosto levantado e olhando nos olhos de Louise. O que deixou todos perplexos no local. “Mas no momento, com as nossas forças atuais, se eu os liderar em direção aos inimigos, isso não será um resgate, será um genocídio.”

    A expressão da garota loira mudou ao ouvir essas palavras, ela não sabia o que dizer, estava pálida e com os seus olhos cheios de lágrimas.

    Após um momento sem se mexer, ela moveu sua mão, que estava sendo segurada por seu líder, puxando-a com força e se soltando. Então olhou para Cíntia, como se pedisse que ela a ajudasse, mas a mesma apenas abaixou a cabeça. Após isso, olhou para Lina, Ronald, Emily e todos tiveram reações similares. Mesmo Ugo, que parecia querer dizer algo, no fim acabou quieto.

    Karol em particular, tinha uma expressão de ansiedade, como se quisesse dizer algo, mas sabia que não deveria intervir na decisão de seu marido, optando por não se envolver.

    “Unidade uma ova!” disse, dando as costas e afastando-se enquanto chorava.

    “Você!” Noah falou, indo em direção a mulher.

    “Noah!” Fernando, que se mantinha na mesma posição, interrompeu o rapaz loiro, o olhando e balançando a cabeça em negação.

    Pela Lei Militar, Louise deveria ser punida pela forma como tratou um superior, mas como alguém que já agiu de forma muito pior, o jovem Tenente sabia que seria hipocrisia de sua parte. Além disso, ele conseguia entender o que a garota estava sentindo nesse momento.

    Um longo silêncio permeou após isso. No local estavam reunidos todos os principais membros do Batalhão Zero, desde Cabos a Subtenente, o que tornava tudo ainda pior.

    Fernando ficou de joelhos em silêncio por algum tempo, como se refletisse sobre algo. Pouco tempo depois, com uma expressão franzida, olhou para sua própria mão, apertando-a com força.

    Se eu fosse mais forte… pensou, com um sentimento de amargura.

    Mesmo sem dizer nada, todos conseguiam sentir a frustração de seu líder.

    Nesse momento, Fernando sentiu um leve mana ondular de sua Pulseira de Armazenamento e, ao focar sua mente, viu o seu Cubo Comunicador emitindo uma leve luz, indicando que um pedido de comunicação estava sendo recebido, o que o surpreendeu.

    Será que… Sem pensar duas vezes, aceitou a comunicação.

    “Chegaremos na sua localização em breve, não saia do lugar.” A voz de Dimitri soou do outro lado.

    Uma leve decepção tomou conta dele ao perceber que não era Theodora e os outros, mas logo se acalmou. O fato de que um General estava chegando era algo bom para eles.

    Se levantando, com sua mente mais centrada, pensou em como eles já estavam tão próximos para se comunicarem, afinal, eles estavam relativamente distantes do exército principal.

    Antes que pudesse terminar de raciocinar, viu várias pessoas descerem do céu, bem no meio do Batalhão Zero. Se não fosse pelo fato de estarem numa área mais aberta nesse momento, seria difícil perceber isso devido as altas árvores.

    Fernando, Ilgner, Tom e os outros se entreolharam, então todos correram em direção das pessoas que chegaram.

    “Abram caminho! Onde está o Tenente Fernando?!” Um homem alto e forte gritou, empurrando os soldados para longe.

    As tropas estavam todas em alerta após algo repentino como isso acontecer.

    Quando Fernando e os outros chegaram, viram uma cena que os fez ficarem chocados.

    Wayne, Dimitri, Herin e Zado, com exceção de Ramon, que ficou para guarnecer as forças principais, estavam lá. Quatro dos cinco Generais da incursão à Garância haviam chegado!

    Não só isso, atrás deles era possível ver vários Majores e Capitães. Haviam até mesmo dois Generais de Legiões menores que estavam seguindo os Leões Dourados para obter conquistas.

    Vendo tantas figuras poderosas reunidas num único lugar, fez todos tremerem.

    “Onde está o Tenente Fernando? Apresente-se agora!” Um dos Majores gritou, de forma imponente.

    Logo um jovem rapaz, aparentando ter cerca de vinte anos, aproximou-se, parando e saudando seus superiores, levando seu braço direito ao peito esquerdo.

    “Estou aqui!” Fernando disse, com uma expressão calma.

    Os quatro Generais dos Leões Dourados saíram da multidão em direção ao rapaz, parando logo à sua frente.

    “A informação que você passou, tem certeza da sua veracidade, Tenente Fernando?” Wayne perguntou, numa tonalidade de voz calma, mas que impunha sua autoridade como Comandante desse exército.

    Antes que o jovem pudesse responder, Herin interviu.

    “Se tiver passado informações falsas, espero que saiba das consequências. Seja honesto em suas palavras, Tenente.” falou, com seus longos cabelos e barba negra balançando levemente. Então seu olhar moveu-se em direção a Dimitri, que apenas bufou friamente em resposta a provocação.

    “Se ele estiver mentindo, eu mesmo cortarei sua cabeça.” Zado falou, olhando fixamente para o jovem. Seus olhos arregalados emitiam uma sensação pesada em todos.

    Fernando certamente o reconhecia, era o General que acompanhava Heitor, e o mesmo que quase o atacou no passado.

    Apesar da forte pressão que sentia, o jovem Tenente manteve-se com uma expressão fria, o que surpreendeu muitos dos Majores e Capitães que estavam logo atrás.

    “Tenho absoluta certeza, senhor.”

    Sua resposta firme e direta, surpreendeu os Generais, que se entreolharam.

    “Gostaria de te perguntar algo.” Wayne disse, olhando com interesse para o rapaz. “Você recebeu uma Rede de Mana Móvel do General Dimitri?”

    Fernando ficou levemente surpreso com a pergunta estranha e estava prestes a negar, mas então viu a expressão intensa de Dimitri, que o olhava como se estivesse olhando para um copo d’água no meio do deserto.

    Esse velhote, o que ele fez? pensou consigo mesmo, franzindo a testa.

    “Sim… senhor.”

    A resposta peculiar de Fernando surpreendeu o alto escalão do Batalhão Zero, que estava próximo. Todos sabiam que ele havia comprado as Redes de Mana Móvel com os fundos do próprio Batalhão.

    “Entendo. Pode nos mostrar?”

    Apesar do pedido estranho, o jovem Tenente não hesitou, movendo o pulso e tirando um item hexagonal que brilhava levemente.

    Ao ver o objeto, muitos dos Majores e Capitães ficaram chocados.

    “Um mero Tenente recebendo uma Rede de Mana Móvel, que desperdício de recursos.” Um Major falou, em sinal de crítica velada ao ato de Dimitri.

    “Se levarmos em conta que ele comanda uma Tropa de Exploração, faz algum sentido.” Outro comentou, concordando com a medida.

    “Realmente, mas se é assim, todas as outras Tropas de Exploração não deveriam ter recebido uma também?” O primeiro Major falou, numa tonalidade de voz alta.

    “E quem vai pagar por isso, você? Se um General comprou isso com seus próprios recursos, isso não é algo que alguém tem o direito de criticar.” Outro Major comentou, aborrecido.

    Vendo e ouvindo o entrave entre os Majores, os membros centrais do Batalhão Zero ficaram boquiabertos. Se eles estavam discutindo tanto sobre uma única Rede de Mana Móvel, o que pensariam se soubessem que eles, na realidade, tinham seis delas?

    Nesse momento, finalmente todos entenderam porque as informações sobre isso deveria ser um segredo absoluto.

    Dimitri, de forma disfarçada, ficou aliviado ao ver que o rapaz havia entendido seu olhar e corroborado com sua mentira. Mais do que isso, ficou em êxtase ao saber que sua hipótese louca do Batalhão Zero possuía uma Rede de Mana Móvel ser real.

    Se Fernando tivesse revelado sua mentira, ou nem sequer tivesse o item, mesmo que não perdesse seu cargo, sua reputação como General estaria arruinada, inviabilizando qualquer tentativa de reunir tropas para retomar Vento Amarelo no futuro.

    Com a confirmação visual do fato, os Generais assentiram.

    “Isso significa que você mandou um Esquadrão de Elite para localizar o acampamento inimigo? Ainda por cima, conseguiu ter êxito. Isso é incrível, Tenente.” Wayne elogiou.

    “Incrível, mas arriscado.” Herin falou ao lado.

    Nesse momento, Fernando tinha uma expressão calma no rosto.

    “Um esquadrão não, senhor, apenas quatro pessoas.”

    “Q-quatro?” Herin falou, chocado. “Você enviou apenas quatro pessoas para passar pelas patrulhas Orcs e localizar o acampamento inimigo? Isso é algum tipo de piada?”

    Ouvindo a pergunta do General de cabelos e barba negra, o jovem assentiu.

    “São alguns dos meus melhores homens.” disse, de forma confiante e sem comentar mais.

    Os Generais, Majores, Capitães e mesmo os soldados do Batalhão Zero que não sabiam dos detalhes da missão, tinham expressões incrédulas. Mandar quatro pessoas numa missão como essa, não era diferente de mandá-los para a morte. 

    Mas o que chamou mesmo a atenção deles, foi a frieza do Tenente em arriscar a vida de pessoas que deveriam ser importantes para o seu Batalhão. Além do mais, eles sabiam que deviriam haver batedores Orcs que poderiam matar até Capitães, principalmente perto do acampamento, mas essas quatro pessoas, que deveriam ser mais fracas que seu líder, conseguiram realizar sua missão.

    “Quando foi a última comunicação com aqueles que você enviou?” Wayne perguntou.

    “A cerca de uma hora e meia, senhor.” Fernando respondeu, com um rosto inexpressivo.

    Mesmo sem que o jovem dissesse mais alguma coisa, todos imediatamente entenderam o que aconteceu. Se os quatro enviados localizaram o inimigo e desde então não entraram mais em contato, significava que estavam todos mortos.

    “Hm, entendo.” Wayne falou. Após isso, olhou para trás e elevou sua voz. “Estamos partindo!”

    Fernando ficou surpreso ao ouvir isso, então olhou para Dimitri.

    “E o restante do exército?”

    “Não chegarão a tempo. Se o acampamento Orc achou seu pessoal, sabem que a possibilidade do inimigo saber sua localização é alta, então provavelmente já estão se preparando para partir. Temos que interceptá-los antes disso acontecer, lançando um ataque de pequena escala. Nosso objetivo é apenas eliminar o Orc Lord desse lugar, fazendo isso, o restante das tropas deve se dispersar e dificilmente irão se reorganizar.”

    “Preparem-se!” Várias vozes soaram, enquanto todos se preparavam para levantar voo.

    Vendo isso, a expressão do jovem Tenente mudou, então olhou para os Generais.

    “Gostaria de ter a permissão de acompanhá-los!”

    Wayne, Herin, Zado e Dimitri franziram a testa ao ouvir isso.

    “Você sequer deve conseguir usar Magia para voar, por que levaríamos um peso morto como você? É um ataque tático contra um acampamento de Orcs, não um passeio no parque.” O General Herin disse. O atrevimento desse pequeno Tenente o irritou.

    Ouvindo isso, a expressão de Fernando ficou fria.

    “O General disse que cortaria minha cabeça se a informação fosse falsa. Eu gostaria de poupar o tempo dos Generais de fazer uma viagem de volta apenas pela minha cabeça.” falou, olhando fixamente para Zado.

    Essas palavras audaciosas deixaram vários sem reação.

    O olhar do velho homem, que usava Magia Gravitacional, era penetrante em direção ao jovem Tenente, como uma águia olhando para um pequeno e valente coelho, que não se recolhia, mesmo encarando a morte certa. Então, logo um raro e bizarro sorriso abriu-se no rosto do sujeito.

    “Muito bem, eu permito.” Zado disse, ainda encarando Fernando.

    Apoie o Projeto Knight of Chaos

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (7 votos)

    Nota