Índice de Capítulo

    — Venham comigo! — disse o soldado, e agarrou Jéssica pelo pulso.

    A garota, sem nem pensar, dobrou seu joelho e, antes que o homem tivesse chance de perceber o ataque, ela atingiu uma joelhada nas partes íntimas dele.

    — Uh! — ele gemeu de dor.

    E Mical pulou em suas costas, passando o braço direito pelo pescoço e travando-o com a mão direita, num mata-leão forte e apertado.

    O soldado engasgou com o aperto em sua garganta e, se movendo freneticamente,  segurou o braço de Mical, tentando libertar-se. Bateu as costas contra a parede, fazendo o impacto atingir Mical, e por um momento, a garotinha quase o soltou.

    Jéssica, num movimento rápido, afundou um soco na boca do estômago dele.

    As pernas do soldado bambearam e ele cerrou os dentes de dor e raiva, e levou a mão à cintura, tentando alcançar a pistola.

    Mical apertou ainda mais o mata-leão. A baba escorrendo da boca do homem começou a molhar o braço dela. Era fedida e gosmenta.

    Jéssica atingiu mais um soco na boca do estômago dele, e suas pernas tremeram ainda mais e quase se dobraram.

    Mical apertou ainda mais o mata-leão, sentindo o braço sendo pressionado contra o Pomo de Adão do soldado. Os olhos  dele estavam querendo se fechar. De sua garganta saía um gemido fraco e lamentoso. Ele, numa última tentativa de resistir, levou mais uma vez a mão à pistola no coldre, e Jéssica lhe atingiu outro soco na boca do estômago.

    Após um breve gemido, suas pernas se dobraram e ele despencou no chão. Jéssica, rapidamente, tirou a pistola da cintura dele. Também encontrou um tazer elétrico preso ao cinto, objeto que ele usava para intimidar os acólitos e as noviças.

    Em seguida, sem perder mais tempo, elas abriram a porta da biblioteca e entraram, arrastando consigo o homem desacordado.

    Arrancaram a camiseta dele e a rasgaram, para usar como corda. Amarraram os braços para trás e as pernas dobradas, para evitar qualquer movimento, e o deixaram próximo a uma parede.

    As prateleiras, dispostas em fileiras, preenchiam o espaço do grande salão; e estavam cheias dos mais diversos livros. Capas de couro com símbolos entalhados e pergaminhos enrolados, de autores esquecidos pelo tempo.

    Escritos importantes para a história da cristandade. Filósofos, historiadores, matemáticos que buscavam identificar Deus nas formas geométricas da natureza. Conhecimento que apenas alguns sacerdotes escolhidos tinham o direito de acessar. A maioria das pessoas precisavam se contentar com os livros da biblioteca satélite, no andar inferior.

    — Vamos procurar! — disse Jéssica.

    — Eu não sinto a emanação energética! Não sinto a presença da pedra.

    — Pode estar dentro do baú de chumbo.

    Começaram a vasculhar tudo. As prateleiras, armários e baús, reviraram os livros e pergaminhos, e os documentos guardados dentro das gavetas do balcão e das mesas de estudo.

    O homem, que tinha começado a despertar, balbuciou alguma coisa.

    — Aarg… v-voc…

    — Ele tá acordando! — disse Mical, em alerta.

    — Vocês vão se arrepender, garotinhas! Me desamarrem logo!

    — O que faremos, Jés?

    — Vocês duas são muito idiotas. Eu ouvi o que estão fazendo. Estão procurando a Pedra Fundacional, não é? — ele riu. — Não está aqui, é claro. 

    — Ele pode tá mentindo, Jés! Não acredito nele!

    O soldado riu.

    — Você acreditar não faz a menor diferença. A Pedra não está aqui. E sua irmã já percebeu isso também?

    Jéssica permaneceu em silêncio.

    — Vamos! Me desamarrem! Talvez eu demonstre alguma misericórdia e solicite um castigo ameno.

    — O caramba que vamos desamarrar! Jés! Vamos ter que matar ele!

    — O quê?! — Jéssica e o homem falaram ao mesmo tempo.

    — Pensa, Jés! Ele vai abrir o bico! Vai falar pros outros! Vai contar pro Prior Regente! E aí estaremos encrencadas! Vamos ter que passar ele!

    — Passar ele?! Mica, onde foi que você aprendeu a falar assim?

    — Ah, eu andei assistindo Tropa de Elite; mas não importa, Jés! Só pensa! Ele vai contar! É ele ou a gente!

    — É… pensando desse jeito…

    — Perai, garotas! O castigo nem seria tão forte assim… Vamos lá! Não precisamos chegar nesse ponto, né? Apenas me soltem e resolveremos isso da melhor forma possível.

    — Precisamos sim! — disse Mical. — Sei muito bem como seria esse castigo ameno que você diz! Vamos, Jés! Vamos fazer de um jeito indolor. Ele nem vai sentir.

    — Eu vou sentir sim!

    — Aahhh — Jéssica, confusa, levou as mãos às têmporas e as massageou. — Eu tô ficando tonta!

    — Vamos mandar ele pra conhecer Jesus! Seria um favor, não é?

    — Sua lógica é muito estranha, menina! — disse o soldado, enquanto tentava, disfarçadamente, se livrar das amarras feitas com sua própria camiseta. — Estão mais imersas na escuridão do que imaginei. O mundo profano as contaminou. Me soltem e eu ajudo vocês a retornarem para Jesus.

    — V-vamos desmaiar ele! E aí a gente esconde ele no banheiro do nosso quarto! — disse Jéssica, um tanto insegura.

    — E depois? — perguntou Mical. — Onde vamos desovar o corpo?

    — Não! Não vamos matar ele! Só vamos escondê-lo, por enquanto! Esconder ele vivo! Depois eu decido o que fazer.

    — Certo… — Mical pareceu um tanto decepcionada, mas de repente, um sorriso malicioso surgiu em seu rosto, e ela ergueu o tazer elétrico. — Eu posso botar ele pra dormir, então?

    Jéssica suspirou e baixou os ombros.

    — Pode sim,  Mical. Pode sim.

    — Hehehe!

    — Espera! Não! Fica longe de mim! Não se aproxime!

    O homem se remexeu, tentando se soltar das amarras e, por fim, apenas tentava se afastar de Mical, rastejando no chão, mas não teve jeito.

    A garota acionou o tazer, apertando o botão, e um tipo de raio em miniatura brilhou nas duas pontas que se projetavam como agulhas numa das extremidades da arma de choque e o som de eletricidade pôde ser ouvido.

    Mical encontrou a arma no pescoço do soldado e ele gemeu de dor e desmaiou.

    — E agora? — perguntou Mical.

    — Agora voltados pro nosso quarto, e arrastamos ele com a gente. Vamos escondê-lo, por enquanto.

    — E a pedra?

    — Não tá aqui na biblioteca. Ainda precisamos checar a Nave.

    — Certo.

    Após se certificar que não tinha ninguém no corredor, elas fizeram o caminho de volta. Puxaram o homem segurando pelos braços, que ainda estavam amarrados.

    — Ele é pesado — disse Jéssica, ofegante —, mas precisamos ser rápidas. Antes que chegue alguém!

    — Se chegar alguém eu boto pra dormir também — respondeu Mical, acionando o tazer.

    — E aí vamos ter mais uma pessoa pra carregar.

    Assim que chegaram no quarto, puxaram o homem pra dentro e fecharam a porta.

    — O banheiro! — disse Jéssica.

    — Certo.

    Deixaram ele dentro da banheira. Mical pegou alguns xampus e espalhou pela superfície branca e brilhante da banheira.

    Jéssica ergueu uma sobrancelha em dúvida, então Mical deu de ombros.

    — Para o caso dele acordar e tentar sair. O xampu vai fazer escorregar — disse ela e sorriu, e foi um sorriso malicioso, como o de Clara, e estufou o peito, orgulhosa. Achava que tinha tido a ideia mais genial do mundo.

    Jéssica deu de ombros.

    — Bom, pelo menos, fedido não vai ficar…

    Foi quando alguém bateu à porta. As duas quase pularam de susto.

    Era Asafe. Ele tinha um olhar afiado e parecia um pouco desconfiado.

    — Vocês duas parecem um pouco agitadas.

    — Ah, não… — Mical sorriu, tentando diminuir o ritmo da respiração. — A gente estava apenas se exercitando um pouco. Não tem muita coisa pra fazer aqui, sabe?

    — Entendo — disse ele, e correu os olhos pelo quarto, procurando alguma coisa. —  O Senhor Isaías, o atual Prior Regente, solicita a presença de vocês duas no pátio central. A cerimônia de exorcismo vai ter início.

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