Índice de Capítulo

    Combo 03/15


    Sunny prendeu a respiração, afetado pela cena perturbadora à sua frente.

    O cadáver estava ajoelhado no chão da pequena cela, sua mão acorrentada ao chão. Havia um círculo esculpido na pedra ao redor dele, com inúmeros símbolos que Sunny não conseguia entender.

    No entanto, o círculo foi quebrado. Nos milhares de anos desde a queda da Cidade das Trevas, o chão da cela da masmorra havia rachado, com várias fraturas atravessando a intrincada gravura.

    O que quer que o círculo deveria conter já havia perecido ou escapado há muito tempo.

    Agora, a única coisa que restava era um cadáver murcho.

    Chegando mais perto, Sunny deu outra olhada na pessoa que havia sido aprisionada e morrido sob a catedral em ruínas, em uma cela situada exatamente abaixo da estátua da deusa sem nome.

    Por causa do manto escuro e da máscara preta laqueada, Sunny não conseguiu obter muitas informações sobre o cadáver. Parecia pertencer a um humano, mas, fora isso, tudo sobre ele era um mistério.

    Que pecado terrível essa pessoa cometeu para ser condenada a essa morte terrível?

    Estranhamente, a intuição de Sunny estava silenciosa. Era como se não houvesse nada na frente dele. Para seu sexto sentido, o prisioneiro da cela subterrânea parecia um espaço vazio.

    ‘…Estranho. Essa pessoa claramente foi odiada ou temida demais para ficar trancada atrás de todas essas barreiras. Certamente, encontrar uma criatura dessas afetaria meu destino… por que não sinto nada, então?’

    Com uma carranca tensa, ele respirou fundo e cuidadosamente entrou no círculo.

    …Foi então que Sunny notou uma confusão caótica de runas desenhadas no chão perto da mão esquerda do prisioneiro. A visão delas quase o fez ter uma convulsão.

    Cambaleando, Sunny caiu de joelhos e vomitou.

    ‘Agh… droga!’

    Essas runas… eram as mesmas runas que o Feitiço usava para descrever o misterioso Desconhecido. Só que aqui, a intensidade do terrível efeito que elas tinham na mente de qualquer um que as visse era muito, muito mais forte.

    ‘Que diabos?’

    Limpando a boca, Sunny fez uma careta e olhou para o cadáver mascarado com um pouco de ressentimento.

    Então, ele se levantou do chão, respirou fundo… e olhou para as runas terríveis mais uma vez.

    Imediatamente, Sunny sentiu uma dor de cabeça lancinante e uma sensação terrível e nauseante se espalhando por sua mente. Era como se todos os seus pensamentos e memórias estivessem sendo rasgados e distorcidos. Mas, apesar de tudo isso, Sunny perseverou e continuou encarando a mensagem final que o prisioneiro havia deixado para trás.

    Ele sabia que não conseguia ler as runas — ele não conhecia aquela língua em particular, e o Feitiço ou era proibido, incapaz ou se recusava a traduzi-las. Mas, por algum motivo, Sunny se sentiu compelido a tentar.

    Lutando contra a dor intensa, ele estudou lentamente as runas estranhas. E então, de repente, seus olhos se arregalaram.

    Porque logo abaixo da confusão caótica delas, uma linha de texto estava escrita na escrita com a qual ele estava familiarizado — a linguagem rúnica usual que o Feitiço sempre usava.

    Dessa vez, não forneceu nenhuma tradução. Felizmente, Sunny havia estudado essas runas e sabia o suficiente sobre elas para entender o que estava escrito.

    A última coisa que a pessoa presa sob a catedral escreveu antes de sucumbir à morte o fez estremecer.

    Riscada na pedra havia uma breve oração:

    “Salve, Weaver 

    Demônio1 do Destino

    Primogênito

    do -desconhecido-“

    ***

    Sunny encarou as runas até que ele estava à beira de perder a consciência. Só então se virou e fechou os olhos.

    A dissonância nauseante das runas terríveis ficou gravada em sua mente. Somente depois de vários minutos é que ela desapareceu um pouco, permitindo que ele respirasse novamente.

    Então… o misterioso Weaver cuja linhagem proibida ele herdou estava, de fato, associado ao destino. Assim como o próprio Sunny.

    Quais eram as chances?

    ‘…Isso é predestinado para mim, eu acho.’

    A palavra que ele traduziu como “Demônio” não era a usada para descrever Criaturas do Pesadelos de terceira categoria, mas uma diferente.

    Talvez chamá-lo de espírito ou Daemon2 fosse mais adequado — uma divindade mortal, mas poderosa e ameaçadora. Uma diferente dos deuses, mas compartilhando a mesma natureza. No entanto, Sunny não era tão versado em terminologia mística. Tudo o que sabia era que a linguagem rúnica era incrivelmente rica em palavras descrevendo todos os tipos de monstros e criaturas, enquanto a linguagem humana não era.

    Portanto, “Daemon” estava bom para ele.

    Além da revelação tentadora sobre o misterioso Weaver, ele notou outra coisa importante ao se forçar a estudar as runas.

    Antes, Sunny pensava que havia uma única entidade que o Feitiço se recusava a chamar pelo nome e simplesmente descrevia como “-desconhecido-” — levando-o a chamá-la de Desconhecido.

    …Sim, Sunny não era tão imaginativo quando se tratava de escolher palavras.

    Ele não sabia se o Desconhecido era um tipo de ser, uma existência única ou uma força da natureza.

    Mas agora, percebeu que na verdade havia dois tipos de runas proibidas e duas coisas que o Feitiço não sabia ou não queria mencionar.

    Uma era a mesma usada na descrição da Gota de Icor, que afirmava que o Repugnante Pássaro Ladrão era odiado tanto pelos deuses quanto pelo Desconhecido. Também dizia que o reflexo do Desconhecido ficou congelado para sempre nas profundezas das pupilas de Weaver, e que apenas olhar para ele deixava o Pássaro Ladrão louco.

    O outro era o mesmo usado na descrição da Santa de Pedra, que foi criado pelo “último filho do -desconhecido-“, e agora aqui pelo prisioneiro morto, que havia chamado Weaver de primogênito do “-desconhecido-“.

    “O que diabos tudo isso quer dizer?”

    Sua suspeita de que Weaver tinha algo a ver com a criação do Feitiço do Pesadelo só aumentou depois de descobrir que ele… ela… aquilo?… eles tinham algo a ver com o domínio do destino. Afinal, o Feitiço parecia ser tecido a partir de inúmeras cordas do destino, e havia esse ser chamado Weaver, que tinha o sangue dos deuses em suas veias, mas também estava de alguma forma conectado ao Desconhecido.

    Sentindo a dor de cabeça cada vez mais forte, Sunny estremeceu e balançou a cabeça.

    ‘Mais tarde. Pensarei nisso mais tarde.’

    Haveria tempo para refletir sobre tudo isso mais tarde. Ou não, se ele morresse tentando escapar da Costa Esquecida. De qualquer forma, esse tempo não era agora.

    Voltando-se para o cadáver acorrentado, Sunny cautelosamente evitou olhar para as runas perigosas e se ajoelhou diante dele.

    Ele queria saber o que estava escondido atrás da máscara.

    Mas assim que ele a tocou, o cadáver de repente se despedaçou e caiu aos pedaços, virando pó bem na frente de seus olhos. Até mesmo seu manto escuro apodreceu e desapareceu, como se os milhares de anos que se passaram desde a queda da Cidade das Trevas e a destruição da catedral finalmente o tivessem alcançado.

    Logo, tudo o que restou foi uma pilha de poeira.

    …E a máscara laqueada sobre ela, sua superfície negra brilhando levemente na luz pálida das tochas fantasmagóricas.

    1. demon[]
    2. Daemon, olha, a gente não tem uma tradução pra isso, então pau nu cu aí[]

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (14 votos)

    Nota