Capítulo 685: Templo da Noite 

Combo 110/120

Quando Kai terminou sua história, todos permaneceram em silêncio por um tempo. Eventualmente, o jovem suspirou e estendeu as mãos, que estavam cobertas de casca polida e pareciam mais com as de um Boneco Marinheiro do que com as de um humano. Ele moveu os dedos e sorriu levemente:

“Noctis fez um trabalho maravilhoso curando meus ferimentos. Assim como ele disse, um pouco da dor permanece, mas estou tão forte e capaz quanto antes. Não, ainda mais… esses membros encantados que ele me deu são muito mais sensíveis à Essência da Alma e, portanto, são mais duráveis ​​e poderosos do que minha própria carne. Também coletei algumas Memórias durante meu tempo na Legião do Sol. No geral, minha destreza em batalha aumentou muito desde que entramos no Pesadelo… sem mencionar a experiência que ganhei e as lições que me ensinaram. Aconteça o que acontecer, estou pronto.”

Sunny demorou-se por alguns momentos, depois soltou um rosnado baixo:

“E o outro Transcendente da Cidade de Marfim? O Príncipe Sol? Você o conheceu?”

Kai franziu a testa e fez um gesto vago com a mão.

“Sim… eu acho. O Príncipe Sol é supostamente um irmão de Sevirax. Entre as pessoas, acredita-se que sua alma reside dentro do colosso de metal que guarda a Cidade de Marfim e às vezes lidera a Legião do Sol para a batalha. Eu o vi uma vez, de longe… e para ser honesto, não tenho certeza se essa coisa é senciente ou não.”

Ele hesitou um pouco e então acrescentou:

“Você também o viu. Acho que é o cadáver dele que balança sob a Ilha do Naufrágio, emaranhado na corrente… embora eu não consiga imaginar que tipo de força poderia ter destruído aquele gigante implacável. Ele tem pelo menos noventa metros de altura, com um corpo feito de aço sólido e quase invencível. Ele é… ele também não é uma criatura viva, na verdade, e então não pode ser morto por ferir ou danificar seu corpo.”

Sunny permaneceu em silêncio por um tempo, e então disse:

“Não há nada que não possa ser morto ou destruído… nem mesmo os deuses. Então… três dos Lordes das Algemas são contabilizados, no futuro. Nós vimos os ossos do dragão, Sevirax, na Ilha de Marfim, e tanto seu irmão quanto Solvane encontraram sua ruína perto dos destroços do navio de Noctis. Mas o que… o que exatamente aconteceu? Como eles caíram, e como Esperança escapou? O que aconteceu com o próprio Noctis, assim como com a Sozinha do Norte? Como a Cidade de Marfim foi destruída? Como a Torre se libertou de suas correntes?”

Ninguém respondeu, tão perplexo quanto ele. Depois de algum tempo, Cassie finalmente falou:

“Não tenho certeza do que aconteceu. Mas eu sei de uma coisa — por causa da nossa chegada, está acontecendo mais rápido.”

Eles se viraram para ela e, após um momento de silêncio, Sunny perguntou:

“… A sua é a última história que resta. E, para ser honesto, é a história que mais estou interessado em ouvir. Porque diz respeito ao quinto Desperto enviado aqui pelo Feitiço. Mordret… ele encontrou uma maneira de entrar na Semente conosco, não é?

Cassie suspirou pesadamente e virou a cabeça. Depois de um tempo, ela disse:

“Sim. Sim, ele encontrou…”

A jovem cega permaneceu em silêncio por alguns momentos, reunindo seus pensamentos, e então os encarou novamente.

“Ao contrário do que aconteceu com vocês três, minha chegada ao Pesadelo não foi tão angustiante. Pelo menos não no começo. Fui enviada para o corpo de uma jovem sacerdotisa cujo dever era cuidar da Alta Sacerdotisa do Templo da Noite… a do Norte. Nesta era, o Templo da Noite ainda pertence ao culto da Deusa dos Céus Negros — do Deus da Tempestade. A divindade da escuridão, das estrelas e da orientação. E assim, nenhuma luz é permitida nas dependências do templo.”

Ela tocou sua venda brevemente, então lentamente abaixou sua mão.

“As acólitas passam longos anos vivendo na escuridão, e se cegam antes de se tornarem sacerdotisas. Por essa razão, elas são conhecidas como as Sem Olhos. Muitas das Sem Olhos são videntes, e possuem poderes de profecia e adivinhação. Para a maioria, se tornar uma sacerdotisa cega dentro de um templo sem luz teria sido uma provação terrível. Mas para mim… era estranhamente reconfortante. Me encontrar entre aqueles semelhantes a mim, em um lugar onde minha cegueira não era uma estranheza aberrante, mas sim uma escolha.”

Um sorriso pálido apareceu em seus lábios.

“… No entanto, foi na minha senhora que encontrei mais conforto. A Sozinha do Norte, a Vidente da Noite… ela não era cruel. Ela me tratou bem o suficiente, e aprendi muito com seu conhecimento e sabedoria. No entanto, assim como o resto dos Lordes das Algemas, ela estava sendo consumida por uma loucura insidiosa. A dela… era a loucura da apatia. Ao longo dos séculos, minha senhora se tornou indiferente à maioria das coisas que aconteciam no mundo, ou até mesmo a si mesma. Era por isso que ela precisava de atendentes, e eu era um deles.”

O sorriso desapareceu lentamente do rosto de Cassie.

“Isso não significava que ela era impotente ou sem responsabilidade, no entanto. Todos os confins do norte do Reino da Esperança estavam sob sua autoridade e proteção. Havia muitas aldeias e várias cidades cheias de humanos mundanos que dependiam do Templo da Noite para segurança e orientação. Por essa razão, a Sozinha do Norte governava não apenas sobre as sacerdotisas cegas, mas também sobre um pequeno, mas temível exército composto por guerreiros mundanos e Despertos.”

Ela suspirou levemente.

“Seus números podem não ter sido tão grandes quanto os dos exércitos da Cidade de Marfim e do Coliseu Vermelho, mas devido à sua destreza e ao dom profético de minha senhora, o norte nunca foi atacado por nenhum dos dois. As pessoas raramente sofriam com as Criaturas do Pesadelo também.”

Cassie ficou em silêncio, e uma carranca apareceu lentamente em seu lindo rosto.

“… Mas conforme a Sozinha do Norte se tornava mais e mais indiferente, isso lentamente começou a mudar. Ainda assim, quando me vi no Templo da Noite, as coisas ainda estavam mais ou menos bem.”

Sua carranca se aprofundou, e seu rosto ficou escuro e desanimado. A jovem cega demorou-se, e então disse com uma voz sombria:

“Até que não estavam mais.”