Índice de Capítulo

    Diante da instrutora Hisako Shimizu, os alunos da turma 1F formaram uma fileira em U, todos na posição de descansar, seguindo rigorosamente a ordem de suas numerações.

    — Devo dizer que o nosso primeiro desafio foi um sucesso. Para alguns, pode não ter parecido assim, mas o meu objetivo era simples: avaliar, mesmo que parcialmente, as capacidades de vocês. — Embora a expressão de Hisako permanecesse profissional, os olhos dela detiveram-se na extrema esquerda da fileira curva onde se situava Hiromi Miyazaki.

    Naquela garota, havia algo que intrigava a militar, uma habilidade que se destacou mais do que o esperado.

    Mas, claro, a superior não deixou transparecer mais do que um leve interesse. — Vi que temos alunos incrivelmente rápidos, outros com uma coragem fora do padrão, e há ainda aqueles que conseguem agir de forma imperceptível e eficaz quando a situação foge do controle. Contudo, como mencionei, o que observei foi apenas um vislumbre do potencial desta turma. Por isso, iremos ao segundo desafio.

    Enquanto todos digeriam as palavras da instrutora, Nikko, sem comprometer a postura, inclinou-se levemente na direção de Akemi. — Legal! O que você acha que virá nessa próxima etapa, garoto bisonho?

    — O que eu acho? Bom… espero que seja nada passível de dor, hehe…

    “Pelo menos ela parece mais relaxada. Talvez só precisasse daquela injeção de adrenalina, mesmo que tenha se saído mal no primeiro desafio… Nossa, se ela ouvisse isso, eu estaria ferrado de novo!”

    — Aproveitando a formação em que estão, passarei diante de cada um. Não precisam fazer nada, apenas esperar. Entendido?

    SIM, SENHORA!!!

    Hisako girou as rodas de sua cadeira e aproximou-se dos primeiros da fileira: Akemi, Nikko e Kentaro. Os olhos prateados analisavam cada um como se estivessem dissecando camadas invisíveis de suas almas. — Zero Um, Zero Dois e Zero Três, certo?

    — Sim, senhora! — bradaram os três ao mesmo tempo.

    A mulher observava os jovens com o olhar de quem não se surpreendia, mas logo sua atenção foi tomada por um em específico, pois Akemi… não parecia certo para ela. — Você está bem, Zero Um?

    O rapaz não sabia bem como responder. — … Sim, senhora?

    — Você tem uma energia que nunca vi antes. Literalmente, pois não consigo vê-la… Venha até aqui.

    Akemi aproximou-se, cada passo demonstrou receio.

    — Vamos, quero você do meu lado.

    O garoto andou mais um pouco, e ao chegar na distância suficiente, Hisako ergueu uma de suas mãos deficientes e parou os metacarpos no centro do peito do aluno. O toque foi leve, mas possuía intenção. Ela fechou os olhos e concentrou-se.

    — Hmmm…

    “Esses batimentos cardíacos não levam a nenhuma força áurica”, notou Hisako, “mas, mesmo assim, consigo sentir uma energia desesperada dentro dele. Há algo morrendo nesse garoto. Tenho que descobrir rápido.”

    De repente, correntes azul-marinho, carregadas pela aura de gelo, emergiram da militar, deslizando pelo braço dela até atravessarem o peito de Akemi, que brevemente recuou de forma instintiva.

    — O-o-o que é isso? Tem algo errado em mim?

    Hisako não respondeu imediatamente, mas o olhar dela era diferente: sério, determinado e… um pouco preocupado. — … Isso é algo que vamos descobrir em breve.

    A sensação que Akemi tinha sobre seu interior mudou drasticamente, como se algo realmente físico estivesse percorrendo por suas veias. “Uuuf, isso é gelado pra caramba, como pode?! Afinal, o que ela está escondendo de mim?”

    A concentração de Hisako aumentou. “Não, não está aqui… Onde está o núcleo áurico deste garoto?” Seus olhos se fecharam com mais força. — Respire fundo.

    A nova ordem logo foi respeitada por Akemi, que puxou o ar fortemente para depois soltá-lo.

    — Mais uma vez.

    O que foi pedido foi feito, e surpreendentemente, trouxe um resultado.

    “… Está ali…”

    Entretanto, nada foi como esperado.

    A energia azul desapareceu, e Hisako retraiu o braço; seguidamente, os olhos prateados encontraram a confusão no olhar de Akemi.

    — … Você é trivial.

    A afirmação repentina surpreendeu.

    — Ahm… Como? — indagou Akemi, suando frio, não pela corrente gelada da aura glacial, mas sim, de nervosismo.

    — Para que entenda melhor, devo me apresentar direito. Meu nome é Hisako Shimizu, Tenente-Coronel de Suporte Médico, ex-integrante do Primeiro Regimento Áurico. E com toda a experiência que tenho como veterana na medicina, encontrei um núcleo áurico morto em você. Isso indica que, neste exato momento, você é praticamente trivial.

    “Núcleo áurico? Morto? MEU NÚCLEO ÁURICO ESTÁ MORTO???!!! Pera! Mas eu nunca ouvi falar desse tal núcleo! Ela só pode estar blefando comigo, é uma brincadeira!”

    — O-olha, entendo que nos últimos dias eu não tenho conseguido usar a minha aura, porém alguns aqui me viram usando-a em uma arena! Como assim o meu… núcleo áurico… está morto?

    — Nosso núcleo áurico normalmente fica em alguma parte da vertical do nosso corpo, mesmo assim, foi difícil, e um pouco… estranho… achar o seu. E quando o encontrei, não emitia nenhuma energia áurica… Mas diga-me, como é a sua aura?

    — Elétrica, manifestada em amarelo, como os raios e correntes que consigo emitir. Mas por algum motivo, venho perdendo cada vez mais o controle dela, e até o momento, não consigo mais usá-la.

    “Por favor, me ajuda!”

    Hisako assumiu uma feição crítica, seus olhos se estreitaram, na mira de Akemi. — Elétrica…? A essa altura do campeonato, você já deveria ter providenciado soluções para os problemas de sua aura. E para o seu azar, não sou mais uma médica, sou instrutora, e não só de um aluno. Com certeza, você deve ser um retrator, e parece que sua aura não é alimentada há um bom tempo.

    Sentindo-se sem saída frente a um prédio prestes a desmoronar, Akemi tentou compreender o que lhe era dito. As informações estavam mais bagunçadas quanto um barco à mercê da tempestade na cabeça do garoto. — Alimentada? Como posso alimentá-la? Eu tenho que tomar choque? Tenho que me exercitar? Comer? — Ele se ajoelhou e juntou as mãos, suplicando — por favor, Senhorita Hisako! Me diga! O que eu faço?!

    A militar julgou com os olhos, o desespero do rapaz, apesar de escandaloso, a deixou pensar. — … Fale com o seu conselheiro.

    O conselho deu esperanças a um jovem perdido.

    — Meu conselheiro… o instrutor Masaru! Ele pode me ajudar?!

    — Masaru? — A instrutora tentou lembrar… — Ah… lembro-me daquele… — ao iluminar de sua mente, um sorriso adornou seus lábios — desejo-te sorte.

    — S-sorte?

    — He ho ho! Largue essa cara de tacho, rapaz. Enfim, volte logo para a formação. Vejamos o que os outros têm — Hisako novamente começou a girar as rodas da cadeira, alinhando-se diante dos próximos alunos da formação em U. Seu olhar frio como um inverno rigoroso passava por todos, um a um.

    Até que, finalmente, viu-se um bônus. “Hmm, esse garoto é potente.”

    — Soube que teriam dois Miyazaki na mesma turma, já descobri um, você seria o outro?

    — Afirmativo! Nihara Miyazaki, senhora!

    A vitalidade na vontade do rapaz era bastante evidente. Por não conseguir chegar nem perto do sucesso no primeiro desafio, ele queria impressionar.

    — Excelente. Devo dizer que você possui uma energia interessante, uma potencial candidata ao pódio dentre as outras que vi. É uma benção poder contar com o poder de fogo de uma família tão tradicional e poderosa, você deve ter tido muitos treinamentos exaustivos para chegar onde está. Todavia, apenas posso te dar os meus parabéns… Nada a mais — Hisako seguia para os seguintes.

    “Nada a mais”, essas foram as palavras que ecoaram na cabeça de Nihara. Um olhar de mil jardas adentrou em sua cara, uma sensação horrível que só quem esperava por mais poderia sentir.

    — Eu… falhei de novo? — perguntou Nihara, seus olhos vazios mostravam que sua força estava sendo consumida.

    Ainda seguindo em frente, Hisako respondeu de costas para o garoto: — Você terá mais chances. Estão aqui para aprender e evoluir. Esteja preparado.

    O conselho da instrutora chegou em Nihara como um isqueiro renovando a chama de uma vela. A concentração perdida estava de volta.

    “Estranho…” Akemi, que observava a certa distância, começou a tirar suas próprias conclusões sobre o desafio em que se desenrolava. “É como se ela estivesse selecionando a gente, mas… pra quê?”

    — Por fim, os últimos três. O que vocês guardaram para mim?

    Sho Yamamoto foi o primeiro a dar um passo adiante, entretanto, sua compostura era a de um jovem cabisbaixo. — Senhora, peço perdão, mas a senhora também pode acabar não percebendo a minha energia áurica.

    Hisako o olhou com cinismo. — … Por conta de…?

    — É culpa minha. Nasci com a aura florestal, mas uma falta de prática acabou limitando as minhas capacidades, assim, não tenho energia o suficiente nem para emanar uma representação visual dos meus poderes.

    — E como você quer recompensar essa sua deficiência nesta academia?

    — Recompensar?! — O questionamento que recebeu chegou de forma inesperada, fazendo Sho abrir mais os olhos — é… eu almejo ser um biólogo, estudo muito para isso, e sei que estar na academia mais perto de uma floresta áurica iria me ajudar bastante.

    — Sabe que você terá de ser mais forte se quiser passar por aquela floresta, certo?

    — Sim… eu entendo os riscos, e não descarto a possibilidade de aprimorar as minhas habilidades.

    — E esta menina ao lado é a sua irmã?

    A pergunta atentou Aruni, mas quem respondeu foi Sho.

    — Sim, senhora, o nome dela é Aruni Yamamoto. Descobriu por que somos gêmeos?

    — Definitivamente não, a energia dela é tão baixa quanto a sua, porém, um pouco maior. Ao menos ela consegue se manifestar?

    Aruni tomou a palavra. — C-claro! Espere um momento! — Ainda com as mãos recuadas atrás da cintura, ela fechou os olhos, esforçando-se para que alguma coisa acontecesse… E após segundos de concentração, um resultado vinha.

    Decorando as laterais de seu curto cabelo castanho claro, as margaridas da garota recebiam uma coloração rosada; não era como se a cor mudasse, tratava-se de uma camada protetora envolvendo as flores. Essa começou a brilhar, trazendo partículas nos mais variados tons claros vindos do vermelho.

    Aruni tremeu o rosto pelo esforço que fazia, uma tentativa digna do orgulho e admiração do irmão. Miya ao lado também a olhou com um sutil olhar surpresa, aparentemente ela estava gostando do que via…

    Diferente de certas pessoas.

    — … É só isso? — indagou Hisako, seu olhar penetrou o ego quase inexistente de Aruni.

    — S-só isso? — repetiu a garota, abalada — b-bom… é que eu dependo de certas situações para conseguir me expressar melhor…

    A instrutora continuou observando os irmãos. Claramente, a sensação era de decepção.

    Depois de instantes em silêncio, a militar fechou os olhos e abaixou levemente a cabeça, um tom de impaciência. — Francamente, vocês parecem ser pessoas de bom coração, mas não é apenas isso que molda um shihai de elo forte — ela abriu os olhos e ergueu o queixo, quase um gesto subjugante, e em seguida, amplificou o tom da voz, falando com todos os presentes — para conseguir sobreviver nesta academia, vocês precisam saber se defender, nem que seja o mínimo. Não existem shihais pelo qual não passaram por momentos de vida ou morte. Seja qual for, um militar de alta classe deve sempre estar preparado. E vocês dois… — os olhos prateados encararam os irmãos encurralados — há muito o que melhorar se quiserem ficar aqui até o fim do dia de hoje.

    Para os Yamamoto, as palavras finais serviram como um aviso prévio do que estava por vir, porém, era certo de que saber os próximos passos do dia era praticamente impossível. Eles sentiram que a permanência na academia acabara de ser ameaçada, então, o que valia era ficar atento e não deixar nenhuma distração atrapalhar.

    — Vamos à próxima, e olha, coincidentemente é Hiromi Miyazaki…

    Um pouco distante, Rin comentou consigo mesma: — Pelo visto ela tem um jeito cafona de falar com preferidos, isso é certo?

    Por perto, Teruo não perdeu a oportunidade de responder: — Bom, tecnicamente sim, não?

    — … Pode ser que você esteja certo…

    Hisako mostrou um sorriso esperançoso diante de Miya, que manteve o olhar no horizonte, deslocada da instrutora.

    — Não posso deixar de dizer que estou ansiosa para ver a energia de uma aura eterna oposta à minha. Todavia… — a militar analisou a garota com mais atenção — meus deuses, você é ótima na ocultação áurica! Onde aprendeu isso?

    — Aprendi a ocultação com a minha mãe.

    — Ah, claro, he ho ho! Quem mais poderia te ensinar?

    Miya não esboçou reações imediatas, na verdade, ela não parecia querer conversar muito no exato momento, e pelo visto, estes comportamentos seguiam iguais perante a quase todos os militares com quem se deparava, exceto o próprio pai.

    Hisako percebeu o desconforto da aluna e disse: — Há algo lhe incomodando, querida?

    — … Não, senhora.

    — Enfim, exalto a sua habilidade ao conseguir ocultar a energia de sua aura, uma tática extremamente útil na hora de enfrentar inimigos que sabem analisar o adversário, você tem talento. Mas agora, não é hora de esconder suas capacidades. Como sua instrutora, ordeno que me apresente o máximo de sua manifestação áurica. Eu exijo ver-

    — O máximo?

    — Sim… o máximo.

    Olá, aqui é o Andaz!

    Estou passando para deixar um super Feliz Natal para todos os meus leitores! 🎄

    Infelizmente, não coube um capítulo especial de Natal, mas quem sabe no futuro eu consiga encaixar algo nesse clima. Deve ser muito divertido de escrever, né? kkkkk

    A propósito, como já deu para perceber, a frequência de dois capítulos por semana vai continuar até o retorno das minhas aulas, ou até eu sentir que devo voltar para um capítulo por semana (e espero que esse dia demore bastante! 😅). Então fiquem de olho que vem mais por aí!

    Ah, e não se esqueçam de avaliar o capítulo, ok?

    Até logo!

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