Capítulo 48 – Sete Sombras
— O que você viu? — perguntou Nastya, dando um passo à frente, seus olhos fixos em Helick.
O grupo inteiro se voltou para o príncipe, suas expressões oscilando entre curiosidade e preocupação.
— Foi outra visão? — indagou Rhyssara, sua voz carregando um misto de anseio e cautela.
— Visão? — Se questionou Nastya sem entender. — Outra?
Helick passou a mão pelos cabelos, respirando fundo antes de responder. Seu olhar parecia perdido por um momento, como se ainda estivesse processando o que havia visto.
— Sim, outra — falou ele se sentando no degrau.
O príncipe mais novo então contou o que havia visto. Ele contou sobre a silhueta de Redgar que ele viu tremeluzindo no topo daquela escadaria e sobre a visão do passado na qual ele presenciou o nascimento dos primeiros anões da história.
— O que isso significa? — perguntou Cassian ao irmão, mas ele sabia que não havia resposta clara para aquilo. — Foram essas coisas que mexeram com a mente de Redgar quando ele era pequeno?
— Você tem visões do passado? — perguntou Nastya para Helick, sua voz carregando uma carga de curiosidade misturada com interesse. — Como isso acontece? Você tem algum tipo de controle sobre isso?
A repentina curiosidade de Nastya atraiu os olhares de todos e ela rapidamente recuou para sua pequenez.
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— Eu não controlo, só acontece. E não dá pra saber o que desencadeia isso, é apenas a segunda vez que me ocorre.
A imperatriz de Ossuia se pôs entre os dois enquanto olhava fixamente para Helick.
— Não precisa explicar tudo para ela. — falou Rhyssara. — Nosso objetivo agora é sair desse lugar.
Helick começou a se levantar, mas uma voz sussurrada, feminina e etérea, cortou o ar ao redor de sua mente:
“Não. Não vá. Suba as escadas até o fim e traga-o de volta.”
Ele congelou, cada pelo de seu corpo arrepiado. Seus olhos fixaram-se no topo da escadaria.
— Príncipe Helick? — chamou Rhyssara, a preocupação evidente em seu tom.
— Eu preciso subir até o final. Redgar está lá. — Sua voz era serena, mas carregada de uma certeza inabalável.
O grupo se entreolhou, apreensivo.
— Mesmo que ele esteja lá, isso não pode ser por acaso — pontuou Any. — Se isso tudo estiver conectado aos anões que quebraram a mente de Redgar… o que faremos?
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— Ele é um de nós. Não podemos simplesmente deixá-lo para trás! — protestou Tály.
— Mas e se esses anões forem realmente seres primordiais? — questionou Marco, a voz grave e cautelosa. — Como enfrentaremos algo assim, caso sejam nossos inimigos?
— Isso está fora de cogitação — declarou Rhyssara, sua voz cortante como aço. — Vamos embora agora!
Helick, no entanto, não parecia ouvir mais nada. Ele deu o primeiro passo, e depois outro, começando a subir os degraus lentamente, como se movido por forças invisíveis.
— Volte — ordenou Rhyssara. A luz na coroa que ela usava brilhou com intensidade, emanando sua autoridade, mas a magia não teve efeito algum. — Agora! — Seus olhos se arregalaram. — Droga, ele está enfeitiçado!
Ela avançou para segurá-lo, mas ao estender a mão, foi barrada por uma barreira invisível. Era sólida como vidro, mas intangível à visão.
— Há algo protegendo-o! — exclamou Marco, franzindo o cenho.
Um por um, os outros tentaram tocar Helick, sem sucesso. Apenas Cassian conseguiu. Ao encostar no ombro do irmão, um tremor percorreu seu corpo. Ele ofegou, enquanto uma visão lhe preenchia os sentidos: Redgar, imóvel no topo da escadaria, como uma sombra chamando por eles.
“Vocês precisam subir.” A voz sussurrou, desta vez no ouvido de Cassian.
Uma certeza absoluta tomou conta dele, e sem hesitar, começou a subir os degraus ao lado de Helick.
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— Droga! — Rhyssara cerrou os dentes, frustrada. — Vamos, temos que subir com eles. Não podemos deixá-los sozinhos! — Ela lançou um olhar duro para Nastya e o cocheiro. — Vocês dois, fiquem aqui e protejam a saída.
— Eu posso ajudar! — protestou Nastya, com um misto de ansiedade e determinação.
— Não! — cortou Rhyssara. — Vocês precisam garantir que tenhamos um caminho de volta, caso algo dê errado.
Nastya hesitou, mas acabou assentindo, mesmo relutante.
Rhyssara virou-se e começou a subir, liderando os demais, o peso de uma decisão inevitável pairando sobre eles como uma sombra silenciosa.
A escadaria parecia estender-se ao infinito, cada degrau ecoando como uma batida surda no coração de cada um. O ar ficou mais denso, carregado de uma presença invisível, e o silêncio foi lentamente preenchido por sussurros. Não eram palavras claras, mas cada voz reverberava diretamente na mente de quem as ouvia, impregnadas de uma emoção distinta.
Cassian parou de repente, apertando os punhos com força. Um calor abrasador subia pelo seu corpo, seus olhos ardendo. Sentia uma raiva incontrolável crescendo, como fogo alimentado pelo vento. “Você nasceu para o trono, mas nunca escolheu esse caminho. Está preso a um destino que não é seu. Por que continuar fingindo que é suficiente?” A voz latejava em sua mente, cada palavra um golpe em sua alma.
Any recuou alguns passos, seus olhos dilatados. O coração disparava, a respiração irregular, enquanto uma sensação de medo a dominava. “Você já foi traída antes. Eles irão fazer o mesmo quando você não for mais útil. Fuja antes que seja tarde.” Ela cerrou os dentes, mas o calafrio persistia, enraizando-se em suas entranhas.
Marco sentiu um peso sobre os ombros, como se estivesse carregando o mundo. Cada degrau parecia um fardo impossível. “Nada do que você fez importa. Todo esforço foi em vão. Você sempre será só mais um plebeu servindo a nobres podres e egoístas. Por que continuar?” A tristeza o envolvia, sua mente resistindo, mas seus passos tornavam-se mais pesados a cada instante.
Tály, por sua vez, sentia uma mistura de emoções corroendo seu coração. O amor, doce e doloroso, misturava-se à inveja, tornando-se uma força corrosiva enquanto ela olhava para Cassian. “Você o amou, e ainda continua o amando. Ele prometeu os céus para você e, quando conseguiu o que queria, te largou. Por que não o mata e se junta a ele debaixo da terra?” Sua respiração tornou-se irregular, seu olhar distante, mas as palavras ecoavam como uma verdade dolorosa.
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Rhyssara, por outro lado, sentiu uma estranha serenidade tomando conta dela, mas não era natural. Era como um entorpecimento forçado. “Não lute. Aceite o inevitável. Não há razão para se preocupar. O que realmente importava já se foi há muito tempo.” Mesmo assim, ela apertou as mãos ao redor de seu cetro, lutando contra o desejo de simplesmente parar.
Helick, por fim, sentiu o cansaço se tornar quase insuportável. Uma voz doce o convidava a desistir. “Por que subir? Você já tá cansado de ter que fazer o seu e o de seu irmão irresponsável. Apenas pare. Descanse. Deixe que ele lide com algo sozinho pelo menos uma vez na vida.” Ele balançou a cabeça, tentando afastar a letargia.
— Não parem… continuem — murmurou, mais para si mesmo do que para os outros.
Cada um travava sua batalha interna, mas seus corpos continuavam se movendo, como se uma força maior os guiasse. Os degraus pareciam intermináveis, mas o topo finalmente se aproximava, ainda que envolto por uma luz etérea.
Quando eles alcançaram o último degrau, a luz os envolveu, intensa e ofuscante. O ambiente ao redor parecia girar, e os degraus desapareceram sob seus pés. Quando a luz diminuiu, o grupo percebeu que ainda estavam na Floresta das Árvores Andantes, mas algo estava diferente. As árvores permaneciam as mesmas, mas o ar estava mais denso, a névoa mais viva, quase consciente.
O grupo observava com apreensão os arredores e seus olhos repousaram em Redgar que estava à frente deles, ajoelhado, inerte, os olhos vazios como se estivesse perdido em outra realidade. Diante dele, sete figuras se destacavam na névoa densa, formando uma meia-lua. Não eram simples anões, mas seres antigos, quase míticos, cada um irradiando uma emoção tão intensa que parecia moldar até mesmo sua aparência física.
A primeira figura, um anão corpulento de pele bronzeada e olhos ardentes, deu um passo à frente. Sua barba ruiva desgrenhada e espessa parecia uma chama viva, e suas mãos estavam cerradas como se segurassem um poder invisível.
— Vocês quebraram o silêncio de séculos… — Sua voz era como um trovão contido. — Sou Raivoso, a sombra da ira. — Ele parecia sempre à beira de explodir, sua postura rígida revelando a tensão constante.
Antes que o clima se tornasse mais sombrio, uma gargalhada suave ecoou entre o grupo. Um anão de rosto redondo e olhos brilhantes, vestindo roupas coloridas, avançou com passos leves. Ele tinha um sorriso constante, irradiando energia positiva.
— Raivoso, calma! Não queremos assustá-los. — Ele abriu os braços em um gesto acolhedor. — Sou Feliz, a sombra da alegria! — Seus olhos cintilavam, e seu riso era contagiante, como se o próprio ar ao seu redor estivesse mais leve.
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— Sempre rindo, como se tudo fosse maravilhoso… — murmurou uma terceira figura, desta vez uma anã de longos cabelos escuros, presos em um coque elegante, mas com um olhar duro e crítico. Seus olhos verdes eram penetrantes, e sua postura exalava uma frieza amarga.
— Sou Cobiça, a sombra da inveja. — Seus lábios finos se curvaram em um sorriso ácido. — Por que eles podem entrar aqui e nós estamos presos? Sempre foi assim, eles têm tudo… — Ela murmurava mais para si do que para os outros.
— Tanta energia gasta em emoções… inútil. — Um anão magro e desgrenhado suspirou profundamente, apoiando-se em uma lança desgastada. Sua barba era rala, e suas pálpebras pesadas davam a impressão de que ele estava à beira de cochilar.
— Sou Dormes, a sombra da preguiça. — Sua voz era arrastada. — Continuem, se quiserem…, mas eu prefiro ficar na minha.
Uma figura feminina de cabelos curtos e pele pálida cruzou os braços, observando tudo com um ar pesaroso. Seus olhos cinzentos pareciam carregar o peso de mil tristezas, e seu semblante era sereno, porém carregado de melancolia.
— Tudo isso é… vão. — Sua voz era suave, quase como um lamento. — Sou Tristana, a sombra da tristeza. — Ela suspirou, e seu olhar se perdeu em algum ponto distante. — O fim sempre chega, então por que tentar?
Antes que o silêncio se prolongasse, uma risada suave cortou o ar. A sexta figura, uma anã de cabelos castanho-avermelhados e olhos intensamente violetas, se aproximou. Ela usava um vestido ajustado, de cortes estratégicos, que misturava o sensual com o delicado, cada movimento seu era uma dança sutil entre o provocante e o encantador.
— Não sejam tão amargos. O amor ainda existe, até mesmo aqui. — Seus lábios curvaram-se em um sorriso provocante, mas seus olhos mantinham uma ternura palpável. — Sou Roma, a sombra do amor. — Sua voz, misturada em meio a gemidinhos intencionais, era um convite doce e perigoso.
Por fim, a última figura ergueu a cabeça. Um anão de postura firme e olhos claros como o céu após uma tempestade. Seus cabelos grisalhos caíam em ondas suaves, e seu semblante sereno inspirava confiança.
— Mesmo no vazio… sempre há algo mais. — Sua voz era forte, mas gentil. — Sou Hope, a sombra da esperança. — Ele cruzou os braços, como se aguardasse que algo grandioso fosse acontecer.
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Os anões se entreolharam por um instante antes de voltarem seus olhares para o grupo, e suas vozes ecoaram em uníssono:
— Somos as Sete Sombras, os primeiros anões. Nascidos de Dungrim e amaldiçoados por Terramara. Exilados neste bosque por não nos encaixarmos no mundo como nossa mãe queria.
— Vocês não deveriam estar aqui — comentou Feliz, dando um passo para frente, um largo sorriso no rosto. — Mas já que estão…
O sorriso exagerado de Feliz se distorceu de forma macabra antes dele finalizar junto de seus irmãos:
VAMOS NOS DELICIAR COM AS SUAS MENTES!
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