Índice de Capítulo

    O silêncio que se seguiu à ação de Rhyssara parecia pesar mais do que qualquer palavra dita antes. O bosque, agora iluminado, revelava sua verdadeira forma: árvores robustas e reluzentes, flores cintilando suavemente sob a luz filtrada e um riacho sereno cortando o chão como um traço de prata líquida. Era um contraste gritante com o ambiente opressor e sombrio em que haviam estado momentos antes.

    Os aliados da imperatriz encaravam-na com expressões variadas. Tály, desacordada nos braços de Marco, parecia alheia ao que acontecia ao seu redor.

    Marco foi o primeiro a quebrar o silêncio:

    — Então é isso que o ARGUEM herdado de Ossuia pode fazer? — Sua voz era cheia de admiração, incredulidade e um leve tom de temor. O soldado mantinha o olhar fixo na coroa de Rhyssara, que agora parecia a definição de poder.

    — Impressionante não descreve o suficiente — murmurou Redgar, ainda lutando contra o eco do pânico que tinha sentido momentos antes. Sua voz, embora controlada, carregava um peso evidente. — Você simplesmente… desfez tudo. Como se fosse fácil.

    — Não foi fácil — respondeu Rhyssara com uma calma cortante, o olhar dela passando lentamente por cada um dos presentes. — Esta coroa é um símbolo, mas também uma responsabilidade. Usá-la exige controle absoluto sobre si mesmo. Um deslize e ela pode consumir até a mente mais forte. — Ela lançou um olhar firme para Redgar. — E, claramente, não é algo que qualquer um poderia suportar.

    Redgar desviou o olhar, um brilho de vergonha misturado ao respeito cruzando sua expressão.

    Feliz, que até então estava quieto, soltou uma gargalhada debochada:

    — E pensar que subestimamos tanto vocês. Humanos são sempre uma caixinha de surpresas, não é mesmo? — Ele gesticulou em direção a Rhyssara, seus olhos brilhando com um misto de admiração e desconfiança. — Mas, me diga, majestade, quanta dessa sua resistência mental é realmente sua e quanta vem dessa… coroa?

    Rhyssara estreitou os olhos, mas antes que pudesse responder, um som grave e ameaçador reverberou pelo bosque. Era como se a própria terra tremesse.

    Todos se viraram para Hope, cuja silhueta gigantesca já dominava a clareira. Ele havia absorvido completamente a emoção de Tály, e agora sua forma estava em seu ápice — um colosso de quatro metros de altura, seus olhos brilhando como se ainda não estivesse satisfeito e clamasse por mais.

    — Vocês não vão a lugar nenhum — a voz de Hope ecoou, profunda e cheia de determinação, enquanto ele avançava com passos pesados.

    Rhyssara deu um passo para trás, sinalizando com um gesto para que seus aliados recuassem em direção ao portal que ainda pulsava suavemente ao fundo, um convite para a fuga.

    — ANY! Pegue os príncipes e vá! — ordenou ela, sua voz firme, mas não isenta de urgência.

    Any assentiu, mas antes que pudesse dar um passo, o gigantesco braço de Hope desceu como uma muralha viva, bloqueando a passagem, enquanto ele se posicionava diante do portal, transformando-se em uma barreira impenetrável.

    Rhyssara cerrou os dentes, mantendo a postura firme diante da ameaça crescente.

    — Já me alimentei como não fazia há séculos — rugiu Hope, sua voz agora mais grave e retumbante, ecoando pelo bosque. — Mas meus irmãos ainda não provaram do mesmo prazer. Que tal vocês ficarem um pouco mais?

    Roma avançou um passo, os olhos brilhando com provocação

    — Já escolhi o que quero provar — declarou, direcionando um olhar instigante para Rhyssara. — Que tipo de desejos carnais passa pela mente de uma imperatriz, hein?

    Tristana cruzou os braços, com os olhos marejados.

    — Não importa o que ela pensa — resmungou como uma criança birrenta. — Enquanto estiver com aquela coroa, não podemos tocar em sua mente.

    — Nesse caso… — Cobiça riu, a ganância evidente em sua voz. — Só precisamos tirar a coroa dela. Acho que ficaria melhor em mim, vocês não acham?

    Dormes, com um longo bocejo, interveio preguiçosamente.

    — Como se ela fosse entregar a coroa só porque pedimos.

    Rhyssara permaneceu em silêncio, os olhos fixos nos oponentes, enquanto seus aliados se mantinham em alerta.

    — Então eu mesmo farei a gentileza de removê-la! — rugiu Hope, erguendo seus punhos colossais para desferir um golpe direto na direção da imperatriz.

    Antes que o impacto pudesse acontecer, Any avançou, posicionando-se à frente de Rhyssara. Com um movimento rápido e determinado, ergueu as mãos. Sangue fluía de sua pele como correntes vivas, formando uma barreira carmesim pulsante que deteve o golpe do gigante anão. A força do impacto fez o chão estremecer, mas a barreira permaneceu firme.

    Rhyssara estreitou os olhos, avaliando rapidamente a situação. Havia tensão em sua postura, mas sua voz manteve o tom afiado e autoritário, cortando o caos como uma lâmina.

    — Escutem! — chamou, sua voz carregada de urgência. — A situação mudou. Não posso lutar enquanto mantenho minha concentração para proteger todos nós. Redgar e Tály estão fora de combate, e Any é a única com magia defensiva forte o suficiente para segurar os ataques de Hope que podem quebrar minha concentração.

    Ela olhou para Marco com frieza.

    — Marco já mostrou que sua lâmina é inútil contra inimigos como esses, que não são humanoides nem usam magia convencional.

    Seus olhos, brilhando com intensidade, pousaram sobre os príncipes.

    — Isso nos deixa apenas com vocês dois. Helick. Cassian. — Seus nomes soaram como um chamado inescapável. — Vocês despertaram algo poderoso, algo que até agora hesitaram em usar. Mas a hesitação não é mais uma opção. Este é o momento.

    Ela deu um passo na direção dos irmãos, sua postura altiva contrastando com o perigo ao redor.

    — Vocês são os únicos que podem lutar. Mostrem do que são feitos. Usem a magia que despertaram. Agora. Ou não sairemos vivos daqui.

    O peso de suas palavras pairou sobre os príncipes, o silêncio quebrado apenas pelo som da barreira de sangue crepitando sob a pressão contínua de Hope e dos grunhidos de esforço de Any.

    Os irmãos se entreolharam, e naquele instante, uma compreensão silenciosa passou entre eles. Eles sabiam que as palavras de Rhyssara não eram mais um teste, agora era pra valer. A realidade era clara: desta vez, suas vidas e as de todos dependiam de suas ações.

    Cassian respirou fundo, desviando o olhar para a ameaça à sua frente.

    — Helys… — chamou, sua voz carregada de seriedade, mas com um toque de familiaridade fraterna.

    Helick ergueu o olhar, reconhecendo a gravidade do momento, mas ainda assim se permitindo um resquício de sua usual leveza.

    — Cass… — respondeu, sacando sua espada, o aço brilhando como se ansiasse pelo confronto iminente.

    Ambos voltaram seus olhos para Hope, uma determinação nova nascendo em seus semblantes. Não havia mais espaço para dúvida. Era a hora de provar seu valor.

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