Índice de Capítulo

    A voz grave e implacável do anão ecoou mais uma vez, quebrando o silêncio denso que envolvia Tály.

    “Você quer salvar seu pai, não quer?” Ele repetiu, inclinando-se levemente em sua direção, como se suas palavras fossem um desafio.

    A garota, ainda ofegante e com lágrimas escorrendo pelo rosto sujo, não conseguiu responder em palavras. Ela apenas balançou a cabeça afirmativamente, os olhos firmes, carregados de um misto de medo e determinação.

    O anão ergueu uma sobrancelha, avaliando-a por um momento. Então, sem aviso, puxou de suas costas dois martelos gêmeos, de metal reluzente e intrincados com runas que brilhavam em tons dourados e prateados.

    “Imagino que você é pequena demais para saber como pôr sua Centelha Mágica para fora.” Sua voz carregava um tom desdenhoso, quase cruel, enquanto ele girava os martelos nas mãos com precisão assustadora

    Antes que Tály pudesse reagir ou entender o que ele queria dizer, o anão avançou em um movimento brusco, como uma tempestade de pura força.

    “Então eu mesmo vou fazê-lo!” bradou.

    Sem hesitação, ele golpeou o peito da garota com o martelo esquerdo. O impacto não a lançou para trás, mas fez com que o ar escapasse de seus pulmões. Tály congelou, os olhos arregalados em choque e medo. Seu corpo inteiro tremia, e, por um instante, ela acreditou que iria morrer ali mesmo, sem conseguir cumprir a promessa feita ao pai.

    Mas, em vez da dor que esperava irradiar de seu peito, um calor diferente começou a se formar, algo que parecia crescer dentro dela, tomando cada parte de seu ser. Era intenso, como uma chama que nunca antes havia sentido.

    O anão recuou o martelo, e foi então que aconteceu.

    Uma luz brilhante e ofuscante explodiu do peito de Tály, forçando-a a fechar os olhos por instinto. O brilho dourado iluminou a floresta ao redor, dissipando as sombras por um instante. O calor não era de dor, mas de algo mais profundo: determinação, coragem, talvez até raiva.

    “Aí está” falou o anão contemplando o brilho da Centelha de Tály. “Está bruta e nada trabalhada. Você é muito jovem e não teve tempo de amadurecer sua mana.”

    “Isso… É minha… Centelha?” indagou a menina. “Mas, como?”

    O anão ignorou as perguntas da menina e prosseguiu falando mais para si do que para ela:

    “Quase nenhum anão vivo poderia trabalhar numa centelha tão bruta e mal lapidada. Apenas os líderes das quatro grandes guildas anãs, mas por sua sorte…”

    O anão pôs as mãos nos bolsos e retirou o Diamante Negro que havia pego do pai de Tály. Ele jogou os minérios aos pés de Tály em uma ordem silenciosa para que ela colocasse sua Centelha neles.

    A menina não hesitou a lançou sua Centelha Mágica nos fragmentos que brilharam ao absorver sua mana.

    “Eu, Sanur, líder da Guilda da Fornalha Proibida, estou aqui!”

    O anão girou o martelo direito e com um sorriso de perfeita satisfação martelou os minérios.

    “Magia de Transmutação…” bradou ele.

    Com um estampido os minérios começaram a trocar de forma, assumindo o formato das manoplas que seriam o ARGUEM de Tály.

    “…TOQUE DE DUNGRIN!”

    Com o grito do anão runas começaram a cercar as manoplas e a se fixar nela. Um brilho esbranquiçado e prateado cegava os pequenos olhos de Tály que testemunhava o que aparentava ser o ápice dos talentos de um anão mestre da forja.

    “Aí está” falou ele por fim, enquanto as manoplas caíram no colo de Tály. “Vá e salve seu pai, mesmo uma criança se torna coisa de mais para um humano comum.”

    A garota desviou os olhos para contemplar a obra de arte recém feita. Ela sabia que um ARGUEM tem que ser trabalhado e forjado minunciosamente por um anão mestre da forja durante dias para ficar pronto para uso. Porém, o seu havia sido feito e entregue em questão de segundos. Mesmo ela sendo jovem de mais e sua Centelha Mágica não estar propicia para a fusão com o Diamante Negro.

    Tály ergueu os olhos para agradecer ao anão, mas ele não estava mais lá.

    Dentro da garota um sentimento crescia cada vez mais enquanto ela colocava as manoplas nas mãos, o poder fluindo do metal para ela. O sentimento que agora tudo poderia ser resolvido com as suas próprias mãos. Ela voltaria e salvaria o pai daqueles homens e depois ela usaria seu ARGUEM para entrar no exercito de Lyberion e sustentaria a sua família por sui só. Não importava se era apenas uma criança de oito anos. Ela sentia dentro de si. Ela sentia…

    — ESPERANÇA! — Urrou Hope vendo as memórias da soldado.

    Agora ele visivelmente estava maior que seus irmãos. Não, ele estava maior que todos no local. Hope estava com mais de três metros de altura, enquanto bordas brancas azuladas contornavam seu corpo. Pura mana emanava de Tály para ele.

    Redgar, que estava imóvel e rendido ao medo começou a gritar de desespero.

    — PARE COM ISSO! PARE COM ISSO, HOPE! — Esbravejava o soldado. — Você vai despedaça-la assim!

    Os outros no local se assustaram com o repentino protesto de Redgar, com exceção e claro de Rhyssara que falou calmamente:

    — Entendi. Então quer dizer que não estamos apenas vendo as memórias dela. — De repente, o brilho avermelhado da coroa na cabeça de Rhyssara que até o momento era fraco, se expandiu como um clarão. — A emoção que mais prevalece na mente do alvo é transmutada em mana e tem sua essência roubada, assim fortalecendo a sombra que corresponde ao sentimento. Estou certa?

    Feliz deu um salto enquanto batia palmas espalhafatosamente.

    — Isso, isso! Você percebeu! Parabéns!! — Falava ele em meio a risos. — Mas, o que é isso que está acontecendo nessa sua coroa em?

    Rhyssara que, até então, estava imobilizada assim como os outros se moveu rapidamente até Tály que estava paralisada, ainda vislumbrando forçadamente sua memória mais íntima.

    A imperatriz de Ossuia a pegou e o brilho de sua coroa se espalhou pelo corpo da soldado que pareceu sair imediatamente do transe.

    — Mas… o quê? — cochichou a jovem antes de desmaiar.

    — Ora, ora — falou pesadamente Dormes apontando, com certo esforço, para a coroa de Rhyssara. — Mas o que seria isso?

    — O ARGUEM Herdado de Ossuia, a Coroa de Edgar. Além de me dar o poder de manipular perfeitamente quem seja mais fraco do que eu, também me deixa imune a ataques que mirem minha mente e meus sentidos.

    As Sete Sombras ficaram admirados por um momento.

    — Um ARGUEM o que? — falou Raivoso impaciente. — Não interessa, mas quem diria que esses humanos nos trariam tais surpresas.

    — É demorado, mas, se eu me concentrar o suficiente consigo criar uma barreira que cobre uma certa área ao meu redor que protege todos dentro dela de influencias psíquicas de fora.

    Uma aura vermelha cercou todos os aliados de Rhyssara, que por sorte, não haviam se afastado muito um dos outros.

    O ambiente escuro e distorcido que os cercava deu espaço para um bosque bonito e bem iluminado, ao contrario do que viram quando chegaram. Isso mostrava que desde que passaram pelo portal estavam sendo manipulados.

    O portal que dava ao mundo exterior se mostrava estar no mesmíssimo lugar de antes, como se nunca tivesse saído de lá.

    — Agora, vamos sair daqui.

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