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    O silêncio era pesado como uma rocha, pressionando o peito de todos que assistiam às memórias de Tály. O ar parecia denso, como se os próprios ventos da história tivessem se tornado irreais e esmagadores. Cassian e Helick estavam paralisados, seus olhos arregalados não apenas pela surpresa, mas pela sensação de estarem envolvidos em algo que transcendia o meramente trágico. Não era apenas um pesadelo vivido por outra pessoa; era uma história que se desenrolava diante deles, e eles sentiam cada dor, cada medo, e cada pedaço da angústia como se fosse sua própria. A cada palavra que ecoava das memórias, o peso da impotência se fazia mais presente em seus corações.

    Marco, por sua vez, desviou o olhar por um breve momento, tentando buscar refúgio em seus próprios pensamentos, mas as cenas cravavam-se em sua mente como uma lâmina afiada. Ele não conseguia mais ver Tály como a mulher forte e resoluta que conhecia. Ela não era mais aquela figura de coragem, mas uma criança vulnerável, um ser marcado por um terror profundo que ele nunca imaginara. Ele sentiu a dor dela como se fosse sua, um peso esmagador no peito.

    Rhyssara, no entanto, permanecia impassível. Seus olhos estavam fixos na projeção das memórias, mas sua expressão era um misto de frieza calculada e um leve traço de desconforto, quase imperceptível. Era como se ela estivesse assistindo a tudo com um certo distanciamento, mas uma parte de sua alma parecia perturbada. Aquela visão mexia com ela, mesmo que sua máscara de imperatriz permanecesse inquebrantável. Dentro de sua mente, a coroa brilhava com um pequeno resplendor avermelhado, um sinal de que algo ainda a aguardava. O que seria?

    Redgar, por outro lado, estava pálido como um cadáver. Seus olhos, arregalados e cheios de pânico, saltavam de uma imagem para outra como se procurassem, desesperadamente, uma saída. Cada cena parecia consumir sua alma, e ele estava paralisado pela onda de emoções que o dominava. Seu corpo tremia, rígido, como se fosse impossível se mover. Os lábios se moviam lentamente, murmurando palavras inaudíveis, talvez uma oração, talvez um pedido, ou até mesmo uma súplica para que aquela dor se apagasse. O anel em seu dedo, seu ARGUEM, mudava de cor freneticamente. Os tons cinzas e vivos se alternavam como um reflexo de sua tempestade emocional interna, e ele mal conseguia controlar o que sentia. O terror estava evidente em seus olhos, e era como se ele estivesse revivendo seu próprio pesadelo, embora não tivesse vivido aquela história.

    — Fascinante, não é? — a voz de Hope cortou o silêncio, carregada de sarcasmo. — O quão frágeis vocês todos são. Uma história simples e já estão desmoronando. Patéticos.

    Os soldados, ainda em silêncio, permaneciam observando. A tensão era palpável em seus rostos, mas ninguém ousava interromper o desenrolar das memórias. A risada de Hope soou mais uma vez, desta vez mais cortante, como uma lâmina afiada cortando o ar ao seu redor.

    — Vamos, humanos. Isso não é nada. Ainda há muito mais a ser visto.

    E então, as memórias tomaram conta de todos mais uma vez, trazendo-os de volta àquela cena angustiante.

    O pai de Tály estava de joelhos, diante dos anões, sua postura quebrada pela angústia. Sua voz estava embargada de pavor, um homem que já não sabia mais a quem recorrer. Ele sabia que não havia mais alternativas. A desesperança transbordava de suas palavras, e os olhos lacrimejantes olhavam para o líder dos anões, como se fosse sua última esperança.

    “Só vocês podem fazer isso” ele gritava, a aflição estampada em seu rosto, os lábios trêmulos. “Só vocês, os da Fornalha Proibida!”

    O líder dos anões, com sua postura altiva e seus olhos frios como gelo, inicialmente se recusou. Ele não parecia tocado pela dor do homem, apenas irritado pela interrupção de seus planos. Cruzou os braços e bufou com desdém, como se aquela situação fosse apenas mais uma inconveniência, algo a ser ignorado.

    “O que você quer de nós, humano?” a voz do anão era ríspida, um tom que denotava superioridade. “O combinado era claro. Viemos aqui apenas para comprar o minério de forma sigilosa, para nossos trabalhos… mais discretos. Não fazíamos planos para envolver o Diamante Negro nesse jogo. Já temos o que queremos, e você está nos atrasando.”

    Mas o homem não desistiu. Em um último ato de desespero, ele se atirou ainda mais para o chão, rastejando, como se fosse um animal ferido. Sua voz se elevou, preenchendo o ar com um clamor agonizante.

    “Eu não tenho escolha!” ele exclamou, o desespero nítido em cada palavra. “Minha família está sendo perseguida! De alguma forma, a notícia do Diamante Negro vazou, e agora ladrões me caçam, querendo roubar de mim! Eles virão, e se eu não fizer o que me pedem, eles farão com que os soldados de Lyberion saibam da nossa traição! Eu não posso vender mais para o reino… eles pagam uma miséria, e tudo o que mineramos deve ser dado a eles! Só que eles nos roubam com seus preços baixos!”

    Ele engoliu em seco, seus olhos desesperados buscando por uma saída, mas ele sabia que já não havia mais para onde ir. Com um suspiro dolorido, ele continuou.

    “Esses dois quilos de Diamante Negro que consegui…” sua voz falhou por um momento, e ele olhou para o saco de ouro. “Eles valem, no mínimo, dez vezes o peso de todo esse ouro. Mas não me importo com isso! Com esse ouro, eu poderia viver dez anos sem trabalhar, dar uma vida boa para minha família na capital. Mas se eu vender para Lyberion… mal conseguirei o suficiente para sobreviver por um ano no vilarejo! Eu só quero dar o melhor para minha família, e agora estou sendo caçado por causa disso! O que mais posso fazer?!”

    O homem, em sua angústia, olhou novamente para o líder dos anões. Seus olhos estavam quase sem vida, mas ainda havia uma última chama de esperança.

    O líder dos anões, após um longo momento de silêncio, finalmente respondeu com um sorriso que mais parecia um sorriso de prazer maligno. Ele olhou para o homem com uma satisfação que beirava a crueldade, como se estivesse saboreando o sofrimento alheio.

    “Por sorte sua, humano…” disse ele com um tom de voz que misturava ironia e prazer. “Se tem algo que alegra mais um anão do que ouro, é forjar usando Diamante Negro.”

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