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    Agora que o navio se estabilizo, o androide sem um dos pés, se levanta enquanto o outro a suas costas, tenta se recompor se apoiando no metal. O da esquerda ainda observa tudo incrédulo.

    Aquele ser, aquela presença a sua frente olhando para dentro de sua alma. Mesmo não enxergando nitidamente seus olhos, ele sabe em toda sua essência, que ela o observa com atenção. Seus joelhos falham por um instante.

    Já seu amigo de um pé só, se esforça para assumir uma postura ereta ao terminar de se levantar. O androide que caiu atrás a pouco, começa a caminhar na direção dos dois até parar um pouco atrás deles. Ele levanta seus punhos brilhantes em linhas e círculos vermelhos na altura do capacete.

    Sarah observa um dos androides tremer as mãos, e depois fechá-las. Depois lança seu olhar para os outros dois, que mantém suas posturas. Então sente uma brisa diferente das outras. Suave, agora toca seu rosto vinda de trás do navio.

    O navio aparenta começar a se acalmar, mas a falta de feixes de luz, demonstra o oposto. O barulho então surge novamente, aí vem ele mais uma vez. Ela simplesmente abre os braços e fechas os olhos perante aos androides, que estáticos, observam ao fundo uma nova onda surgir engolindo tudo novamente. Não demora para ele abraçá-la. Os próximos são eles, firmes ou tremendo, se preparam.

    O mar insaciável, sufoca todo o convés em um ato de pura ganância. Junto dele, ela se aproveita da correnteza e se alavanca em direção ao androide que respira ofegante dentro do capacete. Mesmo debaixo da água dá para sentir seu medo fedorento contaminando a fúria do mar.

    Ela só avança o acertando bem no peito, acabando com aquela existência digna de pena, pelo menos é isso que seu olhar castanho e sereno demonstra enquanto termina de afundar a adaga no tórax dele. Em simultâneo, ela com os pés, busca se apoiar na perna esquerda dele, enquanto é pressionada pela água salgada que ousa em querer reivindicá-la também.

    Quando o mar recua e tudo começa a ficar nítido. O androide de punhos brilhantes observa seu companheiro a frente, despencar para o lado perto daquela figura. Sua adaga termina de respingar um pouco de sangue azul ao solo que é revelado com os feixes de luz que retornam aos poucos.

    Ao olhar para a face dela, dá para ver nitidamente seu olhar focado o observando com todo seu ser. Ele volta a reparar no corpo do androide caído e em como o brilho dele se esvai. Ao retomar o olhar para o alto, para a encarar. Percebe que ela já está trocando a adaga da mão direita para a esquerda. Então ele se prepara novamente com seus punhos prontos para o embate, porém, ela em um movimento repentino lança sua adaga para a esquerda, ao acompanhar o brilho do objetivo, ele o vê fincando no capacete do outro androide.

    Seu brilho que já é quase nulo, com o golpe, termina de apagar caindo para o lado. Ao voltar seus olhos para ela, ele vê algo que o choca ao ponto de abaixar seus punhos. Não tem como confundir, não existem gotas no ar, somente uma brisa cada vez mais forte vinda das suas costas. Em seu olhar distante, porém voltado para ele, lágrimas escorrem pelo rosto dela. Sem perder a compostura e o foco, Sarah demonstra algo que ele nunca sentiu em toda sua existência. Compaixão.

    Ele não resiste, e abaixa os punhos. Sua viseira ostentando o V curvado, começa a se abrir para cima, sumindo sob o capacete, um pouco acima da sobrancelha preta. Sua branca e levemente avermelhada, exalta a tatuagem de uma meia-lua negra. A tatuagem envolve metade de seu olho direito que ostenta um tom castanho, enquanto seu olho esquerdo ostenta um olhar azul profundo. Ele simplesmente se entrega perante a cena que observa a frente. Lágrimas escorrem de seus olhos.

    A brisa se torna vento, que bate forte contra seu rosto, jogando seus pesados fios para trás. Sarah então lança um olhar para cima e para trás da ponte de comando, seus olhos se arregalam e sua boca se abre com descrição. O androide ao ver tal cena se estarrece, enquanto se pergunta o que poderia ser pior do que tudo que aconteceu até agora, para provocar essa reação nela.

    Em um movimento repentino, ela pega a sua adaga do corpo no chão, começa a correr, depois de uma arrancada abrupta. Saltando por cima do contêiner e sumindo em direção da proa.

    Sem entender muito, ele a observa correr enquanto repara que a proa do navio está começando a se inclinar para baixo. Então lança um olhar para trás e para o alto. Após suas pupilas se dilatarem por um instante, fecha sua viseira enquanto começa a disparar na mesma direção dela. Os pilotos em uma euforia súbita, começam a disparar feixes vermelhos na direção da proa, na esperança de cumprirem a única missão que lhes foi confiada. Mais containers despencam, mas ao invés de colidirem contra o convés, eles despencam em direção a proa.

    Um dos pilotos observa isso e estranha, então ele repara na posição do navio inclinado para baixo, quase mergulhando no mar. Ao lançar seu olhar em busca do horizonte, atrás da ponte de comando, ele simplesmente trava com o que observa. Seu motor, que impulsiona o sangue azul pelo seu corpo pesado, o acompanha no mesmo gesto, mas logo retoma.

    Uma onda. Não! Um Tsunami gigantesco se apresenta na festa, trazendo consigo, o arauto dos mares. Uma serpente gigantesca surfando no interior da onda, deitada, seu corpo comprido se estende por centenas de metros, seu brilho azul neon que surge lá na direita, de onde os olhos alcançam, corre em uma estreita linha serpenteando até a esquerda, no limite da vista e vai se repetindo em um intervalo de poucos segundos.

    — Iâmur. — Mais um sussurro do que propriamente uma fala, escapa da boca do piloto, abafada pelo capacete.

     A última cartada da gula do mar, que reivindica a sobremesa antes de partir. Não dá. Não tem como escapar, ela já está sobre eles. Tão rápida que nem o motor mais potente das naves de elite nos postos de Ayda poderiam escapar. O navio, as naves, os androides e ela, tudo é mastigado e engolido pela fúria do soberano da noite. Aqui ninguém é maior que a própria natureza.

    Dias se passaram desde então.

    — Você finalmente chegou — Um sussurro quase inaudível que some tão rápido quanto foi criado, surge vindo de uma silhueta feminina.

    Helena está paralisada com a cena que presencia. A sua frente, a beira de uma encosta rochosa que termina mergulhando nas profundezas do mar. Durante um crepúsculo dourado que já está dando seu adeus. Se encontra duas silhuetas. Uma delas, de uma mulher com longos cabelos esvoaçantes, está sentada sobre a cabeça de uma serpente tão grande que faz a mulher parecer um brinquedo esquecido ali.

    A serpente, sentindo a presença de Helena. Começa abrir seus olhos. Um azul que sai da escuridão nas bordas, e vai se tornando quase um verde piscina no centro. A encara, não que Helena não esteja encarando de volta. Aquele olho parece uma safira incandescente. Então ela começa se erguer imponente sobre a encosta. Uma linha azul neon começa a cortar a lateral da serpente, emitindo um brilho que começa no top perto da cabeça, e vai descendo até se esconder depois das pedras.

    — Shiiii. Calma. —  Uma voz firme e feminina ecoa pelo ambiente. A sombra parece acariciar o topo da cabeça da serpente, que por sua vez, começa a descer de volta. E retorna a repousar a cabeça sobre a encosta.

    A silhueta da mulher desce da serpente. E a passos lentos, vem se aproximando de Helena, que sente seu coração acelerar a cada passo. Suas pernas se recusam a se mover nem que seja por um centímetro.

    Seu olhar balança entre o foco na Silhueta da mulher e na da serpente ao fundo.

    — Você trouxe o que eu pedi? — A voz mulher se torna mais próxima e mais intima.

    — Aqui está! — Helena tira com cautela sua mochila das costas. Repousa ela sobre o chão rochoso e irregular. Então puxa uma pequena corda que estava enlaçada. A parte superior da mochila começa a se abrir, revelando o tesouro que carrega.

    — Você já as experimentou assadas, e acompanhadas com a carne de um Carvão de Sangue? — A mulher se abaixa enquanto vai tirando uma das batatas de dentro da mochila.

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