Capítulo 530 - Terror noturno
“Por aqui! Todos em formação, estamos partindo em dois minutos!” Theodora gritou em plenos pulmões, enquanto os Cabos se posicionavam no grande pátio do prédio do Batalhão Zero.
BOOM! BOOM! Treme!
Todo o local balançou, enquanto a poeira subia e fragmentos caiam do teto.
“Merda! O que está acontecendo?!” Um Soldado exclamou, ao sentir os tremores.
“Devem ser aqueles malditos Orcs, esses desgraçados vieram para morrer novamente!” Outro disse, seu olhar expondo um misto de medo e vontade de lutar.
“Em formação, depressa seu bando de tartarugas!” Ao longo do pátio, os Cabos gritavam de um lado ao outro, enquanto colocavam os Soldados alinhados.
A frente de todos o jovem Tenente observou tudo aquilo com um olhar tranquilo, mas internamente estava apreensivo. Olhando para sua janela de alerta, franziu a testa.
Autoridade: Tenente Fernando Nóbrega, Batalhão Zero.
Mensagens recebidas: 4
Ordens QG: Todos os Tenentes e Capitães devem se preparar para o combate, reúnam suas tropas nas muralhas!
Negociações: Nenhuma.
Rede de mana: Operante.
Haviam se passado menos de cinco minutos desde os primeiros tremores, assim como do alerta. Graças ao treinamento constante, as tropas reagiram rapidamente as suas ordens.
“Quem do nosso pessoal retornou?” Fernando perguntou a Theodora, que estava próxima.
Ouvindo a pergunta, a mulher tinha uma expressão complicada. Atualmente, pelo menos um quinto das forças do Batalhão Zero estavam realizando missões externas.
“Ilgner, Noah, Trayan e Ronald ainda não retornaram. Também temos alguns Cabos que estavam em missões de patrulha, eles estão retornando agora e irão nos encontrar no ponto de encontro.”
O rapaz franziu levemente as sobrancelhas. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas se fosse um ataque Orc, aqueles que estavam do lado de fora teriam dificuldades de sobreviver.
Woooh!
De repente, as dezenas de Lobos Prateados saíram da área de descanso destinada às montarias.
Vendo as centenas de pessoas aglomeradas, Fernando percebeu que não teriam espaço para todos ali.
“Estamos partindo agora, quais Pelotões estão preparados?” O rapaz questionou pela comunicação interna.
“Quarto Pelotão Montado! Estamos prontos!” Karol gritou, empunhando sua lança, enquanto montava em seu lobo branco.
“Terceiro Pelotão a posto!” Gabriel declarou na comunicação.
“Quinto Pelotão aguardando ordens!” Kelly disse.
Vendo que os três Oficiais presentes estavam em posição, o jovem pálido olhou para o Sargento Thom, que estava não muito longe, ajudando na organização.
“Thom, fique e organize o restante deles, Damon irá segui-lo com a Unidade de Logística. Nos encontraremos na muralha.” ordenou.
“Entendido!” O rapaz aceitou a ordem, correndo em direção as tropas do Primeiro e Segundo Pelotão que haviam retornado e estavam sem liderança adequada.
“Preparem-se para partir!” Fernando gritou.
Não muito longe, Lerona observou tudo em silêncio, sem intervir nas ações do rapaz. Ela tinha recebido o alerta, mas cumprir sua missão de proteção era sua prioridade.
A mulher havia ficado impressionada com a velocidade de resposta das tropas do Batalhão Zero, sendo quase tão rápida quanto de algumas de elite. Considerando que era um batalhão com tão pouco tempo de existência, era algo realmente admirável. Além disso, havia um certo clima ao redor, uma sensação com a qual ela tinha familiaridade.
Nas fileiras, mesmo que alguns homens e mulheres estivessem assustados, ninguém demonstrou isso abertamente, pelo contrário, uma forte pressão se espalhou a partir deles. Aqueles não eram mais Soldados de primeira viagem, mas pessoas que já haviam experienciado a vida e a morte no campo de batalha!
Todos começaram a marchar, enquanto aqueles com escudos o golpeavam com suas espadas.
“Uh! Uh! Unidade!”
Bam! Bam! Bam!
“Uh! Uh! Unidade!”
Bam! Bam! Bam!
As tropas do Batalhão Zero rapidamente saíram pelos portões, inundando as ruas da cidade.
Wooooohn!
Um som agudo e alto tocava no topo das muralhas. Essa era uma resposta da Matriz de defesa da cidade, uma sirene que persistentemente soava sem parar, indicando que estavam sob ataque.
Devido a isso, todos os comerciantes e outros civis que estavam atualmente em Garância, se esconderam em suas casas e comércios. Muitos olhavam pelas frestas de suas janelas, enquanto tremiam de medo.
Esse era o procedimento padrão para a maioria das cidades em zonas de guerra, todos deveriam se abrigar assim que as sirenes tocassem. Dessa forma as vias estariam desobstruídas para a passagem dos militares. Como era no meio da noite, a maioria das pessoas estava dormindo assim que toda a agitação começou, o que causou menos caos.
As várias tropas de diversos Batalhões estavam por toda parte, muitas ainda estavam numa bagunça completa, marchando sem formação, enquanto alguns Soldados fugiam na direção oposta a origem dos tremores, com rostos completamente aterrorizados.
“Estamos acabados, estamos todos mortos!” Um deles gritou, enquanto corria o mais rápido que podia.
Vendo isso, muitos dos civis que observavam a situação de suas residências, assim como as tropas que estavam se organizando, ficaram apavorados.
De repente, um som rítmico começou a soar.
Bam! Bam! Bam!
“Uh! Uh! Unidade!”
Bam! Bam! Bam!
“Uh! Uh! Unidade!”
Um único batalhão estava marchando em uma formação impecável, enquanto seus Soldados tinham expressões destemidas em seus rostos.
“Q-quem são esses?” Um Cabo de umas das tropas, que estava numa das ruas bifurcadas, perguntou.
“Eu não sei senhor, mas como eles podem estar tão calmos assim?” Um dos Soldados do esquadrão do sujeito perguntou.
Woooo!
De repente, uivos soaram, quando atrás dos Soldados daquele esquadrão, dezenas de Lobos Prateados com tropas montadas surgiram em seguida.
“O-o que é isso?!”
Hisss!
Um dos lobos passou perto de um dos homens, lançando uma baforada quente, fazendo-o cair para trás devido ao susto.
De repente, quando um dos homens viu a braçadeira de alguns dos Soldados, com o nome “Zero” escrito, rapidamente se recordou.
“Esse é o Batalhão Zero! Aquele dos rumores!”
“Aqueles que lutaram na Quinta Divisão? Eu não sabia que eles tinham uma unidade montada tão poderosa!” Outro disse, ao ver os gigantescos Lobos Prateados.
BOOM!
Estrondos continuavam a soar.
Quando todos olharam para cima, símbolos se espalharam do topo do céu, como se fosse uma corrente de energia. Esta era a Matriz de defesa da cidade reagindo! Uma clara indicação de que estavam recebendo poderosos ataques e os enormes ruídos e tremores estavam vindo do portão Sul.
“Merda, acabou! Garância vai ter outro massacre! Viemos para uma cidade de mortos, é isso que recebemos!” Um homem gritou.
“Fujam! Salvem suas vidas enquanto ainda há tempo!” Outro disse em seguida, sendo um dos que estavam vindo do Sul.
Mesmo que Garância tenha sido retomada com sucesso, isso só aconteceu devido a um acaso do destino, por causa da intervenção oportuna dos Altos Elfos. Muitos não acreditavam que poderiam ter vencido por conta própria.
Além disso, grande parte das tropas estavam abaladas após o exército sofrer tantas perdas massivas e o fato de terem presenciado o massacre em Garância quando entraram na cidade, acabou por fazer muitos ficarem profundamente traumatizados com a brutalidade, temendo que acabassem da mesma forma.
“Líder.” Theodora alertou, ao ver vários Soldados de outras tropas fugindo na direção do portão Norte, abandonando seus postos, acompanhando aqueles que estavam fugindo anteriormente.
“Seus desgraçados, voltem para a posição agora! Vou mandá-los para a prisão!” Um homem com a braçadeira de Tenente gritou, furioso.
Olhando para aquela situação, o jovem Tenente franziu a testa. Ele não sabia o que essas pessoas tinham visto, mas elas estavam espalhando medo para todos os outros.
Num campo de batalha, o medo e o terror eram uma arma muito mais mortal que espadas e flechas. Mesmo que um exército fosse mais forte, se fosse contaminado pela ‘doença’ chamada medo, suas formações iriam se fragmentar, enquanto desertores surgiriam um após o outro, abandonando suas formações. Uma vez que isso ocorresse, tudo estaria acabado.
Ainda que não fosse tão experiente, este era um conceito simples que Fernando entendia muito bem. Se ele deixasse que as coisas continuassem assim, até mesmo suas tropas seriam afetadas!
Vendo vários dos homens assustados correndo em sua direção, seu rosto imediatamente ficou frio, quando sacou sua Espada Formek.
Theodora imediatamente entendeu sua intenção, sacando sua espada Céleres. As tropas atrás também fizeram o mesmo.
BOOM!
De repente, o jovem Tenente desapareceu de onde estava, usando seus Passos Tirânicos, apareceu bem na frente de um dos homens que fugiam, enquanto gritavam coisas como ‘Estamos mortos’ ou ‘Temos que fugir’.
Ao lado, Theodora fez o mesmo. Embora não possuísse Habilidades, sua velocidade era tão alta que ela já havia aparecido na frente do outro.
Os dois sujeitos ficaram completamente estupefatos e antes que entendessem o que estava acontecendo, o rapaz pálido e a Medusa atacaram com suas espadas, ficando-as no torso de seus respectivos alvos.
“Ah!”
Ambos os homens gritaram de terror, enquanto seus peitos eram perfurados ao mesmo tempo. Fernando e Theodora rapidamente puxaram suas lâminas, permitindo que os dois sujeitos desabassem, sem vida.
“O que está acontecendo?! Estão nos matando!” Um dos Soldados que estava logo atrás gritou, cheio de medo.
“Malditos, estão loucos?!” Outro exclamou.
Em resposta a isso, Fernando manteve uma expressão séria, quando apontou sua lâmina para eles.
“Os covardes que entrarem no caminho do Batalhão Zero serão considerados inimigos!”
Bam! Bam! Bam!
As tropas que vinham atrás bateram fortemente com seus escudos, o que reforçou ainda mais o sinal de ameaça.
“L-louco! Ele é louco! São todos desgraçados malucos!” Os desertores gritaram, quando rapidamente fugiram em outra direção.
O Tenente do Batalhão, que estava gritando antes, ficou estupefato. Ele havia ameaçado alguns dos homens de prisão, mas jamais se atreveria a matar aliados dessa forma.
Karol, que estava na retaguarda liderando o Quarto Pelotão, presenciou toda essa cena. Vendo os corpos dos dois homens, a Oficial fechou os olhos por um instante, enquanto se sentia triste.
Apesar disso, ela não disse nada, pois sabia que seu marido não tinha escolha. Mesmo sentindo seu coração doer, com sua experiência anterior como Cabo, ela entendia que muitas vezes ações cruéis eram necessárias para manter a ordem.
Marchando pouco atrás, entre as tropas, a Capitã Lerona tinha uma expressão calma. Pela lei militar e pela situação, Fernando havia tomado a decisão certa, então não haveria consequências sobre as duas mortes. Apesar disso, ela não pôde deixar de ficar impressionada sobre como alguém tão jovem conseguia agir de forma tão decisiva.
“Avante!” Fernando gritou, ao perceber os desertores fugindo como baratas ao verem a luz.
Olhando para o sangue na lâmina, bem como o corpo, a sua frente, seu coração bateu forte, mas manteve-se firme. O rapaz não queria ter que fazer isso, mas entre a vida de outros e do seu pessoal, sempre escolheria a do seu povo.
Bam! Bam! Bam!
As tropas atrás não hesitaram, quando continuaram em sua marcha apressada. Nenhum deles ficou surpreso com as ações de seu Tenente. Pelo contrário, era o que esperavam dele.
Vendo o destemor Tenente pálido e seus Soldados, o Tenente do Batalhão desorganizado ficou completamente impressionado. Diferente dele, que estava lutando para controlar seus homens e impedi-los de fugir, o rapaz apenas disse uma única palavra e seus subordinados o obedeceram!
A verdade é que o sujeito também estava apavorado. Ele não sabia o que os aguardava, por isso também estava hesitante. Entretanto, ao ver aquele rapaz, mesmo com sua pouca idade e ocupando a mesma posição que ele, enquanto avançava corajosamente, não pôde evitar ranger os dentes, sentindo-se tão covarde quanto aqueles que fugiam.
Vendo o símbolo de sua braçadeira, ele imediatamente identificou aquela pessoa.
Então esse cara é o Tenente Fernando do Batalhão Zero? Eu não acredito… Eu não sou inferior a esse pirralho! Nem pensar! pensou, furioso.
Tempos antes, ele havia sido um dos que protocolou junto a outros Tenentes um pedido de revisão ao QG quanto a distribuição dos saques, principalmente ao saber que um único batalhão, assim como o dele, havia ficado com uma recompensa tão gorda, enquanto eles que lutaram na batalha central haviam recebido apenas migalhas. Ainda que sua tropa não fosse nomeada, sendo apenas um Batalhão Estacionário que antes ocupava uma pequena cidade pacata, acreditava que ambos deveriam ter direitos e recompensas iguais.
No entanto, agora, ao ver a diferença entre ambas, não pôde evitar sentir-se inferior. Uma sensação de vergonha o preencheu ao lembrar-se de suas ações anteriores.
Então, ao avistar mais um de seus Soldados correndo, sua mente ficou cheia de raiva e logo moveu o pulso, tirando um arco.
Swish!
O Soldado mal deu dois passos, quando sua perna foi atingida, soltando um lamento triste.
“Os desgraçados que tentarem fugir serão tratados assim a partir de agora!” O homem gritou em plenos pulmões. Apesar de tentar fazer o mesmo que o Tenente pálido, no fim não teve coragem de matar o desertor no local. “Sigam o Batalhão Zero! Marchem! Cuidaremos dos malditos que fugiram depois!”
Ouvindo as ordens de seu Tenente, assim como vendo suas ações duras, todos rapidamente se colocaram em formação. Muitos dos que estavam pensando em fugir também rapidamente desistiram da ideia. Além disso, ao contemplarem a coragem do Batalhão Zero, muitos se sentiram imediatamente inspirados!
Tac! Tac! Tac!
O Batalhão Zero continuou marchando em passos largos. Olhando para o relógio em sua Pulseira, Fernando viu que mesmo com os atrasos, eles chegariam ao portão Sul em menos de dois minutos.
“Líder, algumas outras tropas estão nos acompanhando.” Theodora alertou, ao reparar o Batalhão de antes, que haviam ultrapassado, seguindo-os.
Olhando para trás, o jovem Tenente levantou uma sobrancelha.
“Apenas os ignore.” respondeu calmamente. Ele não tinha tempo de lidar com outras pessoas.
Em poucos instantes, o Batalhão Zero avançou pela cidade, aproximando-se rapidamente do portão Sul. Os tremores começaram a ficar cada vez mais pesados.
BOOM! BOOM! BOOM!
Swsh! Swish!
De repente, sons de explosão soaram, enquanto vários Magos e Majores Combatentes passavam acima de suas cabeças. E então, quando viraram mais uma rua, chegando a avenida central, que dava direto na saída da cidade, o portão Sul estava finalmente à vista.
Fernando olhou para o topo das muralhas e viu vários magos lançando suas magias para o alto na direção da densa escuridão, o que o intrigou, já que com exceção de Xamãs, Orcs não voavam, porém, nesse momento uma das Balistas disparou.
BOOM!
Uma enorme explosão atingiu a escuridão, finalmente iluminando tudo como se fosse dia. Foi então que todos finalmente puderam ver a causa dos tremores, aquilo que estava os atacando.
Uma imensa palma colossal estava bem em frente da Matriz defensiva, agarrando-a, como se estivesse tentando escalá-la! Foi apenas por um instante, mas parte do corpo gigantesco da coisa foi revelado, quando um enorme par de olhos aterrorizantes surgiu no alto das muralhas, observando tudo lá dentro!
“Que droga é essa?” Fernando exclamou, espantado.
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