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Capítulo 68 — Poção de Verdades
O quarto de Jeffzzos era inesperadamente organizado. Diferente do caos alquímico que Rhyssara imaginara, o ambiente era limpo, arejado e minimalista. As paredes de pedra polida refletiam a luz suave das luminárias encantadas, criando um brilho cálido e discreto. Não havia caldeirões fumegantes nem frascos espalhados de forma desordenada, apenas uma estante baixa em um dos cantos, repleta de livros e recipientes meticulosamente alinhados. A cama, de estrutura robusta, possuía lençóis escuros dobrados com precisão quase militar, e o chão não carregava sequer um grão de poeira.
Uma grande mesa cheia de papéis e penas e papiros com duas cadeiras impecavelmente alinhadas tomava o centro do quarto.
Com um sorriso de canto, Rhyssara girou a taça dourada em mãos, observando o líquido cintilar sob a luz. O contraste entre aquele ambiente impecável e o que ela esperava encontrar a divertia.
— Então o quarto do mais novo ancião da Guilda Martelo e Elixir é limpo e organizado? — provocou, erguendo uma sobrancelha. — Eu esperava mais frascos e caldeirões. E definitivamente mais sujeira.
Jeffzzos permaneceu impassível, seus olhos escuros brilhando ligeiramente ao desviar o olhar para ela. Com um suspiro quase imperceptível, respondeu com o tom seco de sempre:
— Não me compare com os primitivos grotescos de minha raça. Meu ambiente de trabalho é uma coisa. Meu ambiente de descanso, outra.
Ele ergueu a taça num movimento calculado, a bebida dourada refletindo o brilho das lâmpadas encantadas.
— E não precisamos de rodeios, Rhyssara BloodRose. Apenas brindemos.
Rhyssara estudou-o por um instante antes de erguer sua própria taça. Com um leve movimento do pulso, tocou a borda do copo no dele, e o tilintar metálico soou pelo quarto como um sussurro de magia. No instante do contato, um feixe dourado serpentou pelo ar, deslizando ao redor dos dois em círculos fluídos, como se os envolvesse em um selo invisível.
Jeffzzos fechou os olhos e, com a voz firme e cadenciada, recitou a oração que ecoou suavemente pelas paredes de pedra:
— Ó Deus que criou os planetas e as estrelas, clamo a ti que expurgue toda mentira e enganação daqueles que beberem desta poção e nos revele suas reais intenções.
A luz dourada brilhou intensamente, envolvendo-os por um instante antes de ser sugada de volta às taças, como se aquele fosse o último ingrediente necessário para completar a fórmula.
Rhyssara abaixou os olhos para o líquido reluzente. Não havia hesitação em seu gesto quando ergueu a taça novamente e levou-a aos lábios. Jeffzzos fez o mesmo.
O gosto da poção deslizou por suas gargantas com um calor sutil, enquanto o brilho dourado começava a se dissipar no ar ao redor deles.
Jeffzzos foi o primeiro a se mover, acomodando-se na cadeira da mesa de pedra no centro do quarto. Com um gesto casual, indicou que Rhyssara o acompanhasse.
— Então… — Ele apoiou os antebraços sobre a mesa, estudando-a com aquele olhar analítico. — Sua visita se trata do que imagino?
A imperatriz descansou a taça na mesa antes de se sentar à sua frente, cruzando as pernas com elegância.
— Minha coroa não me permite ler pensamentos, por mais que eu adoraria saber o que se passa nesse cérebro genial.
Jeffzzos não se deu ao trabalho de disfarçar um pequeno sorriso de escárnio.
— Quer se banhar antes de conversarmos?
Ele abriu uma gaveta sob a mesa e retirou uma garrafa de vidro escuro, onde um líquido roxo cintilava sob a luz suave do quarto.
Rhyssara ergueu os olhos para ele, fitando-o diretamente com seu azul cortante.
— Por quê? Está insinuando que estou com mal cheiro ou planejando algo para nós dois essa noite?
O anão soltou uma risada baixa, sua expressão rígida se quebrando momentaneamente.
— Nenhum homem, anão, elfo ou dragnaro rejeitaria a oportunidade de ter você por uma noite, Imperatriz. — Ele brincou com a garrafa entre os dedos, antes de completar, num tom mais contido: — Mas eu sei que você não se entregará a nenhum deles como um dia já se entregou para aquele homem.
O sorriso sumiu de seus lábios no instante em que a última palavra foi dita.
Rhyssara ficou em silêncio. O brilho divertido que dançava em seus olhos momentos antes desapareceu, substituído por algo mais denso, um incômodo que ela não se deu ao trabalho de mascarar.
— Mais uma poção? — murmurou ela, desviando o olhar para a garrafa.
— Não. Apenas um bom vinho. — Jeffzzos serviu sua própria taça primeiro e, com um gesto sutil com a garrafa, ofereceu a bebida a ela.
A imperatriz hesitou por um breve instante, mas o anão tomou um generoso gole da própria taça antes, provando que o vinho não estava adulterado.
— Vá por mim, essa conversa vai precisar de um pouco de álcool.
Rhyssara soltou um suspiro discreto e estendeu a taça, permitindo que ele a preenchesse com o líquido escuro.
— A poção da verdade era realmente necessária?
Jeffzzos inclinou levemente a cabeça, avaliando-a antes de responder.
— Não me leve a mal, mas conheço seu tipo. — Sua voz não tinha qualquer acusação, apenas uma constatação tranquila. — Você se encobriria de meias verdades, garantindo que sempre tivesse ao menos uma ou duas cartas escondidas na manga. É assim que gente como você chega ao poder. E sei que você também se sente mais confortável sabendo que eu a bebi.
Rhyssara não protestou. Em vez disso, apenas ergueu a taça e tomou um gole do vinho, aceitando as palavras sem ofensa.
— Como anda seu povo com a notícia do ataque dos dragnaros?
Jeffzzos tomou outro gole antes de responder, reenchendo sua taça em seguida.
— Dividido. — Sua voz era desprovida de rodeios. — Há aqueles que ainda se lembram da humilhação de sermos feitos de piada por dragnaros e elfos. Para eles, a chance de derrota-los mais uma vez parece ser algo atrativo.
Ele girou o vinho na taça antes de continuar:
— E há aqueles que preferiam ser taxados de inferiores por quem realmente é superior… do que por um bando de inúteis que nem sequer conseguem despertar magia sem nossa ajuda.
Rhyssara pousou a taça sobre a mesa, apoiando os braços no descanso da cadeira.
— E você? Faz parte de qual lado?
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