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Capítulo 69 — Refeição
O brilho dourado do sol filtrava-se pelo vidro transparente da janela, invadindo o quarto em ângulos estranhos devido a posição do edifício. Um feixe mais forte encontrou seu caminho até o rosto de Cassian, aquecendo a região de seus olhos fechados. Ele franziu o cenho, respirando fundo antes de abrir as pálpebras com um piscar lento.
O primeiro detalhe que sua visão encontrou foi o contraste do azul escuro contra sua pele. Os cabelos de Visna espalhavam-se sobre seu peito nu, a respiração dela calma e ritmada, aquecendo levemente sua pele. Os grandes seios aninhavam-se contra ele, macios e pesados, e Cassian precisou de um instante para lembrar-se da noite anterior.
Passando a mão pelos fios sedosos, ele afastou delicadamente a cabeça da anã para o lado, cuidando para não despertá-la. Visna murmurou algo incompreensível no sono, seu corpo encolhendo ligeiramente antes de se acomodar novamente entre os lençóis.
Cassian deslizou para fora da cama com movimentos controlados, os músculos relaxados pelo descanso inesperadamente tranquilo. Seus olhos pousaram sobre as roupas dobradas sobre uma cadeira próxima, as mesmas que Visna trouxera na noite anterior.
Vestiu a blusa bege, sentindo a maciez do tecido, e puxou as cordas da gola para ajustá-la. As calças marrons eram resistentes, porém leves, e os sapatos de pano ajustavam-se com facilidade.
Ao se aproximar do espelho no canto da área de banho, Cassian arqueou uma sobrancelha. Ele parecia… comum. Um plebeu qualquer, sem qualquer vestígio da realeza em sua postura ou vestimenta.
Um sorriso genuíno curvou seus lábios. Talvez seu comentário no armazém de Jeffzzos tivesse o incomodado mais do que ele imaginara.
Mas, ao contrário do que a maioria pudesse pensar, Cassian não era do tipo de nobre que se sentiria ofendido por isso. Na verdade, as roupas eram surpreendentemente confortáveis.
Com um último olhar para a cama desarrumada e o pequeno corpo aninhado nos lençóis, ele saiu do quarto.
Coincidentemente, no exato momento em que fechava a porta, outras se abriram quase em sincronia.
— Bom dia. — cumprimentou entre bocejos, espreguiçando-se preguiçosamente.
Seu olhar percorreu os companheiros e, só então, notou o detalhe curioso: todos estavam vestidos como ele. Blusas bege de gola ajustável, calças simples e sapatos de pano.
Com exceção de Any e Tály. Suas roupas seguiam o mesmo padrão, mas a costura apertada na cintura e as calças mais justas realçavam suas silhuetas femininas. Nos pés, sandálias ao invés de sapatos.
Cassian riu de leve, balançando a cabeça.
— Isso é o que eu chamo de uma recepção anã.
Antes que alguém respondesse, a porta de seu quarto se abriu novamente. Visna saiu com a postura despreocupada de quem não via qualquer problema na situação da noite passada. Ela agora vestia suas roupas sacerdotais marrons, ajustadas por uma faixa firme na cintura. Seus cabelos azuis, que horas antes estavam soltos e espalhados sobre seu peito, haviam sido presos em um rabo de cavalo improvisado, deixando seu bonito rosto arredondado à mostra.
Cassian franziu levemente a testa, percebendo algo curioso. De onde ela havia tirado aquela roupa? Então a resposta veio com naturalidade. Visna havia preparado os quartos. A anã se garantiu que conseguiria seduzi-lo e, para evitar contratempos, deixou sua própria muda de roupas escondida ali para o dia seguinte. Ele abafou uma risada, impressionado com tal previsibilidade estratégica.
— Bom dia. — saudou Visna, como se nada fosse estranho.
O silêncio que se seguiu foi pontuado por olhares discretos e expressões de incredulidade. Marco e o cocheiro Phill exibiam sorrisos enviesados, claramente impressionados, enquanto Any apenas ergueu uma sobrancelha. Já Tály, diferente dos demais, estreitou os olhos, seu olhar cravado no de Cassian por um breve instante antes de virar as costas e seguir pelo corredor, em direção ao salão principal.
— Senhorita, não vá por aí. — chamou Visna, antes que Tály desaparecesse de vista. — Me acompanhem até a sala de refeições.
Ela seguiu pelo fundo do corredor, onde parecia haver apenas uma parede sólida de tijolos. Com naturalidade, retirou o martelo de cabo vermelho e cabeça de metal de dentro das vestes e, com dois toques precisos, golpeou a pedra.
O som surdo da pancada reverberou, e, lentamente, os tijolos começaram a se deslocar em diferentes direções. Alguns para os lados, outros para cima e para baixo, revelando uma passagem oculta.
Do outro lado, um amplo salão se revelou. Longas mesas de madeira entalhada estavam repletas de anões, que devoravam ovos, carne de boi suíno e asas-escama de peixe-voador. O cheiro da comida quente pairava no ar, tornando a atmosfera ainda mais convidativa.
Rhyssara já estava acomodada em uma das mesas mais ao canto, seu prato carregado com fatias de pão e tiras generosas de bacon de boi suíno. Ela ergueu os olhos para o grupo, sem pressa, antes de cortar mais um pedaço da refeição.
— Por favor, sirvam-se à vontade. — disse Visna, fazendo uma breve reverência. Então, ajeitou a faixa da cintura e lançou um olhar satisfeito para Cassian antes de se virar. — Se me dão licença, preciso me banhar. Essa noite foi muito quente.
O tom casual da sacerdotisa fez com que alguns sorrisos fossem contidos entre os presentes, exceto por Tály, que permaneceu em silêncio enquanto Visna passava.
Cassian apenas soltou um suspiro, balançando a cabeça antes de se dirigir a mesa para se sentar. O dia mal havia começado, e ele já podia sentir que não seria tranquilo.
Enquanto o grupo avançava pelos corredores apertados da fortaleza anã, seus olhos eram atraídos para o que os cercava. As mesas de pedra e madeira estavam repletas de frascos de vidro, pergaminhos e ingredientes exóticos, muitos deles desconhecidos para os humanos. Entre um prato e outro, os anões misturavam poções e manipulavam ervas, como se a alquimia fosse tão essencial para eles quanto a própria refeição. Era evidente que o trabalho nunca parava ali.
Ao entrarem no salão principal, depararam-se com o grande refeitório da guilda. O espaço era iluminado por candelabros encantados que pendiam do teto esculpido na própria rocha, projetando uma luz quente sobre as longas mesas de madeira maciça. Anões se banqueteavam com ovos, carne de boi suíno e asas-escama de peixe-voador, o cheiro da comida quente preenchendo o ambiente de maneira quase acolhedora.
Os olhos de Cassian rapidamente pousaram sobre Rhyssara, sentada em um dos cantos do salão. A imperatriz trajava um novo conjunto de vestes que combinava tons de azul profundo e vermelho vinho, contrastando perfeitamente com seus cabelos carmesim e olhos celestes. O tecido era ricamente adornado com sutis bordados dourados, e a estrutura da roupa mantinha um ar de nobreza que combinava perfeitamente com a coroa fina de metal negro em sua cabeça.
Eles se acomodaram à mesa e, assim que o fizeram, um anão apressado trouxe pratos fumegantes e os depositou diante deles, espalhando o aroma irresistível da comida quente.
— Como foi a noite de vocês? Espero que tenham descansado bem. — Rhyssara quebrou o silêncio com um tom natural, desprovido da máscara de imponência que costumava usar. Pela primeira vez em muito tempo, parecia relaxada.
— A noite foi excelente. — Respondeu Cassian, pegando um pedaço de pão macio enquanto observava os anões ao redor.
Antes que mais alguma conversa pudesse se desenvolver, Tály cruzou os braços e lançou a pergunta sem rodeios:
— Já resolveu o que precisava?
Houve um instante de silêncio antes de Rhyssara responder. Quando o fez, sua voz permaneceu tranquila, mas carregada de um peso inconfundível:
— Escute. — Ela começou, seus olhos fixando-se nos de Tály. — Não é porque você está se corroendo de ciúmes por dentro que pode perder as rédeas e sair falando sem respeito comigo. Se tem algo a incomodando, vá direto ao assunto com quem te incomoda, em vez de correr o risco de ser devidamente punida.
O impacto das palavras da imperatriz foi imediato. O grupo trocou olhares surpresos, e até mesmo Redgar, que estava distraído com a comida, levantou os olhos da refeição.
Tály piscou algumas vezes, sua face corando rapidamente.
— Ah, me desculpe. Parece que o efeito daquela poção ainda não passou por completo — falou Rhyssara por fim, com o mesmo tom descontraído.
Nastya, que até então se mantinha observando tudo em silêncio, ergueu a cabeça de repente, seus olhos brilhando de curiosidade.
— Que poção? — perguntou, antes de corar ligeiramente e baixar o tom. — Ah… me desculpe. Não quis parecer intrometida. É só que, desde que chegamos, fiquei maravilhada com tantos especialistas em alquimia reunidos em um só lugar. Estamos na sede da Guilda Martelo e Elixir, os maiores alquimistas do continente… não, do mundo todo!
Rhyssara estreitou os olhos por um breve instante ao observar a empolgação de Nastya. Sua expressão não demonstrava abertamente desconfiança, mas havia um certo peso em seu olhar. Então, com um movimento tranquilo, retirou um pequeno frasco de vidro do bolso e começou a girá-lo entre os dedos.
O líquido dourado em seu interior captava a luz das velas, reluzindo como mel derretido.
— Foi uma poção da verdade. — Disse ela, sua voz carregada de suavidade. — Quem bebe não pode mentir nem omitir nada.
Ela fez uma breve pausa, permitindo que suas palavras se assentassem no ar antes de continuar:
— Jeffzzos me deu um pouco para a viagem. Nunca se sabe quando alguém pode estar escondendo algo importante… não é?
O olhar dela se demorou um instante a mais sobre Nastya, o suficiente para que a implicação fosse clara.
Any, que mordiscava uma crocante pena escamosa, ergueu as sobrancelhas e perguntou entre uma mastigada e outra:
— Não vamos nos demorar. Já podemos seguir para Ossuia e concluir nossa missão, imagino.
Rhyssara abriu a boca para responder, mas, de repente, fechou-a novamente, piscando algumas vezes como se algo tivesse se dissipado em sua mente.
Então suspirou, guardando o frasco de volta no bolso.
— Ah… finalmente o efeito passou. — Ela suspirou aliviada, antes de responder de forma definitiva: — Não. Ainda não podemos.
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