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Capítulo 73 — A Entrada Proibida
O portão diante deles era uma verdadeira antiguidade, sua madeira escurecida pelo tempo e coberta por uma fina camada de musgo. Trincas profundas cortavam sua superfície, e o cheiro de umidade fungos impregnavam o ar ao redor. Gravadas nas tábuas corroídas, palavras em dungrinês se estendiam como cicatrizes, algumas letras quase ilegíveis pela ação do tempo.
Visna se aproximou sem hesitação. Com uma das mãos, empurrou o portão, que se abriu com um ranger longo e desconcertante, como se a própria madeira se contorcesse em dor ao ser forçada a ceder. O som reverberou pelo espaço à frente, ecoando em um vazio que parecia se estender para além da escuridão.
Quando finalmente olharam para dentro, depararam-se com uma ponte precária de cordas e tábuas de madeira que se estendia sobre um abismo cuja profundidade era impossível de discernir. O fosso estava em volta de uma colossal estrutura talhada nas entranhas da montanha, como se os escultores tivessem esculpido uma fortaleza diretamente no coração da rocha.
A construção se erguia para dentro das paredes da montanha, seus níveis sobrepostos sustentados por colunas imensas e arcadas rústicas. Pequenos pontos luminosos tremeluziam nas profundezas das galerias esculpidas, indicando tochas ou lamparinas ainda acesas, provando que aquele lugar, por mais esquecido que parecesse, não estava vazio.
O silêncio reinava absoluto, quebrado apenas pelo som abafado da respiração do grupo e pelo ocasional estalar das cordas da ponte, como se algo invisível a testasse.
Visna foi a primeira a pisar na madeira semiapodrecida da ponte. O rangido que ecoou pelo abismo fez Cassian prender a respiração. Sem se virar, a anã sorriu de canto e disse em tom divertido:
— Não olhem para baixo.
O conselho não era apenas uma provocação. Conforme avançavam, a sensação de vazio abaixo deles se tornava cada vez mais sinistra, um precipício sem fim aparente que parecia querer engoli-los. O vento assobiava entre as cordas da travessia, e a madeira velha estalava a cada passo.
— Como será que seremos recebidos? — perguntou Cassian ao irmão, pisando com cautela. — Digo, o cartão de boas-vindas não é muito receptivo.
Helick manteve os olhos fixos à frente, como se evitasse qualquer movimento que pudesse fazê-lo olhar para baixo.
— Visna nos orientou a virmos bem armados e nos deu defesas extras com essas armaduras. Podemos esperar o pior.
Atravessaram a ponte sem intercorrências, mas assim que alcançaram a entrada da estrutura cravada na montanha, depararam-se com dois anões encapuzados. Suas vestes eram maltrapilhas e desgastadas pelo tempo, como se pertencessem a fantasmas de uma era esquecida.
Tály congelou por um instante. Algo naquela visão a fez lembrar de sua infância quando o pai tentou negociar alguns fragmentos de Diamante Negro com integrantes daquela guilda.
Um dos encapuzados quebrou o silêncio:
— Digam quem são e a quem desejam ver.
A voz dele reverberou pelo vale de pedras, carregada de uma força que fazia o ar parecer mais denso.
Cassian engoliu em seco. Mesmo que fossem apenas dois, a aura opressora que emanavam, uma mistura de trevas e tons arroxeados, era sufocante. Ele tentou soar confiante, mas sua voz saiu levemente trêmula quando falou baixinho para os seus companheiros:
— Se alguém aqui tem amigos na Guilda da Fornalha Proibida, esta é a hora de falar.
O segundo anão, que até então permanecera calado, resmungou com desdém:
— Como eu imaginava… humanos. Vocês não são bem-vindos. Vão embora.
Rhyssara ignorou o aviso e avançou um passo à frente.
Foi quando a aura sombria, negra e arroxeada, emanada pelos dois anões guardiões, se intensificou, fazendo o próprio solo tremer sob seu poder.
Os anões reagiram instantaneamente.
— Não dê mais nenhum passo! — advertiu o primeiro. — Vocês já foram avisados.
Rhyssara fixou seu cetro dourado no chão, os olhos frios como o aço.
— Infelizmente, essa não é uma opção.
Mal suas palavras foram ditas, e os dois anões se agigantaram. Suas formas dobraram, depois triplicaram de tamanho, até superarem a altura que Hope atingira no Bosque das Sete Sombras.
Todos do grupo sacaram suas armas, o instinto gritando perigo iminente.
— Nós avisamos — trovejou um dos anões. — Agora, morrerão.
Um círculo mágico negro se expandiu diante deles, cobrindo o solo à frente de Rhyssara. Runas cromadas, de um roxo intenso e resplandecente, cintilaram antes de liberarem um jorro de chamas negras que irrompeu do chão.
A Imperatriz saltou para trás no último instante, evitando ser engolida pelo fogo.
Das labaredas emergiram criaturas deformadas, corpos esculpidos em rocha incandescente e costurados por fogo negro.
Visna recuou um passo, sua expressão endurecendo.
— Golens das Chamas Infernais… — sussurrou. — Eles não estão de brincadeira. Esse tipo de Transmutação Negra, que dá vida temporária a matéria inanimada, foi proibido há mais de cinco séculos.
— O que acontece se essas chamas nos tocarem? — perguntou Helick, sentindo algo estranho e intimidador ao vislumbrar o crepitar incessante do fogo negro. — Algo me diz que não são o que parecem.
— Além de sérias queimaduras? Elas não pararão até consumirem toda a mana de vocês.
Diante da ameaça, a sacerdotisa deu um passo atrás do grupo e ergueu ambas as mãos. Sua voz se elevou em uma prece firme e solene.
— Pela minha fé em meu Deus, abençoo vocês contra as maldições advindas daqueles que devem obediência às trevas.
Um brilho dourado cercou cada um deles, formando uma barreira translúcida ao redor de seus corpos.
— Enquanto eu mantiver esta bênção ativa, vocês estarão imunes à Maldição das Chamas Negras — explicou a sacerdotisa, a expressão tensa. — Mas isso não significa que essas criaturas não podem matá-los. O fogo ainda queimará seus corpos, e esses golens são incrivelmente fortes.
O calor das chamas distorcia o ar ao redor, criando ondulações que tornavam as silhuetas dos inimigos ainda mais ameaçadoras. Os olhos incandescentes dos golens se fixaram neles por um breve instante antes de avançarem em uma investida feroz.
Rhyssara, posicionada na linha de frente, girou seu cetro com destreza, transformando-o em sua lança. O primeiro golem que se lançou contra ela sequer teve tempo de atacar antes de sentir a lâmina perfurar seu peito de rocha derretida. A criatura estremeceu, sua forma trincando antes de se desfazer em cinzas ardentes.
Outros cinco cercaram a Imperatriz, mas ela não hesitou. Com um movimento acrobático preciso, sua lança cortou o ar em um golpe fulminante, transpassando dois deles de uma só vez. Em seguida, girou o corpo com fluidez, a lâmina brilhando em meio às labaredas enquanto degolava os outros três.
Os corpos incandescentes desmoronaram aos seus pés, reduzidos a nada além de resquícios de fogo negro.
— Se deixarem que suas chamas toquem vocês, esses golens podem ser perigosos — comentou Rhyssara, observando os destroços com um olhar impassível. — Mas, fora isso, são menos capazes que um recruta do Império.
Havia uma leve ponta de desapontamento em sua voz.
Então, ergueu os olhos para os dois anões colossais, cuja aura sombria pulsava como um vórtice de trevas. Seu aperto sobre a lança se firmou.
— Deixo essas criaturas para vocês — disse, começando a avançar. — Eu cuido dos grandões.
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