Capítulo 538 – Avanço Impetuoso

De maneira coordenada, os Arqueiros miraram com seus arcos, enquanto os Magos começaram a conjurar suas magias.

Swish! Swish!

Bang! Bang!

Diversas magias e flechas voaram em direção aos Carniçais que bloqueavam os portões.

“Hagh!” Várias das criaturas amontoadas gritaram, enquanto outras arranhavam a Matriz, tentando chegar até os soldados do outro lado.

Mesmo que os Carniçais tivessem alguma resistência contra ataques físicos, estando tão aglomerados em um único ponto enquanto eram alvejados de forma tão intensa, se tornavam presas fáceis. Portanto, rapidamente começaram a cair, um por um. 

Vendo a ação decisiva e rápida do Batalhão Zero, o Capitão Lesmark, bem como o Tenente Felipe, voltaram a si, dando ordens às suas próprias tropas.

“Atirem!”

Com as três tropas trabalhando juntas, em pouco tempo, o emaranhado de Criaturas das Trevas amontoados em frente aos portões tornaram-se um monte de cadáveres.

“Infantaria, em frente, abram caminho!” Fernando ordenou.

Bam! Bam!

“Uh! Uh!”

Rapidamente os soldados avançaram em sintonia, marchando velozmente com seus escudos a frente. Ainda que os Carniçais no emaranhado estivessem mortos, seria preciso remover a barreira de corpos a frente para que as tropas pudessem sair da cidade.

Bang! Bang!

A Unidade de Infantaria atingiu violentamente, com seus escudos, a pilha de carcaças de Carniçais. Ugo, com seu enorme tamanho, se destacou dentre os demais, como um trator abrindo caminho, jogou diversos corpos para longe com sua poderosa força. Porém, dentre os cadáveres em chamas, um Carniçal começou a se mexer. Sua enorme boca distendida abriu-se, avançando em direção ao homem.

“Cabo Ugo!” Um dos Soldados logo atrás gritou, alarmado.

O sujeito gigante sequer piscou, quando ergueu seu enorme escudo à sua frente.

Bam!

A Criatura das Trevas atingiu fortemente a placa de metal, emitindo um grunhido, mas não desistiu, suas duas garras apertaram firmemente o escudo, enquanto tentava freneticamente chegar até o rosto do homem. Apesar disso, o Cabo parecia estar no controle da situação, não permitindo que a coisa o ferisse.

Move! Move!

Bruscamente, mais alguns ‘corpos’ em torno de Ugo começaram espasmar, quando pareciam ter voltado a vida, disparando em sua direção pelos lados.

Estavam se fingindo de mortos?! O homem pensou, perplexo, não imaginando que essas coisas conseguiriam fazer isso.

Os Soldados ao redor correram para barrar algumas das Criaturas das Trevas, mas duas ainda conseguiram passar por eles, correndo em direção às costas do Cabo.

“Grrr!”

Com um rosnado feroz, uma enorme criatura negra surgiu por trás dos Soldados, chegando rapidamente ao lado de Ugo. Sua garra cortou de cima para baixo, dilacerando um dos Carniçais como se fosse feito de gelatina, enquanto abocanhava o outro, chacoalhando-o entre suas presas.

Vendo isso, o Cabo, que estava tentando se defender do último Carniçal, empurrou seu enorme escudo ao solo, pressionando a criatura sob a placa de metal, restringindo seus movimentos. Após prendê-la no chão, desembainhou sua espada, desferindo uma estocada em seu tórax. Contudo, a coisa apenas se contorceu um pouco, quando a lâmina não adentrou mais que alguns centímetros, provando que sua carne era extremamente densa e rígida.

Isso é resistente a ataques perfurantes? pensou, chocado.

A sua expressão mudou de surpresa para entendimento, ao se levantar, Ugo pisou fortemente no escudo, pondo todo seu peso sobre ele, assim espremendo a coisa no chão, quando guardou sua espada e retirou um enorme martelo de sua Pulseira de Armazenamento.

Ele sentiu que caso não fosse possível cortar aquela monstruosidade, deveria simplesmente esmagá-la! Erguendo a arma contundente com as duas mãos, desferiu seu ataque em direção a cabeça do Carniçal com toda a sua força.

Bang! Crack!

O martelo desceu com extrema violência, atingindo o crânio da coisa, que afundou consideravelmente, vazando alguma massa encefálica. Mas apesar disso, aquilo ainda continuava tentando se mexer, segurando o pé do homem.

A expressão de Ugo não mudou, quando desceu o martelo mais algumas vezes.

Bang! Bang!

Um sangue escuro, quase preto, espirrou para todos os lados, atingindo o rosto do Cabo, mas ele continuou golpeando. Somente ao ver que o Carniçal não dava mais sinais de movimento é que ele finalmente parou, respirando pesadamente.

Se um único dá tanto trabalho de matar, como vamos enfrentar um exército disso? perguntou-se, com algum medo em seu coração.

“Você está bem?” Uma voz soou, enquanto o Cabo ainda estava perplexo.

“T-tenente?” O homem perguntou, ao ver o rapaz montando o imponente lobo negro, que havia abatido facilmente duas Criaturas das Trevas com sua enorme força. Comparado o tempo que ele próprio havia levado, o fez perceber o quão poderoso era o animal. “Essas coisas são de certa forma bem mais irritantes de matar que os Dobats, mas eu estou bem!” garantiu.

Ouvindo isso, Fernando assentiu, então apontou para frente com sua espada.

“Avancem!” Ao dizer isso, o rapaz pálido, puxou suavemente a pelagem do lobo para cima, fazendo-o pegar impulso e saltar para frente, ultrapassando os escudeiros e a pilha de corpos.

Os Soldados que abriam caminho, vendo seu Tenente avançando sozinho passando acima do topo de suas cabeças, ficaram desnorteados por um breve instante.

“Parem de sonhar acordados, seus idiotas! Sigam o Tenente!” Ugo gritou, começando a correr.

Logo toda a infantaria moveu-se, enquanto as tropas do Batalhão Zero, recuadas, também avançaram em marcha rápida. Em poucos instantes, o portão, com cerca de oito metros de largura, foi inundado com as tropas saindo.

O Capitão Lesmark e o Tenente Felipe ficaram perplexos com essa cena, quando velozmente reagiram.

“S-sigam eles!” Ambos disseram ao mesmo tempo.

Vendo a coragem e destemor desse Batalhão Nomeado, mesmo as tropas da 5ª Brigada de Infantaria Móvel e do 18° Batalhão, sob ambos os homens, que até então estavam hesitantes e cheias de medo, sentiram-se encorajadas, avançando a passos largos.

A partir das muralhas, o Major Combatente, assim como Alonso Allen, também ficaram impressionados, principalmente ao ver como o jovem pálido avançou sozinho para fora da cidade. Não só eles, como vários daqueles nas muralhas correram para o outro lado, para ver o lado de fora, acabando por atrapalhar o trabalho dos Magos e Arqueiros.

Assim que o lobo pousou, atravessando a pilha de corpos, chegando do lado de fora dos portões, a visão de Fernando encolheu-se rapidamente, quando viu diversos vultos cinzentos avançando em sua direção e de seu lobo negro. 

Seu Disparo Neural ativou-se instintivamente, logo tudo ao seu redor ficou algumas vezes mais devagar. O jovem Tenente sentiu sua cabeça doer levemente, mas rangeu os dentes, aguentando firmemente.

Num movimento rápido de sua mão, guardou sua espada Formek, quando formou apressadamente várias Flechas de Fogo em torno de suas palmas, lançando-as a sua esquerda e a sua direita.

Swish! Swish! Swish!

“Hagh!”

“Guah!”

Os Carniçais de ambos os lados foram rapidamente atingidos. Alguns que já haviam saltado em direção a Fernando, foram acertados no ar, caindo mortos no chão.

“O-o que foi isso?!” Um Arqueiro perguntou-se, perplexo, tudo havia acontecido num instante, tornando difícil para alguém como ele entender.

Acima das muralhas, Alonso e outros Comandantes ficaram espantados com a velocidade de conjuração e disparo das magias do rapaz pálido. Mesmo o Capitão da Brigada Salazar sentia que seria difícil para ele produzir a magia, mirar e lançar apressadamente num intervalo tão curto de tempo. Os olhos do homem brilharam levemente, com algum sinal de interesse.

Ele tem uma coordenação motora e velocidade de reação extremamente alta, além de um controle muito preciso. Esse garoto é melhor do que eu imaginava. pensou, com olhos cobiçosos. Se ele sobreviver, preciso colocá-lo sob meu controle!

Bang! Quebra!

O lobo negro avançou furiosamente para a esquerda como um tanque de guerra, usando habilmente seu crânio avantajado para atropelar os inimigos a frente, caso o choque da colisão não fosse o suficiente para matá-los, eles morreriam esmagados pelas patas da criatura. Dessa forma, o jovem Tenente sabia que só precisava se preocupar com aqueles que vinham pelos lados.

“Que montaria incrível! É tão rápida e forte, alguém sabe que animal é aquele?” Um Tenente que estava observando o desenrolar perguntou, admirado.

“Também não tenho certeza, parece ser um Lobo Prateado, mas é muito maior, além de ter uma pelagem escura, só que eu nunca ouvi falar sobre um Lobo Prateado sendo domesticado.” Outro Tenente comentou, lembrando-se das outras montarias que havia visto antes na parte de trás, e ficou pensativo, perguntando-se se todas eram tão boas quanto esta. Se sim, não significava que essa era uma cavalaria extremamente poderosa?

Aquilo é realmente um Lobo Prateado? O Capitão Alonso Allen perguntou-se, com uma expressão surpresa, ao ver o lobo negro que o rapaz pálido estava montado. Assim como os demais, ele próprio estava em dúvida sobre isso.

Ele já havia matado muitos Lobos Prateados e até onde sabia, nunca havia ouvido falar de um caso onde haviam sido domesticados. Além disso, esse parecia ser muito maior e mais poderoso que um normal. O sujeito sentiu que deveria investigar isso quando essa batalha acabasse.

Não muito longe, o Capitão Subordinado da Salazar, Anthony Moraes, tinha uma expressão escura. Quando soube que o rapaz iria para o lado de fora, o homem se regojizou de prazer com seu infortúnio. Mas agora, vendo-o se sair tão bem e até ter uma montaria tão impressionante, o sujeito não pôde deixar de se encher de inveja. Sua cabeça careca encheu-se de veias, quando ficou completamente irritado, mesmo ele, um Capitão, não tinha uma montaria, por que um simples Tenente possuía uma e tão boa?

Inconsciente das discussões daqueles acima das muralhas, o jovem pálido estava completamente concentrado, pois sabia que se cometesse um único erro, poderia acabar morto. 

Logo suas pupilas diminuíram quando viu mais dezenas e dezenas de Carniçais vindo de todos os lados, como uma maré gafanhotos. Alguns poucos pararam para devorar os corpos que Fernando havia abatido, enquanto outros passaram por cima, ignorando-os, parecendo estarem muito mais interessados no Humano e seu Lobo.

Tô ferrado… O rapaz pálido pensou ao ver aquela cena.