Índice de Capítulo

    Grrr! Wooo!

    Ao ver sua montaria avançando e derrubando Carniçais um após o outro sem perder o ímpeto, mesmo sentindo as dores de suas mordidas e arranhões, o jovem pálido suspirou, sabendo que não poderia abandoná-lo a menos que fosse sua última alternativa. 

    Embora o lobo fosse, em teoria, apenas uma ‘ferramenta’, o rapaz percebeu que não poderia descartá-lo dessa forma. Principalmente porque ambos só haviam terminado nessa situação devido a sua própria insensatez.

    Fernando até pensou se conseguiria carregá-lo com sua Magia de Levitação, mas logo desistiu dessa ideia. Ele mal tinha controle suficiente para voar por conta própria, muito menos para carregar um animal tão grande e pesado como esse, duvidava que mesmo um Capitão conseguiria este feito, muito menos ele.

    Felizmente, o Lobo Prateado Variante parecia ser muito mais rápido que um normal. Sentindo o vento em seu rosto, o jovem Tenente notou que o animal deveria ser quase tão rápido quanto alguns Usuários de Habilidades mais lentos que estavam usando suas Habilidades de Movimento. Graças a isso os Carniçais não conseguiam alcançá-lo, mas ele sabia que isso não iria durar muito tempo.

    Theodora, que estava em meio as tropas, viu ao longe a situação de Fernando, que estava se distanciando cada vez mais e ficou assustada. A Medusa queria sair da formação e resgatá-lo, mas sabia que se o fizesse, seria rasgada em pedaços antes mesmo de avançar alguns metros.

    “Wooo!”

    De forma súbita, a partir dos portões, dezenas de Lobos Prateados saíram em alta velocidade em uma carga furiosa.

    Karol que estava atenta aos informes das tropas na Infantaria, soube sobre a situação de seu marido, então não hesitou. Assim que teve a oportunidade de sair dos portões, a cavalaria de lobos saltou sobre os Soldados, avançando em direção aos inimigos.

    “O-o quê?!” Alguns dos homens levaram um grande susto ao ver os animais passando acima de suas cabeças em alta velocidade.

    “Senhor Anane!” Karol gritou para o velho homem que corria em seu próprio lobo ao seu lado.

    O sujeito assentiu em entendimento, empunhando sua lança, quando puxou parte da cavalaria pela direita, enquanto Karol liderou a outra metade pela esquerda.

    Rapidamente dezenas de Carniçais se atiraram em direção Pelotão Dama de Prata. Vendo isso, a expressão do velho homem negro mudou, ficando séria, principalmente ao ver que a maioria deles estava seguindo Karol. Então, num movimento de seu pulso, retirou um pergaminho com uma Matriz incrustada. Apontando para o alto, o rasgou sem hesitação.

    Swish! Boom!

    Algo como fogos de artifício explodiram, iluminando os céus acima de Anane. Esse era um Pergaminho de Sinalização, que servia para indicar sua posição, mas nesse momento isso era basicamente como um chamariz extremamente atraente na densa noite. Isso imediatamente chamou a atenção de todos os Carniçais na área, fazendo com que muitos dos que perseguiram Karol e sua cavalaria, se voltassem para a direção do velho homem.

    A garota olhou para trás, ao ver as Criaturas das Trevas em seu encalço diminuindo e mudando de direção, ficou imediatamente preocupada com Anane, mas continuou em frente, seu marido precisava dela!

    Swish! Corta!

    Fernando moveu sua espada Formek, estocando um dos Carniçais no ar que havia saltado em direção ao lobo negro. O corte foi superficial e a coisa certamente não havia morrido, mas o movimento de perfuração foi suficiente para afastá-la e impedi-la de cair sobre a montaria.

    Analisando os arredores e vendo que os pouco mais de vinte Carniçais haviam se tornado quase cinquenta, o semblante do rapaz se tornou sombrio. Ele estava dando voltas com seu lobo, tentando retornar a formação, mas algumas daquelas coisas se moviam muito rápido e tinham uma grande agilidade, conseguindo mudar de direção em alta velocidade. 

    A maioria delas corria como animais quadrúpedes, sendo as menores e mais rápidas tendo mais ou menos o tamanho de um homem adulto, mas outros Carniçais, principalmente os maiores, que eram do tamanho de cavalos e relativamente mais lentos devido ao seu enorme peso, locomoviam-se num meio-termo, alternando entre quadrúpede e bípede. Vendo-os de perto, principalmente seus rostos de carne cinzenta, Fernando achou que essas monstruosidades de certa forma pareciam Humanos, mas, ao mesmo tempo, eram como algo completamente diferente.

    Olhando para os olhos verdes que brilhavam na escuridão por todos os lados, o jovem Tenente sentiu seus pelos se arrepiarem. Se ele não fizesse algo logo, ele e o lobo negro virariam jantar de Criaturas das Trevas!

    De repente o rapaz avistou algo brilhando não muito longe, era um sinalizador! Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, um ruído agudo ressoou atrás dele.

    Swish! Perfura!

    Gahh!

    Uma mulher, montada em um lobo branco, perfurou um dos últimos Carniçais que perseguia o jovem pálido pela parte de trás da cabeça, derrubando-o na hora.

    Karol! Fernando pensou, completamente chocado. Por que sua esposa estava ali?!

    Inicialmente Karol ficou surpresa com a facilidade que a coisa caiu morta, pois pelos relatos que estava recebendo em seu Cubo Comunicador, sabia que essas coisas eram extremamente resistentes. Mas antes de partir da cidade, Anane havia dito que caso ela tivesse a oportunidade, deveria mirar na parte de trás da cabeça da criatura, pois era uma região relativamente mais sensível.

    Após confirmar que seu ataque funcionou, se sentiu muito mais motivada.

    “Protejam o Tenente!” A Oficial gritou, quando varreu novamente com sua lança, abatendo mais um Carniçal que corria a sua frente. “Mirem atrás de suas cabeças, não deixem que eles se virem, se errarem, vocês serão mortos!”

    “Uh! Uh! Unidade!”

    Os cavaleiros em seus Lobos Prateados gritaram, quando avançaram em alta velocidade, abatendo uma Criatura das Trevas após a outra, perseguindo-as de perto, mesmo que alguns deles errasse a nuca da monstruosidade, outro viria companheiro viria em seu auxílio em sequência, acertando-o novamente antes que pudesse reagir. Algumas poucas paravam para tentar saltar sobre seus perseguidores, mas os lobos rapidamente as derrubavam, fatiando-as com suas garras afiadas ou os esmagando com seu peso.

    Muitos dos Carniçais mais adiantados ouviram os gritos atrás deles, fazendo-os mudar de direção e tentar caçar as ‘novas presas’ que haviam chegado.

    Vendo isso, a expressão de Fernando mudou.

    É a minha chance!

    Puxando os pelos do lobo negro, o fez mudar bruscamente de direção, movendo o pulso, guardou sua espada Formek, então ergueu ambas as mãos para cima, fazendo com que dezenas de Flechas de Fogo se formassem ao seu redor.

    Anteriormente ele havia decidido usar o mana da Espada Formek em batalhas, mas acabou mudando de ideia nessa situação, já que o que ele estava planejando fazer exigiria muito dele e ter ambas as mãos livres seria melhor, logo a Pedra de Mana era mais adequada.

    Normalmente isso era algo que ele não usaria, já que consumia muito mana e demandava muito controle, mas mais do que isso, era algo que chamava muita atenção! Só que agora, estando tão longe das muralhas e com tantas coisas acontecendo, ele duvidava que aqueles no topo perceberiam seus ataques no meio desse caos e ainda que percebessem, ele não poderia se importar menos, não quando sua vida e a de sua esposa estavam em risco!

    Dezenas de Flechas de Fogo floresceram nos céus ao seu redor, como se fossem brotos de flores prestes a nascer.

    Estando no lobo negro em alta velocidade, Fernando sentiu dificuldades em controlar a magia. Portanto, rapidamente ativou seu Disparo Neural em máxima potência.

    As veias em sua testa surgiram, espalhando-se até seu pescoço, quando seus olhos moveram-se de um lado a outro em alta velocidade, calculando mentalmente a melhor rota de disparo. Então moveu ambas as mãos com força para frente, fechando os braços num sinal de X.

    Swish! Swish! Swish!

    Do lado de trás, Karol e os outros estavam inicialmente abatendo os Carniçais pelas costas, mas muitos dos mais avançados se voltaram para eles, assim como outros que vinham pelos lados, então perceberam que estavam com problemas já que não possuíam mais o fator surpresa e não poderiam atacá-los por trás. Além disso, ainda havia aqueles mais gigantescos, tão altos quanto os Lobos Prateados, tentando agarrá-los. No entanto, subitamente, o céu encandeceu-se, quando dezenas de luzes cruzaram o ar, indo em todas as direções, como se fossem uma chuva de estrelas cadentes, criando um espetáculo visual de fogo e sangue.

    Perfura! Perfura! Perfura!

    Bam! Bam! Bam!

    “Gahh!”

    “Shaaa!”

    Um Carniçal após o outro começou a cair, quando as Flechas de Fogo os atravessaram facilmente. Como se fossem teleguiadas, as magias curvaram-se levemente no ar, correndo em direção as cabeças ou tórax das monstruosidades.

    Os Soldados e mesmo Karol, ficaram atônitos ao verem isso.

    Tão lindo…! A Oficial pensou, ao ver a chuva de fogo rasgando o céu negro, uma das magias passou perto de seu rosto, fazendo seu cabelo mover-se, mas a mulher sequer piscou, como se estivesse apreciando tudo aquilo.

    Mesmo após perfurar um Carniçal, a Flecha de Fogo não pararia, atravessando a Criatura das Trevas e mudando levemente de direção e indo de encontro a mais um alvo que estivesse em seu percurso, era quase como se estivessem vivas!

    Fernando usou cada pingo de sua concentração para controlar as Flechas de Fogo, mesmo com seu Disparo Neural ao máximo, sentiu que estava muito além do seu limite. 

    Ele já estava há um bom tempo treinando a manipulação da trajetória de magias numa maior distância, ampliando pouco a pouco seu controle, ao dominar dezenas de Mine Bolas de Fogo, enquanto levitava de olhos fechados, melhorando significativamente seu controle e área do seu mana, mas nunca tinha tentando algo tão insano quanto isto!

    Mesmo que já tivesse feito vários treinos e simulações, além de já ter usado múltiplas Flechas de Fogo antes, isso era muito diferente. Dominar algumas Mini Bolas de Fogo num ambiente fechado e controlado, ou atirar de forma praticamente aleatória era uma coisa, mas disparar dezenas de Flechas de Fogo em alta velocidade enquanto precisava usar cada grama de concentração para expandir seu raio de alcance ao máximo e desviar suas trajetórias era outra completamente diferente! Obviamente, cruzar seus limites a esse ponto não era algo que poderia ser feito sem pagar um preço.

    A mente de Fernando começou a nadar, enquanto sangue escorreu de seu nariz e os vasos sanguíneos de seus olhos ficaram tão pressionados que pareciam que se romperiam a qualquer momento. Logo sua visão começou a ficar nublada, fazendo-o sentir que estava perdendo o controle, o que o fez desfazer rapidamente as magias, com receio que alguma atingisse seu próprio povo por acidente.

    Em instantes as dezenas de Flechas de Fogo caíram em direção ao chão quando perderam força, restando apenas dezenas de Carniçais mortos ou em chamas por todos os lados.

    “O-o que foi isso?” Um dos cavaleiros perguntou, completamente atônito.

    O lobo negro de Fernando não havia parado um único instante, quando chegou até eles.

    “Vamos!” O rapaz pálido disse, com uma voz levemente rouca e cansada.

    Sem hesitar, Karol e os demais viraram suas montarias, seguindo-o de perto.

    “Fernando, você tá bem?” Karol gritou, quando seu lobo branco emparelhou-se ao lado do lobo negro. Ambas as criaturas pareciam não se dar bem, encarando-se de canto de olho, mas continuaram em frente, pelo bem de seus Mestres.

    “Eu tô legal, foco na frente.” Fernando respondeu, tentando acalmá-la, mas mesmo que dissesse isso, Karol não parecia muito convencida, principalmente ao vê-lo arfando e suando frio. “Eu tô bem, é sério.” insistiu.

    Vendo seu marido se esforçando tanto para passar confiança, ela não insistiu, focando no caminho a frente, onde mais Carniçais se aproximavam.

    “Formação Ponta de Flecha!” Karol gritou, quando vários cavaleiros se adiantaram a frente e ao lado dela e de Fernando, formando uma espécie de triângulo, protegendo-os em seu núcleo.

    Em seu lobo negro, o jovem Tenente, que estava nauseado, fez seu melhor para recuperar seu fôlego, usando sua Magia de Cura em si mesmo, ao mesmo tempo, em que ampliava a potência de sua Habilidade de Auto Regeneração.

    Ele havia usado tanto foco e mana de uma única vez, que sentiu todo seu corpo ficar gelado, em muitos momentos quase havia secado suas reservas de mana, enquanto o mana da Pedra invadia incessantemente seu corpo, restaurando-o. Fazer isso era como andar em uma corda bamba no meio de um abismo, se ele absorvesse mana em excesso, seu corpo poderia explodir, mas se cometesse um erro e o deixasse secar, mesmo que por um instante, poderia morrer ou ao menos perder sua consciência, o que naquela situação não seria diferente de uma sentença de morte, então era preciso manter um equilíbrio constante.

    Em poucos instantes, ao usar a Magia e Habilidade, que trabalhavam em sintonia uma com a outra, Fernando começou a se sentir levemente melhor. Ou ao menos seu corpo estava. Mesmo que pudesse recuperar seu cansaço físico, o estresse mental ainda estava lá, fazendo sua mente parecer esgotada.

    Enquanto o grupo avançava, o jovem Tenente começou a refletir sobre o que fazer. Ele mal tinha se afastado da formação e quase havia morrido, como ele iria ir resgatar os demais dessa forma?

    “F-Fernando, está aí? Alguém pode me ouvir?” De repente, uma voz soou em seu Cubo Comunicador, fazendo a expressão do rapaz mudar.

    Normalmente, por segurança, os Cubos Comunicadores eram configurados para que um pedido de comunicação seja feito antes de estabelecer uma linha direta entre as duas partes. Isso servia como medida de segurança, para impedir que o sinal de seu aparelho fosse rastreado ou até mesmo invadido. Porém, temendo que pudesse perder alguma tentativa de contato com aqueles que estavam lá fora, Fernando havia deixado sua linha de comunicação completamente aberta. E ao ouvir aquela voz, imediatamente a reconheceu.

    “Ilgner?!”

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