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    Do alto das muralhas, Alonso Allen observou o desenrolar de toda a batalha. Notou o jovem Tenente se afastando, bem como metade de sua cavalaria partindo para resgatá-lo até os limites do que era possível enxergar na densa noite ao mesmo tempo, em que a outra metade ficava para trás, enquanto ativavam um sinalizador.

    Vendo o quão leais os homens do Batalhão Zero eram ao seu Tenente, ao ponto de se arriscarem a enfrentar Carniçais em campo aberto em plena escuridão, o Capitão achou tudo aquilo uma pena. Se ele pudesse obter tropas assim, seria uma grande aquisição!

    Por outro lado, o Major Combatente, responsável pela defesa da muralha, tinha um semblante escuro.

    Esse Batalhão é realmente especial, não podemos perdê-lo assim! O homem exclamou mentalmente, cheio de expectativas, sentindo que se sobrevivessem, essas tropas poderiam futuramente ser um grande pilar dos Leões Dourados.

    “Intensifiquem os disparos e apoiem as tropas de limpeza! Alternem os disparos das Balistas, concentrem as explosões nos entornos!” O sujeito ordenou.

    Muitos dos Comandantes nas muralhas ficaram confusos com as ordens, pensando do porquê deveriam focar tanto nas ‘iscas’ no lugar de aproveitar a oportunidade para proteger a Matriz. Alguns até mesmo fizeram corpo mole para suas ordens, achando que era apenas um Major Combatente sem cérebro tentando agir grande.

    “Voltem os disparos para os portões, deem cobertura as tropas de limpeza!” Alonso Allen ordenou, acompanhando rapidamente as ações do Major.

    Vendo isso, seu Capitão Subordinado, Anthony, franziu a testa.

    “Senhor, vamos realmente prestar auxílio para aquele sujeitinho? Por que deveríamos fazer isso? Nós já o ajudamos antes na batalha pela retomada, por que deveríamos fazer isso de novo?” O sujeito careca falou, indignado.

    Ouvindo isso, o Mago Punhos de Ferro voltou seu olhar para seu subordinado.

    “Está questionando minhas ordens?”

    Ao contrário dos outros Comandantes, Alonso estava muito interessado no Batalhão Zero e especialmente em Fernando. Se ele pudesse ajudá-los a reduzir suas perdas e os recrutasse no futuro, seus ganhos seriam maiores.

    Vendo o olhar do sujeito de cabelos longos e ouvindo os estalos de sua manopla, Anthony tremeu.

    “N-não senhor, eu não ousaria.” O Capitão Subordinado respondeu apressadamente, temendo irritar seu líder. 

    O apelido de Mago Punhos de Ferro não era apenas devido a seu par de manoplas negras, mas também sobre como ele liderava suas tropas, não aceitando qualquer voz contrária a sua, governando sua Brigada com verdadeiros ‘punhos de ferro’.

    Boom!

    Acima dos céus, Herin disparou mais uma magia no Rei Carniçal, afastando-o novamente. Porém, o homem sabia que não poderia continuar com isso a noite toda, logo seu mana estaria esgotado. Se a equipe enviada não eliminasse o Necropto e retornasse para lidarem com o colosso, seria difícil manter a Matriz de Defesa de pé.

    Quando um estranho sinal luminoso foi disparado ao longe, os olhos esverdeados e opacos do Rei Carniçal, que estavam focados na muralha, voltaram sua atenção para o Leste, na direção onde as tropas de limpeza haviam saído pelo portão.

    “Merda, o que esses desgraçados estão fazendo?!” O General gritou, furioso ao perceber que algo havia atraído o monstro.

    No mesmo instante, a imensa Criatura das Trevas, que estava se reerguendo, pareceu desistir de invadir a cidade, começando a engatinhar lentamente, se dirigindo para aquela direção, enquanto sua gigantesca boca distendida derrubava baldes de saliva.

    Carniçais eram seres extremamente covardes e oportunistas, se sentissem que havia uma presa mais fácil, eles mudariam instintivamente de alvo.

    Vendo o Rei Carniçal indo em direção as tropas que haviam saído, as veias na testa de Herin se expandiram. O sujeito até considerou deixá-lo massacrar essas pessoas idiotas, mas logo desistiu da ideia, já que seria difícil enviar novas tropas para fora se isso acontecesse.

    “Esses desgraçados inúteis, me causando problemas!” Apesar de relutante, o homem moveu o pulso, quando retirou dois Orbes do Mago para incrementar o poder de sua magia. Era um item que perdia sua durabilidade com o tempo, sendo extremamente caro repará-lo, então não estava com vontade de usá-lo, mas não teve escolhas.

    Os itens esféricos flutuaram ao seu redor, emanando um denso mana azul. Ao mesmo tempo, seus olhos brilharam numa tonalidade ciana, como se estivessem inundados de energia.

    Shaa! Shaa!

    A partir de suas palmas, dois imensos e violentos redemoinhos saíram, crescendo velozmente em tamanho e se expandindo, e em poucos instantes começaram e ficar mais finos, logo dois enormes ‘chicotes’ colossais, formados de um influxo de ar, foram criados ao redor de suas palmas.

    Num movimento com ambos os braços, os dois chicotes correram em direção ao Rei Carniçal, percorrendo o entorno de um dos seus braços e de uma de suas pernas.

    Sahhh!

    Ambos se envolveram em volta dos membros da coisa, cortando-os e dilacerando-os. Mesmo sendo feitos de ar, pareciam ser constituídos de algo material e tangível, apertando-se firmemente a carne dura da criatura.

    “UOHHH!” A Criatura das Trevas urrou, quando sentiu sua pele sendo estilhaçada e seu corpo prendido. 

    O ser tentou puxar, arrastando-se em direção a sua ‘comida’, mas Herin, mesmo sendo um pequeno Humano, parecia ter a força de mil homens, quando ativou uma séria de Magias de Incremento, desde físicos, mágicos e vários outros tipos, segurando a coisa e impedindo-a de sair do lugar.

    “Não ouse subestimar a mim, Herin! Você não vai a lugar algum!” gritou, furioso, ao ver o Rei Carniçal insistindo em escapar.

    No topo da muralha, todos ficaram impressionados com a força do General, as poderosas ondas de mana estavam se espalhando em todas as direções, enquanto um chiado alto de vento podia ser ouvido. Porém, mesmo com todo esse poder, a gigantesca Criatura das Trevas não desistiu, arrastando-se pouco a pouco, estava claro que o velho homem não conseguiria aguentar por muito tempo.

    Em frente aos portões, a expressão do Capitão Lesmark e do Tenente Felipe eram feias, principalmente ao ver as multidões de Carniçais tornando-se cada vez mais densas.

    BAM!

    Nesse momento, os portões atrás deles finalmente se fecharam, indicando que não havia mais uma rota de fuga para eles!

    Porra! Nós temos que fazer isso! O Capitão gritou mentalmente, tentando se incentivar. 

    Inicialmente o homem achou que essa missão seria ‘morte certa’, mas vendo como as tropas do Batalhão Zero tinham formado um perímetro defensivo tão perfeito e resistente, viu um vislumbre de esperança.

    Devido à formação minuciosa desses homens, ele duvidava que conseguiria fazer seus subordinados atuarem em conjunto. Pelo contrário, se o fizessem poderiam acabar os atrapalhando, sendo assim, decidiu ajudar de outra forma, focando-se em fornecer suporte a distância.

    “Quinta Brigada, disparem, deem cobertura ao Batalhão Zero!” gritou.

    Com a ordem dada, os Magos e Arqueiros rapidamente se prepararam para começar a atacar, mesmo os Soldados que não eram adeptos ao manuseio de armas de longa distância, retiraram arcos e bestas. Vendo isso, o Tenente Felipe fez o mesmo, preparando seus homens. 

    Theodora, que estava organizando as fileiras, ficou surpresa com as ações deles. Em sua visão, ela estaria satisfeita se esses dois sujeitos não os atrapalhassem, muito menos os ajudassem dessa forma.

    Parece que esses caras não são tão inúteis, afinal. pensou. Mas logo voltou sua atenção ao longe, buscando sinais de seu Líder.

    Bam! Bam!

    “Um passo!” Ugo gritou em plenos pulmões, quando as tropas avançaram, batendo fortemente com seus escudos na horda de Carniçais. Sem demora, centenas de ataques com lanças vieram em seguida, atingindo as Criaturas das Trevas.

    “Gahh!” As coisas guincharam, mas a maioria não parecia muito ferida devido aos seus corpos resistentes, com poucos sendo mortos pelas lanças por já estarem fragilizados pelas magias. Logo elas bateram contra os escudos, tentando achar aberturas nas formações e passar para o outro lado. Alguns até mesmo estavam escalando seus companheiros, usando-os de base para saltar para o outro lado.

    Entretanto, os Soldados do Batalhão Zero pareciam preparados, quando vários deles estavam agachados logo atrás da muralha de escudos, com suas lanças apoiadas no chão, num ângulo de cerca de noventa graus.

    Os vários Carniçais que haviam saltado, caíram sobre as lanças. Mesmo que fossem resistentes a ataques físicos e perfurantes, havia um limite para isso. Devido ao seu próprio peso e ao efeito da queda, as lanças afundaram em seus corpos, atravessando-os de um lado ao outro, empalando-os.

    “Uh!” Os Soldados, gritaram, para se motivar. 

    No entanto, algumas das coisas, ainda empaladas, se debateram, espirrando sangue negro para todo lado, enquanto tentavam alcançar os Humanos a sua frente.

    Alguns dos Soldados não conseguiram competir em força, quando as criaturas caíram no chão. Mesmo com as lanças atravessando seus corpos, se atiraram na direção deles. Para piorar a situação, mais e mais Carniçais estavam saltando um após o outro.

    Em instantes, a parte de dentro da formação se tornou uma bagunça caótica. Um Soldado azarado foi segurado por um dos inimigos, que o derrubou no chão, imobilizando-o com seu enorme corpo, então mordeu seu braço direito. A grande boca da coisa triturou seu membro em um piscar de olhos, arrancando-o numa mordida.

    “Não!” O homem gritou, tentando usar seu outro braço para se desvencilhar, mas o Carniçal parecia ser feito de músculos puros, quando mal se moveu. Logo engoliu por inteiro o braço em sua boca. Em seguida, sua cara humanoide, com olhos verdes, se voltaram para o rosto do Soldado, que ficou horrorizado.

    Swish! 

    Perfura!

    Uma Flecha de Fogo foi disparada, acertando a testa da criatura, matando-a instantaneamente.

    Apressadamente os outros Soldados, que estavam em volta, correram, pegando seu companheiro ferido e o arrastando para um local seguro.

    A responsável por isso não era outra se não Emily, que correu de um lado para o outro, disparando suas flechas consecutivamente com sua Besta em uma rápida sequência.

    Ao lado dela, Kelly também estava fazendo o mesmo com seu arco.

    Tzim!

    Sua flecha, banhada em chamas, também possuía um leve e discreto resquício de Magia de Vibração, fazendo com que seu poder perfurasse o corpo dos Carniçais como se eles fossem feitos de manteiga. Contra sua magia, a resistência deles não significava nada!

    Vendo a garota disparando quase tão rápido quanto ela, Emily olhou de canto de olho para ela.

    “Ei, Kelly. Vamos fazer uma aposta, quem mata mais desses trecos, cada morte vale um ponto. O que acha?”

    Ouvindo aquilo, Kelly franziu levemente a testa, não parecendo muito interessada.

    “Quem ganhar recebe 60 moedas de prata da perdedora.” A pequena ruiva insistiu, ao vê-la desinteressada. Mesmo que aparentasse estar animada, sua voz estava levemente trêmula, como se estivesse nervosa.

    A expressão de Kelly mudou ao notar isso, então lembrou que Ronald era um dos que estava do lado de fora da muralha quando o ataque havia começado. Nesse ponto, ela entendeu que a pequena ruiva, como sua namorada, estava, na verdade, desesperada por dentro, mas tentava manter uma fachada calma frente aos seus companheiros.

    Depois de pensar um pouco, Kelly decidiu aceitar, para acompanhar sua amiga nessa brincadeira de faz de conta. Além disso, esse valor era o equivalente ao salário de um Cabo, ou seja, Emily estava apostando todo seu salário do mês nisso, enquanto para ela própria era equivalente a apenas metade de um mês, então mesmo que perdesse, não significaria tanto para ela.

    “Tudo bem, eu aceito. Mas não me culpe por pegar todo seu dinheiro.” A garota disse.

    “Hah, isso é o que veremos!” Emily declarou, com um sorriso confiante no rosto, mas internamente seus pensamentos pareciam estar distantes.

    Me desculpa, amor. Eu não posso ir até onde você está… A pequena ruiva pensou, sentindo-se incapaz, seu peito estava tão pesado quanto uma pedra. Ela perguntou-se se essa era a sensação que Ronald havia tido quando ela havia sido raptada. Mas, apesar de estar sentindo-se assim, seus olhos se firmaram a frente, na direção das Criaturas das Trevas. Mesmo que eu não possa acompanhar a missão de resgate, ainda tem algo que eu posso fazer, e é acabar com todas essas aberrações! Ao pensar até ai, os movimentos da garota se tornaram ainda mais rápidos, precisos e velozes.

    Não muito longe, o Capitão Lesmark e o Tenente Felipe, que estavam na retaguarda, inicialmente ficaram impressionados com a precisão e poder das flechas das duas garotas, mas ficaram ainda mais abismados ao ouvirem suas palavras.

    Elas estão apostando? Numa situação infernal dessas? Elas são loucas?! Ambos pensaram ao mesmo tempo.

    Swish! Swish!

    As mãos das duas garotas se moviam numa velocidade assustadora enquanto disparavam uma flecha após a outra.

    Kelly e Emily eram como duas ceifadoras, levando a vida dos Carniçais sem nenhuma piedade.

    “M-merda, essas mulheres são realmente uma Oficial e uma Cabo?” Felipe falou, completamente sem palavras.

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