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Capítulo 106 – A Velha Guerreira
— Senhoras e senhores! — gritou Hermes, empolgado, do alto da tribuna. — A luta vai começar!
O soar das trombetas ecoou pelo campo, ressoando como um tambor de guerra.
Tály permaneceu imóvel por um instante, observando a figura diante de si com desconfiança. Joan estava ali, parada, imóvel como uma estátua de carne. A jovem começou a se mover, saltitando de um pé para o outro, medindo a distância enquanto se aproximava com cautela.
“Será que ela ao menos consegue saber onde estou? Bem… a Imperatriz disse que ela é poderosa, então…” — pensou Tály, preparando o corpo.
E então, para olhos não treinados, a guerreira simplesmente desapareceu — e reapareceu atrás da ossuiana, com um soco engatilhado rumo à nuca. Precisão. Velocidade. Força.
Mas a mulher continuava ali. Inerte. Sem reação.
O punho de Tály cessou a milímetros da pele enrugada.
— Ah… você está aí — murmurou Joan, sua voz rouca ecoando nos ouvidos de Tály, como se ela já soubesse.
A jovem recuou um passo, perplexa.
Foi só então que reparou de fato no rosto à sua frente. Rugas profundas marcavam a pele pálida. Era uma idosa. Mas havia beleza ali — traços antigos, esculpidos por décadas de batalha e tempo.
Joan se virou devagar, encarando-a.
— Você é muito gentil… — disse, com um leve sorriso nos lábios cansados. — Parou seu ataque por achar que sou uma idosa cega e indefesa.
A voz era baixa, arrastada pelo tempo, mas não havia fraqueza ali.
— Engraçado… achei que estava com Rhyssara.
— Mas eu estou — respondeu Tály, firme.
— É mesmo? Achei que ela teria dito pra não me subestimar.
— Ela disse.
— Então por que não atacou? Poderia ter finalizado com um único golpe.
Tály respirou fundo, sem tirar os olhos dela.
— Eu não vou atacar alguém que não pode se defender.
A plateia irrompeu num uníssono:
— OOOOOOOH!
Tály arregalou os olhos, as mãos subindo em nervosismo.
— Espera! Eu não quis dizer que você…
— Eu sei — cortou Joan, serena. — Eu entendo. Mas não se segure no próximo ataque, jovem. Sabe… mesmo que eu não lute mais, eu gosto dessa cidade. A casa, o conforto… A Cidade dos Corajosos tem a melhor qualidade de vida. Não pretendo descer para a Muralha Externa. Então… não se segure.
E então veio a resposta.
Uma torrente de mana esbranquiçada rompeu o chão ao redor de Joan, subindo em espirais como uma tempestade contida.
Tály recuou instintivamente.
Não era só mana. Era um aviso.
Joan não só poderia se defender.
Ela iria atacar.
Tály mal teve tempo de se mover para o lado. Uma rajada de vento cortou o espaço ao seu lado. Joan já havia se deslocado — um borrão mais rápido que qualquer coisa que seus olhos captaram.
— Se esquivou… — comentou Joan, atrás dela. — Você tem bons reflexos, minha jovem.
Tály olhou para o ombro. O metal da armadura anã havia sido rasgado como papel, uma linha fina cortando o ombro esquerdo.
O susto durou segundos.
Depois veio o sorriso.
— Isso vai ser interessante, então.
Tály avançou com os punhos erguidos, os pés em constante movimento enquanto pulava de um lado para o outro. As runas nas manoplas — seu ARGUEM — pulsavam em brasa viva, emitindo calor e energia. Do outro lado, Joan permanecia imóvel. A faixa cobrindo completamente os olhos cegos dava-lhe um ar quase sereno, como uma estátua esquecida no tempo. Era difícil acreditar que aquela mulher estava preparada para lutar.
“Ela pediu para eu não me segurar… então…” — pensou Tály, sentindo as chamas se acenderem de verdade em suas manoplas. Joan não mudava sua postura: segurava a espada de aparência óssea com as duas mãos, a ponta repousando no chão. As penas brancas presas ao punho balançavam suavemente, como se tocadas por um vento invisível.
— Magia Marcial. Estilo Boxe… Ali Incandescente! — exclamou Tály, e uma aura flamejante envolveu seus braços com violência.
Ela disparou para frente com um único passo. O impacto de seu soco direito, envolto em fogo, seria suficiente para nocautear um tatu-rinoceronte. O alvo era claro: o queixo de Joan. Mas algo estranho aconteceu — para Tály, era como se o tempo começasse a escorrer mais devagar. Cada centímetro que sua manopla percorria parecia arrastar o ar em câmera lenta.
Joan ainda não havia se movido.
A poucos milímetros do impacto, a idosa deu um pequeno passo para trás. Apenas isso. O golpe passou direto, cortando o ar.
Tály arregalou os olhos. Não podia parar. Rodou o corpo num segundo golpe, desta vez com o punho esquerdo — mais rápido, mais forte. O fogo se intensificou, mas a sensação de lentidão a envolveu outra vez. Joan inclinou-se sutilmente para o lado, e novamente o soco passou em vão.
“O tempo… não. A minha percepção dele…”
Tály passou por Joan e girou instintivamente, mas estava vulnerável. Suas costas ficaram expostas. E então ouviu a voz:
— Acho que acabou — disse Joan, com a calma e trivialidade.
O som do metal cortando o ar ecoou atrás dela. Tály não pensou — agiu. Lançou o braço esquerdo para o chão e o usou como apoio, fazendo seu corpo descer e girar com violência. O golpe da espada raspou a armadura, mas errou o alvo principal. Com o mesmo movimento fluido, ela impulsionou o corpo para cima num chute ascendente, que desviou a lâmina da ossuiana com força.
Joan, surpreendida, recuou meio passo. Mas Tály não lhe deu tempo. Ainda girando, agora completamente de costas, ela canalizou o fogo de sua manopla num só ponto e o liberou.
Uma labareda espiralada foi lançada como uma onda incandescente, varrendo o ar entre elas com violência. As penas no punho da espada de Joan tremularam, reagindo à energia ao redor.
Tály pousou com um dos joelhos no chão, ofegante, mas com os olhos acesos. A luta tinha começado de verdade.
O fogo que escapou do giro de Tály avançou como um chicote flamejante, serpenteando no ar com a intenção de incinerar Joan. Por um breve instante, Tály acreditou que acertaria — a chama parecia certa, viva, certeira. Mas então, como se o tempo tivesse desacelerado, as chamas perderam o ímpeto. O movimento perdeu velocidade diante de seus próprios olhos.
Ela piscou, surpresa.
As labaredas pareciam pesar no ar, sua velocidade decaindo sem explicação, como se a cadência da realidade ao redor de Joan tivesse sido distorcida.
E foi nesse instante, nesse hiato silencioso, que Joan se moveu. Um simples giro de ombros, suave, sem pressa. Seu corpo inclinou-se levemente para o lado, e o fogo passou por onde ela havia estado com menos de um segundo de diferença.
Quando o movimento terminou, as chamas retomaram sua fúria, estalando no ar como se nunca tivessem sido contidas. Mas já era tarde. A mulher continuava ali, imóvel, com a ponta de sua espada — esbranquiçada como os ossos de um ancestral — ainda encostando o chão. As penas brancas adornando o punho dançavam com o calor do ataque recém-evitado, como se zombassem da tentativa.
Tály aterrissou com um rolamento preciso e voltou a se erguer em posição de luta, os olhos arregalados. Aquilo não era apenas velocidade de reação. Era algo além.
— O tempo! Ela controla o tempo!
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