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    Quando as tropas do Batalhão Zero viram Fernando voando para longe, adentrando na escuridão, não podiam acreditar em seus olhos.

    Um homem, que portava uma lança, tinha um rosto apático ao olhar para o céu, como se estivesse em choque.

    “Ele realmente se foi? Apenas assim?” Um lanceiro falou, quase largando sua arma.

    “Ei! Que merda você pensa que tá fazendo?! Continue atacando, ou você vai se tornar refeição de monstrengo!” Um Cabo, que era parte dos escudeiros, gritou ao lado, com uma expressão firme. “O Tenente pode ser um desgraçado lunático com cara de psicopata, mas ele não é o tipo de foge sozinho no meio de uma batalha!”

    Ao ouvir isso, o sujeito, que estava prestes a largar sua lança, apertou-a com força, percebendo seu erro.

    Por mais que o jovem Tenente não fosse do tipo que interagia muito com as tropas e houvesse vários boatos estranhos a seu respeito, ele nunca havia feito algo que os prejudicasse. Na verdade, ele parecia sempre estar preocupado em melhorar suas vidas.

    Seja os salários, os equipamentos, indenizações, as poções e até mesmo as refeições, mesmo que tudo isso fosse extremamente caro e dispendioso de se manter, Fernando nunca havia poupado quando se tratava de suas tropas.

    Ainda que o próprio Tenente não se vangloriasse, contasse vantagem, ou mesmo falasse a respeito, os Soldados não eram pessoas burras, muito pelo contrário. Grande parte deles eram sobreviventes que viviam no Sul e estavam acostumados a uma vida difícil, com muitos tendo passado por várias Legiões e Guildas, tendo provado o pior que a vida em Avalon tinha a oferecer, então como não poderiam notar tudo que estava acontecendo e o cuidado que seu jovem comandante tinha com eles?

    Lembrando das palavras de Fernando em Belai, pouco antes do ataque a Guilda Fúria, assim como o que ele havia dito antes dessa missão, o homem rapidamente percebeu que seu Cabo estava certo.

    “D-desculpe, senhor!” gritou, atacando novamente e acertando um dos Carniçais do outro lado.

    Algo semelhante estava ocorrendo em diversos locais ao longo da formação. Por mais que as tropas estivessem assustadas e sob pressão, principalmente ao sentir o chão tremer, conforme a enorme monstruosidade se aproximava, nenhum deles abandonou sua posição ou desistiu da luta.

    Em outro ponto, nos arredores de Garância, um homem loiro e extremamente alto, estava voando baixo, em meio a floresta escura.

    “Vamos lá, onde você está? Seu desgraçado.” Oliver resmungou, enquanto seu olhar varria por todos os lados. Seus olhos tinham um brilho forte, indicando que estava usando algum tipo de magia de detecção. “Droga, se eu ao menos pudesse voar mais alto.” reclamou, receoso. Afinal, se ele fizesse isso, o inimigo poderia detectá-lo, então era muito mais seguro manter uma baixa altitude.

    Atualmente, o candidato a General estava em uma missão de busca. Seu dever era localizar e capturar o Necropto que estava instigando as Criaturas das Trevas a atacarem a cidade. Entretanto, ele tinha a área aproximada dada pelo General Pagliuca, mas ainda precisaria encontrar a localização exata por conta própria.

    Talvez ele tenha percebido que o rastreamos e mudou de posição? refletiu. Apesar disso ser uma possibilidade, o homem não estava preocupado, pelo contrário, sorriu zombeteiramente. Um ratinho corajoso que tentou provocar um leão. Não importa o quanto se esconda, ou para onde tente fugir, você ainda vai terminar na minha barriga.

    Em uma caverna escura, oculta, uma figura com capuz negro e um longo sobretudo, assim como uma pele mórbida, parecia calma, enquanto seu olhar parecia distante.

    “As coisas parecem estar indo bem.” disse, com um sorriso sinistro, destacado pela falta de alguns dentes. Seu olhar vazio, na verdade, era devido a sua atenção estar totalmente focada em outro lugar. Atualmente ele estava acompanhando a batalha nos arredores de Garância, a partir da perspectiva dos olhos das Criaturas das Trevas. “Isso é o que vocês, malditas Legiões, merecem!”

    Sua risada ecoou, enquanto via os diversos Carniçais atacando por todos os lados, bem como um General brigando com o Rei Carniçal. Mesmo que o homem de meia-idade estivesse conseguindo segurá-lo, era apenas uma questão de tempo até que ficasse exausto.

    “Mas tem algo estranho, apenas um General nessa enorme cidade? Isso é diferente da informação que recebi. Além disso, por que ele está lutando sozinho?” falou consigo mesmo. Mas um pensamento veio a sua mente. “Enviaram pessoas atrás de mim? Ridículo!” falou, confiante em si mesmo, com seu olhar ficando mais vívido.

    O sujeito não parecia preocupado em ser achado, principalmente ao ver uma enorme rocha a sua frente, onde uma Matriz parecia ter sido entalhada. Era uma Matriz de Interferência extremamente complexa, não só atrapalhava a comunicação do alvo, como enviava falsos sinais de localização quando o oponente tentasse rastreá-lo.

    A menos que a contraparte tivesse algum dispositivo especializado, ou um especialista em Matrizes de alto nível, era impossível encontrá-lo. Mesmo que as forças da cidade enviassem alguém para vasculhar os arredores e rastrear os sinais, eles iriam ser levados a três localizações falsas, a quilômetros de distância de onde ele estava.

    Inicialmente a missão que lhe foi dada era de somente testar as defesas da cidade, mas depois de ver tão pouca resistência, sentiu-se confiante, não satisfeito em recuar com tão poucos resultados.

    “O próprio Mestre me presenteou com tudo isso.” disse para si mesmo, com uma voz que transmitia loucura, admirando a rocha com Matrizes, e então voltou sua atenção para uma esfera negra em sua palma, que fez seus olhos cintilarem numa mistura de prazer e ambição. “Se eu conseguir derrubar uma cidade por conta própria, quais outras recompensas me esperam?”

    Enquanto pensava nisso, reparou algo estranho.

    “O que é isso?” Ao focar sua visão no Rei Carniçal e nos outros Carniçais menores, viu todos se desviando da cidade e indo para uma direção totalmente diferente. Vendo isso, o homem ficou furioso. “O que esses malditos estão fazendo?! Estavam a um passo de derrubar a Matriz de Defesa!”

    Apertando a esfera em sua palma, com raiva, começou a infundir seu mana. O sujeito parecia estar pronunciando algumas palavras, como se fossem sussurros, quando um mana negro e denso começou a vazar de seu corpo e correr em direção à esfera. No entanto, seus olhos ficaram arregalados em perplexidade ao perceber que mesmo isso não havia funcionado, todas as Criaturas das Trevas estavam ignorando suas induções!

    “O que está ocorrendo? Por que não me obedecem?!” exclamou, furioso e, ao mesmo tempo, assustado. O item em sua mão deveria ser uma relíquia que lhe permitia ter um vago controle e influenciar um número massivo de Criaturas das Trevas de baixo intelecto e até mesmo algumas poderosas que não possuíam grande defesa mental, não poderiam resistir as suas sugestões. Isso normalmente seria algo fora do escopo de seu poder, mas graças a essa esfera e ao fato dos Carniçais serem conhecidos por sua falta de racionalidade, deveriam ser um alvo perfeito, mas mesmo assim estavam resistindo. Logo algo veio a sua mente “Espera, será que…”

    Os Carniçais pareciam tomados por uma vontade oposta as suas sugestões. O homem só conseguiu pensar em uma possibilidade, uma única coisa deveria conseguir isso.

    “Tem um Necromante por perto?!” falou, assustado. Como um Necropto, tudo que ele poderia fazer por conta própria, era persuadir mentalmente algumas Criaturas das Trevas fracas, se não fosse pela Relíquia, ele teria dificuldade de manter até mesmo uma dúzia de Carniçais sob seu domínio, muito menos um Rei Carniçal. Em relação a um Necromante, ele era como uma criança que mal havia aprendido a falar.

    Para ter certeza, o sujeito focou seus sentidos nos Carniçais, mas por algum motivo, as criaturas pareciam desorientadas e tudo que conseguia era sentir a localização aproximada de cada uma. E ao perceber para onde elas estavam se dirigindo, rapidamente se levantou, horrorizado.

    “Estão vindo para cá?!” exclamou, levantando-se. Nesse ponto ele tinha certeza de que era um Necromante e o mesmo parecia ter o localizado e enviado as Criaturas das Trevas de volta para ele, para pegá-lo. “Q-quem é o desgraçado?! Poderia ser aqueles malditos dos Três Crânios? Por que estão interferindo em nossos negócios?!”

    Ainda que os Magos das Trevas fossem considerados um grupo único, não era como se eles fossem de fato todos unidos. Na verdade, em meio a eles, havia várias divisões e conflitos por poder, território e até mesmo por ideologias. De certa forma, as lutas entre Magos das Trevas eram ainda mais cruéis e sanguinárias que as entre os Magos Elementais, pois numa batalha entre Magos das Trevas, morrer era a menor das preocupações.

    “Eu tenho que sair daqui!” Ao dizer isso, rapidamente apontou sua palma na direção da rocha com Matrizes Incrustadas. Ele estava hesitante, pois havia demorado dias para concluir a sua instalação, mas não teve escolha, se não saísse dali, estaria acabado! Além disso, não poderia permitir que algo tão valioso como a Matriz que seu Mestre o presenteou caísse nas mãos do inimigo. Então, usou seu mana, ativando alguns dos símbolos, desativando-a.

    Zzzzt!

    O brilho da rocha diminuiu e lentamente apagou-se, como se sua fonte de energia tivesse sido cortada. Após fazer isso, o Necropto moveu o pulso, guardando a rocha.

    A partir de um enorme pedregulho, ao pé de uma colina, uma passagem surgiu, quando um homem de capuz e sobretudo escuro saiu. Assim que o fez, o sujeito disparou, voando para longe em meio a mata escura.

    “Aqueles desgraçados, eles vão pagar por isso!” esbravejou, furioso. Felizmente ele havia saído dali a tempo, as Criaturas das Trevas demorariam muito até chegar em sua posição.

    Enquanto refletia sobre qual grupo estava o visando, sentiu um arrepio em suas costas.

    “Hoh, então era aqui que o ratinho estava escondido. Aquilo era algum tipo de Matriz de Ocultação?” Uma voz soou, acima dele. “Se você não tivesse saído por conta própria, teria me levado algum tempo até te achar.”

    O Necropto não se virou para descobrir qual era a fonte da voz, quando apertou a esfera negra em sua palma e uma energia densa, escura e violenta se formou no entorno dela. Gritos estridentes poderiam se ouvidos vindos daquilo, quando essa energia negra disparou em direção ao seu perseguidor.

    UOOOH! BAM!

    Ouvindo o som de choque atrás dele, o homem encapuzado aproveitou a oportunidade, levantando voo, acima das árvores e fugindo. Contudo, ele não foi muito longe, quando algo apareceu repentinamente a sua frente, o surpreendendo.

    Pisca!

    “Quem disse que você podia sair?” A figura que surgiu a frente perguntou, então, moveu-se rapidamente, com sua mão atingindo o rosto do sujeito encapuzado com força, jogando-o para baixo, em direção ao chão.

    Revelando-se sob o fraco brilho do luar, um homem robusto, com cerca de dois metros de altura, ficou visível, exibindo uma expressão de desdém. Esse não era outro se não Oliver, o Arrogante!

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