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Capítulo 107 — Porque você luta?
Os ventos dançavam ao redor da arena improvisada, moldados pelos punhos da lutadora. Diante dela, a espadachim cega permanecia firme, intocada, imperturbável. O duelo continuava.
Tály avançou com um giro, o pé varrendo o chão numa investida baixa. Joan saltou com leveza, como se o tempo tivesse lhe avisado com antecedência. A jovem não recuou, se impulsionou com os dois braços, girando o corpo no ar e desferindo um chute descendente envolto em vento.
— Magia Marcial. Estilo Dançante! — bradou, enquanto a rajada cortante acompanhava o movimento do calcanhar.
Joan desviou com um leve inclinar de ombros. O vento explodiu no chão, levantando poeira. Sem tempo para reagir, Tály girou o corpo e deslizou pelo chão com as mãos, o pé varrendo de novo numa rasteira circular. O vento seguiu com ela, como uma extensão de seus próprios membros.
A espada de Joan desceu suavemente para aparar, mas o impacto veio por cima — Tály já havia saltado outra vez e agora vinha com ambos os punhos erguidos, em um cruzado flamejante.
— Estilo Boxe… Ali Incandescente!
Chamas rugiram com o soco. Joan girou a espada e o tempo ao redor dela pareceu desacelerar. O fogo serpenteou como em câmera lenta — e então foi evitado por um passo sutil, preciso, quase elegante.
Mas Tály não parava.
— Estilo Thay!
O joelho da jovem subiu com força, pedras surgindo ao redor de sua perna como um revestimento brutal. Joan bloqueou com a lateral da espada, ainda em um tempo que não pertencia ao ritmo normal. O impacto rachou o ar com um estalo seco.
Chutes, cotoveladas, socos — Tály era uma tempestade, seus movimentos uma dança feroz entre técnica e fúria. Cada troca de estilo vinha acompanhada de uma mudança de postura, de ritmo, de elemento. Era um espetáculo.
Joan, no entanto, parecia deslizante, quase flutuante. Ela se esquivava de cada golpe com precisão, olhos cobertos, mas consciência plena. Sua presença era calma, silenciosa, como se estivesse sempre um segundo à frente do que viria.
— Onde você aprendeu isso? — perguntou, entre um desvio e outro, enquanto se movia com fluidez. — Essas técnicas. São limpas. Precisas. Seu ARGUEM te dá os elementos…, mas isso aqui… isso vem de outro lugar.
Tály recuou um passo, arfando. Estava suando, e não pelo calor de suas próprias magias. Pela frustração de não conseguir tocar na mulher nem uma única vez.
— Há muitos anos… Quando eu era criança, eu comprei um livro — respondeu, enquanto analisava e tentava buscar uma brecha na postura da adversária. — Um comerciante do norte vendia quinquilharias. Ninguém quis o livro, era sobre estilos de combate sem armas ou ARGUEMs. Uma bobagem para Lyberion. Eu comprei por moedas de cobre.
Joan sorriu.
— E por que você comprou?
Tály ergueu os punhos, mas hesitou um segundo antes de avançar.
— Porque eu era só uma camponesa. E… eu provavelmente nunca teria um ARGUEM. Não tinha dinheiro, nem nome. Mas ainda queria me proteger… queria proteger minha família.
O sorriso de Joan se alargou. Seu rosto parecia rejuvenescer um pouco, tomado por algo raro: admiração genuína.
— Hm… muito inteligente, e corajosa também.
Tály franziu o cenho e interrompeu o momento.
— Você não está atacando. Só está se esquivando, dando uns golpes leves com essa espada. Por quê? Não está nem tentando vencer.
Joan respirou fundo. Deu um leve giro com a espada e se pôs na posição inicial outra vez, a ponta da lâmina encostando o chão.
— Um dia, eu fui o Pilar da Justiça — disse com calma. — Não que você saiba o que é isso, claro. Mas… resumidamente, era meu dever julgar pessoas. E durante muitos anos, eu fiz isso. Com precisão. Sem erros. Sem hesitações.
Ela ergueu o queixo levemente, como se falasse com as nuvens que tomavam o céu.
— Eu gostava de observar. De entender. Saber por que as pessoas fazem o que fazem. Saber por que alguém levanta uma espada… ou um punho.
O olhar cego dela se voltou vagamente para Tály por debaixo da faixa branca, como se a enxergasse com perfeição.
— Eu só queria entender você. Não era para alguém como você ter um ARGUEM em seu reino, mas mesmo assim você o tem e está em uma missão no império rival ao seu. Aposto que ganhou a confiança de alguém muito importante para estar onde estar.
Tály sentiu o tom estranhamente amigável de Joan e falou intrigada:
— Porque do nada essa conversa?
— Não é nada, apenas que eu gostaria um dia de sentar com você em um bar e ouvir sua história com uma boa bebida.
A mulher ergueu a espada do chão e mudou sua posição de luta, a segurando com as duas mãos para trás e espaçando as pernas enquanto as flexionava. Não estava mais na defensiva.
— Agora que ouvi sua história, sei como devo lutar.
Joan avançou em direção à lutadora. Tály recuou com a perna esquerda, flexionando o joelho num impulso preciso, e saltou girando com os braços abertos.
— Estilo Dançante! Vendaval Giratório! — bradou ela, girando no ar como um furacão, mirando um chute devastador na lateral do rosto da espadachim.
Mas Joan já sentia a pressão do vento antes mesmo do impacto. A leitura da mana de Tály guiava seus reflexos.
Ela moveu a lâmina com firmeza, no ângulo exato, e interceptou o chute giratório com um clangor metálico seco. No mesmo movimento, girou o corpo com agilidade surpreendente para alguém da sua idade, enroscando a lâmina ao redor da perna da lutadora e tentando rasgar sua coxa com um corte rápido.
Tály reagiu no instante certo, seus punhos se incendiaram, e ela lançou um soco flamejante diretamente na direção do rosto da espadachim.
Joan se afastou com leveza, o rosto ainda impassível, escapando das chamas por um triz.
— Você mistura estilos com coragem — disse Joan, quase como um elogio.
Tály nem respondeu. Voltou ao chão com um rolamento rápido e impulsionou-se de novo, desta vez com uma joelhada brutal reforçada pela mana do Estilo Thay. O impacto rachou as pedras do solo. Joan bloqueou, mas mesmo assim foi arrastada dois passos para trás.
Tály aproveitou: alternou imediatamente para o Estilo Boxe, e os punhos flamejantes golpearam o ar com velocidade impressionante. Um direto, um cruzado, dois ganchos. As chamas explodiam a cada impacto contra a espada de Joan.
Mas por trás da fumaça, Joan se movia com serenidade. Cada golpe da lutadora era aparado com a lâmina — não por força, mas por leitura de tempo.
A espadachim começou a girar o punho com mais fluidez, fazendo a lâmina cantar no ar. Um corte atingiu de raspão o ombro de Tály. Outro deslizou pela lateral de sua costela. A lutadora recuava, tentando variar os golpes, mas Joan já havia lido seu ritmo.
Em poucos minutos, Tály sentia o peso da luta. Estava ferida, suando, com a respiração pesada. Mas seus olhos ainda ardiam com determinação.
— Ainda não… — murmurou Tály, ativando os três estilos ao mesmo tempo.
O chão tremeu sob seus pés. O vento girou em torno de seu corpo. O fogo rugiu em seus punhos. E seus joelhos brilharam com a solidez bruta da terra.
Ela correu. Não como uma lutadora — mas como uma força da natureza.
O punho direito, envolto em chamas e vento, foi lançado à frente como uma lança viva, mirando o peito da espadachim.
Joan respirou suavemente.
O tempo desacelerou ao seu redor.
Ela sentiu o fluxo da mana, ouviu o deslocamento do ar, e soube exatamente de onde o golpe viria. Com um único passo lateral, saiu do caminho da investida.
O punho de Tály passou no vazio.
Então, num movimento quase leve, Joan girou o corpo e encostou sua lâmina nas costas da lutadora. A espada deslizou pela armadura, perfurando-a até alcançar a pele. Mas, em vez de um golpe fatal, ela traçou um corte diagonal, do centro das costas até o quadril.
Tály tropeçou. Caiu de joelhos.
Ofegante. Tremendo. Os olhos arregalados. Sangue quente escorria por todas suas costas.
Joan manteve a espada baixa, o semblante sereno.
— Você está lutando para cumprir ordens, não por si mesma — disse com calma. — E com isso, não vejo por que permitir que avance com seus companheiros… que já venceram.
Os punhos de Tály ainda ardiam em mana. A dor em suas costas queimava como brasa viva, e mesmo assim, ela falou, entre os dentes cerrados:
— Permitir? — sua voz era baixa, rouca, mas cheia de indignação. — O que quer dizer com permitir? Iria me deixar vencer… se achasse minha história comovente? Se visse algum propósito maior nisso? Acha que eu mereço sua pena?
Joan inclinou a cabeça, o rosto sereno como se estivessem conversando em um jardim.
— Sim — respondeu com naturalidade. — Afinal, eu posso subir quando quiser. E sei de alguns que não merecem estar na Cidade dos Corajosos. Seria justo deixar alguém com propósito subir… só para depois rebaixar os que não merecem.
Tály cravou os punhos no chão, empurrando o corpo para cima. O sangue escorria pelas costas, e o ardor latejava com cada movimento — mas ela se pôs de pé, firme, como se ignorasse a dor.
Ela não cairia ainda.
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