Índice de Capítulo

    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

     
    Alguns clientes vêm em silêncio. Outros    chegam com histórias inteiras gravadas na    forma como andam.” — Derrum, dono da loja Malho & Linho.


    O sino da porta tilintou, e meus olhos se voltaram instintivamente para a entrada. Cinco pessoas entraram. Uma família? Era difícil dizer. Nem todos pareciam parentes.


    A mulher de cabelos castanhos caminhava dureza em seu caminhar  como quem não estava acostumada a vestir roupas caras, mas se encantava com cada detalhe da loja. O homem ao lado dela — provavelmente o marido — carregava um olhar que oscilava entre preocupação e orgulho. 


    Os dois garotos mais jovens pareciam estar em mundos diferentes: um examinava tudo com lentidão e cuidado quase obsessivo, enquanto o outro esbanjava confiança, como se soubesse exatamente o que queria.


    Mas foi o último que me chamou mais atenção.
    O garoto de olhos vazios e passos suaves parecia deslocado, como se seu corpo estivesse ali, mas sua alma observasse de longe. Não era medo. Não era tristeza.

    Era… ausência. E ao seu lado, um homem pálido, bonito demais para parecer comum. Havia algo incômodo nele. Seus olhos eram profundos demais. Quietos demais.


    Endireitei a postura e sorri.


    — Bem-vindos à Malho & Linho. Posso ajudar com algo em especial?


    – Eu gostaria de olhar algumas capas novas, tudo bem? – o jovem garoto que falou, suas botas eram velhas e desgastadas, suas mãos eram calejadas, iguais às de muitos dos clientes que veem aqui. 


    E seus olhos, seus olhos eram diferentes dos de uma criança normal. Eles carregavam uma inteligência e certa frieza que não deveria estar ali.  E se eu olhasse diretamente em seus ohos eu veria aquela escuridão me olhando de volta, isso me deu arrepios.


     Mas os piores olhos eram os daquele garoto, o que parecia ser o mais velho entre as três crianças. Seus olhos eram tão negros quanto o breu. 
    Seu rosto perfeitamente simétrico era hipnotizante, sua feição serena, juntamente com suas outras características como sua pele bizarramente pálida lhe dava um ar de sobrenatural.


    vendo o cenho franzido do garoto das botas e roupas surradas, eu saí do meu devaneio, e rapidamente disse:


    – Oh, claro. Tenho algumas que eu acho que ficariam perfeitas em você. Vou trazê-las para você garoto. Qual é o seu nome?


    — Flügel — respondeu com simplicidade, mas com uma firmeza que parecia incompatível com sua idade. Havia algo em seu tom que me fez hesitar por um segundo. Como se aquele nome carregasse um peso que eu ainda não conseguia entender.


    Afastei os pensamentos e me curvei levemente com um sorriso educado.


    — Um nome bonito. Espere um momento, Flügel. Vou buscar algumas capas que combinam com você.
    Desapareci pelos fundos da loja, meus passos apressados ecoando entre os cabides e caixas de madeira.

    Abri uma das arcas de tecidos mais antigos, onde guardava algumas peças artesanais, feitas com mais esmero. Peguei três capas diferentes:


    – uma azul-acinzentada com bordas reforçadas em couro, discreta, mas resistente ao vento;
    – uma negra com interior de veludo vinho, elegante, mas sombria; e uma mais rústica, de linho espesso, com fechos simples e um capuz largo, perfeita para viagens longas.


    Quando voltei, o garoto estava no mesmo lugar, observando a loja com olhos atentos. Coloquei as capas sobre o balcão, uma a uma.


    — Pode experimentar, se quiser. Essa aqui — disse, indicando a capa mais escura — é quente e resistente à chuva. Já essa — toquei na rústica — é boa para longas caminhadas e não chama atenção demais. Ótima para manter o foco no caminho.


    Enquanto ele examinava as opções em silêncio, me abaixei para um último detalhe. Peguei um pequeno estojo de madeira e retirei dele um par de luvas de couro escuro, bem costuradas, sem muitos adornos.

     
    — E talvez isso também te interesse — disse, colocando as luvas ao lado das capas. — Couro de mana deer, maleável e resistente. Protegem bem do frio e ajudam a evitar calos, se você mexer com cordas, madeira ou metal. São práticas. Não são baratas, mas duram uma vida inteira, se bem cuidadas. Afinal, elas tem um encantamento por serem do couro de mana deers.


    O garoto tocou o couro com os dedos ásperos. Não disse nada de imediato, apenas observou o par de luvas como quem avalia não só o objeto, mas tudo que ele representa. Utilidade. Praticidade. E o preço.


    — Quanto? — ele perguntou, ainda sem tirar os olhos das luvas.


    Sorri.

    — Pela capa, depende da que escolher. As mais simples saem por 80 moedas de prata Essa preta, uma moeda de ouro. As luvas, duas moedas de ouro… Mas se levar a capa junto, posso fazer as luvas por uma moeda de ouro e 90 moedas de prata. Você sabe, não é todo dia que se vê uma luva de um animal de outro continente…

    Ele pensou por um momento. O garoto pálido atrás dele observava em silêncio absoluto, feito uma sombra viva. Não interferia, mas sua presença parecia pesar sobre o ambiente.
    Flügel assentiu devagar.

    — Vou levar a capa rústica… e as luvas.

    Meu sorriso se alargou. Rapidamente embalei as peças com cuidado e as entreguei a ele, sentindo que, mesmo sem entender, eu acabara de participar de algo maior do que uma simples venda. 


    POV Flügel:
    — Ei pai, poderia terminar de pagar as minhas roupas? — perguntei a Aragi que estava olhando algumas espadas de diversas cores em um suporte que tinha a capacidade de segurar cinco espadas. 

    — Claro, aqui — Aragi pegou uma moeda de ouro da calça e me entregou, eu assenti afirmando que isso era o suficiente e voltei para o balcão, entregando as moedas para o lojista. 

    Ele colocou as luvas e a capa em uma sacola e me entregou, eu as peguei e agradeci ele. Caminhei para fora da loja enquanto todos me seguiam vendo que eu havia terminado as minhas compras. 

    Saí da loja com a sacola nas mãos. O céu estava encoberto, tingido por um cinza que prometia chuva, mas ainda não caía nada.
    — Comprou tudo o que queria? — Aragi perguntou sorrindo e bagunçando meu cabelo.

    — Sim, aqui está o troco — falei estendendo a mão e lhe entregando as 20 moedas de prata que haviam sobrado.

    — Bom, vamos para casa, eu acho que vai chover — Aragi olhou para todos, e todos concordaram em voltar para casa por conta do lindo céu que agora já estava escurecendo rapidamente, ficando coberto de nuvens cinzas. 

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