Capítulo 571 - Mentiras
Assim que o rapaz gritou, correndo com dificuldade, o Orc Líder avançou, balançando seu enorme machado, pretendendo partir o Humano a sua frente ao meio.
Olhando para a coisa, o Major notou as manchas negras se movendo ao longo de seu corpo, principalmente pelo rosto.
Isso é Corrupção? Que problemático!
Apesar de estar cheio de dúvidas quanto a tudo que estava ocorrendo, Oliver não hesitou, quando desapareceu de onde estava, reaparecendo entre o Dobat e Fernando.
Pisca! Bam!
A criatura não reagiu adequadamente, quando um punho atravessou seu peito. A mão de Oliver havia o perfurado com relativa facilidade numa região onde as marcas negras ainda não haviam se expandido.
“Normalmente gosto de dar uma morte indolor aos meus inimigos, mas não quero me arriscar muito te tocando. Além disso, estou bem irritado.” disse, ao puxar seu braço ensanguentado quando o Orc instintivamente tentou agarrá-lo.
Somente quando o sujeito afastou-se, é que o Dobat olhou para o buraco em seu peito, espirrando sangue. A criatura então voltou novamente seu olhar para o homem, com uma expressão apática e de sofrimento, logo soltou seu enorme machado, caindo de joelhos e desabando no chão, sem vida.
O que é isso? O que era aquele olhar em seu rosto? Oliver perguntou-se, ele já havia matado muitos Orcs e a maioria deles tinha uma expressão agressiva e confrontadora mesmo no fim, como se fosse um sinal de sua honra e orgulho e alguns poucos demonstravam medo. Mas esse Orc Dobat apenas morreu sem expor qualquer emoção significativa. Isso lhe causou certa estranheza, mas no fim ele deu de ombros. Bem, tanto faz, o mais importante é… Eu realmente ferrei com tudo.
Olhando para o corpo morto do Necropto, partido em dois e com a cabeça esmagada, suspirou. Sua missão não era apenas encontrar e matar o Mago das Trevas, mas capturá-lo com vida.
Ah, que saco. Com certeza vou ouvir algum sermão… pensou, imaginando o quanto Wayne iria repreendê-lo. Mesmo que não estivesse preocupado em prejudicar sua promoção, já que realmente não queria se tornar um General, ainda estava receoso quanto a irritar o General Comandante, pois o tinha em alta estima. É… já que a merda está feita, pelo menos eu preciso entender o que exatamente aconteceu aqui.
Ao pensar até aí, virou-se, olhando para um jovem pálido que estava parado não muito longe. Havia ferimentos por todo seu corpo e sua armadura estava completamente destruída.
“Eu esperava encontrá-lo depois, mas não numa situação como essa. Tenente, poderia me dizer o que faz aqui?” perguntou, enquanto estreitava os olhos.
Fernando, que estava a poucos metros, sentiu uma enorme pressão. Mesmo que o homem tivesse demonstrado alguma boa vontade em relação a ele anteriormente, agora havia um sentimento intangível, mas opressor no ar. Estava claro que se não desse uma resposta adequada e satisfatória a sua pergunta, as coisas não terminariam bem para ele.
O que eu faço? Eu deveria inventar alguma história? pensou, com alguma ansiedade, sua mente exausta procurando uma solução para isso, até mesmo seus pensamentos estavam levemente confusos. Após ponderar por um momento, logo negou a ideia. Mesmo se ele criasse alguma mentira que convencesse Oliver nesse momento, logo a verdade seria descoberta, o que o deixaria numa situação ainda pior futuramente. Além disso, tinha certeza que o sujeito a sua frente não era do tipo fácil de se enganar. Parece que realmente não tenho escolha…
“Major, o que aconteceu foi…”
Logo o jovem Tenente relatou tudo, omitindo poucas coisas e estabelecendo uma linha do tempo. Começando deste o instante em que se voluntariou para sair e servir de isca com o objetivo final de resgatar seus homens, quanto ao momento em que suas tropas haviam sido completamente encurraladas no portão, assim que o Rei Carniçal veio até eles, junto a um número incontável de Carniçais, o que o levou a tomar uma medida desesperada, atraindo as criaturas ao usar um item raro, Sangue de Delgnor. Após isso, Fernando misturou mais algumas verdades e mentiras, escondendo, obviamente, a presença de Brakas em seus relatos.
Oliver o ouviu atentamente sem intervir, seu olhar de descrença ficava cada vez mais evidente a medida que o relatório se estendia.
“Espera, então está me dizendo que ao perceber que para os Carniçais quanto mais poderosa fosse a origem do sangue, mais eles seriam atraídos e é por isso você usou Sangue de Delgnor para atrair o Rei Carniçal e todos os outros para longe da cidade e após fazer isto, ouviu minha mensagem e veio até aqui, na esperança de atrasar o inimigo que eu estava perseguindo. E depois de tudo isso, supostamente viu aquela pessoa e o Orc Líder se enfrentando e presumiu que ela era o tal rato ao qual eu me referia na mensagem e assim que viu que o Orc estava levando a pior, interveio em seu favor?”
Ouvindo tudo aquilo, Fernando assentiu, com uma expressão calma.
“Exatamente, senhor. Não pensei que poderíamos derrotá-lo, meu objetivo era mantê-lo ocupado até sua chegada, inesperadamente, como pode ver, as coisas tomaram um rumo inesperado.” garantiu, ainda com a mesma expressão, enquanto olhava o cadáver do Necropto.
“Foda-se! Tá achando que eu sou estúpido? Para começar, como um Tenente iria colocar as mãos em algo tão valioso como Sangue de Delgnor?!” Oliver gritou, furioso. “Além disso, nunca ouvi falar de Sangue de Delgnor atrair Criaturas das Trevas dessa forma!”
O jovem Tenente engoliu em seco, sentindo a pressão que enorme sujeito emitia aumentar, permanecendo em silêncio, enquanto o ouvia berrando.
“É melhor você começar a dizer a verdade. Mesmo que eu tenha uma dívida com você, não vou pegar leve contigo rapaz.” ameaçou, enquanto estalava os punhos.
Apesar de sua entonação ameaçadora, o rapaz pálido tentou não transparecer que estava se sentindo ameaçado. Pelo contrário, moveu o punho, removendo um frasco, com algum tipo de sangue.
“Se o senhor não acredita em mim, pode verificar por si mesmo.” Ao dizer isso, jogou o frasco na direção do Major, que o agarrou sem sequer desviar os olhos dele.
Apesar de cético, o sujeito olhou para o item, que parecia conter apenas uma pequena quantidade de sangue. Então, sem pensar muito a respeito, abriu sua tampa e cheirou o conteúdo e assim que o fez, seus olhos se arregalaram.
“I-impossível… Isso realmente é…” falou, sem acreditar.
Embora fosse alguém que estava no meio militar há muitos anos, ele só havia tido contato com a carne de Delgnor recentemente e reconheceu imediatamente a fragrância inconfundível vinda daquele frasco.
Após confirmar a veracidade do conteúdo, Oliver olhou para o rapaz com um olhar sério.
“Como exatamente você colocou as mãos nisso?”
Ainda que fosse apenas uma pequena quantidade, era um item extremamente valioso, mesmo ele dificilmente conseguiria comprar algo assim. Não apenas devido ao valor, mas simplesmente porque era um item muito escasso e cobiçado que era rapidamente arrebatado ao chegar no mercado.
Ao ser questionado pelo homem, Fernando não se intimidou.
“Pelo General Zado. Ele me deu isso algum tempo atrás, após retomarmos Garância. Segundo ele, isso foi pelo meu ‘excelente trabalho’.”
Oliver ficou chocado quando ouviu isso.
Merda, esse garoto… Ele realmente tá falando a verdade?
Pouco depois do fim da batalha de retomada, Zado certo dia apareceu em seu alojamento e pediu para conversar a sós com ele, então pediu sigilo total sobre o assunto, quando lhe entregou uma pequena porção de carne de Delgnor.
Na época, Oliver ficou sem reação e recusou, mas após uma insistência quase ameaçadora do velho homem, acabou por aceitar o presente, já que isso o ajudaria em sua recuperação.
Zado era um General da velha guarda, com décadas de serviço, então era lógico que ele tivesse certos canais para conseguir adquirir esse tipo de item.
Talvez esse moleque apenas tenha ouvido falar em algum lugar que o General tinha isso? refletiu, em dúvida, mas logo percebeu que era improvável. Antes de partir, o homem o fez garantir que não contaria nada sobre a carne de Delgnor a ninguém, nem mesmo para Wayne. Se Zado me deu Carne de Delgnor, é realmente possível que também tenha dado algum Sangue a esse garoto… concluiu. Imaginando que o velho General também estava tentando recrutá-lo.
Tendo em vista que o Sangue de Delgnor era utilizado para a fabricação de matrizes e que Fernando tinha um Especialista em Matrizes chamado Alfie sob sua asa, que teria recebido bastante dinheiro devido a melhorias nas Balistas, o Tenente poderia revender o sangue a ele, recebendo dinheiro e seu favor em troca.
Quanto mais Oliver pensava a respeito, mais as coisas faziam sentido. Normalmente não seria comum usar recursos de alto valor para lidar com Carniçais, que eram seres que não tinham grande valor comercial quando comparado a dificuldade em enfrentá-los.
Geralmente apenas seus Cristais poderiam ser vendidos por um preço razoável, com pouquíssimos Alquimistas comprando seus restos mortais. Além disso, havia o risco daqueles que estavam lidando com a limpeza dos corpos serem parasitados pelos Vermes Predadores, sendo necessários cuidados adicionais, então não era o tipo de criatura visada para uma caçada.
Também era incomum confrontar tantos Carniçais ao mesmo tempo, já que agiam em pequenos bandos, por isso fazia algum sentido nunca ter ouvido falar de alguém que usasse Sangue de Delgnor para tal propósito, afinal que tipo de pessoa em sã consciência faria a loucura de usá-lo dessa forma?
Ao pensar até aí, o Major percebeu algo, a linha do tempo do relatório de Fernando em relação a ele ter atraído os Carniçais, coincidia com o momento em que o Necropto saiu de seu esconderijo. Então é por isso que aquele cara estava indo embora? Ele não estava mais conseguindo controlar as Criaturas das Trevas e resolveu se retirar? Se esse for o caso, eu só encontrei esse cara tão facilmente por causa desse garoto! Ao pensar até aí ficou estarrecido. Na verdade, ele havia sido, indiretamente, ajudado pelo rapaz mais uma vez? Esse pensamento o deixou levemente envergonhado, ele era um Major, prestes a se tornar um General, mas recebeu ajuda de um simples Tenente, não uma, mas duas vezes!
“Tem apenas uma coisa que não entendo, se você recebeu minha mensagem, por que não informou a um superior no lugar de vir sozinho até aqui?” O sujeito perguntou, olhando para o rapaz.

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