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    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    A noite que eu tanto esperava ser confortável e acolhedora foi tudo, menos isso.


    Foi uma noite repleta de pesadelos, suor, gritos e lembranças cruéis.

    Eu fui um tolo por pensar que conseguiria descansar depois daquela luta. Fechar os olhos era o bastante para ver aquele maldito vulto me encarando da escuridão.

    Todas as minhas noites têm sido assim. Ter alguém andando atrás de mim me deixa tenso, quase como se estivesse sendo caçado de novo.

    E então eu estava nesta maldita sala novamente.

    Aqui, eu deveria me tornar alguém mais forte.
    Refinado, como o Major Garrick dizia.

    E realmente funcionou, aquela poção era verdadeiramente mágica, os efeitos colaterais não eram uma bênção, mas também era um preço justo a se pagar perante o poder explosivo e imediato que aquela droga alquímica me deu. 

    Meus músculos agora continham um poder que eu jamais tinha sentido, mesmo enquanto eu usava o ardema. Eu tinha mais fôlego, precisava de menos tempo para descansar, corria mais rápido. Eu também me sentia mais disposto e capaz.

    A primeira poção que eu tomei realmente me deu força sobre-humana e refinou o meu corpo, me deixando de pé igualdade com um homem adulto em questão de força física, eu uma criança. Eu conseguia imaginar o poder que eu teria quando estivesse com o meu corpo no auge. 

    Eu certamente estava me tornando mais forte e cada vez mais eu me via como alguém imparável em um breve futuro.

    – Relaxe… – Ordenou a comandante desse experimento. Sim, experimento. Está sendo desenvolvido há pouco tempo, tinha até mesmo uma grande chance disso acabar me matando, mas como aparentemente eu não morro, para mim parecia apenas uma grande oportunidade de me tornar mais forte. 

    Afinal, eles não tinham realmente uma cobaia para experimentar suas poções fortificadoras, então eu estava sendo o primeiro a tomar tais poções… Pelo menos essas poções.

    Eu respirei fundo e abri a boca, a alquimista virou a garrafa em minha boca, despejando o líquido gélido e sem sabor na minha boca, eu engoli o mais rápido possível, com medo de acabar cuspindo fora.

    A substância escorreu garganta abaixo e repousou como uma pedra no meu estômago.

    Mas não ficou parada.

    Eu a senti se mover. Remexendo.

    Como se tivesse vida.

    E então a dor veio.

    Uma dor quente e cortante que irradiou do meu estômago para o peito, depois para os braços, depois para o resto do corpo.

    Minhas veias começaram a queimar.

    Era como se estivessem sendo preenchidas por fogo líquido.

    Eu me debati nas amarras impostas para me segurar, já que era capaz de eu começar a me arranhar caso eu sentisse o líquido caminhar pelo meu corpo. 

    E eu sentia. Aquele líquido correndo pelas minhas veias, o meu coração bombeando mais sangue fazendo ele circular por todo o meu corpo. 

    O líquido se instalou nos meus músculos, ossos, em cada pedaço de mim. O poder me hipnotizou. Pela segunda vez experimentando uma das poções fortificadoras de Cassie, senti-me capaz, não impotente. Aquela sensação me cegou.

    Essa nova poção era para melhorar o meu ardema e a melhorar os meus canais de mana, essa nova poção era feita de raiz de sombreiras, uma planta colhida de pântanos, alquimista Cassie disse que ela iria ajudar a melhorar o meu ardema, mas não especificou como. 

    Ela certamente é uma mulher exótica, e não gosta de explicar muito sobre os possíveis efeitos colaterais, quanto os benefícios que as poções podem trazer.

    Também havia pó de escama de Leviatã naquela poção, disseram que se eu fosse mais velho eles iriam adicionar pó de Leviatã do abismo, um tipo muito mais forte e poderoso que um Leviatã comum.

    Claro, isso seria muito mais perigoso do que fazer com as escamas de um Leviatã comum, mas se eu aguentasse tal poder em minhas veias, a recompensa seria nada menos do que recompensadora. 

    Há contos que um bando cheio de incríveis guerreiros e magos saíram em uma excursão para matar um Leviatã do abismo, muitos não retornaram, mas aqueles que conseguiram retornar se tornaram ricos e os mais espertos levaram escamas a um alquimista de renome, pedindo por uma poção usando uma escama de leviatã do abismo. 

    É dito que apenas um mago foi capaz de sobreviver depois de consumir a tal poção, e esse mago desbloqueou um poder inigualável. Um poder que, segundo as lendas, o tornou capaz de enfrentar exércitos sozinho, de moldar mana como se fosse barro nas mãos de um escultor. 

    Mas também dizem que ele nunca mais foi o mesmo. Seus olhos brilhavam com um vazio que assustava até os mais corajosos, e sua mente parecia fragmentada, como se pedaços de sua alma tivessem sido arrancados para dar lugar àquele poder.

    E tinha mais dois itens naquela poção, para amenizar os efeitos colaterais e também os efeitos bons da raiz da sombreira e do pó de Leviatã, caso meu corpo recebesse todo o poder que aqueles dois itens continham de uma vez, ele provavelmente colapsaria e eu morreria sem nem ter a chance de testar  tal poder. 

    Mesmo com os dois itens para amenizar, era demais. Meu nariz sangrava, uma dor cruel irradiava do meu âmago. Minha mana corria descontrolada, enfurecida, rebelde, rompendo os canais como rios de magma.

    Ela corria pelos meus canais de mana, abrindo-os ainda mais, tornando cada um deles um condutor selvagem, como se rios furiosos  rompessem barragens frágeis dentro de mim. Meus músculos tremiam, não de fraqueza, mas de uma força que parecia grande demais para meu corpo conter. 

    Cada batida do meu coração era um trovão, e o sangue que escorria do meu nariz até o queixo e então caindo em meu peito.

    O sangue pingava em meu peito, mas eu mal o notava. Minha atenção estava consumida pela força que pulsava em minhas veias, uma energia tão bruta que parecia querer rasgar minha pele e explodir para o mundo. Meus músculos tremiam, não mais de fraqueza, mas de uma potência que eu não conseguia compreender completamente. Era como se eu fosse um recipiente pequeno demais para conter o oceano que agora rugia dentro de mim.

    A dor não diminuía, ela evoluía. O fogo líquido que queimava minhas veias começou a se misturar com uma sensação gélida, como se a raiz da sombreira e o pó de Leviatã estivessem lutando dentro de mim, cada um tentando dominar o outro. 

    Meu ardema, aquela chama interna que eu sempre senti como uma faísca tímida que eu tinha que força a sair, agora ardia como uma fogueira selvagem, ameaçando consumir tudo o que eu era. Eu podia sentir os canais de mana se alargando, rasgando-se e se reconstruindo em algo maior, mais forte, mais perigoso.

    Eu me debati contra as amarras, os pulsos ardendo onde o couro cortava minha pele. Não era apenas a dor física, era o instinto, o medo primal de que algo dentro de mim estava escapando do meu controle. 

    Meu coração batia tão forte que eu podia ouvi-lo ecoando em meus ouvidos, um tambor de guerra anunciando uma batalha que eu não sabia se podia vencer.

    — Fique calmo — disse Cassie, sua voz cortando o caos como uma lâmina afiada. Ela estava ao meu lado, o rosto impassível, os olhos fixos em mim como se eu fosse um experimento fascinante prestes a explodir. — Respire fundo. Deixe a poção assentar.

    Eu queria obedecer, mas como? Cada respiração era um esforço hercúleo, cada inspiração trazendo mais daquele fogo gelado para meus pulmões. Ainda assim, forcei-me a inspirar o ar entrando em rajadas trêmulas. 

    O líquido em meu corpo parecia vivo, remexendo-se como uma criatura tentando escapar, mas aos poucos, começou a se estabilizar. A dor não desapareceu, mas se transformou em algo que eu podia suportar, ou pelo menos fingir que suportava.

    Cassie se inclinou para mais perto, segurando meu queixo com dedos frios e firmes, forçando-me a encará-la. Seus olhos cor esmeralda brilhavam com uma intensidade que me fazia sentir pequeno, mesmo com todo o poder que agora corria em mim.

    — Fale — ela ordenou. — O que você está sentindo?

    Eu engoli em seco, o gosto metálico do sangue misturado com o resquício da poção ainda na minha língua. — É… forte — consegui dizer, minha voz rouca e hesitante. — Meu ardema está diferente. Mais quente. Mais… vivo. Mas também parece que está me queimando por dentro.

    Ela assentiu, como se minhas palavras confirmassem algo que ela já esperava. — A raiz da sombreira está amplificando sua chama interna, e o pó de Leviatã está reforçando seus canais de mana. Você está se tornando um condutor mais eficiente. Mas o processo é… instável. Seu corpo ainda é jovem, frágil. Se não se adaptar, a mana vai te consumir.

    Havia um tom de advertência em sua voz, mas também uma curiosidade quase sádica. Ela não parecia preocupada com minha sobrevivência, apenas interessada em até onde eu podia chegar antes de quebrar.

    Eu fechei os olhos, tentando me concentrar na sensação do meu ardema. Era verdade o que ela dizia: a chama estava mais forte, mais brilhante, mas também mais selvagem. Antes, eu a controlava com facilidade, como uma vela que eu podia apagar com um sopro. Agora, era uma tempestade de fogo, e eu não tinha certeza se era eu quem a dominava ou se ela estava me dominando.

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