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    Numa cela escura, um homem encarcerado, com roupas acabadas e sujas e um corpo esguio, mas levemente musculoso, estava deitado no chão frio.

    Tim! Tim!

    “Acorda!” Uma voz alta soou, quando um guarda de meia-idade bateu numa das barras de metal com sua espada. “Tenho um trabalho para você, Alastor. Preciso que seja feito essa noite.”

    O sujeito na cela lentamente abriu os olhos e, com um olhar calmo, encarou a figura do outro lado da grade, sem demonstrar qualquer intimidação.

    “Quem eu tenho que matar dessa vez?”

    Um sorriso sádico surgiu no rosto do carcereiro.

    “Você vai saber em breve.”

    O prisioneiro magro parecia aborrecido, mas sentou-se e apoiando-se em seu próprio joelho, lentamente levantou-se e assim que o fez, seu enorme tamanho foi evidenciado. O homem, de cabelo desengrenhado e barba por fazer, era quase tão alto quanto o teto de mais de 2 metros de altura.

    Do lado de fora, um outro guarda mais jovem, que observava a cena, parecia inquieto.

    “Vamos mesmo fazer isso? Soube que esse cara tem o apoio do General Dimitri, isso pode acabar gerando um grande problema que vai voltar para nos morder.”

    “Cala a boca! O pagamento é gordo e o contratante não é um qualquer também. Além disso, é apenas um prisioneiro matando o outro, então como exatamente seríamos implicados?” O carcereiro mais velho falou, de forma esnobe. “A única forma disso acontecer é se o grandão aqui abrir a boca, mas você não vai fazer isso, vai Alastor?” perguntou, enquanto abria a cela.

    Uma das mãos do enorme sujeito apertou a barra de metal, uma algema Ardot estava presa ao seu pulso. Então ele abaixou a cabeça, saindo, dando-lhe um olhar indiferente, mas sem o responder.

    Vendo isso, o guarda de meia-idade sorriu.

    “É claro que não vai contar, você já teve sua pena de morte decretada, não tem nada a temer. Mas é melhor não recusar o trabalho de novo, da última vez você realmente me causou sérios problemas…” advertiu, descontente, mas logo sua expressão abriu-se em um sorriso provocador. “Eu soube que sua irmã, Kiara, recentemente migrou para a cidade depois de saber que você estava vivo… Ela vai com frequência ao Salão da Recepção, solicitar visitas. Seria uma pena se algo acontecesse com ela, certo? Uma garota tão bonita assim…” ameaçou, lambendo levemente os lábios.

    Ao ouvir isso, o prisioneiro, chamado Alastor, que tinha uma expressão apática, teve uma mudança em seu olhar, quando sua palma direita moveu-se como um raio, em direção a garganta do guarda, sua mão imensa quase contornava perfeitamente o pescoço do homem.

    “Ah! Q-que porra você tá fazendo, seu maldito!” exclamou, enquanto tinha seu pescoço preso, sentiu seu corpo sendo erguido e o ar fugir de seus pulmões. Seu desespero foi tamanho, que largou sua espada, usando as duas mãos para tentar se desvencilhar do aperto.

    “Solta ele, solta!” O jovem guarda gritou, quando o socou em sua costela, mas mesmo assim, o enorme homem magro parecia inabalável, como se não tivesse sentido nada. Então, mudando de tática, o sujeito se pendurou em seu braço direito, puxando-o para baixo para salvar seu parceiro, mas mesmo assim o prisioneiro parecia não se mover no mínimo.

    Que porra, como esse monstro é tão forte, mesmo com Algemas Ardot?!

    Vendo que não tinha escolha, o segundo carcereiro prosseguiu puxando sua espada e a pressionando contra o pescoço do gigante.

    “Você vai morrer, isso é certo, mas não arraste sua irmã com você! Faça esse último trabalho hoje e vamos garantir em dar uma boa quantia de dinheiro para ela. Ela terá dinheiro suficiente para até mesmo se mudar para uma cidade mais segura.”

    O aperto no pescoço do outro guarda diminuiu, quando o sujeito gigante olhou para o segundo homem. Então sua mão lentamente abriu-se, soltando-o.

    Respira! Respira!

    “M-merda, seu lunático!” O primeiro guarda exclamou, pálido e com um olhar apavorado em seu rosto. Mas apesar de furioso, o medo não lhe permitiu lançar mais insultos ou ameaças.

    Logo o enorme sujeito começou a andar, enquanto os dois guardas o seguiram cautelosos com espadas em punho logo atrás.

    Enquanto passavam pelas celas, alguns poucos detentos, ao notarem a cena, tinham rostos cheios de medo.

    “Merda, estão mudando Alastor de cela de novo… Quem é o infeliz da vez?”

    “N-não chegue perto!” Um dos condenados clamou em desespero, quando o gigante passou por sua cela.

    Mesmo que tivesse se passado pouco tempo desde que Garância havia sido retomada e não houvesse muitos prisioneiros na ala de oficiais, com os poucos ali sendo, na maioria, infratores que estavam cumprindo penas de poucos dias ou semanas, todos, sem exceção, já haviam ouvido falar de Alastor, o sobrevivente.

    Quando a cidade foi retomada, os Orcs não foram benevolentes com os antigos habitantes de Garância, matando cruelmente todos os cidadãos, os prisioneiros não tiveram um destino diferente. A maioria das celas se converteram em um cenário de carnificina, com corpos Humanos espalhados por todos os lados. No entanto, havia uma única exceção que destoava daquele horror.

    Dentro de uma cela, com duas ossadas de Orcs, havia um único sobrevivente, magro e esquelético.

    De alguma forma, Alastor teria conseguido matar os Dobats que entraram em sua cela e mesmo podendo matá-lo caso quisessem, os Orcs optaram por não o fazer, mas o usaram como fonte de diversão, apenas o trancando lá dentro, observando-o definhar dia após dia.

    Boatos diziam que o mesmo havia se alimentado dos corpos dos dois Orcs mortos por semanas e de seus cadáveres só restavam ossos roídos.

    Sob o comando de Wayne, o novo Salão da Recepção de Garância ainda tinha várias questões pendentes quanto à organização da cidade, então o assunto do prisioneiro sobrevivente foi deixado de lado. 

    Como os registros sobre seus crimes foram perdidos, havia sido considerado até mesmo oferecer-lhe o perdão, por ser o único sobrevivente do massacre da cidade, mas a ideia foi rapidamente rejeitada quando o sujeito começou a matar seus companheiros de cela. No fim, como o mesmo se mostrou um risco, foi determinado que ele seria condenado à morte, mas mesmo sua execução foi oficialmente deixada para uma data posterior.

    Com os dois carcereiros vigilantes a reboque, Alastor andou por vários corredores, até chegar ao último.

    “É aqui.” Um dos homens disse, incitando-o a parar.

    Logo o homem, que parecia sofrer de uma condição de gigantismo, virou seu rosto, olhando para o interior da cela, onde viu um garoto com menos de vinte anos, o rapaz usava roupas simples, sentado em um banco de pedra, apoiando seu rosto nas duas mãos que estavam com seus dedos entrelaçados.

    O jovem pálido, no interior, notou as pessoas, mas apenas lançou um olhar frio em sua direção.

    “Não esqueça, tem que ser essa noite, quanto antes, melhor.” O guarda mais velho cochichou, enquanto abria a cela.

    O sujeito gigante não disse nada, quando se inclinou, adentrando no local.

    Um prisioneiro solitário, na cela ao lado, ficou em choque ao ver essa cena, murmurando, cheio de medo.

    Fernando, que estava observando isso, não pareceu se importar, apenas ficando onde estava.

    Tim! Bam!

    Logo a porta foi fechada, enquanto Alastor ficou parado em frente a ela, encarando o rapaz pálido, que apenas devolveu o olhar.

    O homem na cela vizinha, rapidamente virou para o outro lado, fechando os olhos e tapando os ouvidos, enquanto dizia repetidamente:

    “Eu não vi nada, não sei de nada!”

    Os guardas lançaram um último olhar para os dois dentro da pequena cela e rapidamente saíram, apressados.

    Contudo, ao contrário do que essas pessoas pensavam, Alastor não atacou o rapaz de imediato, mas caminhou até o banco de pedra que ia de um lado da parede ao outro, sentando-se um pouco distante do jovem pálido.

    “Você sabe por que me mandaram aqui?” O sujeito enorme perguntou, enquanto encarava o espaço vazio a frente.

    Fernando deu de ombros para a pergunta.

    “Não… Mas imagino do que se trata.” respondeu, com uma voz fria e indiferente.

    Os dois, sentados, lado a lado, eram como um adulto e uma criança devido à diferença de estatura.

    O olhar de Alastor voltou-se para o jovem pálido, como se estivesse questionando o porquê de uma atitude tão complacente, mesmo sabendo o que estava acontecendo ali.

    “O que fez para estar aqui?” indagou, com uma voz calma. “Essa é uma prisão para oficiais, nenhuma pessoa comum vem parar aqui. Mas você é quase uma criança, por que querem se livrar de alguém como você?”

    Fernando suspirou com a pergunta.

    “Nada realmente, acho que apenas irritei um velho rabugento.”

    O sujeito magro e gigante deu uma leve risada abafada com a resposta.

    “Esse velho rabugento deve ser alguém importante, quem seria ele?”

    “General Herin.”

    Alastor ficou surpreso ao ouvir isso. Ele não conhecia muito sobre Herin, mas já havia ouvido falar dele a partir dos novos presos, por ter sido o principal responsável por matar milhares de Orc ao formar uma magia quase tão poderosa quanto a de um Grande Mago. Mas o que o surpreendeu não foi o nome em si, mas alguém tão jovem ter conseguido irritar um General como esse ao ponto de ser enviado para a prisão e até fazer os guardas mandá-lo até ali para matá-lo. Tendo ouvido dos carcereiros que a pessoa a sua frente teria uma boa relação com algum outro General chamado Dimitri, ele soube que o rapaz não era tão simples.

    “Meu nome é Alastor, como você se chama?”

    “Fernando Nobrega, Tenente do Batalhão Zero.” O rapaz respondeu, ainda na mesma posição.

    O sujeito enorme e magro assentiu, pensando já ter ouvido recentemente alguém citando alguma tropa com esse nome.

    “Eu tenho uma espécie de sexto sentido para sentir quando alguém é uma pessoa má, ou boa. Ao contrário da maioria dos cretinos que vem para cá, você não parece ser alguém ruim.” Alastor disse, com uma voz cansada. “Nunca tirei a vida alguém de sua idade. Digo, não injustamente, mas eu não tenho muita escolha, sabe?”

    Fernando, que ainda estava olhando de forma indiferente para a frente, suspirou.

    “Apenas faça o que tem que fazer, você não precisa se justificar para mim.”

    O homem alto assentiu.

    “Você está certo. Devo estar falando demais somente para desencargo de consciência. Então… vamos acabar logo com isso.” Ao falar até aí, Alastor virou-se, quando sua enorme palma se esticou em direção ao rapaz pálido.

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