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    Depois de algumas horas, quando o sol já se posicionava no topo do céu pálido, Tály finalmente se levantou com um sorriso de triunfo.

    — Finalmente! Consegui! — comemorou. — Consigo visualizar facilmente uma muralha de ferro e fogo protegendo minha mente!

    Morgan aplaudiu com admiração sincera.

    — Então vamos testar. Dê um passo para fora da defesa de Rhyssara e vá em direção ao Rio Vida. Se não entrar em transe, podemos considerar que sua proteção mental já está suficiente para o que precisamos. E não se preocupe. Se algo der errado, eu mesmo vou te buscar.

    Tály assentiu e começou a caminhar. Ela e Morgan pareciam cada vez mais próximos; a soldado demonstrava uma confiança crescente nele.

    Cassian, Helick e Redgar, por outro lado, ainda não tinham avançado em nada.

    — Que droga! — a frustração dominava a voz de Cassian. — Não dá pra fazer isso. Não visualizo nada, nem sei o que estou tentando fazer!

    — Se acalma, Cass — respondeu Helick, ainda de olhos fechados, concentrado. — Não é pra entender, é pra sentir.

    — Tudo que consigo sentir é esse calor insuportável! Como isso é possível? Não era pra estarmos no início do inverno?!

    De fato. A sensação térmica não condizia para a esperada para aquela época do ano.

    — Agora que você disse… — cochichou Redgar, franzindo a testa ao olhar para o céu limpo, mas com a palidez típica da estação.

    Morgan, que observava Tály se aproximar de onde Rhyssara e os outros faziam um piquenique à beira do rio, só desviou o olhar quando teve certeza de que ela estava bem. Então se voltou para os príncipes e para Redgar.

    — Isso é mais um dos bizarros controles de mana que Kadia tem — comentou, se aproximando.

    — Impossível… até o clima pode ser moldado com magia pura? — murmurou Helick, intrigado.

    — ARGUEMs que fazem isso já são uma raridade — comentou Redgar, erguendo a mão para o céu e observando a luz fraca refletir em seu anel. — Agora… fazer isso só manipulando essas tais molélulas… isso já é outro nível.

    — Moléculas — corrigiu Morgan com um sorriso, sentando-se ao lado de Redgar e Helick. Agora os três formavam um círculo improvisado na grama. — Talvez a explicação que eu dei não tenha funcionado tão bem pra vocês. Que tal tentarmos algo mais intuitivo?

    Morgan esfregou as mãos e olhou para os três como um instrutor prestes a explicar a técnica mais simples do mundo, mesmo que soubesse que não era.

    — Vocês estão pensando demais. Tentando entender mana como se fosse uma equação, ou como essas teorias modernas que os lunáticos do Laboratório de Pesquisa gostam de inventar. Mas isso aqui — ele tocou o próprio peito — é combate. Mana é como uma luta.

    Cassian ergueu uma sobrancelha, desconfiado.

    — Como assim?

    — Simples — continuou Morgan. — Quando vocês treinam espada, não ficam parados pensando: “agora vou mover o ombro, agora o cotovelo, agora o punho.” Vocês sentem o golpe, fluem com ele. Isso aqui é igual. Visualizar a muralha é o mesmo que erguer a guarda quando alguém vai te acertar. Não importa se a muralha é de pedra, gelo ou fogo. O que importa é a sensação de proteção, de dizer não pra quem tenta invadir sua cabeça.

    Helick franziu o cenho, atento.

    — Então eu realmente estava certo. Não é pra ver. É pra sentir, como quando bloqueamos um golpe sem olhar.

    Morgan sorriu, satisfeito.

    — Exatamente. Você está no caminho certo, mas estava pensando de mais. Isso aqui não é um truque intelectual. É instinto. Defesa.

    Redgar assentiu lentamente, finalmente começando a encaixar a lógica em algo que fizesse sentido para ele.

    — Agora sim tá fazendo parecendo um pouco mais alcançável.

    Morgan cruzou os braços e olhou para eles com um olhar de quem iria fazer algo perverso e sádico.

    — Então vamos fazer do jeito certo. Nada melhor pra aprender a se defender do que um ataque de verdade.

    Antes que alguém pudesse protestar, ele virou o rosto em direção a Rhyssara e levantou a mão.

    — Rhyssara! Pode desfazer a proteção.

    Os olhos de Cassian se arregalaram.

    — O quê?!

    Mas já era tarde. A imperatriz, confiante, estalou os dedos. A aura protetora ao redor deles sumiu como uma chama sendo apagada e, imediatamente, a sedução do Rio Vida voltou a cantar em suas mentes.

    A presença, o sussurro suave e traiçoeiro da corrente viva invadiram suas consciências como uma multidão tentando romper um portão mal fechado.

    “Venham a mim. Se afoguem na minha calmaria.”

    — Concentrem-se! — gritou Morgan. — Ou vocês afundam agora mesmo!

    Helick cerrou os dentes e, por instinto, ergueu os braços como quem espera um golpe. A muralha não era nítida, mas a sensação estava ali, crescendo aos poucos. Ele podia vislumbrar em sua mente um portão de gelo, pontiagudo como presas pálidas de um lobo, blindando sua mente.

    “Se afoguem na paz que somente eu posso oferecer a vocês.”

    Cassian, tomado pela adrenalina, tentou fazer o mesmo. Não com clareza. Não com perfeição. Mas com puro instinto de sobrevivência. As chamas internas dele tentavam queimar qualquer invasor que ousasse atravessar o império que era sua consciência. Um portão quase imaterial surgiu em sua visão, com correntes cravadas em seu crânio, protegendo sua mente.

    “Não precisa mais ter que se preocupar. Eu lavarei todos os problemas de sua vida.”

    Redgar apenas cerrou o punho, como se estivesse pronto para acertar o próprio pensamento, se fosse preciso. Lembrou-se das lavagens cerebrais que as Sombras haviam feito com ele. Aquilo jamais aconteceria de novo. Inconscientemente, viu a imagem de um homem armado com lança e escudo em guarda diante de sua mente. Um protetor. Um último bastião contra qualquer um que tentasse comandá-lo.

    As vozes começaram ser afastadas e distanciadas quando fogo, gelo e escudo a impediram de avançar.

    Morgan, ao centro, observava atento. Finalmente, agora eles estavam começando a aprender.

    Os olhos fechados dos três se abriram devagar, encarando o Rio Vida pela primeira vez sem medo.

    — Os sussurros… acabaram! — Redgar abriu um sorriso genuíno. — Finalmente.

    — Mas deu certo mesmo? — Cassian franziu a testa, ainda desconfiado.

    Helick permaneceu calado. O semblante sério mostrava que sua mente já estava um passo à frente.

    — Qual a garantia de que a gente não vai vacilar e se afogar de propósito no rio? — questionou.

    A pergunta foi certeira.

    Morgan respondeu sem hesitar:

    — A mesma garantia que você tem com a espada. Não é algo que se pensa. É instinto. E instinto vem com prática.

    Ele então retirou dos bolsos um de seus demolidores, seu ARGUEM de metal negro, runas pulsando em azul.

    No instante seguinte, desapareceu.

    Cassian mal teve tempo de reagir. Um chute lateral surgiu do nada. Ele saltou para o lado, rolou no gramado e pousou com uma das mãos na cintura procurando sua espada. A cintura desarmada o fez praguejar em silêncio.

    Morgan sorriu.

    — Viram? Você não pensou em desviar. Você agiu. Procurou seu ARGUEM sem nem perceber.

    Apontou o indicador para a cabeça de Cassian:

    — Esse reflexo, essa defesa automática que têm com o corpo… Agora precisam ter com a mente.

    Ele olhou para os três.

    — Isso foi só o começo. Não pensem que Rhyssara é a única que tem o dom de brincar com a mente das pessoas dentro dessas muralhas.

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