Índice de Capítulo

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    Eles submergiram mais uma vez com suas espadas em punho.

    A visão deles foi tomada pela criatura colossal que esperava no fundo do rio.

    O Kraken.

    Seus olhos eram poços negros como um abismo profundo. Os tentáculos, longos como vinhas aquáticas vivas, ondulavam em movimentos lentos e calculados. E no centro da testa, brilhando com uma luz pulsante, a joia verde-esmeralda parecia observá-los também.

    Helick percebeu seu irmão tremendo levemente enquanto desciam para perto da Besta Mítica. Ele não sabia se era pela água gélida que os cercava ou medo. De alguma forma ele sabia a resposta. Ele também estava tremendo e a água não estava tão fria assim.

    O monstro virou-se ligeiramente, como se os reconhecesse. Os tentáculos começaram a se mover lentamente.

    E então eles sentiram.

    Não nos corpos. Não na pele.

    Mas na mente.

    Tentáculos invisíveis roçavam suas consciências, como dedos que batiam na porta de seus pensamentos.

    Ambos se entreolharam e, instintivamente, ergueram suas defesas mentais.

    Foi nesse instante que Helick se lembrou do que o irmão havia dito momentos antes de mergulharem.

    Momentos antes de submergirem

    “Temos uma chance, Helys.”

     “Como assim, Cass? Que chance?”

     “Lembra daquele conto antigo sobre como Helisyx convenceu as Bestas Míticas a lutarem ao lado dos humanos?”

    “Claro que lembro! Eu passei anos tentando achar esse livro na biblioteca. A bibliotecária sempre dizia que estava emprestado… depois de um tempo, desisti.”

    “É porque eu nunca devolvi.”

    “O quê?! Cass, tem mais de dez anos que procuro esse livro!”

    “Eu peguei ele há quinze.”

     “Você é inacreditável.”

    “Foca aqui.”

     “Tô focando.”

    “O livro dizia que Helisyx tinha o dom de falar com as Bestas Míticas. Eu sempre achei que fosse só uma peculiaridade dele… ou uma metáfora. Mas acho que os historiadores erraram. Ele usava magia mental.”

    “Magia mental? Esse é o seu plano?! Cass, já li pelo menos três tratados sobre isso. Tentaram usar esse tipo de magia pra se comunicar com feras e nunca conseguiram. Animais não têm linguagem racional. Não conseguem expressar vontades.”

     “Quantos desses testes foram feitos com Bestas Míticas?”

     “… Nenhum. Elas foram isoladas do continente há mais de mil anos.”

    “Exato. E as Bestas Míticas são conhecidas não só pela força… mas pela racionalidade.”

     “Ok, mas mesmo que você esteja certo, nós não temos magia mental.”

    “Não temos. Mas… lembra quando eu desmaiei? Quando minha muralha mental cedeu, o Kraken falou comigo. Não com palavras… mas falou. E se ele quisesse nos matar, já teria feito.”

    “Então… você acha que se baixarmos nossas defesas mentais…”

     “… Ele pode falar com a gente.”

    “CARACA, CASS!”

    De volta ao presente

    Os príncipes fecharam os olhos. A água ao redor parecia sumir de importância enquanto se concentravam apenas em suas muralhas mentais.

    E então as viram.

    A de Helick era uma fortaleza de garras e presas congeladas, como um lobo ancestral defendendo o interior de sua mente. Estacas de gelo se erguiam como dentes prontos a dilacerar qualquer intruso.

    A de Cassian, por outro lado, era mais selvagem. Duas asas flamejantes de águia cerravam-se diante de uma esfera mental envolta por correntes de fogo. Tentáculos de sombra contornavam o perímetro, como se a própria muralha fosse viva.

    Mas não houve ataque.

    Os tentáculos do Kraken… acariciavam. Deslizavam ao redor das defesas como se implorassem por permissão. Um gesto estranho e perigoso.

    Os irmãos se entreolharam no pensamento.

    E cederam.

    “Oh… isso foi planejado?”

    A voz invadiu a mente deles como um sussurro surgido das profundezas do mundo. Grave. Antiga. E carregada de algo inumano, quase impessoal. Ela ressoava com um eco impossível, como se falasse de dentro de uma caverna submersa. Até os mais bravos dos guerreiros tremeram diante daquela voz.

    “Incrível… o Cass estava realmente certo!” pensou Helick, surpreso.

    “Eu sou incrível, não sou?” A voz triunfante de Cassian surgiu, debochada.

    Helick piscou no vazio mental.

    “Estamos… compartilhando pensamentos?”

    “Não.” A voz do Kraken respondeu antes que Cassian pudesse.

    “Estou compartilhando vocês.”

    “Quem é você?” Helick avançou. “Como pode estar aqui dentro da barreira de Helisyx? O que é essa joia na sua testa?”

    Os pensamentos saíam atropelados, sua curiosidade queimando como fogo sob a água.

    “Antes de tudo…” respondeu o Kraken, em tom quase entediado. “Sou alguém que respira sob a superfície. E o fôlego de vocês… está por um fio.”

    Helick franziu o cenho.

    “Do que está falando? Eu ainda sinto meus pulmões cheios.”

    “Porque eu estou fazendo vocês acharem isso.”

    “Quando abaixaram suas defesas, entregaram-me as chaves de suas mentes. E seus corpos. Nunca façam isso. Nem mesmo com quem amam. E especialmente… com algo que vocês não entendem.”

    No instante seguinte, a dor os atingiu.

    Seus pulmões queimaram como se estivessem em brasas.

    A falta de ar explodiu de repente em pânico.

    As pernas chutaram o vazio, braços desesperados puxaram água.

    Eles não subiriam a tempo.

    Mas antes que o desespero os engolisse por completo, os tentáculos do Kraken os envolveram suavemente e os impulsionaram para cima como um golpe de ar invisível.

    Quando emergiram, o mundo explodiu em som e respiração.

    Os dois príncipes abriram as bocas entre tosses e engasgos, puxando o máximo de ar como se nunca mais fossem respirar de novo.

    “Na próxima vez que descerem…”

    A voz do Kraken ecoou uma última vez, antes de desaparecer nas marés da mente.

    “Venham preparados para não deixar suas mentes a minha mercê. Talvez eu fale o que desejam. Mas se abrirem suas defesas mentais a mim outra vez… eu os matarei.”

    Cassian caiu de joelhos na beira da margem, ofegante. Helick o seguiu logo atrás, os ombros ainda sacudindo pelas contrações involuntárias do corpo tentando compensar o trauma.

    O grupo correu para recebê-los.

    — Não morreram. Que bom. — disse Morgan, genuinamente aliviado — para a surpresa de todos.

    Rhyssara, envolta agora em um manto vermelho escuro, observava os dois com atenção. A noite enfim havia vencido a magia de Kadia, e o frio cortava como lâmina sob a luz do luar no céu limpo e enevoado.

    — Como foi lá embaixo? — perguntou a imperatriz.

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