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    O frio persistente da manhã era afastado apenas pelo crepitar do fogo na grande lareira da sala. No casarão no alto do penhasco, em Ossuia, uma mesa farta havia sido servida ao dono da casa e seus convidados.

    Enquanto comiam, Rhyssara notava os olhares constantes dos soldados de Lyberion direcionados aos dois príncipes, imóveis diante do fogo, em profunda meditação.

    O clima era denso. Incômodo.

    — Querem perguntar alguma coisa? — disse a imperatriz, quebrando o silêncio com naturalidade, mas sem suavidade.

    Marco foi o primeiro a falar:

    — Mesmo sabendo do plano… ainda parece um tanto quanto extremo.

    — Concordo — completou Morgan, girando distraidamente o vinho na taça. — Amanhã é o prazo final para indicarmos os nomes da próxima muralha. Depois disso, só daqui a duas semanas. Eles vão nos atrasar bastante.

    Tály lançou um olhar cortante.

    — É sério que isso é o que te preocupa?

    Redgar, mastigando um pedaço de carne, engoliu antes de responder:

    — O que devíamos estar questionando… é o que vai acontecer daqui a três dias se eles não conseguirem sair disso por conta própria.

    Tály se inclinou para Kadia e sussurrou:

    — Ela não está falando sério, está? A imperatriz… não deixaria mesmo que eles morressem.

    A mulher de pele ébano respondeu apenas com um olhar duro. Um que não deixava espaço para dúvidas.

    Rhyssara, mesmo à distância, ouviu o cochicho. E respondeu sem alterar o tom:

    — Jurei por tudo que valorizo. Pela Coroa de Edgar. Pelos Três Deuses. Pelo Deus Primordial. Se não forem capazes de me expulsar de suas mentes, os deixarei perecer.

    O silêncio caiu como uma sentença.

    — Então é bom nos prepararmos para a guerra — murmurou Redgar. A serenidade em sua voz era como um silêncio que antecede a tempestade.

    Todos entenderam a que guerra ele se referia.

    — Fomos enviados nesta missão para garantir que nada acontecesse a nossos príncipes — disse Redgar, erguendo o olhar. — E se eles não conseguirem sair do seu domínio, imperatriz… teremos que matá-la.

    Ele apontou para Rhyssara. Sua mana se elevou sutilmente.

    — Está ameaçando minha imperatriz em solo ossuiano? — indagou Suzano, falando pela primeira vez. Sua voz era tão fria quanto o vento lá fora.

    — Ela sabe que não somos ameaça real — disse Redgar, dando de ombros. — Mas também sabe que não ficaremos de braços cruzados assistindo nossos príncipes morrerem.

    — Em outras palavras… Daqui três dias, se eles não saírem do controle mental de Rhyssara, todos nós iremos morrer em solo ossuiano, o Rei Aquiles irá marchar contra Ossuia, mesmo que os dragnaros estejam a porta e quando eles finalmente invadirem, talvez nós já tenhamos nos matado. — Marco concluiu friamente.

    — Então espero que consigam escapar até lá — disse Rhyssara, afastando a cadeira e se erguendo com leveza.

    Ela ajeitou o sobretudo vermelho escuro e olhou pela janela.

    — Vou aproveitar enquanto o sol ainda está visível. Um pouco de calor natural antes do próximo ciclo. Alguém vem?

    Sua irreverência beirava o desrespeito, mas ninguém ali a interpretou como deboche.

    Era o jeito dela dizer: não há mais nada que possamos fazer além de confiar.

    Enquanto isso, uma guerra silenciosa já era travada nas mentes de Helick e Cassian.

    Lá dentro, um novo mundo se desdobrava na psique de cada um. Seus olhos fechados ao mundo externo pareciam abertos para algo ainda mais real.

    O subconsciente consciente.

    Um espaço escuro. Sem luz própria, mas brilhante nos reflexos: os cristais de gelo da muralha em pedaços de Helick… as brasas nas asas tombadas da de Cassian.

    Uma águia e um lobo se encaravam naquele plano estranho. Entre os escombros, um emaranhado de caules espinhosos se espalhava, repleto de rosas vermelhas.

    No centro daquela escuridão, uma coroa negra com bordas douradas e rubis pulsava com um brilho hipnótico.

    A Coroa de Edgar.

    A águia tentou alçar voo para atacá-la, mas os espinhos se enroscaram em suas asas, prendendo-a.

    O lobo uivou e soltou um sopro de gelo, mas os espinhos se fecharam sobre suas presas, forçando sua mandíbula.

    Impotentes.

    A coroa dominava aquele mundo. Como se tivesse transformado seus próprios guardiões em criaturas acorrentadas por espinhos e rosas.

    A pressão era tamanha que ambos foram expulsos de suas mentes.

    Cassian arfou ao acordar, tossindo. Helick levou a mão ao nariz e sentiu o sangue escorrendo.

    — Podemos morrer de verdade, se não tomarmos cuidado — disse ele, ofegante.

    O sol já pendia no céu. Do lado de fora, ouviam-se vozes e risadas. Os outros pareciam jogar algo, como se o mundo não estivesse prestes a ruir.

    — Que merda… — murmurou Cassian, furioso. — Como vamos tirar ela da nossa cabeça? Ela nos expulsou de nossas próprias mentes! Isso é ridículo!

    Helick ia responder quando ouviram a voz dela, suave como um sussurro, ecoando em suas consciências:

    “Só por conseguirem ver aquele mundo, vocês já são dois dos mais poderosos humanos vivos no domínio mental.”

    “Não esperava que conseguissem visualizar o subconsciente com tanta clareza. Esse feito é raro. Muitos estudiosos passaram décadas tentando. Vocês fizeram em um dia.”

    — Mas não fizemos nada demais… — Cassian disse, como se ela estivesse ali. — Só nos concentramos nas muralhas e aquela visão apareceu.

    “O que fizeram é considerado impossível sem anos de treino. A maioria dos humanos só ergue barreiras simples, inconscientes. Nem veem suas formas. Vocês não só criaram muralhas verdadeiras, como as visualizaram… e entraram nelas com lucidez.”

    — Quer dizer que a gente nunca teria chance de te expulsar se não atingisse esse estágio impossível em três dias? — perguntou Helick.

    “Exatamente. Mas vocês não sabiam que era impossível… e fizeram mesmo assim.”

    “Não é só habilidade. Vocês têm uma quantidade absurda de mana… e ela responde a vocês. Como se quisesse ajudá-los.”

    — Do que essa mulher tá falando… — Cassian murmurou.

    — Eu entendi. — disse Helick. — Ela quer que a gente aprenda a usar esse potencial não apenas de forma instintiva, mas ativa. Quer que dominemos essa força… para quebrar o domínio da Coroa.

    “Exato. E para facilitar… se conseguirem tocar na Coroa dentro do subconsciente, libertarei vocês. Isso provará que estão prontos. Até mesmo para o Kraken.”

    E então, a voz se foi.

    Os irmãos trocaram um último olhar.

    E mergulharam novamente naquele mundo de trevas, dominado pela Coroa de Edgar. A imponência fazia com que eles parecessem meros vassalos de suas próprias mentes onde o líder da corte era um estrangeiro.

    E era hora deles derrubarem aquela corte de espinhos e rosas.

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