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    Os olhos se abriram.

    Mas não os olhos humanos de Cassian ou Helick. Foram as pupilas animalescas que se acenderam primeiro no escuro.

    A águia flamejante ergueu a cabeça em meio às cinzas. As brasas ainda ardiam em suas penas, e o olhar dourado cintilava com fúria contida. Ela não mais temia a coroa, agora observava o trono à frente com a consciência clara de que pertencia a este céu.

    O lobo de pelagem branca e olhos escarlates despertou logo depois, rompendo o silêncio com um rosnar grave. Seu corpo se movia com firmeza sobre os escombros congelados da muralha partida. Ele já não se sentia um intruso ali. Era o dono daquela floresta sombria, mesmo que ela sangrasse espinhos em cada passo.

    Eles compreendiam agora. Aquilo não era um sonho. Nem uma prisão.

    Era o domínio deles.

    Aquela terra escura de espinhos e rosas, coberta por gelo e cinzas, era o reflexo de suas próprias mentes. A Coroa de Edgar, negra, vermelha e dourada, continuava no centro daquele vazio, pulsando com poder, enraizando sua vontade nos sentidos dos dois príncipes. Ela se erguia como um rei estrangeiro que tomara posse do trono de suas consciências.

    Mas não mais.

    A verdade ecoava entre os galhos quebrados e o chão estilhaçado: a coroa não era o soberano. Eles eram.

    E, agora, sabiam o que precisavam fazer.

    Tocá-la. Apenas tocá-la.

    Era o suficiente para quebrar o feitiço. Para recuperar o controle. Para destituir o impostor.

    A águia abriu as asas e riscou o céu escuro num rasante ígneo. O lobo avançou pela terra congelada como um raio branco, seus olhos ardendo com determinação.

    Ambos rumavam ao centro do abismo, ao altar espinhoso onde a Coroa repousava. Não mais como símbolo de temor, mas como o troféu da reconquista.

    Era hora de reivindicar o trono de suas próprias mentes.

    Mas a Coroa de Edgar não os deixaria avançar tão facilmente.

    O mundo mental, moldado por suas próprias inseguranças e pela presença invasiva da coroa, reagiu como um organismo ferido.

    Do solo escuro da floresta congelada, por onde o lobo branco de Helick avançava com voracidade, ergueram-se vinhas negras cobertas de espinhos. Elas se desprendiam do chão com violência, como serpentes famintas, buscando agarrar, chicotear, enredar.

    Mas o lobo não desacelerou.

    Num salto ágil, desviou da primeira investida, aterrissando com garras afiadas cravadas na terra enregelada. As vinhas vieram de novo, em múltiplas direções, mas Helick era fúria pura. Com um rosnado explosivo, rasgou os galhos com suas presas brutais, cada mordida desfazendo os espinhos em fumaça mental. Corria como se fosse a única criatura viva naquele mundo, como se nada mais existisse além da sua meta à frente.

    E ele não pararia até tocá-la.

    No céu avermelhado, onde o calor parecia ser gerado apenas pelas brasas do passado, a águia de Cassian cortava os ventos com asas flamejantes.

    Ela também era atacada.

    Pétalas de rosas vermelhas surgiram no ar, flutuando suaves… até que se viraram para ela como lâminas vivas. As bordas cortantes e gotejantes de mana letal começaram a cercá-la de todos os lados, fechando-se como uma tempestade de navalhas.

    Cassian, no entanto, não hesitou.

    Com um grito agudo, uma rajada flamejante escapou de suas asas ao mergulhar. Desceu como um cometa, num rasante desesperado em direção ao solo, as pétalas acompanhando cada movimento, afiadas, famintas.

    E, no último instante, ele puxou para cima.

    A ascensão foi tão violenta que o ar ao redor explodiu em calor e cinzas. As pétalas restantes não conseguiram frear a tempo e se cravaram no chão como estacas sangrentas.

    Algumas, no entanto, continuaram a perseguição.

    Mas a águia não olhou para trás. Nem uma vez.

    Ambos avançavam, um rasgando o chão, o outro incendiando os céus. Dois irmãos, duas bestas, dois reinos internos marchando em direção à mesma coroa. A mesma fonte de controle. A mesma ameaça.

    Eles não sabiam se venceriam.

    Mas sabiam que, pela primeira vez, estavam lutando como os verdadeiros reis de si mesmos.

    Eles estavam perto.

    A coroa se erguia diante deles, imponente, vívida, como se pertencesse ao trono de suas almas.

    O lobo branco saltou com um rugido que estremeceu o ar gélido da floresta.

    A águia flamejante mergulhou como uma flecha em brasas, incendiando o céu daquele mundo interior.

    Mas a centímetros do toque…

    Um estrondo.

    O mundo psíquico tremeu.

    Uma muralha colossal de espinhos e rosas se ergueu diante da coroa, como se a própria vontade da Coroa de Edgar houvesse se manifestado para proteger a si mesma. As vinhas se entrelaçaram com violência, tão densas e afiadas que repeliram os dois com força suficiente para lançá-los para trás.

    As pétalas cortantes que perseguiam Cassian se aproximaram como navalhas vermelhas.

    As vinhas chicoteantes da floresta de Helick vinham atrás com fúria renovada.

    Eles estavam cercados.

    A águia tentou se esquivar, mas foi atingida.

    O lobo ainda lutava, rasgando vinhas com suas presas, mas acabou preso por múltiplos galhos espinhosos que cravaram-se em sua carne mental.

    Ambos foram expulsos de suas mentes num estalo.

    Os olhos se abriram de súbito. O mundo real girou. A tontura veio como uma avalanche.

    Helick cambaleou e quase tombou — até que mãos firmes o ampararam. Rhyssara o segurou com calma e repousou sua cabeça em seu colo. Seus olhos, porém, mantinham a mesma frieza de sempre.

    Cassian, pálido, arfava ao lado. Tály o segurou com urgência, apoiando-o no chão com cuidado.

    — Vocês estão bem? — Marco se aproximou, alarmado.

    Uma dor lancinante irradiava nas cabeças dos dois príncipes. O sangue que escorria do nariz agora vinha acompanhado de outro sintoma.

    O gosto metálico de ferro se espalhava por suas bocas, seguido por uma tosse sufocante.

    Ambos cuspiram sangue no chão de pedra polida da sala de Suzano.

    — Imperatriz, por favor, pare com isso! — clamou Tály, o desespero escapando por entre os dentes. — Se continuar assim, não vamos nem chegar aos três dias! Eles vão morrer antes disso!

    Rhyssara não desviou o olhar de Helick.

    — Você é um lobo. — disse ela com firmeza. — O que são vinhas diante de você? O que são espinhos para o rei da floresta gelada? Essa coroa… ela é mesmo digna de dominar o rei das montanhas?

    Sua voz carregava algo estranho. Não era apenas um incentivo. Era como se repetisse palavras que não lhe pertenciam. Frases antigas. Uma lembrança.

    Helick a encarou com olhos vermelhos e febris. E assentiu, quase imperceptivelmente.

    Fechou os olhos e mergulhou de novo.

    Cassian, deitado no colo de Tály, olhava para ela com dificuldade, ainda tentando recuperar o fôlego. Mas havia algo mais em seu olhar agora. Algo vulnerável.

    — Tály… — murmurou. — Você realmente me odeia?

    Ela arregalou os olhos, sem entender de imediato.

    — Do que está falando? Você pode morrer de verdade… agora mesmo!

    — Me desculpa… por aquela época. O que eu fiz foi errado. E se eu perder alguém como você… por causa disso… — ele engoliu em seco, com dificuldade — eu me arrependeria até o fim da vida. Porque você significa muito pra mim.

    Tály ficou imóvel. Aquele não era o príncipe impulsivo e arrogante que ela conhecia. Havia algo nu naquela fala. Cru.

    Ela abriu a boca para responder… mas não soube o que dizer.

    Cassian apenas sorriu. Um sorriso melancólico. E fechou os olhos.

    Deixando-se consumir novamente pelas chamas daquele mundo dentro de si.

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