Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
Aspas duplas para conversa mental: “
Travessão para falas em voz alta: —
Capitulo 67 — Um Tesouro na Escuridão
Flügel contou os dez minutos como se fossem horas, cada passo uma tentativa de ignorar a náusea que a atmosfera do submundo provocava. O cheiro, os sons abafados e a sensação de estar constantemente sendo observado eram um fardo pesado.
Quando Grenhard finalmente parou diante de uma porta de madeira escura e sem qualquer distinção, a respiração de Flügel soltou-se em um suspiro quase inaudível de alívio. Era um alívio misturado com uma ponta de apreensão, o que os aguardava lá dentro? Grenhard bateu na madeira em um ritmo peculiar, e poucos segundos depois, uma fresta se abriu, revelando um par de olhos desconfiados.
Os olhos encararam Grenhard por um tempo analítico, como se ele tentasse assimilar quem era aquela pessoa. Arregalando os olhos depois de um tempo, o par de olhos abriu a porta, revelando-se ser um homem grande e corpulento, com a cabeça raspada e uma cicatriz proeminente que cortava seu olho esquerdo. Ele vestia um colete de couro que mal conseguia conter seus músculos salientes.
Ao ver Grenhard, o rosto do homem, antes carrancudo, suavizou-se em um sorriso surpreendente. — Mestre Grenhard! Há quanto tempo! Achei que tinha esquecido de nós aqui embaixo. — Sua voz era um trovão abafado, mas o tom parecia genuíno, mas também cheio de ganância.
— E eu tinha, Vark — Grenhard respondeu com nojo, a fala casual que o homem corpulento usava lhe deixava com raiva, ele o tratava como se eles fossem iguais.
Vark, o porteiro, moveu-se para o lado, abrindo mais a porta e permitindo que a luz amarela do interior do local vazasse para a viela escura. — Entrem, entrem. Tenho certeza que encontraremos o que precisam — Ele lançou um olhar rápido e curioso para Flügel, mas não comentou.
Flügel hesitou por um instante, sentindo um arrepio percorrer sua espinha ao cruzar o limiar da porta com a viela. O interior era um contraste gritante com a escuridão úmida da rua. Era um salão amplo e mal iluminado por lamparinas a óleo e tochas que crepitavam nas paredes, lançando sombras dançantes. O ar aqui dentro era menos fétido, embora ainda carregado com o cheiro de metal, couro e uma pitada de fumaça.
O local parecia um mistura de armazém e loja de penhores, repleto de bancadas de madeira bruta abarrotadas de mercadorias. Armas de todos os tipos: espadas, machados, adagas e arcos pendiam das paredes, reluzindo fracamente. Havia também pilhas de armaduras de couro e metal, algumas parecendo bem usadas, outras com um brilho mais novo. Caixas e barris empilhados aleatoriamente formavam pequenos labirintos entre as bancadas.
Pessoas de todo tipo circulavam pelo salão, formando uma quantidade considerável de clientes para aquele horário precoce, considerando que a maioria vinha de madrugada. Havia mercenários com suas armaduras arranhadas, ladrões de capa e capuz, e até mesmo alguns indivíduos que pareciam ser magos ou alquimistas, inclinados sobre mesas menores, examinando frascos e amuletos. A energia do lugar era palpável, uma mistura de ganância, necessidade e um toque de perigo à espreita.
“Tem bastante gente aqui, e é bem mais tranquilo que lá fora.” Nytheris comentou na mente de Flügel, a surpresa em seu tom era evidente.
“Sim, eu pensei que não teria quase ninguém.” Ele caminhou entre os itens, tentando não olhar para as pessoas suspeitas ao seu redor, seus olhos varrendo as bancadas.
‘Isso é tudo lixo…’ Não querendo perder tempo com as tralhas que estavam à venda, armas enferrujadas, amuletos de aspectos duvidosos e peças de armadura remendadas que mais pareciam ter sido resgatadas de um ferro-velho, ele foi direto para um canto que lhe chamou a atenção.
Era ali que os itens que continham alguma propriedade mágica ficavam, dentro de vitrines de vidro reforçado, tendo os olhos de outros guardas sobre elas a todo momento, tornando difícil roubá-las. Aquele era o setor mais cobiçado, e também o mais seguro, do armazém.
Dentro de uma dessas vitrines, dispostas com uma reverência quase religiosa, estavam espadas de lâminas que pareciam brilhar com poder, lanças com pontas afiadas que sussurravam promessas de cortar seus inimigos com facilidade, adagas de cabos entalhados com símbolos mágicos e um único arco, sua madeira escura pulsando com uma energia contida. Ao lado dessas armas, dominando o centro da vitrine, havia uma única armadura.
Era de uma prata opaca e imponente, não o brilho espelhado da ostentação, mas um tom que sugeria resistência e profundidade. Cada peça parecia forjada para a guerra: o elmo, totalmente fechado, era elegantemente arredondado na parte superior, afinando-se suavemente para encontrar a gola robusta.
Não havia aberturas visíveis para o rosto, apenas duas fendas finas e escuras na altura dos olhos, que brilhavam com um fulgor enigmático, quase como se a escuridão estivesse aprisionada ali. Isso dava ao elmo uma silhueta contínua e impenetrável, prometendo proteção total para a cabeça.
Os ombros eram largos e bem definidos, enquanto as braçadeiras e as perneiras eram articuladas de forma complexa, sugerindo total liberdade de movimento apesar da robustez. Placas sobrepostas protegiam as juntas, e as luvas de placas, com os dedos individuais articulados, pareciam capazes de manusear uma arma com destreza letal.
Não havia detalhes supérfluos; cada linha, cada curva da armadura parecia ter sido desenhada para desviar golpes e absorver impactos da melhor maneira. Ela protegia todas as partes do corpo, desde a garganta até os calcanhares, com uma cobertura quase perfeita. Uma aura sutil, quase fria, emanava dela, um indício de que não era apenas metal, malha e couro, mas algo mais… algo encantado.
Flügel sentiu uma atração quase magnética pela armadura. Ela com certeza não era leve, mas a imponência e a promessa de proteção eram inegáveis. Flügel sorriu de orelha a orelha. Ele sabia que essa era uma peça rara, ele sentia.
— Se você não quiser, eu quero — Ele avisou Nytheris, que saiu pelo seu braço e se materializou à sua frente para ver a armadura mais de perto.
— Você veio comprar equipamentos para mim, lembra? — Nytheris retrucou, um sorriso travesso brincando em seus lábios enquanto ele estudava a armadura com uma curiosidade genuína. Seus olhos brilhavam com o reflexo prateado do metal, e ele parecia fascinado pela peça.
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