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    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    Enquanto ambos observavam a majestosa armadura prateada, Vark mal conseguia disfarçar sua confusão. Afinal, um homem acabara de surgir do braço de um garoto, e aquilo, definitivamente, não era algo que se via todo dia.

    — Senhor Grenhard, quem é este garoto que o acompanha e, por que raios um homem saiu de dentro do braço dele? — Vark questionou, a voz grave, mas com uma nota de cautela mal contida.

    — É o familiar dele. E o garoto… é um aluno prestigiado da Academia Aera Veyris — Grenhard respondeu, seu tom não deixando margem para mais perguntas. O nome da academia, por si só, conferia um peso imediato à sua declaração.

    Com a informação lançada, Vark não perdeu tempo. Caminhou rapidamente para o lado de Flügel, os olhos de mercador já calculando uma possível venda, quem sabe até um futuro cliente valioso.

    — Parece que seu companheiro se encantou com esta peça — Vark disse, sua voz agora mais suave e convidativa, enquanto seus olhos se fixavam na armadura prateada na vitrine. Ele gesticulou em direção à peça, um sorriso amplo revelando um dente de ouro.

    — É uma beleza, não é mesmo? Uma peça única, rara como poucas que já passaram por este estabelecimento. Foi forjada com um material especial que a torna incrivelmente resistente, mas sem o peso excessivo. E aquela aura… Ah, aquela aura não é apenas para exibição, jovem mestre. Ela foi imbuída com encantamentos de proteção que a tornam quase impenetrável contra magias menores e aumentam drasticamente a resistência física de quem a veste. Uma verdadeira obra de arte da forja e da magia. 

    Vark estufou o peito, os olhos brilhando com o orgulho típico do vendedor que conhece o valor inestimável de sua mercadoria. — É ideal para um guerreiro que necessita de defesa máxima sem sacrificar a destreza. Um campeão, talvez, ou alguém que enfrente perigos que exijam a máxima confiança em sua blindagem. Posso garantir, não há outra igual por aqui.

    Flügel assentiu lentamente, absorvendo cada palavra. A descrição de Vark apenas confirmava suas próprias percepções sobre a armadura. Ele podia sentir a energia sutil pulsando da peça, mesmo através do vidro reforçado. Era exatamente o tipo de proteção que imaginava para Nytheris, algo que o tornaria quase invulnerável.

    — E quanto custa essa “obra de arte”? — Flügel perguntou, tentando manter um tom neutro, embora a excitação vibrasse em sua voz. Ele sabia que, no submundo, demonstrar interesse demais era como assinar um cheque em branco para o vendedor. Contudo, para alguém tão inexperiente em negociações como ele, fingir total desinteresse era um desafio que suas emoções teimavam em trair.

    Vark soltou uma risada rouca que ecoou pelo salão. — Para uma peça como esta, o preço não é algo que se discuta levianamente, jovem mestre. Mas para um aluno da Aera Veyris e um convidado do Mestre Grenhard, posso fazer uma oferta… digamos, especial. Ela custa setenta e cinco moedas de ouro.

    O ar pareceu rarear para Flügel. Setenta e cinco moedas de ouro! Era quase metade de tudo que ele possuía. Um montante que faria a maioria das pessoas comuns viver por no mínimo um ano, caso soubessem administrar o dinheiro. Ele lançou um olhar para Grenhard, que mantinha uma expressão impassível, sem dar qualquer indício de surpresa ou aprovação.

    — Setenta e cinco moedas de ouro?! — Nytheris exclamou, sua voz subitamente mais alta do que o normal. Ele encarava a armadura com os olhos arregalados, não mais com admiração, mas com o choque do preço. — Isso é um absurdo! Flügel, você não pode gastar tanto dinheiro em uma única peça, e ainda por cima, uma armadura tão pesada!

    — Ela não é tão pesada quanto parece, o ferreiro que a forjou soube deixá-la com um peso relativamente leve para sua capacidade de proteção — Vark interveio, esfregando as mãos com um brilho de antecipação nos olhos.

    — Mas o peso não é problema. E se comprássemos as peças separadas, quanto você acha que gastaríamos no conjunto todo? — Flügel argumentou, sua voz séria enquanto olhava para Nytheris. — E não quero ouvir você falando sobre o preço, é para sua segurança e bem-estar. Você gostou dela?

    Nytheris apertou os lábios e fixou o olhar na armadura. Ele não podia negar que havia gostado. Ela parecia ser incrível. Com seu brilho único e majestoso, ele queria vestir algo assim. Ele também queria ser brilhante, queria brilhar.

    — Sim… sim, eu gostei — Nytheris admitiu, um tom de relutância inicial se transformando em fascínio genuíno ao encarar o metal prateado. — É… é impressionante. Mas ainda acho que é um desperdício de dinheiro. Não preciso de algo tão… ostentoso.

    Flügel ignorou a última parte do comentário de Nytheris. O “sim” era tudo o que ele precisava. Seus olhos se voltaram para Vark, com a decisão já tomada.

    — Nós vamos levá-la — Flügel declarou, a determinação em sua voz inabalável.

    Vark abriu um sorriso ainda maior, exibindo mais uma vez o dente de ouro. — Uma excelente escolha, jovem mestre! Posso assegurar que não se arrependerão.

    Grenhard, que até então permanecera em silêncio, aproximou-se e finalmente se pronunciou, sua voz baixa e calma, mas com uma autoridade que silenciou Vark por um instante. — Flügel, você tem certeza? Esse é um investimento considerável. E Nytheris tem um ponto sobre o peso, e ela não seria muito facilmente visível para a floresta? Há outras opções aqui que seriam mais adequadas e menos dispendiosas para o que você inicialmente procurava.

    Flügel balançou a cabeça, o sorriso orgulhoso ainda em seu rosto. — Eu tenho certeza, Mestre Grenhard. A segurança de Nytheris não tem preço. E ele gostou.

    Nytheris, por sua vez, estava dividido entre a admiração pela armadura e a preocupação com o dinheiro de Flügel. Ele lançou um olhar hesitante para o amigo.

    — Sobre a visibilidade, ele realmente ficará bem visível na floresta, mas não há nada que uma capa não resolva — Flügel complementou, direcionando um olhar tranquilizador para Nytheris, como se a simples capa fosse a solução para qualquer problema de camuflagem que a armadura prateada pudesse causar.

    Flügel então se virou para Vark, que ainda esfregava as mãos uma na outra, os olhos brilhando com a iminente transação.

    — Onde podemos fazer o pagamento? — Flügel perguntou, gesticulando em direção a uma das bancadas mais próximas, que estava mais livre.

    Vark acenou com a cabeça, um gesto apressado. — Por aqui, jovem mestre.

    Eles caminharam alguns passos até a bancada indicada. Sem mais delongas, Flügel sacou um dos pequenos saquinhos de moedas de seu casaco. Com um tilintar metálico, ele despejou o conteúdo sobre a madeira bruta. As setenta e cinco moedas de ouro formaram uma pequena pilha brilhante, chamando a atenção de alguns curiosos por perto.

    Vark, com os olhos fixos no ouro, rapidamente começou a contagem, seus dedos ágeis. Um sorriso de satisfação plena se estampou em seu rosto.

    — Perfeito! Negócio feito, jovem mestre! — Ele então tirou uma chave do bolso e, com um movimento rápido, destrancou a vitrine onde a armadura prateada de Nytheris estava exposta. Com cuidado, ele a removeu do manequim. — Aqui está a sua nova proteção.

    A armadura parecia ainda mais imponente fora da vitrine, a prata opaca reluzindo sob a luz bruxuleante do local. Nytheris estendeu a mão, hesitante, e tocou o elmo, sentindo a frieza do metal e a promessa de força que ele exalava.

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