Capítulo 9: Dia de descanso
O sol artificial de Áurea brilhava suavemente no céu pela manhã, a temperatura era agradável, nem quente nem fria, como se o ambiente fosse cuidadosamente calibrado para o conforto de todos. Louie, ainda em processo de adaptação, decidiu aproveitar o resto do dia para explorar a cidade e entender mais sobre o lugar que agora começava, aos poucos, a chamar de lar.
Kael havia mencionado que, aquele treino foi apenas o primeiro passo, apenas um gatilho para Louie saber se defender momentaneamente numa situação de vulnerabilidade, e que o seu controle no geral era horrível, e faltava muito para chegar no ruim ainda. Palavras duras, porém sinceras, ele diz a louie que tinha outros problemas para resolver, e ele poderia usar esse tempo para conhecer um pouco da vasta cidade subterrânea de Áurea.
Então Louie se permitiu um respiro. O peso dos poderes que carregava e seu eu passado desconhecido ainda pressionava seus ombros, mas ele sabia que precisava de um pouco de leveza, se quisesse continuar a jornada sem se perder.
Áurea era como um labirinto de belezas futuristas. As ruas eram largas e flutuantes, ligadas por pontes suspensas que pareciam feitas de cristal líquido. Louie andava pela cidade como se estivesse sonhando acordado, os olhos brilhando com curiosidade, e, de vez em quando, se deparando com algo que o fazia parar e rir de surpresa.
Logo, passou por um mercado flutuante onde vendedores exibiam suas mercadorias dentro de pequenos orbes de luz que levitavam sobre bancadas imãs. Cores vibrantes, aromas exóticos e sons holográficos dançavam ao redor dele como uma orquestra sensorial. Uma vendedora sorridente lhe ofereceu uma fruta ovalada com a casca translúcida e reflexos iridescentes. Louie, curioso, pegou a fruta e deu uma mordida.
O sabor explodiu em sua boca como uma tempestade elétrica de sensações: primeiro doce como mel de flores raras, depois azedo como limão verde recém-colhido — e, por fim, um toque picante e efervescente que subiu direto pelas narinas, fazendo-o espirrar com força.
— AH-CHU! — o som ecoou alto, fazendo alguns orbes de luz piscarem em reação.
A vendedora soltou uma gargalhada cristalina. Outros clientes também riram, e Louie, com os olhos marejados e a língua formigando, tentou manter a dignidade.
— Acho que esse não é o sabor que eu esperava! — disse ele, limpando o nariz com o dorso da mão e rindo de si mesmo.
Depois de se recuperar da fruta explosiva, Louie continuava a caminhar pela desconhecida cidade subterrânea.
A Praça Harmonia, situada no coração da cidade subterrânea de Áurea, mesclava natureza exuberante com o mais avançado futurismo. Ela é envolta por construções translúcidas e verticais, que se curvam suavemente como folhas de vidro sob um céu artificial, iluminado por um sol radiante suspenso no teto da gigantesca caverna.
No centro da praça, próximo a estátua da sombra, um obelisco flutua com imponência, sustentado por campos gravitacionais. Ele gira lentamente, irradiando pulsos de luz azul suave que parecem harmonizar-se com o ambiente ao redor. Em vez de superfícies frias e metálicas, o chão é composto por painéis esverdeados que se misturam com gramíneas reais e sintéticas, criando uma sensação de frescor e vida. Pequenos caminhos serpenteiam entre árvores frondosas de copa verde vibrante, cujas folhas reagem à luz com sutis brilhos dourados.
Assentos flutuantes ainda cruzam o espaço em trilhas invisíveis, e esculturas interativas convivem com fontes de água cristalina, onde crianças brincam sob a vigilância de árvores que murmuram sons suaves ao vento. Toda a praça exala uma energia acolhedora, celebrando o equilíbrio entre tecnologia, natureza e comunidade.
Foi ali, cercado por essa mescla viva de natureza, arte e tecnologia, que Louie viu um grupo de crianças correndo atrás de uma esfera flutuante feita de pura energia. O jogo lembrava futebol, mas com regras que ele não conhecia — e uma bola que claramente não era a conhecida pela sociedade na superfície.
Ele se encostou em uma das estruturas metálicas que cercavam a praça e ficou observando, um leve sorriso nos lábios. As risadas e gritos das crianças criavam uma atmosfera contagiante, algo que ele não experimentava há muito tempo.
— Ei, moço! — gritou uma menina de cabelos cacheados e olhos cor de âmbar. Ela correu até ele, seguida por um grupo animado. — Você é novo aqui, né?
Louie piscou, surpreso. — Ah… sim. Cheguei faz pouco tempo.
— Você tem um olho vermelho! — exclamou um garoto com um boné flutuante girando em cima da cabeça. — Isso é de verdade ou é um implante? — perguntou, aproximando-se com olhos arregalados.
Louie riu, abaixando-se para ficar na altura deles. — É de verdade… pelo menos, eu acho.
— Que irado! — disse uma garota de cabelos verdes curtos, pulando animada. — O cabelo tem mechas brancas também! Você parece um daqueles personagens de jogos!
— Qual o seu nome? — perguntou outro, empinando o peito como se fosse o capitão do grupo.
— Louie. E vocês?
As crianças começaram a se apresentar em coro, apontando uns para os outros, interrompendo-se com risadas e apelidos.
— Eu sou Niko! — disse o garoto do boné.
— Ela é Luma, e esse é o Zibi — disse outra menina, apontando para os mais quietos.
— E eu sou Ayo, mas todo mundo me chama de “turbo”! — gritou o menor deles, fazendo uma pose exagerada com as mãos.
Louie riu alto, divertido com a espontaneidade do grupo.
— Quer jogar com a gente, Louie? — perguntou Niko. — A gente tá com um jogador a menos desde que a Luma mandou o nosso outro amigo parar na fonte.
— Foi sem querer! E ele tropeçou sozinho! — protestou Luma, cruzando os braços.
— Vem jogar! — disseram em uníssono, puxando Louie pelas mãos como se já o conhecessem há semanas.
— Tá bem, tá bem! Mas não prometo ser bom nisso… — disse Louie, entrando no campo improvisado.
— Relaxa, você tem cara de herói! — comentou Ayo, piscando um dos olhos. — Heróis sempre aprendem rápido.
Louie sorriu, sentindo algo aquecer dentro dele. Por alguns minutos, esqueceu do peso, do passado que o atormentava em dúvidas. Era apenas um jovem rindo com um grupo de crianças, jogando um esporte estranho com uma bola que até parecia viva.
Claro, até ele tentar dar um chute…
A esfera disparou como um cometa e desapareceu no céu com um som agudo e um rastro brilhante, enquanto todos ficaram em silêncio olhando para cima.
— Uau… — murmurou Zibi.
— Isso foi… incrível! — gritou Ayo.
— Eu juro que não foi de propósito! — Louie levantou as mãos, rindo nervosamente.
Todos caíram na gargalhada juntos.
Ele estava começando a se acostumar com o ritmo da cidade, até que uma figura familiar apareceu ao longe.
Kael Dragan caminhava em sua direção, com uma expressão séria, mas seu andar era descontraído. Ele não usava a mesma vestimenta de poucas horas atrás, mas roupas casuais — embora, mesmo relaxado, sua presença ainda exalasse autoridade.
— Louie, eu tenho uma missão. — disse ele, com um tom que imediatamente tirou a leveza do momento.
— Uma missão? — Louie perguntou, ainda com os olhos marejados de riso.
— Sim, algo importante. — Kael olhou para as ruas movimentadas antes de continuar. — Vou buscar sua família. Eles precisam vir para Áurea também. Estão em risco.
Louie congelou. O nome “família” soou como um eco distante em sua mente. Era um laço que o seu eu do passado e do presente compartilhavam, tudo havia acontecido muito rápido, a tentativa de sequestro, sua vinda para Áurea, seu primeiro treino.
sua mãe e irmã devem estar extremamente preocupadas por seu repentino sumiço.
— A minha família? Aqui? Por quê?
Perguntou Louie sem entender o motivo de trazê-la a Áurea.
— A organização que te persegue sabe onde eles estão. E eles não hesitam em usar inocentes para atingir alvos maiores. Áurea é o único lugar onde estarão realmente protegidos. — Responde Kael sem hesitar.
— Certo… então você vai buscar eles?
— Sim — disse Kael, já se preparando mentalmente. — Você deve ficar aqui. As coisas podem se complicar. — Kael então tira uma chave de seu bolso e diz a Louie. — Se estiver ficando tarde, volte ao mesmo edifício em que estávamos antes. mas vou tentar voltar antes do anoitecer.
Louie observou Kael se afastar, o semblante sério, determinado. Sabia que o mentor estava certo. Mas ainda assim, a ideia de ver sua família naquele mundo tão diferente o deixou inquieto — e um pouco vulnerável.
Alguns minutos depois, Kael já estava a caminho, usando sua habilidade de Manipulação Temporal para atravessar vastas distâncias em segundos. Movia-se como uma sombra entre fendas de tempo, seu corpo ondulando com a energia rarefeita do cronos que dominava.
Ao se aproximar da casa de Louie, onde Emi e Nina estariam, algo o fez parar. O ar parecia mais pesado. O silêncio era denso, antinatural.
Ele não encontrou sorrisos. Nem aquilo que esperava.
Em vez disso, caiu numa emboscada.
Dois homens encapuzados emergiram das sombras, seus corpos envoltos por uma aura densa, como se fossem feitos de fumaça viva. Um campo energético se ergueu ao redor com um zumbido agudo, selando o perímetro.
— Kael Dragan — disse um deles, a voz rouca e cortante — achou mesmo que poderia atrapalhar nosso plano tão facilmente?
— Plano?… E quem seriam vocês, pra começo de conversa? — rebateu Kael, seus olhos atentos analisando os dois.
— Isso importa? — retrucou o outro. — Você não vai sair vivo daqui mesmo.
— Hehe… Que ameaça divertida. — Kael estreitou os olhos com um meio sorriso. — Mas eu acho que vocês realmente não fazem ideia do que estão enfrentando.
Ele lançou um olhar rápido ao campo energético. Algo naquela estrutura vibrante o intrigava — parecia vir de um aparato científico avançado, ainda desconhecido por ele.
— Que aparelho interessante… — murmurou, analisando os contornos pulsantes do campo.
O ar ao redor começou a se distorcer levemente, como se o espaço estivesse se contorcendo.
— Acha que pode desviar o olhar!? — gritou um deles, avançando com uma espada de energia que brilhava em tons de vermelho. — Com essas novas armas científicas, até os poderes Kaelums viram coisa do passado!
— Hahahaha… Vocês realmente são engraçados. — riu Kael, vendo o inimigo se aproximar.
Ainda assim, ele não se moveu. Apenas observou o golpe vir, encarando o atacante diretamente nos olhos. E então, com um sorriso debochado, murmurou:
— Passado, é? Veremos se consegue sustentar isso.
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