Capítulo 595 - Aliança secreta

“Por enquanto é apenas uma teoria minha, mas acredito que as Veias de Mana Artificiais que vocês receberam possam servir de fundação para adentrarem no Sistema de Habilidades.”

Zado franziu a testa ao ouvir isso.

“Supondo que isso seja verdade, ainda seria perigoso. Além disso, você não tem certeza, certo?”

O jovem pálido voltou-se para o homem, então assentiu.

“Sim, na verdade, aprender a primeira Habilidade é algo doloroso e perigoso, especialmente para Generais como vocês, que demandariam um Mago de Cura de alto nível para curá-los. Por isso que além das Veias de Mana, tem mais uma coisa que gostaria de dar a vocês. De certa forma, pode ser considerado um seguro adicional.” falou, movendo o pulso e fazendo alguns frascos aparecerem em suas mãos, então os distribuiu para Dimitri, Zado e Lerona. “Quase todos os membros do Batalhão Zero já sabem sobre isso, são Sopas Revitalizantes, itens que ajudam o corpo a se recuperar mais rápido, dão mais energia a alguém e, além disso, possuem um efeito secreto adicional, que é aumentar as chances de sucesso na entrada do Sistema de Habilidades.”

Quando Fernando revelou isso, todos ficaram surpresos, principalmente Ilgner e Lenny. Como Usuários de Habilidades, eles conheciam bem o valor de qualquer item que tivesse esse efeito, sendo extremamente difícil de encontrar no mercado negro. O valor também era alto, sendo inacessível para pessoas comuns.

No entanto, mesmo sendo algo tão precioso, Fernando realmente estava distribuindo isso todos os dias para os membros do Batalhão? Ambos os homens ficaram chocados e sem reação ao perceberem isso.

Logo o bárbaro loiro percebeu algo.

Ele estava planejando iniciar todos aqui no Sistema de Habilidades desde o início? pensou, ligeiramente surpreso. A única explicação para o rapaz distribuir a Sopa Revitalizante de forma tão leviana, era que ele estava os preparando esse tempo todo!

Zado, Dimitri e Lerona pegaram os frascos e abriram. Com exceção da mulher, os dois homens ficaram surpresos ao sentir o aroma delicioso.

A Capitã desviou o olhar, o rubor tomando conta de seu rosto, pois já havia provado daquilo antes durante a batalha em frente aos portões.

Devido ao momento e a adrenalina, inicialmente ela não sentiu nada além de uma energia avassaladora, mas posteriormente, estranhas sensações começaram a invadir seu corpo, deixando-a desconfortável, gerando reações que ela não sentia há muito tempo. Por isso, ao ver aquilo, hesitou em beber.

“Vocês podem provar, tem mais de onde isso veio. Mas não consumam tudo de uma vez… Há certos efeitos colaterais irritantes e essa é uma versão mais forte do que o normal.” explicou.

Quando o rapaz disse isso, Theodora deu uma leve risadinha, enquanto alguns dos membros do Batalhão se sentiram constrangidos.

Karol e Emily olharam para o rapaz com olhares de julgamento, pois elas próprias haviam sido vítimas da Sopa. Sua esposa, em particular, lembrava-se da extensa noite que haviam tido após aquele dia.

Os dois Generais se entreolharam, mas não hesitaram, quando ergueram a garrafa, dando um gole. Assim que o fizeram, suas expressões mudaram. Lerona, apesar de hesitante, fez o mesmo.

“M-merda… O que é isso?!” Dimitri falou, balbuciando, enquanto todo seu corpo tremia, numa sensação de euforia e energia.

Mesmo Zado, que não parecia alguém muito expressivo, não conseguiu evitar olhar para a garrafa como se estivesse olhando para sua amada.

A Capitã Lerona, por outro lado, ficou imediatamente com o rosto vermelho, quando não resistiu, virando a garrafa e dando mais um gole.

É ainda melhor que dá outra vez! pensou, extasiada.

“E lá vamos nós.” Emily disse, soltando uma leve risada.

Os membros do Batalhão Zero não conseguiram evitar rir ao ouvir isso, já que tiveram reações semelhantes quando provaram a Sopa.

“A primeira vez a gente nunca esquece.” Lance falou, como se estivesse lembrando de uma boa memória. O que fez alguns rirem ainda mais alto, mesmo aqueles que estavam se contendo, por se trataram de autoridades, não conseguiram evitar.

Os dois Generais e a Capitã, rapidamente se recompuseram ao ouvir as risadas e comentários. Mesmo que houvesse uma sensação viciante os instigando para tomar mais um gole, resistiram, guardando os frascos.

Dimitri, em especial, tinha uma expressão complicada. Ele já havia ouvido falar por meio de Lerona dessa Sopa, mas nunca imaginou que seria algo tão incrível assim.

Fernando sorriu ao ver as reações dos três, mas sua expressão logo amenizou-se.

“Mesmo que suas chances sejam maiores consumindo isso, ainda existe um risco real de morte, então não tentem aprender Habilidades sozinhos. É por isso que gostaria de aproveitar essa oportunidade para anunciar algo a todos os membros do Batalhão Zero e para os nossos convidados.” Ao dizer até aí, a expressão do jovem Tenente mudou, ficando mais séria. “A partir de hoje, estarei começando um novo sistema de treinamento de oficiais.”

Theodora e Ilgner ficaram confusos ao ouvir isso, pois o rapaz não havia comentado nada com eles.

Os outros membros do Batalhão também ficaram atentos, tentando entender do que se tratava.

“A partir de agora o Batalhão Zero será divido em áreas de treinamento e especialização. As áreas em questão serão, Habilidades, Magias e… Runas.” disse, voltando-se para Wedsnagauer, o que fez a expressão do velho homem mudar.

Esse pestinha… Era disso que ele estava falando?!

Anteriormente, Fernando havia pedido que seu professor construísse a Matriz de Supressão, mas além dela, também havia pedido um segundo favor, que seria revelado durante a reunião.

Alfie juntou levemente as sobrancelhas, inicialmente viu isso como um problema, mas ao pensar com cuidado, logo sua expressão amenizou-se.

Isso talvez não seja algo ruim… Encontrar pessoas talentosas para Runas sempre foi um problema, mas possuindo as Veias de Mana Artificiais, todos os membros do Batalhão Zero são potenciais talentos latentes. Essa talvez seja uma oportunidade de reviver o aprendizado de Runas!

“A área de Habilidades ficará a cargo do Subtenente Ilgner e Lenny será seu Assistente, a área de Runas com o senhor Alfie e a área de Magia… Por enquanto, ainda não tenho alguém para a posição, mas encontrarei em breve.” explicou, designando as pessoas. “Vocês poderão escolher quais áreas querem dedicar tempo para treinamento. Eu particularmente recomendo que mesmo que não queiram adotar um treino híbrido, tentem aprender ao menos uma Habilidade para poderem usufruir de um aumento na sua Compatibilidade, mas cientes de que estarão colocando suas vidas em risco.” alertou.

Houve um misto de reações com o anúncio.

“Mais trabalho…” Ilgner falou, frustrado. Afinal o rapaz sequer havia o avisado.

“Se você precisa de alguém para ensinar Magia, eu posso cuidar disso.” Zado propôs.

Fernando ficou surpreso com isso. Encontrar alguém especializado em Magia era algo difícil, já que a maioria só aprendia os conceitos básicos, nunca se aprofundando na área. Ele próprio só tinha conhecimentos rasos, insuficientes para treinar alguém.

Em relação a ele, sua professora, Gallia, era alguém muito mais impressionante.

“Realmente?” perguntou, em dúvidas, já que era incomum vê-lo oferecer ajuda assim.

Vendo essa reação, Zado ficou irritado.

“Eu disse que apoiaria o Batalhão Zero a partir de agora e nunca volto atrás em minhas palavras! Então isso não é um problema!”

Tanto Fernando, quanto Dimitri, ficaram contentes ao verem isso, afinal o sujeito era claramente um aliado confiável.

De repente, Zado, que estava olhando para o frasco em sua mão, apreciando aquele sabor que lhe parecia familiar, pensou em algo.

“Essa Sopa Revitalizante. Um dos ingredientes para isso não poderia ser Carne de Delgnor, poderia?” perguntou, com alguma desconfiança.

Era de conhecimento comum que a Carne de Delgnor era um alimento que aumentava as chances de alguém entrar no Sistema de Habilidades. Lembrando sobre como o rapaz havia lhe dado tanto antes sem hesitar, não pôde deixar de fazer essa associação.

Fernando quase engasgou quando o homem mencionou isso.

“Ahem! A receita é algo confidencial, até mesmo para os senhores…” disse, sem dar qualquer explicação, o que fez o General franzir a testa, com desconfiança.

Mesmo Dimitri e Lerona ficaram perplexos ao ouvirem que a base daquilo poderia ser Carne de Delgnor, já que era um item raro e vendido por moedas de ouro!

No fim, o jovem Tenente conversou por mais algum tempo com todos ali, explicando como funcionaria o novo sistema de treinamento de oficiais, com apenas aqueles qualificados e confiáveis podendo participar, já que envolveria os seus segredos.

Zado e Dimitri também se comprometeram a fornecer ajuda ao Batalhão Zero, seja com recursos ou mão de obra, o que o Tenente aceitou prontamente.

A partir daquele momento, todos ali eram parte do segredo das Veias de Mana Artificiais e da Aptidão Absoluta e naturalmente, os dois Generais sabiam que a melhor forma de proteger essas informações, era aumentar a força geral do Batalhão.

Obviamente, havia passado pela cabeça de Zado conversar com Fernando sobre levar as Veias de Mana a mais pessoas da facção de Wayne, mas o sujeito logo desistiu.

Ele entendeu porque o rapaz havia convidado apenas ele e nenhum outro General.

Diferente dos outros, ele não tinha sede por poder, então o segredo estaria bem protegido em suas mãos. Além disso, agora que sabia que tipo de gênio monstruoso Fernando realmente era, ele não estava disposto a pisar em sua confiança.

Quando Zado e Dimitri partiram, junto a Lerona, os dois Generais estavam prestes a voar para direções diferentes, quando o homem de olhos arregalados chamou por Dimitri.

“Espere um momento…” falou, o olhando diretamente.

Apesar de um pouco surpreso, Dimitri aguardou.

“Gostaria de esclarecer algumas coisas, sobre a nossa relação a partir de agora e aquele garoto.” falou, com uma voz distante. “Nossa aliança é secreta, nem mesmo Wayne deve saber disso.” apontou.

O homem de cabelos espetados assentiu, entendendo obviamente o motivo.

Qualquer associação entre Generais sempre seria visto com suspeitas pelos demais. Se Dimitri e Zado se mostrassem muito próximos, Wayne e os outros poderiam pensar que estavam conspirando contra a facção deles.

Logo que Dimitri assentiu, o sujeito continuou.

“Segundo ponto. Minha ajuda vai ser apenas em relação aquela criança e ao Batalhão Zero, não me envolverei em nada, além disso. Então é melhor que não confunda as coisas, eu sei a quem realmente pertence sua lealdade e não tenho interesse nisso. Aquela pessoa não trouxe nada de bom a Legião.” alertou, com uma voz pesada.

Ao ouvir isso, Dimitri franziu as sobrancelhas. Estava claro a quem o sujeito se referia, tratando-se de Kalfas.

Mesmo Zado reconhecia a força e as conquistas do General Kalfas. Entretanto, o desastre que seu filho havia trazido aos Leões Dourados era algo imperdoável a seus olhos e havia lavado toda sua glória passada. A marca que o Presa Voraz havia deixado na Legião ainda não havia cicatrizado totalmente, mesmo nos dias atuais.

“Muito bem, era apenas isso que eu queria dizer. Vamos manter contato. Estarei procurando algumas Habilidades que possamos usar para entrar mais suavemente no Sistema de Habilidades, se é que é possível fazer isso em segurança…” Ao dizer isso até aí, o General virou-se, voando para longe.

Dimitri e Lerona ficaram no lugar, com expressões complicadas no rosto.

“General, o que ele quis dizer com isso…?” perguntou, desconfiada.

“Não é nada, apenas uma bobagem sem sentido.” respondeu, suspirando. Ele próprio sabia que não era mais o Major Dimitri sob Kalfas, agora ele era o General Dimitri e jamais poderia servi-lo novamente. Além do mais, sequer sabia se o mesmo estava vivo ou morto. Tudo que queria era libertar Vento Amarelo e impedir que o último legado de seu amigo desaparecesse.

Ouvindo a resposta, a mulher assentiu, então sua atenção se voltou para um beco escuro próximo ao Batalhão Zero.

“E quanto a esses ratos?” falou, com a voz baixa.

Dimitri obviamente sabia do que ela estava falando, tendo há muito tempo percebido a presença de pessoas os observando de longe.

“Apenas os ignore por enquanto. Vou lidar com aquele desgraçado do Herin no momento certo.” afirmou, com confiança, ao fechar seu punho, enquanto arcos elétricos estalavam.