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    “S-senhor?” Jean disse, levantando-se, confuso. Só então a ficha da situação caiu, quando nervosamente olhou para o General Supremo, em pânico. “Acho que há algum engano! E-eu sou apenas um civil, meu senhor!” declarou.

    Dimas olhou para o homem de forma altiva. Na verdade, havia até uma pitada de repulsa em seu olhar.

    Jean Armand era um dos brinquedos que ele havia adquirido quando esteve em Vento Amarelo. Levando o homem sob sua asa apenas para causar problemas a Kalfas.

    Além disso, também aceitou o sujeito devido a ele ter facilitado o recrutamento de um jovem talentoso. No entanto, ao olhar a pessoa atrás de Jean, sua expressão diminuiu, ficando irritado.

    Um jovem de cabelos escuros levemente volumosos, nariz fino e pele branca, com menos de trinta anos, estava parado lá, de forma complacente. Este era Josh Norton, aquele que deveria ser um gênio.

    No entanto, mesmo após Dimas gastar uma quantidade massiva de recursos no rapaz e o financiar por meio ano na Academia Militar, o sujeito havia mostrado pouco progresso, deixando-o insatisfeito.

    Apesar da Compatibilidade de nível 8 que era muito acima da média, o homem tinha um péssimo controle de Mana. Mesmo com sua indicação pessoal, o Major responsável pela academia julgou que o rapaz dificilmente iria além da patente de Capitão.

    Saber disso deixou Dimas furioso, ordenando que ele e Jean fossem trazidos de volta da Cidade Dourada diretamente para o fronte. Para ele, continuar investindo no rapaz era um desperdício. Para alguém que seria apenas um Capitão, seria muito melhor treiná-lo diretamente em combate real.

    Obviamente, alguém com talento para ser Capitão não era pouca coisa. Pessoas assim ainda eram bem tratadas na Legião, tendo grande prestígio, mas normalmente, pessoas com Compatibilidade nível 8 tinham grandes chances de se tornarem Majores no futuro, mas para Dimas, que dispunha de uma larga mão de obra, isso era insuficiente e o deixou frustrado.

    Agora que seu velho inimigo Kalfas havia sido enterrado junto a Vento Amarelo, Jean Armand, que o trouxe um presente defeituoso, já não tinha mais valor algum. Sendo assim, seria melhor usá-los em Lekai, e enterrá-los com a cidade isca.

    “Não há engano algum. Preciso de alguém qualificado para cuidar da cidade. Você tem bastante experiencia como Administrador Sênior, não? É por isso que estou lhe indicando para assumir o papel de Magistrado.” declarou, com indiferença.

    Ao ouvir isso, Jean estremeceu.

    O cargo de Magistrado era o mais alto cargo que um civil poderia alcançar dentro de uma legião, sendo a autoridade absoluta de uma cidade, comparável a um General Estacionário.

    Como um Humano Errante sem talento, Jean Armand normalmente seria alguém facilmente descartável em qualquer local. No entanto, por ser um renomado economista na França, seu país natal, o homem soube usar seu conhecimento em finanças para ser recrutado pelo Salão da Recepção de Vento Amarelo, tendo posteriormente subido os degraus internos até alcançar a posição de Administrador Sênior.

    Mas sendo alguém ambicioso por dinheiro e poder, o homem não ficou satisfeito com sua posição, possuindo uma grande inveja de Claud, como Administrador principal, mas ainda mais de Kalfas, um General Estacionário.

    Devido a isso, sempre almejou ocupar uma posição equivalente aos dois e Magistrado era justamente o que ele mais desejava.

    Um Magistrado era um civil com autoridade de governo, sendo subordinado a Legião.

    Mesmo que a posição de General e Major fossem importantes, nem todos eram qualificados para governar um território. Por isso, muitas vezes, civis de grande intelecto e capacidade eram selecionados para governar cidades menos importantes ou com funções específicas.

    E agora, depois de todos esses anos, Jean estava recebendo a posição que ele tanto desejava, porém, não da forma que ele queria.

    Mesmo que não fosse um militar, ele era um homem inteligente e entendia perfeitamente as intenções do General Supremo.

    Esse desgraçado, quer me ferrar?! Eu consegui escapar daquele buraco de Vento Amarelo, não posso morrer nesse lugar! exclamou mentalmente, decidido a recusar a indicação, mas ao ver o olhar inquisidor de Dimas, sentiu todo seu corpo tremer. A pretensão do homem estava escrita em seu rosto. Se eu recusar, ele vai me executar…

    Por um tempo, após abandonar Vento Amarelo e seguir Dimas, ele foi muito bem tratado, conhecendo muitas pessoas de alta classe e usufruindo de poder e luxo.

    Quando soube que Vento Amarelo estava sitiada e posteriormente de sua queda, não pôde deixar de regozijar-se, zombando de Kalfas, Claud e todos os outros que o subestimaram.

    Mas tudo isso havia acabado quando Dimas o convocou para o fronte.

    Foi então que ele soube dos péssimos resultados de Josh Norton e começou a receber um tratamento frio do General Supremo.

    Esse merdinha, achei que ele tinha talento, mas não passava de mais um lixo! Ao pensar até aí, lembrou-se algo. Ou melhor, de um certo alguém. Um certo rapaz que uma vez ele havia julgado como lixo, mas que posteriormente havia o ferido e o humilhado. Era um rancor que ele guardava profundamente em seu coração.

    Ele se lembrava perfeitamente de Fernando, o maldito Recruta demoníaco que ele conheceu, e sempre tinha pesadelos quando se lembrava do som de seus ossos quebrando enquanto era observado pelo seu olhar frio.

    Ele, obviamente, havia ouvido notícias sobre Fernando ter seguido Dimitri e conseguido grandes conquistas no fronte. Nesse ponto, o nome do Batalhão Zero já havia chegado até Lekai.

    Inicialmente ele até acreditou que se tratava de outra pessoa, mas ao investigar, logo confirmou que se tratava daquela pessoa, o que o deixou cheio de ódio, por aqueles assassinos que ele enviou a Vento Amarelo terem falhado.

    Havia, inclusive, tentado fazer Dimas cuidar do garoto para ele, mas seu apelo foi ignorado. Considerado pelo homem, como uma perda de tempo.

    Movendo seu olhar para o jovem rapaz atrás dele, não pôde deixar de ranger os dentes. Aquele que ele havia julgado como lixo, havia se tornado um Tenente Nomeado em menos de um ano, enquanto o ‘talento’ que ele roubou das mãos de Kalfas, não passava de um imprestável.

    Depois de sair de Vento Amarelo, Jean descobriu que Kalfas havia secretamente enviado a Equipe E1 para a Cidade Dourada em seu nome e deveria, em tese, ter adentrado na Academia Militar por indicação do próprio General. No entanto, com a situação de Vento Amarelo e a ameaça do cerco, Jean conseguiu usar a autoridade de Dimas e alguns contatos do mesmo, para ‘roubar’ o rapaz. Kalfas, que estava preso no Norte, obviamente não teria como o contrapor.

    Mas no fim, todo esse esforço parecia ter sido uma grande perda de tempo e havia até mesmo angariado a raiva de Dimas.

    Josh Norton tinha um olhar estoico em seu rosto. Ao notar o olhar agressivo de Jean em sua direção, não pôde deixar de franzir as sobrancelhas, mas ignorou.

    “Jean Armand, dê sua resposta. Você assumirá essa tarefa?”

    O homem com o bigode fino estremeceu, quando retornou seu olhar para o General em seu assento, que o observava com frieza.

    Eu não tenho escolha… pensou, suando frio. Então, mesmo sentindo todo seu corpo gelado, respondeu:

    “Eu, Jean Armand, humildemente aceito a tarefa, meu senhor.” O homem disse, projetando sua voz trêmula, tentando fingir calma. “Entretanto, como o General sabe, eu sou apenas um burocrata estúpido, não disponho de força. Acredito que não sou adequa-”

    Antes que o homem pudesse concluir, Dimas interveio.

    “Não se preocupe. Pensando em seu bem-estar e na garantia da ordem, deixarei o General Akelon aos seus cuidados. Ele não é adequado para comandar uma cidade, mas não carece de força.” O General Supremo disse, enquanto olhava para um homem do lado esquerdo da sala.

    Ao ouvir seu nome, Akelon arregalou os olhos, então, a contragosto, levantou-se.

    “Como desejar, senhor…” O homem disse, hesitante.

    Ao contrário da maioria dos Generais e Majores naquela sala, o sujeito não pertencia à facção de Dimas, mas também não tinha simpatia pela facção de Wayne, sendo do grupo neutro. E justamente por não servir a Dimas, sabia que estava sendo escolhido como bode expiatório.

    Os outros Generais na sala, soltaram suspiros silenciosos de alívio, enquanto olhavam para Jean e Akelon, com leves sorrisos em seus rostos. Todos estavam gratos que não haviam sido escolhidos.

    “Muito bem, está decidido!” O velho homem ruivo, Hilbert, declarou, rindo.

    “E-eu, eu…” Jean gaguejou, tentando dizer mais alguma coisa ou pensar em alguma desculpa, mas o Leão Vermelho lançou-lhe um olhar frio, como se estivesse olhando para uma presa que tentava resistir a ele.

    “Você tem algo mais a falar, novo Magistrado de Lekai?” perguntou, o encarando.

    Jean congelou, ao sentir todos os pelos de seu corpo arrepiarem-se.

    “N-não senhor…” respondeu, caindo em seu assento.

    Dimas tinha um olhar satisfeito ao ver isso.

    “Muito bem, agora para o próximo tópico…”

    Bam!

    Uma hora depois, Jean estava furioso em seu quarto, derrubando objetos e quebrando garrafas de álcool.

    “Aquele desgraçado, depois de tudo que eu fiz, ele…” gritou, com o rosto vermelho.

    “Insultar um General é um crime sério, seria melhor rever esse seu modo de falar, senhor Jean.” Uma voz soou atrás dele. Essa pessoa era Josh Norton, que estava recostado a parede do quarto com um olhar calmo.

    “Isso tudo… é culpa sua!” declarou, apontando para o homem. “Você me enganou, achei que era talentoso! Estou nessa situação por sua causa!”

    Mas em resposta a isso, Josh sorriu, encarando-o.

    “Que culpa eu tenho da sua insignificância, Jean? Você deveria culpar a si mesmo por tentar se agarrar aos outros como uma sanguessuga.”

    “Você ousa falar comigo assim?! Depois de tudo que fiz por você?! Deve ser por causa dessa sua maldita arrogância que você recebeu uma avaliação tão baixa na academia! Todo aquele dinheiro investido e você mal se qualifica para ser um Oficial de baixa patente!”

    Quando Jean disse isso, o rosto de Josh Norton ficou escuro, quando ele se moveu como um raio, agarrando o pescoço do homem.

    “Para um ser tão inútil e fraco, você tem uma boca grande Jean.” disse, forçando o aperto na garganta do sujeito.

    Jean Armand foi pego de surpresa, quando se sentiu sufocado.

    “E-eu… você me deve. Eu fiz… Muito por você.”

    Ouvindo isso, Josh Norton não pareceu afetado.

    “Você só fez o que era natural de ser feito. Pessoas como eu, estão destinadas à grandeza.” falou, com arrogância. Então empurrou brutalmente o homem para frente, derrubando-o no chão. “Parece que você perdeu o favor do General Dimas, me pergunto se ainda há alguma utilidade para alguém como você.”

    A expressão de Jean era de uma mistura de raiva e medo. Se o homem quisesse, poderia ter quebrado seu pescoço em um instante.

    Mesmo que fosse alguém com apenas um ano em Avalon, ele havia recebido diversas poções, itens, pílulas e todo tipo de suporte. Então, mesmo que não tivesse demonstrado muito avanço, sua força já não poderia ser subestimada.

    “Hahah! Olha só para você, agindo todo pomposo. O General também não parece esperar mais nada de você.” Jean falou, levantando-se.

    Josh parecia não se importar.

    “O que ele pensa não me interessa, vou provar do que sou capaz com minhas próprias mãos.” declarou, com aparente confiança.

    No entanto, por mais que falasse dessa forma, a verdade é que após passar pela Academia Militar e ver como eram os gênios de verdade, o sujeito já não estava mais seguro de si.

    Naquele ambiente, onde as elites se reuniam, ele não passava de nada além de um coadjuvante sem luz própria.

    Perceber isso deixou Josh Norton num mar de insegurança, mas ele não podia se deixar abalar. Ele precisava manter a fachada e personalidade de um gênio talentoso para os outros. Se mesmo Jean Armand deixasse de apoiá-lo, o rapaz sabia que não teria um fim agradável. Assim como um de seus companheiros de equipe teve.

    “Se quiser ter alguma chance de se reerguer, confie em mim e continue fornecendo recursos. Sou sua última esperança.”

    O sujeito de bigode fino tinha um olhar mortal em direção ao rapaz.

    Ele poderia facilmente mandar assassinar alguém como Josh, mas apesar de estar cheio de ódio por ele, também não ousava tocá-lo. A sua galinha de ovos de ouro havia se mostrado, na verdade, ser apenas um ganso magro. Mas mesmo que fosse um ganso, ainda era melhor que não ter ave alguma.

    Mesmo que as chances dele alcançar a posição de Major fossem baixas, ele precisava desesperadamente se agarrar a isso custe o que custar, agora que Dimas havia o chutado.

    Apesar disso, pensou em algo e não pôde deixar de provocar o rapaz.

    “Aquele desgraçado que veio do seu lote. O nome era Fernando Nobrega, certo? Você sabia que ele já é um maldito Tenente com um Batalhão Nomeado?” perguntou, de forma debochada.

    Ao ouvir isso, Josh congelou no lugar por um momento.

    Lembrando-se do rapaz pálido, que sempre o superava durante seu período como Recruta, o homem sentiu seu estômago revirar de inveja.

    “Não mencione aquele lixo na minha frente.” falou, virando-se e saindo do quarto.

    Do lado de fora, um homem loiro discretamente o aguardava no fim do corredor.

    “E então, como foi?” perguntou. Esse homem era Dênis, um dos membros da antiga Equipe E1. Inicialmente, o sujeito que ele pensou ser um peso, se mostrou alguém capaz e fiel, sendo o único membro da Antiga Equipe E1 em quem ele confiava. “Devemos fugir essa noite?”

    Josh Norton negou com a cabeça.

    “Não. Jean está com medo, mas ainda acredita que pode me usar. Vamos arrancar tudo que pudermos dele antes de sairmos.”

    Ouvindo isso, o rapaz ficou em silêncio.

    “Pelo que acabei de saber, ele será nomeado Magistrado de Lekai e terá acesso a muitos recursos. Podemos tirar proveito disso. Porém…” O homem disse, hesitante. “Ouvi que esse lugar não será seguro por muito tempo.”

    “Estou ciente.” O rapaz respondeu, então voltou sua atenção para o homem. “E quanto ao Marcus?”

    A expressão do sujeito loiro logo evidenciou seu incômodo ao ouvir o nome do sujeito.

    “Ele está causando alguns problemas com as tropas, mas ainda é útil e está sob controle. Ele tem muito medo de terminar como o Karl…”

    Ouvindo isso, Josh franziu a testa.

    Logo após chegarem a Cidade Dourada, ele havia entrado em conflito com um jovem gênio da academia.

    Como o sujeito não podia tocá-lo devido à proteção de Dimas, descontou sua raiva em seus subordinados.

    Ele raptou Karl, que costumava sair em bebedeiras e o devolveu na manhã seguinte, ou pelo menos o que havia sobrado dele, espremido dentro de uma caixa de madeira, largado em frente a sua porta.

    Aquele foi o acontecimento que fez Josh Norton ter uma chave virada em sua mente, percebendo que não poderia subestimar as pessoas daquele mundo. Arrogância sem o poder para mantê-la, significava morte!

    “Entendo. Vamos indo.” disse, andando pelo corredor, mas parou, ao lembrar-se das palavras de Jean. “Preciso que investigue uma pessoa para mim.”

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