Capítulo 87: Urânus
Palos aproveita o momento para ir até o estábulo ao fundo de sua enfermaria para acariciar a cabeça de Nero. Que por sua vez aceita de bom grado e até se escora na pequena cerca de madeira para ficar mais confortável enquanto recebe um cafuné. Do lado de fora da porta de entrada da enfermaria, uma placa escrito fechado se apresenta pendurada por um prego.
Adão está sentado a mesa com Pollos e Nova. Ambos terminam de explicar para ele todo cuidado que ele deve ter com a nova armadura. Que por sua vez presta atenção em cada detalhe enquanto ainda sente uma leve dor de cabeça.
— Mesmo essa armadura se adaptando tanto para sua forma humanoide, como de animal. Ela apresenta bastante vulnerabilidade. Infelizmente esse é o preço que você terá que pagar por tanta flexibilidade. — Nova fala enquanto aponta o dedo para um pergaminho sobre a mesa com rabiscos e rascunhos da armadura.
— Falando em dinheiro. Aqui está o combinado! — Adão coloca um pequeno saco cheio de moedas prateadas sobre a mesa, de tal forma que faz o barulho dos metais ecoarem pelo lugar. — E se vocês forem até o mercado mais tarde. Podem passar na barraca do vendedor de ovos. Deixei algumas iscas de vermes de madeira pagos para você Pollos.
— Meu caro felino. Será uma honra aceitar tal pagamento. — Pollos já pode se imaginar em um pequeno barco, navegando pelo norte do Lago da Redenção com sua vara em busca de desafios.
— Adão. Foi um prazer fazer negócio com você! Espero que se recupere a tempo de participar do torneio desse ano. — Nova fala enquanto vai pegando o saco com as moedas e trazendo para perto de si. — Se você dominar essa armadura, com certeza será um espetáculo vê-lo em ação.
— Então dois dias é o que falta para ela ficar pronta certo? — Adão os indaga enquanto encara o pergaminho.
— Dois dias e uma noite. Trabalhamos melhor quando o ar fresco noturno circunda nosso ambiente. — Pollos volta a falar enquanto vai se levantando e esticando a mão para ele.
Ele se levanta e estende a mão para Pollos e em seguida para Nova.
— Muito obrigado pelos serviços. Retorno em breve. — Já se encaminhando para a saída, Adão termina seus negócios por ali.
— Se encontrar a Sarah. Fala que a armadura dela está pronta. — Nova fala um pouco mais alto que o normal mesmo sem nem ver ele mais.
Após alguns segundos andando, ele chega até a porta que leva a cachoeira. Saindo para o lado direito ele rapidamente se depara com um pequeno pear e uma canoa atracado ali. Ele repara nas varas de pescar feitas de bambu avermelhado que repousam ali dentro. Ele sorri por um breve momento enquanto continua andando. Após o pear e virando um pouco para direita, uma longa rampa um pouco inclinada se levanta e sobe até o nível das ruas da ilha. De lá ele segue caminho até chegar passando por algumas tavernas que começam a ganhar alguns fregueses. Passa por uma padaria esfumaçando por todo quanto é abertura. Ele ouve vozes masculinas e exaltadas que ecoam com força lá de dentro.
Depois de algumas vielas, até se depara com uma grande porta de madeira mais escondida. Mas segue em frente por alguns minutos até chegar em um pequeno estábulo onde encontra um homem loiro com vestes brancas que cobrem quase todo o corpo do pescoço para baixo. Conforme vai se aproximando ele observa que uma criatura está se mexendo do lado de lá da pequena cerca de madeira.
— Ei Palos! — Depois de chegar bem perto, quase sem ser percebido, exceto pelo animal que pouco se importou.
— Aa… Oi Adão! Veio se tratar também? — Palos o responde sem se quer virar o olhar. Somente Nero está em seu foco no momento.
— A cor dele é bem parecida com a do deserto. — Adão vai logo se escorando na cerca com cuidado por ele mesmo.
— Sim. Ele já é um adulto. — Palos para de acariciar um pouco a cabeça dele enquanto o observa se virar de barriga para cima pedindo por mais.
— Salamandras do deserto são exímios caçadores por isso. Me lembro que quando saí daqui para viajar. Me deparei com um grupo deles mais a sudoeste. Não senti nem o cheiro deles. Por sorte eles estavam com mais medo daquela cobra do que de mim. — Adão até suspira enquanto se perde em pensamentos ao olhar mais atentamente para vermelhidão do animal.
— Cobra? Por acaso… — Palos até vira seu rosto para observar A pelagem negra dele.
— Sim, ela mesma. Urânus. Estava de passagem por ali mais a frente, após algumas dunas. Eu só fui perceber quando estava no alto de uma delas. Minha sorte que ela já estava se enfiando por dentro de um túnel ao pé de uma montanha rochosa. — Adão até sente os pelos se arrepiarem ao lembrar do cheiro do veneno mesmo não estando tão perto.
— É raro alguém ver ela e ainda ficar vivo. Seu comportamento extremamente territorialista causa varias mortes todo inverno. — Palos até se escora para trás e de costas para a cerca enquanto observa um jovem rapaz montado em um carneiro de quase um metro e meio de altura, de pelagem toda cinza e chifres negros como o carvão. O animal puxa uma carroça com alguns sacos compridos.
— Foi bem no inicio do verão parando pra pensar. Talvez isso explique minha sorte. Mas eu a vi uma segunda vez, duas luas depois. Só que dessa vez foi de noite. E que visão! Brasa deslisando sobre a areia é o que parecia. — Adão já está de olhos fechados enquanto viaja na imaginação por um momento.
— Esse é o primeiro relato de um encontro com ela a noite. Ninguém é tão tolo de viajar por lá nesse período. Até criaturas ingênuas as vezes são agraciadas com um pouco de sorte as vezes. — Palos sorri de canto de boca enquanto apoia a mão no ombro esquerdo de Adão.
Mais um grunhido agudo e curto de um felino do que qualquer outra coisa é o que Adão emite no momento. Até busca um espaço repentino entre os dois. Nero até se espanta enquanto se vira para observar mais atentamente os dois.
— Então é ai que está doendo! Pelo visto aquele arremesso deve ter deslocado um pouco seu ombro. Era de se imaginar. — Palos já até pensa em quais ervas pode usar para tratá-lo.
— Eu juro que ouvi um gatinho chorando por aqui. — Shymphony aparece na janela repentinamente enquanto vai pulando por ela. Sirin aparece logo em seguida.
— Eu não sabia que você estava aqui. Aliás, está bem acabada em. — Adão solta algumas palavras após observar ela de relance. — Mas vejo que você está bem pior. — Adão direciona sua fala para Sirin que pula a janela com muito sofrimento. Suas penas parecem levemente húmidas ao reparar mais atentamente.
— Eu queria discordar. — Sirin se aproxima de Nero e o acaricia nas costas enquanto Shymphony faz carinho na cabeça.
— Eu já percebi que vou precisar da ajuda daquela mentirosa mais do que nunca nessa primavera. — Palos resmunga ao vento enquanto observa eles dentro do estábulo.
— Verdade! E onde ela está? — Shymphony o encara por um momento após a fala, mas volta seu foco em Nero que está todo ouriçado com sua calda balançando pra lá e pra cá.
— Ela está pescando! Disse que está bem perto de pegar um Carvão de Sangue. — Ele até movimenta a cabeça de forma negativa enquanto olha para baixo por um momento.
— Conheço alguém que também está louco por um desses! — Shymphony fala enquanto retoma a compostura.
— Todo mundo virou pescador por aqui? — Adão indaga para quem puder responder.
— Existe uma organização chamada de guilda dos pescadores agora. Eles catalogam peixes e os classificam por níveis de dificuldade de serem pegos. O Carvão de Sangue por exemplo, está em um nível bem alto. E tem uma recompensa bem grande por ele. — Sirin vai soltando as informações enquanto se aproxima de Adão.
— Não é de se admirar que valha tanto. As escamas dele quando bem trituradas e misturadas com as ervas certas, servem como um tônico muscular extremamente potente. — Palos até sente vontade de dar uma pescada por um momento. Ele observa Sirin dar um leve abraço em Adão.
— Não só isso, a carne dele é uma das mais cobiçadas na culinária local. Até aqueles nobres metidos vem de longe na esperança de saborear um pedaço. Infelizmente faz muitas primaveras que ninguém captura um. — Shymphony termina sua fala também se aproximando da cerca. Mas, mais próxima de Palos.
— Uma boa forma de ganhar algumas moedas. Mas afinal. De quem estão falando? — Adão os questiona.
— Helvetia. Tão boa curandeira quanto artesã. Ela diz que quer usar os ossos daquele monstro para criar armas únicas. — Palos observa Nero que está de cabeça levemente inclinada para a lateral enquanto olha para ele.
— Da ultima vez que entrei na loja dela com setenta moedas de ouro. Eu entendi o quão pobre eu sou…. — Shymphony até expressa um olhar triste e vago. — E ela tinha um escudo feito das escamas de um Oroborus que era perfeito para mim.
— Guilda dos pescadores. Interessante! Onde fica? — Adão mal consegue esconder suas intenções enquanto seus olhos viajam no teto de palha do local.
— Eu te levo lá depois. Preciso comprar alguns itens com eles para alguns remédios. — Palos volta a se aproximar de Adão enquanto fala. — Agora deixe-me cuidar desses ferimentos antes que piorem.
— Vão lá! Eu e Sirin vamos até a Sarah para apresentar ele pra ela. — Shymphony revigorada e empolgada, nem parece que está toda machucada.
— Fala pra ela que a armadura está pronta! Nova que pediu! — Adão fala enquanto esboça uma careta de dor em resposta aos toques de Palos.
— Pode deixar! Obrigada! — Shymphony se afasta dali em ritmo acelerado enquanto Adão já está entrando no estabelecimento.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.