Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
Aspas duplas para conversa mental: “
Travessão para falas em voz alta: —
Capítulo 105 — A Batalha
O rugido de um dos gigantes do Lich era a única coisa que Flügel conseguia ouvir. O chão tremia a cada passo da criatura, e o som da rocha rachando sob seus pés protegidos pela armadura era ensurdecedor.
O plano de cerco que parecia tão promissor se desintegrou em um inferno em questão de segundos. Com o corpo encharcado de suor frio, Flügel se esquivou de um ataque inesperadamente rápido do gigante. O monstro brandia seus punhos blindados, tentando esmagar seus oponentes com socos, agarrões e golpes que abriam crateras no chão. Flügel sabia que um único erro seria o seu fim.
Flügel servia como um chamariz, mas fazia mais do que apenas esquivar. Enquanto os outros combatentes causavam dano contínuo no grandão, ele canalizava sua magia de gravidade para pesar sobre o corpo massivo do monstro. Ele tornava os golpes do gigante mais lentos, porém, consequentemente, mais pesados. Era um risco calculado: a lentidão abria janelas para ataque, mas um único golpe que o acertasse seria fatal.
Das sombras da montanha e das árvores, a legião emergiu. Não havia grunhidos ou passos arrastados, apenas o silêncio fantasmagórico e o farfalhar de trapos velhos. Eram os Vultos Esfarrapados. O medo gelado que ele sentira da primeira vez, aquele terror de ser rasgado em pedaços e de ter sua cabeça separada do corpo, voltou com força avassaladora; um trauma tão forte não seria facilmente vencido.
As criaturas, com suas máscaras de osso branco e com um leve brilho roxo, se misturavam às fileiras dos cavaleiros de Borghen, movendo-se com uma velocidade quase impossível de rastrear. Era um ataque em duas frentes: a força bruta colossal do gigante e a investida silenciosa e mortal dos vultos.
O som de Severus gargalhando ecoou mais uma vez. A cabeça de águia da criatura sagrada estava erguida, os olhos faiscando de uma luz púrpura. Do vácuo de sua garganta, um feixe de anti-luz jorrou, cortando o ar e atingindo o pé da montanha em um estrondo que fez o chão tremer como um terremoto. O ar explodiu com o impacto, a energia jogando corpos e pedaços de ossos para longe. A encosta da montanha inteira cedeu, desencadeando um deslizamento gigantesco de rochas e detritos.
Pedaços de pedras voavam por toda parte, a sombra de Severus sobrevoando o local era um lembrete do tamanho dessa batalha. Todos ali estavam presenciando e vivenciando uma batalha de grande escala: uma guerra contra um único ser.
A batalha era um turbilhão caótico de som e movimento, e Flügel não conseguia pensar. Apenas agia. Os gritos de comando de Borghen se misturavam aos rugidos do gigante, e os feitiços cortavam o céu acima de sua cabeça. Ele focava unicamente em seu alvo, movendo-se por puro instinto, esquivando-se dos golpes do monstro colossal e chamando a atenção dele para si, cumprindo seu papel de chamariz.
Subitamente, uma enorme estaca de gelo se materializou no ar e se chocou contra o rosto do gigante com um estrondo. O ataque dos magos que estavam de apoio foi certeiro, e a criatura vacilou, atordoada.
Era a oportunidade que Flügel precisava. Em um único movimento fluido, ele mergulhou para o chão, apoiando a mão na terra.
Sua mana fluiu de seus dedos e amoleceu o chão. A terra abaixo dos pés do gigante se transformou em uma lama espessa e viscosa. O monstro afundou até a cintura, seus rugidos se tornando mais raivosos e desesperados.
Sem perder um segundo, Flügel endureceu o solo ao redor do gigante, transformando a lama em uma rocha sólida que o prendeu. Naquele mesmo instante, um rio de mana jorrou de seu reservatório, e estacas de pura escuridão emergiram do chão, pontiagudas e afiadas como facas. Elas se fincaram em todos os lados do gigante aprisionado, penetrando a armadura e sua pele, emitindo um som horrível e seco. Flügel sentiu um leve vazio gelado em seu interior, a magia drenando sua reserva em uma velocidade alarmante.
Flügel levantou-se do chão e olhou ao redor, buscando Nytheris e outro gigante. Ele estava focado em matar os gigantes, pois com sua armadura ele era um chamariz perfeito para lutar contra essas criaturas. Ele sentia o leve vazio em seu peito, mas a adrenalina da batalha ofuscava o cansaço. A sensação de ter imobilizado o monstro era viciante, e ele procurava o próximo alvo.
De repente, o ar ao seu redor se contorceu, o som da batalha se abafou e o chão sumiu. Flügel não teve tempo para reagir. Um turbilhão de sombras e faíscas irrompeu em um espaço que não existia antes, engolindo o corpo de Flügel num piscar de olhos. O mundo se tornou um borrão de luzes e sombras. Ele sentiu seu corpo ser arrastado por uma correnteza, incapaz de lutar contra ela.
O último som que ele ouviu foi a voz de Nytheris em sua mente, um grito desesperado: “Flügel!”
Quando a realidade se estabilizou, o campo de batalha havia desaparecido. Em vez dos gritos de guerra e do rugido dos monstros, havia o silêncio pesado de uma caverna. Flügel piscou, seus olhos se ajustando a um cenário vasto, mas claustrofóbico. Cristais negros nas paredes pulsavam com uma luz vermelha fraca, como se o local tivesse vida própria, e o ar úmido e mofado cheirava a morte.
À sua frente, o Lich estava parado, sua figura imponente envolta em seu manto negro, sem fazer qualquer movimento. O silêncio daquele lugar era mais assustador do que o inferno que ele tinha acabado de deixar.
De repente, Flügel sentiu um pulso em sua mente, e uma onda familiar de calor o invadiu. Era Nytheris, sua presença forte e reconfortante, agora em sua forma de mana pura. O Lich havia o levado para uma distância tão grande que Nytheris foi obrigado a se separar de sua forma física para segui-lo.
— Está confuso, não é? — As vozes ecoaram no espaço vazio. — Deseja saber como eu o trouxe aqui?
Flügel mal conseguia respirar. Sua mente estava uma bagunça de perguntas e confusão. A voz do Lich penetrou sua mente, e uma raiva subiu por sua garganta, a adrenalina ainda correndo em suas veias.
— Eu não dou a mínima para o que você fala! — A voz de Flügel saiu embargada, mais alta do que o esperado, e ecoou pela caverna escura, que reverberou com a sua fúria. Ele ignorou a sensação de vertigem e se concentrou em uma única coisa: lutar.
“Nytheris! Faça-me uma espada!” Sua voz mental, normalmente calma e controlada, soou desesperada. Embora sentisse a presença familiar de seu artefato no punho, não houve resposta. Nytheris parecia menor, mais fraco, como se uma parte de sua essência tivesse se perdido na viagem forçada.
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