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    Em base marcial, Miya encarava o passado, o presente, e o futuro que a aguardava. A brisa que balançava os tecidos rasgados do kimono tornou-se um perigo exponencial.

    Akemi e a noite estrelada viam-se cúmplices do confronto iminente onde uma ameaça invisível atacaria.

    Durante brisas rasteiras e empoeiradas, ventos fortes porém distantes tremeram construções arruinadas. Foram testes, sondas de um predador que circulava sua presa até a verdadeira ofensiva.

    Velozmente, uma ventania potente convergiu em contra-direção à jovem, subiu poucos metros acima, e iniciou a queda como um tsunami transparente prestes a mergulhar sobre o alvo.

    Um ataque inevitável projetado para obliterar, mas Miya já o esperava. “Veja-o antes que venha…” A voz da mãe era uma memória distante com um ensinamento escolhido para aquele momento. “…toque-o antes que atinja… e conduza-o para onde não fere.”

    A frase floresceu em prática. Entre suaves gestos marciais finalizados com rigidez, garras prontas para desferir o poder de uma criatura mítica preparavam uma defesa em forma de ataque.

    Quando o tsunami de vento despencou, labaredas rodearam a mão recuada, que se fechou em punho e lançou uma explosão flamejante, um sopro dracônico que colidia contra a avalanche aérea e travava um confronto de forças.

    “Incrível…” Pela primeira vez, Akemi via o poder de Miya em ação. “Essas chamas conseguem conter o vento de Jin!?” Hipnotizado pelo calor que batia contra o rosto e arrepiava a pele, o rapaz sentia a eletricidade latejando nas veias, querendo sair e lutar junto; mas sabia que não era o momento. “Definitivamente não é uma luta pra mim. Melhor observar e aprender.”

    Enquanto chamas poderosas e ventos impiedosos se anulavam entre detonações de poeira e calor, uma brisa trouxe um sussurro desdenhoso aos ouvidos da adversária. — Então realmente aprimorou-se com os ensinamentos de uma traidora? Ho ho, está começando a me fazer lembrar de como ela era.

    A clara menção à mãe foi uma farpa na concentração da filha, um ponto fraco evidente.

    Um milissegundo foi tudo o que Jin precisou.

    Em um estouro incolor, o ar arremessou a jovem para trás com a brutalidade de um aríete.

    — Miya! — O grito desesperado de Akemi nunca poderia parar o trajeto da companheira, mas serviria de um certo apoio.

    Enquanto era projetada pelo campo de treinamento, a jovem acrobaticamente rotacionou-se e antecipou a queda. A aterrissagem em pé manteve os joelhos flexionados para a absorção do impacto e o foco para o seguimento do combate que estava longe do fim.

    Inúmeras ventanias tão poderosas quanto à primeira aproximavam-se em várias direções, prontas para ferir.

    Precisando de respostas rápidas, Miya abaixou o corpo e evocou a agilidade de uma besta felina agachada, enrijecendo as mãos como se quisesse agarrar um coração. Contra o primeiro ataque dos ares, movimentos rápidos projetaram arcos flamejantes defensivos no ar, rasgando os ventos com um chiado agudo e superaquecido.

    As investidas do adversário oculto continuavam; chamas marciais e ancestrais se defendiam à altura do possível com socos, espalmadas, chutes arqueados e o poder herdado de uma aura única.

    Mas aquilo não duraria pela eternidade.

    As ofensivas invisíveis intensificaram-se. Em forma de lâminas translúcidas e finas que assobiavam de múltiplas direções, o vento pretendeu fatiar.

    Miya voltou à sua forma de antes, a sabedoria tomou o espaço da agressividade e ergueu uma redoma de fogo representada por um dragão de fogo ascendente que protegia sua mestra por todos os ângulos.

    As lâminas de vento se desfaziam contra a couraça de chamas dançantes, convertendo-se em um vapor inofensivo e obrigando-se a aumentar a pressão.

    Formado em uma cúpula de ventanias, um vendaval comprimia a atmosfera na intenção de tornar o espaço num esmagador cárcere de vento.

    Miya ergueu ambas as palmas abertas para cima, sustentando o escudo de fogo.

    Akemi lutava contra o desejo de luta da sua própria aura elétrica afetada pelo calor crescente. “Ugh, sinto como se esses ventos pudessem puxar a energia do mundo inteiro! Mas essas chamas, como não se apagam com tanta pressão!?”

    O suor na testa marcava o esforço da garota, e para que superasse aquela vontade, o vento tinha uma carta na manga.

    Um estilete agudo de ar desprendeu-se do turbilhão e perfurou a muralha de chamas. Sua rota imperceptível atravessou de raspão o ombro da jovem em milésimos, o corte, limpo e profundo, jorrou sangue.

    A dor destruiu o foco.

    O escudo dracônico caiu, espalhando chamas pelo chão até a dispersão.

    A ventania também deu trégua. Jin Ichikawa rematerializou-se em descansar. O uniforme branco seguia intacto como a expressão desdenhosa que observava o corpo curvado e a mão no ombro ensanguentado da oponente. — Então você consegue de alguma forma barrar-me? Interessante… Entretanto, Miyazaki, tem certeza que o legado de sua mãe se resume a isso? Chamas fortificadas através da exibição medíocre de movimentos básicos meramente copiados?

    A permanência em pé da companheira deu sensações distintas a Akemi. “Mesmo ferida, Miya segue desafiando o impossível como se estivesse tudo sob controle. Isso que me assusta e, ao mesmo tempo, me dá uma estranha esperança.”

    Pelos segundos sem resposta, notou-se que aquela, fatigada pela sucessão de defesas, estava longe de ceder.

    — Hmm… Pois diga-me, garota, mesmo com uma aura tão poderosa, por que se contém?

    Miya largou a mão do ferimento e endireitou a postura. A vontade por continuar fortificou-se. — Um aprendizado diz para jamais desperdiçar força… principalmente quando se está treinando. E já que o senhor me julga indigna do seu total poder, não me excederei de apenas responder à altura.

    — Ho ho, és audaciosa, sem dúvida. Mas essa serenidade soa vazia quando vejo o vermelho de seu sangue e a exaustão de seus ossos. Para alguém que está só “treinando”, não parece que você está à beira de desmoronar?

    — Se é isso que pensa, por que não chega de perguntas e tenta logo me derrubar de uma vez por todas?

    — Ho… Hohohohoho! —  A arrogância de Jin menosprezava a seriedade da garota — por favor, já desperdicei tempo demais com uma pirralha. Pois bem, irei-me agora, meus homens me aguardam — ele deu as costas, reduzindo-se em correntes de ar prontas para a fusão com a noite.

    Sem mais, o superior encerrava o confronto.

    Mas o fim foi recusado.

    — Aonde pensa que vai!? — Durante seu coro de labaredas fundido a um eco cósmico, Miya, com um forte pisar no chão, fervilhou-se: seu corpo inteiro trocou-se por brasas. A própria chama, com olhos amarelos incandescentes em um rosto avermelhado, entrou em guarda, espalhando cores quentes por uma grande área.

    A energia renovada da garota atraiu o olhar do superior; daquele modo, qualquer recusa ficou fora de questão…

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