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    Que porcaria é essa?! Ele realmente conseguiu usar Magia de Eletricidade na primeira tentativa?! Lincon pensou, totalmente incrédulo. Olhando para os olhos do rapaz pálido, por onde vazavam faíscas elétricas, sua expressão mudou ainda mais. Seu controle é tão perfeito que a própria eletricidade está reagindo a ele? O que… esse desgraçado é?!

    Normalmente, somente ao usar Efusão de Mana ou Mana Elemental, o Mago demonstraria certos traços da Magia no corpo, podendo se mostrar de diversas formas. Isso poderia variar desde uma mudança temporária ou permanente em algum aspecto do corpo, ou mesmo uma manifestação física, onde o mana reagiria ao ambiente.

    Mas esse era um acontecimento raro e que normalmente só ocorria após anos de prática. O fato de Fernando ter demonstrado isso em sua primeira tentativa só poderia significar uma única coisa, ele era um gênio da Magia Elétrica!

    Ao perceber isso, Lincon ficou paralisado, numa mistura de frustração, ódio, inveja e falta de vontade.

    Ele sempre procurou por aprendizes talentosos, para compensar sua própria falta de capacidade. Mesmo que fosse relativamente proficiente em Magia Elétrica, sabia que nunca alcançaria grandes conquistas. Era por isso que Kifon não era somente seu aluno, mas, sua maior chance de se elevar ainda mais dentro da Família.

    Contudo, agora, o rapaz pálido que havia destruído seus sonhos ao matar seu discípulo e esmagado suas esperanças de se vingar, ao derrotá-lo e capturá-lo, estava se provando ser muito mais talentoso do que ele e o próprio Kifon!

    Ao lado, Verônica também estava chocada. Ainda que ela não fosse uma Maga Elétrica, mas focada em Vento, sabia da dificuldade em aprender esse elemento, afinal os boatos a respeito dele eram extremamente famigerados.

    “Muito bem, Mestre! Isso foi impressionante!” Brakas elogiou, sorrindo, enquanto atingia seus tentáculos um contra o outro, simulando o som de palmas.

    Nesse ponto, o jovem Tenente assentiu, quando olhou para a ponta de seus dedos, onde ainda havia leves resquícios de eletricidade.

    A sensação é muito boa e é fácil de usar. Além disso, o poder é impressionante e a velocidade de deslocamento do ataque até o alvo é tão rápida que mal consigo acompanhar com meu Disparo Neural… O rapaz pensou, ao observar o alvo de madeira, que havia sido completamente destruído. Provavelmente depois que eu pegar o jeito, devo conseguir aumentar ainda mais a Tensão Elétrica e a velocidade de disparo. Isso é incrível!

    Em relação a usar Magia de Fogo em comparação com a Elétrica, Fernando sentiu que a primeira era como se ele estivesse sempre vendado, enquanto usando Eletricidade poderia ver e sentir tudo.

    Toc! Toc!

    Duas fortes batidas soaram na porta da sala de treinamento, quando o Tenente e os demais se voltaram para a entrada.

    Que pena, eu gostaria de testar mais algumas coisas. Fernando pensou, um pouco desapontado, sentindo que aquilo era algo interessante. Mas logo sua expressão ficou séria.

    “Brakas, volte por hora.” ordenou.

    “Sim, senhor, mas e quanto a ele?” perguntou, olhando para Lincon. “Posso continuar com ele?”

    Ao ouvir a pergunta, o sujeito baixinho tremeu, quando os vários pensamentos em sua mente, seja raiva, inveja ou qualquer outro sentimento, instantaneamente desapareceram. Mesmo seu desejo de tentar escapar sumiu completamente, quando olhou para Fernando com os olhos arregalados de medo

    O jovem Tenente percebeu o olhar do sujeito, mas ignorou.

    “Tenho planos para ele, ao menos enquanto colaborar.” declarou.

    Lincon suspirou aliviado após ouvir isso, quando seus músculos tensionados relaxaram.

    Por outro lado, o Baiholder fez uma cara feia, parecendo insatisfeito, mas concordou.

    “Tudo bem, Mestre. Mas é melhor ter cuidado, esse Humano é bem escorregadio.”

    Atualmente o assassino teve seu mana drenado por Brakas, então não havia muito que pudesse fazer, mas assim que se recuperasse, o Baiholder tinha certeza que o sujeito tentaria algo.

    “Não se preocupe, ele não vai escapar.” Fernando garantiu, quando moveu o pulso, tirando um par de Algemas Ardot, então as jogou para Lincon. “Coloque-as.”

    Inicialmente ele havia enviado alguém para comprar algumas algemas apenas para fazer alguns testes, já que o acontecido na prisão ainda o intrigava, mas percebeu que também seriam úteis em outras situações como essa.

    Ao pegar o par de Algemas Ardot, Lincon as olhou por um momento e rapidamente se apressou em colocá-las em seus próprios pulsos. No entanto, sem ter sua mão direta, somente a algema esquerda encaixou-se em seu pulso, enquanto a outra estava solta em torno do antebraço direito.

    Vendo isso, Fernando teve uma expressão estranha.

    Contanto que esteja em contato com a pele dele, deve funcionar. pensou, ao lembrar-se dos efeitos da Algema.

    Obviamente Lincon gostaria de tentar ‘fugir’, mas sentiu que, por hora, estar longe daquela coisa seria suficiente, então colaborou sem reclamações.

    Logo que Brakas entrou no portal negro, voltando ao Anel de Aprisionamento, Fernando calmamente abriu a porta.

    Do lado de fora, um homem com capuz, escondendo parcialmente seu rosto e com vestes de couro se mostrou. Os guardas ao lado pareciam desconfiar da estranha aparência do sujeito, mas como ele carregava uma autorização especial dada por Fernando, não questionaram nada.

    “Entre.” O jovem Tenente disse, quando abriu a porta, permitindo que adentrasse.

    Assim que o homem entrou, fechou a porta atrás dele e removeu o capuz revelando sua face.

    “Líder… você está me colocando em problemas, me convocando com tanta frequência.” Argos disse, parecendo chateado. “Aqueles cães de Herin estão por todo lado e vivem me seguindo sempre que eu saio daqui, está cada vez mais difícil despistá-los. Além disso, não tem sido fácil lidar com a Guilda, coletar informações e analisá-las, fazer negócios e ainda vir às aulas…”

    Fernando deu de ombros ao ouvir as reclamações.

    “Preciso que faça algo para mim.”

    Ao ver que o jovem Tenente apenas ignorou todas as suas lamentações, Argos sentiu como se fosse chorar a qualquer momento.

    “Eu vou morrer de trabalhar, é sério…”

    Ouvindo isso, o jovem pálido sorriu levemente.

    “É algo que vai te ajudar a ter uma folga, então não seja tão dramático.” disse, quando apontou para a garota negra, com mechas prateadas. “Essa é Verônica. A partir de hoje, ela será sua subordinada e te auxiliará nas operações da Sopro Noturno. Quero que você a deixe a par de toda situação da guilda e a treine.”

    Argos ficou surpreso ao ouvir isso e só então prestou atenção nas duas pessoas logo atrás do rapaz. Olhando para a mulher, ficou um pouco desconfiado e ao analisar o garoto, sentiu uma sensação pesada vinda dele e sentiu alguma familiaridade de sua aparência.

    “Quem são essas pessoas?” perguntou, com um olhar afiado, principalmente ao olhar para Lincon. Mesmo possuindo uma aparência juvenil, o homem sabia que aquela pessoa não era alguém normal. “Estou em falta de mão de obra, mas não posso aceitar qualquer um.”

    Fernando, obviamente, estava ciente dos pensamentos do homem.

    “Não se preocupe, ela é qualificada. Além disso, ela não irá nos trair, afinal, ela assinou o mesmo contrato que você.”

    “O quê?!” A expressão de Argos mudou ao ouvir isso.

    Verônica também ficou surpresa, afinal ela havia assinado um Contrato de Vassalo. Por que o homem à sua frente também possuiria algo assim? Pela conversa, o Tenente parecia confiar muito nele, então por que ele faria uma pessoa de confiança assinar um contrato tão perigoso como esse?

    “O que acontece, é…”

    Após uma breve explicação, Fernando resumiu o que aconteceu e quem eram os dois.

    Ao saber que ambos eram prisioneiros pertencentes à Família Lopes, a expressão de Argos afundou. Finalmente percebeu de onde vinha a sensação de familiaridade, eram as mesmas pessoas dos relatórios do ataque a Fernando!

    “Tenente, isso é perigoso! Mesmo sob o Contrato de Vassalo, apenas o fato dessa mulher continuar existindo já nos traz riscos. Sua identidade é conhecida pelo inimigo e isso pode nos prejudicar. Sinceramente, a melhor coisa a se fazer é… eliminá-la!”

    Mesmo ouvindo o homem sugerir sua morte, Verônica tentou manter a calma, não ousando opinar a respeito.

    Os olhos de Fernando mudaram de Argos para a mulher por um instante e depois de volta para ele.

    “Sargento, eu não estou perguntando sua opinião, essa é uma ordem. Consiga uma nova identidade para ela e coloque-a para trabalhar!”

    Vendo que o jovem Tenente parecia decidido a levar isso adiante, Argos suspirou.

    “Entendido.” disse, a contragosto. Então voltou sua atenção para Lincon. “Vou levá-la comigo, mas o que pretende fazer com esse daí?”

    Notando um dos braceletes das Algemas Ardot em seu pulso, estava claro para o Sargento que Fernando não havia assinado um Contrato de Vassalo com o garoto.

    “Tenho outros planos para esse.” O rapaz pálido disse, sem explicar muito, então voltou sua atenção novamente para Verônica. “Ela me deu algumas informações, a respeito de um grupo comercial chamado Herbalistas do Sul.”

    “Hm, eu os conheço. Eles recentemente tem comprado algumas informações conosco. São um grupo bem influente na região.” Argos disse, surpreso. “Qual é exatamente o problema com eles?”

    “Estão ligados à Família Lopes. Quero que os investigue.” Fernando declarou, com um rosto calmo, então voltou sua atenção para Verônica. “E você vai ajudá-lo, esse será seu teste. Acredito que eu não preciso dizer o que acontece se falhar.”

    A mulher negra, com mechas prateadas, assentiu, com uma expressão calma.

    “Não senhor.” respondeu.

    Ao lado, Argos ficou surpreso.

    “Então os Herbalistas estão com eles? Se esse é o caso, a situação é um pouco complicada, afinal eles são grandes distribuidores… Posso usar nossas negociações como pretexto e reunir algumas informações.” falou, com assertividade, então olhou para Verônica. Movendo o pulso, um capuz apareceu em sua mão, após isso, jogou-o em sua direção. “Vamos indo, não podemos perder tempo.”

    Verônica deu um último olhar para Fernando, seus olhos pareciam conter uma mistura de gratidão, com dever. Ela sabia que deveria estar morta, mas essa pessoa havia lhe dado uma oportunidade. Logo colocou a vestimenta, seguindo Argos.

    “Vamos indo também.” Fernando disse, olhando em direção a Lincon; então moveu o pulso, entregando uma camisa ao sujeito. “Mas cubra isso, será incômodo se as pessoas notarem.” disse, referindo-se à algema.

    Mesmo que quisesse apenas colocar o sujeito no Anel de Aprisionamento, sentiu que o manter do lado de fora por um tempo seria melhor e talvez o fizesse mais colaborativo.

    Lincon fez uma careta, mas aceitou a vestimenta, enrolando em torno de seus braços.

    Assim que o Sargento e a mulher saíram da sala, seguidos de Fernando e o sujeito com aparência juvenil, os dois guardas, que faziam a vigilância da sala de treino do Tenente, ficaram abismados.

    Argos e Verônica seguiram por um lado, enquanto Fernando e Lincon por outro.

    “Ei, eu estou vendo direito? Tenho certeza que antes desse cara entrar, só tinha o Tenente lá dentro, certo? Talvez havia alguém lá antes?”

    O outro homem estava igualmente confuso e negou.

    “Eu mesmo preparei a sala, então tenho certeza de que não.”

    Apesar de acharem a situação bizarra, nenhum dos dois insistiu no assunto. Ambos sabiam que não deveriam falar sobre coisas desnecessárias como essas.

    Em outro local, Wedsnageuer e Alfie estavam ocupados, fazendo o planejamento das aulas, quando o Mestre de Runas recebeu uma mensagem de seu aluno.

    “Oh, ele está aqui? Caiman, abra a porta, Fernando está esperando.”

    Alfie, que estava concentrado na bancada, rapidamente se dirigiu até a entrada, desarmando a Matriz. Assim que a abriu, viu o jovem Tenente, acompanhado de uma ‘criança’.

    “Olá, senhor Alfie.” O rapaz pálido cumprimentou, ainda na entrada.

    “O que você quer?” O homem de óculos perguntou, com uma expressão séria, ignorando completamente a pessoa o acompanhando.

    “Como assim?” Fernando indagou de volta, surpreso.

    “Sua cara me diz que vai nos pedir alguma coisa… de novo.” Alfie falou, quando ajustou os óculos em seu rosto.

    O jovem pálido queria negar, mas logo sorriu levemente coçando a bochecha, envergonhado. Sempre que precisava de algo, recorria ao seu professor e o Assistente.

    “O que está acontecendo?” Wedsnagauer perguntou ao longe, ao perceber todos parados na entrada. “Ande garoto, entre de uma vez!”

    Pouco tempo depois, Fernando e Lincon estavam sentados em bancos, próximos às bancadas, enquanto Alfie trabalhava no material em cima da mesa. Do outro lado, Wedsnagauer também parecia ocupado.

    “E então, Fernando, o que aconteceu? Você não costuma vir aqui nesse horário.” O Mestre de Runas falou, com uma voz calma.

    O jovem Tenente sentiu-se envergonhado.

    Um aluno não pode só visitar seu professor? Por que acham que eu preciso de algo? retrucou consigo mesmo, mas não ousou dizer em voz alta, afinal era exatamente como eles haviam presumido.

    Enquanto pensava nisso, Fernando também notou algo. Wedsnagauer parecia muito mais ativo e radiante que o normal, pegando papéis um após o outro, lendo-os rapidamente.

    Isso fez perceber algo, fazia algum tempo que o velho homem não tinha lapsos de memória ou confusão. O jovem Tenente não sabia exatamente o porquê disso, mas sentiu-se feliz por ele.

    “Professor, quais as chances de um Contrato como o de Vassalo ser quebrado?” perguntou.

    Apesar de concentrado nos papéis a frente, Wedsnagauer deu uma leve olhada para Fernando, intrigado com a pergunta.

    “Por que está perguntando isso?”

    “Bem, é uma curiosidade.” respondeu brevemente, sem explicar.

    Lincon, que estava ao lado, tinha uma carranca no rosto.

    Quem são esses dois e por que ele está perguntando sobre isso a eles? pensou, preocupado.

    Wedsnagauer deu uma breve olhada para o garoto ao lado de Fernando, sem ter certeza do quanto podia falar na frente dele.

    “Contratos de Vassalo e semelhantes são um tipo de Matriz especial, do tipo que infunde uma inscrição no corpo e na mente do usuário. Uma vez firmados, é extremamente difícil quebrá-los, é muito mais provável que o alvo do contrato morra antes de sequer alguém conseguir acessar suas Runas.” explicou.

    Ouvindo isso, a expressão de Fernando mudou, franzindo o cenho.

    “Mas você é capaz, professor?”

    Dessa vez, até mesmo Alfie olhou para o jovem Tenente, sentindo que a conversa estava extremamente estranha.

    “O que está acontecendo, criança? Por que você quer que eu quebre algum Contrato de Vassalo?” Wedsnagauer perguntou, olhando-o fixamente.

    Vendo os dois homens o observando com cautela, Fernando suspirou internamente, percebendo que não havia como esconder, então olhou para Lincon e puxou a camisa enrolada em torno de suas mãos.

    “Essa pessoa é meu prisioneiro. Ele é um membro da Família Lopes.”

    Tac! Plac!

    Quando as palavras de Fernando soaram, tanto Alfie, quanto Wedsnagauer, largaram os papéis em suas mãos, que escaparam, caindo por todo o chão.

    “O que você disse?!” O Mestre de Runas falou, com a voz alta.

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