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    — LUUUUUTEEEEM! — a voz de Hermes explodiu pela arena.

    Sincer cerrou o punho direito, e o colar em seu pescoço brilhou em um azul tão intenso que parecia refletir nos olhos de todos à volta.

    — Vai pagar por suas palavras caluniantes, sua desertora! — bradou, a pluma de seu chapéu tremulando com a fúria.

    De sua mão fechada, lançou um pó cintilante que se espalhou em redemoinhos pelo ar, como uma chuva de estrelas em plena arena.

    Ananda permaneceu imóvel no início, os olhos por trás da máscara acompanhando cada partícula que se aproximava. Mas logo seu corpo reagiu: recuos rápidos, saltos ágeis para trás, como se sua intuição gritasse perigo. Ainda assim, o pó parecia inevitável, espalhando-se e cobrindo todo o espaço ao seu redor.

    — Suma perante a beleza de minha magia! — vociferou Sincer, erguendo os braços como um maestro diante da plateia. — Magia Bela: Pó da Fada Destruidora!

    O pó cintilante começou a estourar em múltiplas detonações. Cada partícula que tocava o chão, a pedra da arena ou até mesmo o ar próximo explodia como pequenas bombas, gerando ondas de choque que ecoavam em estrondos sucessivos.

    — É como um campo minado flutuante… — Helick murmurou, os olhos arregalados observando tudo do camarote.

    Ananda não esperou que as explosões a alcançassem. Sua cimitarra reluziu na luz da arena, e seu corpo moveu-se em ziguezagues velozes, saltando, rolando e deslizando entre as colunas de fumaça e clarões. O chão rachava sob seus pés, pedras voavam e o público urrava a cada desvio por um fio de distância.

    Porém, antes que pudesse traçar sua próxima rota, algo a surpreendeu. Uma sombra surgiu bem à sua frente: Sincer, como se tivesse surgido do brilho azul, erguendo ambas as mãos abertas.

    — Magia Bela: Pó da Fada Destruidora! — gritou, e das palmas de suas mãos jorrou uma torrente luminosa, um rio de pó de fada lançado diretamente contra ela.

    Ananda travou a respiração por um instante. Seu corpo reagiu instintivamente, a cimitarra erguida para cortar a névoa brilhante que ameaçava engoli-la em explosões sucessivas.

    A lâmina da cimitarra cortou o pó à sua frente, mas o resultado foi imediato e devastador. Uma explosão colossal a lançou para trás, direto contra a sequência de outras detonações que a cercavam.

    BOOM! BOOM! BOOM!

    O estrondo ecoou como trovões repetidos, e a plateia se ergueu, ofegante. Um grito de dor reverberou pela arena quando uma das explosões atingiu suas costas, arremessando-a de volta na direção de Sincer.

    Ele a recebeu sem hesitar, avançando com arrogância. O punho dele se chocou contra o rosto mascarado de Ananda, rachando parte da máscara em uma explosão de fragmentos.

    — Isso é por sua afronta a mim, pessoa de lugar nenhum. — disse, com a voz carregada de desprezo.

    Ananda caiu ao chão, o corpo ainda coberto pela poeira cintilante. Por um instante parecia derrotada, mas então uma risada baixa e rouca escapou por detrás da máscara quebrada.

    Sincer congelou. Só então percebeu a fina linha vermelha que corria por seu braço — um corte preciso, quase imperceptível, feito pela cimitarra no mesmo instante em que ele a golpeara.

    — Ui… — Ananda ergueu os olhos para ele, zombando. — Além de usar magia com nome de fada… você ainda soca fofo.

    O público explodiu em vaias e risadas nervosas, a tensão se misturando ao deboche dela.

    Quando Sincer parecia pronto para dar o golpe final, algo estranho quebrou o ritmo da arena. Todos viram a mascarada erguer-se com calma, espreguiçar a coluna e esticar os braços como se a presença dele já não a incomodasse, como se, de fato, ela não estivesse mais ali.

    Mas os olhos de Sincer permaneciam fixos no lugar onde Ananda jazia segundos antes, como se ela ainda estivesse caída no chão. Helick e Cassian trocaram um olhar rápido e pesado. Aquela mana… não havia dúvida: era a mesma assassina que os atacara em Lyberion. A sensação das ilusões que ela invocava inundou os sentidos dos príncipes; em silêncio, entenderam o que acontecia.

    — Prepare-se para morrer! — rosnou Sincer, a voz cortando o ar. — Sua… sua—

    Ananda, já de pé, caminhou com passos tranquilos até ficar atrás das costas dele. A calma dela era provocação pura.

    — Sua o quê? Sem-lar? Desertora? Traidora? — respondeu, a voz seca, como lâmina. — Tudo isso só porque venho de um reino que se recusa a ser refém de um regime militar guiado por falsa meritocracia? Porque venho de um lugar que não aceita um reino hipócrita que mantém seu povo inferior aos nobres?

    — Fala com muita coragem para alguém na sua posição — Sincer murmurou, sem desviar os olhos do mesmo ponto no chão.

    A plateia começou a vociferar, confusa: para onde ele olhava? Ela estava bem ali, às suas costas! As palavras, porém, pareciam não alcançar os ouvidos dele.

    — Os Reinos Independentes — continuou Ananda, firme, projetando a voz para que os mais próximos ouvissem — tanto o do Sul quanto o do Norte foram fundados por quem não aceitou as visões distorcidas de governo herdadas dos descendentes de Helisyx. E embora existamos há apenas cinquenta anos, já somos um povo mais justo do que qualquer um dos dois grandes reinos humanos jamais sonhou em ser.

    — Cale a boca e morra! — rugiu Sincer, e de repente liberou uma chuva de pó explosivo que se espalhou pelo ar em segundos, detonando numa série de explosões ensurdecedoras.

    Cores de azul, violeta e ciano tomaram conta da arena junto das explosões violentas e barulhentas, mas que não atingiam ninguém.

    — Acabou!

    Seu rosto estava convicto, tomado pela absoluta certeza da vitória. Então, como um arrepio vindo do nada, um som metálico percorreu suas costas.

    Um estalo seco percorreu o ar quando a ilusão de Ananda se desfez como um véu sendo arrancado de uma vez. As contorções do espaço olharam-se por fim reveladas: a verdadeira Ananda estava diante de Sincer, ereta, calma, e ele viu enfim o que todos já sabiam, mas que sua mente teimava em negar.

    O choque fez o mundo girar por um segundo. Sincer virou-se tardiamente. A máscara com o trincado de seu soco não parecia se incomodar, a figura dela o contemplava de cima, fria como uma sentença. Atrás dele, a dor nas costas queimava, latejava, e o quente do sangue que manava começou a tingir sua pele. Por instantes, tudo o que restou foi a consciência aguda daquela vulnerabilidade.

    — Mas… como? O que aconteceu? Como é possível?? — gaguejou ele, a voz corta, incrédula.

    Ananda ergueu a cimitarra e apoiou a lâmina contra o pescoço de Sincer com uma delicadeza de quem tinha o poder da vida e da morte em suas mãos. O metal pressionou a pele. Sem pressa, falou:

    — Não se preocupe. Não irei te matar. Talvez você possa ser útil contra os verdadeiros inimigos.

    Sincer babou insultos, a face contorcida pela humilhação e pela dor.

    — Vá se ferrar, sua… — tentou disparar, a língua ferida pela pressa.

    — Termine essa frase — Ananda advertiu, a voz baixa e mortal — e eu cortarei sua garganta.

    A ameaça foi um fio cortante. Sincer, percebendo a inutilidade da bravata, murchou. A vaidade que o alimentara evaporou diante da lâmina e do sangue. Com a voz de quem desce de um patamar, murmurou:

    — Eu me… eu me rendo.

    A resposta da multidão foi imediata e avassaladora: vaias explodiram como uma onda, um mar de desapontamento. Uns o viam derrotado com escárnio; outros viam na rendição uma confirmação que o mais forte havia vencido. O som encheu a arena e parecia arrancar o resto de ar dos pulmões de Sincer.

    Antes que a falta de sangue e o cansaço o vencessem, os joelhos tremeram e seus olhos perderam o foco. A última coisa que atravessou sua consciência foi a voz de Hermes, estourando pela arena como se convocasse os próprios céus a testemunhar:

    — A VENCEDORA DO ÚLTIMO COMBATE DO DIA NA ARENA DOS CORAJOSOS É — ANAAAAAAAAAAANNNDAAAA!!!

    E então o mundo fechou-se sobre Sincer: palmas, gritos, o tilintar da arma de Ananda ao ser erguida em sinal de vitória, e o som distante de passos correndo para recolher o derrotado. Ananda ainda ficou por um instante olhando a multidão, a máscara refletindo as luzes, antes de voltar as costas e desaparecer em direção ao portão da Cidade dos Corajosos, deixando no ar perguntas que ninguém ali poderia responder de imediato.

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