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    Além de uma muralha colossal de ferro e aço, fumaça subia das chaminés como se o céu estivesse em guerra com a própria terra. Torres de metal e pedra se erguiam lado a lado, iluminadas por tubos de vidro cheios de energia azulada que serpenteavam pelas fachadas como veias vivas de neon. Trilhos suspensos cortavam os ares, transportando vagões de carga que gemiam sob o peso de mercadorias, enquanto nas ruas, engrenagens rangiam movendo portões automáticos e placas giratórias que anunciavam tavernas, arenas e oficinas em meio a fumaça cinza.

    O contraste era brutal. Para qualquer viajante que viesse de qualquer parte do continente ou até das cidades anteriores de Ossuia, aquilo parecia um delírio. Ali, a magia era minoria, quase uma curiosidade, e o ferro reinava. Os Órfãos haviam feito da engenharia sua arma, e seus ARGENTEC cintilavam nas mãos de homens e mulheres que não olhavam com medo para os possuidores de ARGUEM, mas de igual para igual. Alguns até os olhavam de cima.

    — Ouviu as notícias? — um ferreiro comentou na beira da rua, limpando a fuligem do rosto. — Os príncipes de Lyberion vão tentar a ascensão para a Cidade de Ferro.

    — Hah! — respondeu um rapaz com um braço mecânico que rangia a cada movimento. — Quero ver se esses garotos sabem enfrentar uma lâmina de ARGENTEC de verdade, nada como aquela sucata dos Corajosos.

    — Fiquei sabendo de um jovem promissor na arena dos Corajosos na última semana. — Falou mais um homem com mandíbula de ferro e dentes pontiagudos. — Dizem que o rapaz voou, dá pra acreditar?

    — É, mas parece que ele virou capacho do Departamento de Pesquisa e Estratégia. — Respondeu o ferreiro ascendendo um fumo marrom. — Voou… e acabou preso em laboratórios, ao invés de erguer um nome de guerreiro na arena. Hah! Que desperdício de talento!

    Pelas tavernas esfumaçadas, corredores industriais e mercados lotados, o burburinho era o mesmo: os herdeiros de Lyberion estavam querendo subir para a terceira muralha de Ossuia. Alguns os viam como curiosidade exótica, outros como um desafio digno, mas ninguém parecia duvidar de que a Cidade de Ferro os engoliria vivos se não se adaptassem.

    Em uma dessas tavernas, o ar era pesado com o cheiro de óleo queimado e ferro quente que se misturava ao aroma de bebida forte. Tubos de vapor chiavam nas paredes, iluminados por letreiros de cristal energizado que pulsavam em tons vermelhos e verdes.

    No balcão central, uma figura permanecia sentada. Um blusão impermeável, cinza e preto, cobria-lhe o corpo como um sobretudo, o capuz lançado baixo escondendo parte do rosto. Fones metálicos envolviam-lhe as orelhas, vibrando uma batida frenética que abafava a confusão em volta.

    Ainda assim, ela percebeu quando a porta foi aberta com força, rangendo como se as dobradiças cuspissem ferro. O burburinho cessou; todos os olhares se voltaram.

    De soslaio, a figura lançou um olhar preguiçoso por cima do ombro. Um soldado de armadura vermelha, polida, mas marcada por arranhões, a encarava acompanhado de mais dois.

    — Você é quem atende por ThunderBlade? — a voz do soldado soou firme, mas não sem cautela.

    A taverna inteira ficou em silêncio, como se até os canos parassem de ranger.

    — Quem quer saber? — a voz faiscante respondeu sem pressa, ecoando por baixo do capuz. — E por quê?

    — Você foi desafiada a combater na Arena de Ferro no próximo dia de ascensão.

    Um coro de risadas e murmúrios explodiu pelas mesas. Alguns batiam canecas, outros sacudiam a cabeça em incredulidade.

    — Aí, soldado. — O barman chamou, servindo um copo de líquido parecido com vinho, mas que com certeza era mais forte que a bebida clássica. — Quem é o suicida?

    A luz esverdeada de um letreiro próximo refletiu no rosto daquele que servia as bebidas, revelando por um instante o brilho metálico de seu olho direito que não era carne, mas engrenagem viva, com anéis de ferro girando em silêncio sob a íris.

    O copo deslizou pelo balcão até parar, milimétrico, diante do soldado. Ele pegou sem hesitar, bebeu de um só gole e disse antes de se virar para a saída:

    — O segundo príncipe de Lyberion. Helick Havilfort.

    O silêncio que se seguiu foi ainda mais pesado.

    ***

    Ao mesmo tempo na Cidade dos Corajosos no casarão de Suzano

    — Vamos nos preparar para o próximo dia de ascensão — anunciou Rhyssara, sua voz firme ecoando pelos jardins do casarão.

    O sol tentava, em vão, rasgar as nuvens cinzentas que cobriam Ossuia. O inverno se tornava mais rigoroso a cada dia, mas naquele fim de tarde, um raio dourado conseguia tocar a pele dos presentes, aquecendo-os por um instante, como uma lembrança distante de verão.

    — E como exatamente vamos fazer isso? — Helick perguntou, erguendo o olhar para a Imperatriz.

    Algumas horas antes, ela havia ordenado que todos se vestissem para um treinamento de combate que seria conduzido por ela, Suzano e Morgan.

    Helick e Cassian trajavam as armaduras forjadas nas Montanhas de Patrock por Leonardrick, o líder da guilda da Centelha Ardente. Quando haviam chegado ao casarão, as peças estavam em frangalhos: queimadas, rasgadas e sujas de um modo quase vergonhoso após os confrontos na Arena dos Corajosos. Agora, reluziam sob a luz do sol. Kadia jurava que apenas as havia lavado, mas, ao enxaguá-las, elas se restauraram como se tivessem acabado de sair da forja. Magia anã, surpreendente até nas sutilezas.

    Os soldados, por sua vez, vestiam as armaduras que haviam ganhado de Leonardrick, ajustadas e prontas, cada um com seu ARGUEM pronto.

    — Vamos preparar vocês para o nível de poder que encontrarão na Arena de Ferro — avisou Suzano, a voz carregada de seriedade. — Estejam prontos.

    Cassian levantou a mão, teatralmente, como um aluno pedindo a palavra, mas seu sorriso denunciava a irreverência.

    — Pra que tudo isso? — provocou. — Não seria mais fácil vocês nos dizerem o nome dos mais fracos daquela cidade, pra subirmos rápido e sem atraso?

    — Isso não é algo que um nobre príncipe deveria dizer — Morgan riu, cruzando os braços.

    — Entendo que não é honroso — interveio Tály —, mas considerando o que descobrimos, temos urgência. Precisamos chegar à Cidade Central o quanto antes.

    — Ela tem razão — Marco concordou, sem rodeios.

    Rhyssara deu um passo à frente. A luz do sol refletiu em seus olhos azuis, serenos e imponentes.

    — A seguir, iremos para a penúltima muralha de Ossuia — começou. — Todos que vivem lá possuem níveis de poder iguais ou superiores aos seus. Os príncipes evoluíram bem nesta última semana, mas talvez estejam apenas no limiar do máximo do que a Cidade de Ferro pode oferecer. Por isso, vamos forçá-los ainda mais.

    — O quê? — Redgar exclamou. — Não temos tempo pra isso! Não sabemos o que aconteceu com os que ficaram pra trás! Precisamos chegar logo ao ponto indicado pela visão do príncipe e voltar para buscá-los!

    O olhar de Rhyssara se voltou lentamente para ele.

    — Primeiramente, não me interrompa — disse, e sua voz, embora calma, soou como uma lâmina desembainhada. — Em segundo lugar, entenda: a Cidade de Ferro é o coração pulsante da arrogância ossuiana. Ela molda a motivação dos Órfãos, define seus ideais e seus limites. Lá vivem os engenheiros e guerreiros que rejeitaram o Departamento de Pesquisa e Estratégia e decidiram erguer o próprio império do aço.

    Ela se aproximou, até ficar diante dos príncipes, o vento frio agitando seu manto.

    — Alguns deles superam portadores de ARGUEM em combate, e isso os tornou perigosamente confiantes. Vocês, porém, são os herdeiros de Lyberion. Seus nomes ecoam por todo o continente. Os que derrotaram wyverns, desbravaram a Floresta das Árvores Andantes e enfrentaram anões.

    Rhyssara estendeu as mãos, apontando para ambos, e sua voz ganhou peso.

    — Vocês enfrentarão adversários escolhidos por mim. Quero que provoquem um abalo. Quebrar o orgulho desses homens e mulheres é o primeiro passo para reacender neles o que Ossuia está se esquecendo com o tempo: a vontade de ser temida. A vontade de vencer.

    Seus olhos brilharam intensamente.

    — A ameaça que se ergue no Mar de Monstros não será vencida apenas por máquinas, magia e muito menos por orgulho. Será vencida por poder, propósito e coragem. Quero que eles se lembrem do que significa ser ossuianos.

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