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Capítulo 159 — Sob o Néon e o Ferro
A mulher sentada diante do balcão da taverna mais movimentada da Cidade de Ferro terminava sua bebida. Escorregou os fones metálicos da cabeça, deixando-os repousar no pescoço. O som abafado de batidas eletrônicas ainda escapava deles como um coração mecânico pulsando.
O soldado que acabara de sair da Taverna Neon deixara um rastro de fuligem no chão. As arranhaduras em sua armadura denunciavam que havia tido um combate recentemente.
Ela se levantou sem pressa. O peso em sua cintura era familiar e confortável. Um pequeno cilindro metálico, de cerca de dezoito centímetros, pendia seguro ao cinto de duas camadas cravejado de fivelas. O tecido justo do short preto realçava o contraste com a pele parda e pálida, e o degradê verde que tingia as pontas de seus cabelos amarelos parecia brilhar sob o néon.
— Ei, Celina — chamou o barman enquanto secava um copo, o pano rangendo contra o vidro. — Você sabe que eles estão te esperando lá fora, né?
— Claro que estão. — Ela respondeu sem tirar os olhos âmbar do salão. — Os livros da arena revelaram minha localização, já que fui desafiada. Eles não podem aplicar nenhuma lei antes de fazer o anúncio do combate.
Ela deu de ombros, a voz leve, quase divertida.
— Vou dar a vocês vinte segundos pra caírem fora.
As cadeiras arrastaram-se, copos tombaram. Em segundos, todos corriam: alguns pela frente, muitos outros pelos fundos.
— Merda… mais um dia de “preju”. — O barman suspirou, guardando o copo na estante.
— E tratem de pagar o Hiorran antes de saírem, ou eu mesma vou cobrar! — gritou Celina, a voz cortando o ar como descarga elétrica.
Notas folheadas de bronze e prata voaram pelo salão, caindo no chão.
O olho mecânico de Hiorran zumbiu, a íris artificial girando enquanto calculava o valor exato de cada cédula.
— Eu tinha falado prejuízo? — Ele gargalhou. — Esquece. Hoje a noite foi a melhor!
O homem de corpo indeciso entre magro e gordo pulou o balcão. A luz refletiu em sua pele negra e nos cabelos crespos, desgrenhados.
— Por isso você é minha cliente favorita, Celina. — Disse recolhendo as notas. — Até quem não consumiu nada deixou uns trocados!
— Aproveita, Hio.
Ela seguiu para a porta.
— Mais uma coisa, Celina, as marcas na armadura daquele soldado… — Hiorran mudou de expressão para uma mais séria.
— É, eu também percebi, pode deixar que eu resolvo.
Um sorriso grato surgiu no rosto de Hiorran e ele finalizou dizendo:
— E tenta, por favor, não destruir outra letra do letreiro. Essa porra é cara.
Celina apenas acenou com dois dedos, empurrando a porta com o ombro e sumindo na névoa metálica da rua.
O ar abafado e úmido tocou sua pele. Mesmo no inverno, as usinas e chaminés a todo vapor faziam da Cidade de Ferro um forno constante. O calor preso entre as muralhas criava um falso efeito estufa, onde o metal suava e a fumaça se misturava ao céu.
Três soldados aguardavam do lado de fora, imóveis, com as armaduras polidas refletindo as luzes arroxeados cromáticos dos tubos de energia que iluminavam a faixada da taverna formando as palavras “Taverna Neon”, mas com os “a” apagados e o “N” inicial da segunda palavra torto.
— Senhores… — Celina cumprimentou, sem reverência, o tom quase preguiçoso.
O soldado que havia feito o anúncio na taverna deu um passo à frente.
— Agora que já foi oficialmente notificada do desafio, posso lhe dar voz de prisão em nome do Império de Ossuia! — declarou, a voz firme ecoando entre o ferro e o vapor.
Celina arqueou uma sobrancelha, os olhos âmbar faiscando sob o néon.
— Você, Celina — continuou ele —, a que blasfema se autodenominando “ThunderBlade”, está sob acusação de furto e roubo de propriedade intelectual e física pertencente ao Departamento de Pesquisa e Estratégia da Cidade de Ferro.
O soldado deu um passo mais próximo, a mão na empunhadura da lança rúnica negra ao seu lado.
— Devolva imediatamente tudo o que foi subtraído, apresente-se ao exército para demonstrar os frutos das suas pesquisas — e aliste-se oficialmente ao DPE. Caso contrário… será presa.
Celina olhou para a armadura do soldado com a lança e analisou bem os arranhados, eram três cortes precisos e alinhados que quase vararam a placa de metal do peitoral.
— Antes de vir até aqui para tomar uma coça, fez uma visitinha a mais alguém?
O soldado girou a lança entre as mãos e os outros ao seu redor cercaram Celina.
Um puxou um escudo rúnico redondo com a face de um touro esculpida, este era mais velho, com cabelos e barba brancas, uma expressão experiente tomava sua face. Outro puxou uma espada de lâmina pálida, este último chamou a atenção da procurada.
— Hey, esse aí não é o cara que invadiu Lyberion e falhou na missão de resgatar alguma coisa para o império após lutar contra dois príncipes sem ARGUEM? Sério que te deixaram pisar na Cidade de Ferro de novo?
O homem de cabelos negros até altura dos ombros deu um passo mirando o flanco esquerdo de Celina.
— O nome é Ross, e você vai ver porque estou aqui de novo.
— Uma pena seus irmãos não poderem se provar mais uma vez.
Ross se manteve calmo após a provocação, mesmo que ela houvesse atingido.
— Se renda. — O homem de escudo ordenou. — Ou te levaremos a força.
Celina puxou o cilindro de metal de sua cintura, posicionando o polegar nas extremidades do circulo oco do topo do objeto.
— Escudo de um touro? Deve ser o ex-capitão da divisão dois da Muralha Central, Dionísio, o Zodíaco do Touro como já ouvi falar. Parece que o tempo é implacável até mesmo com os mais poderosos, hein?
— Não se iluda, fiz meu papel para este império no meu auge, e como não foi o suficiente para alcançar o Conselho do Imperador, dei meu lugar para os jovens que estão vindo novos e fortes. Sou mais que suficiente para acabar com um estorvo como você.
Celina riu, parecia que havia atingido o ego do velho.
— Engraçado que agora está sendo capacho de um cara com lança que nem sei o nome. Que queda, hein?
— O tenente Oberinus é digno de estar acima de mim na hierarquia, afinal, o potencial dele é maior que o meu um dia já foi. Embora esteja na Muralha de Ferro, não duvido que vá subir rapidamente para a Central.
Oberinus deu um passo à frente.
— Chega. Dêem um passo para trás. Essa mulher já causou muitos prejuízos e trouxe desonra para sua laia. Eu cuidarei dela pessoalmente, a levarei sobre custódia e a lançarei aos pés do conselho para que seja julgada e a Coroa de Edgar possa extrair as informações de seus projetos que possam ajudar o império em um futuro próximo.
— Sua laia? Quer dizer Órfão? — O tom de Celina mudou.
Ela pressionou um botão do cilindro de metal em sua mão e um zumbido rompeu o ar em uma luz amarelada envolta de raios que se retorciam e se solidificavam em uma lâmina de energia.
— Não deveria ter dito isso.
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