Índice de Capítulo

    Dois a três capítulos novos toda semana!

    Siga nosso Discord para ver as artes oficiais dos personagens e o mapa do continente!

    Nos céus escuros e turvos uma cortina feita da fumaça das chaminés, forjas e indústrias da Cidade de Ferro, começou a vir uma garoa fina.

    Na rua ao lado da Taverna Neon, um CSR cromado em preto e vermelho, de desenho robusto e rodas duas vezes maiores que o comum, aguardava com a porta traseira gradeada entreaberta.

    Dentro, um homem magro, porém de músculos firmes, tentava se acomodar. Óculos marrons escuros embutiam-se no rosto pardo; o cabelo negro encaracolado enroscava-se nas grades, e ele resmungava baixo. As mãos estavam algemadas por correntes que também prendiam os pés.

    Um estalo seco anunciou o movimento da porta traseira. O brilho pálido da manhã, tímido entre as nuvens carregadas, invadiu o compartimento.

    — Levanta daí, Haron. — A voz feminina cortou o ar como lâmina.

    — Ah, Celina, finalmente. — Ele se arrastou para fora do CSR, erguendo-se com dificuldade, ainda preso pelas cordas nos pulsos e nos calcanhares. —Quando soube que os soldados estavam atrás de você, eu sabia que era só questão de tempo até você vir me resgatar.

    Celina sorriu por cima do capuz. Com um canivete, cortou as amarras com movimentos rápidos e secos.

    — Você devia agradecer ao seu irmão — disse, sem paciência. — O Hiorran que pediu pra eu livrar seu couro. De novo.

    — Não me fala daquele invejoso. — Haron esticou as costas, aliviado. — Aposto que reparou pelas marcas das minhas lâminas na armadura vermelha do cara com a lança, aquele puto egocêntrico. Por acaso foi ele quem te encontrou?

    O rosto de Haron escureceu quando notou um dos soldados que o prendera parado logo atrás de Celina, observando a cena.

    — Ei — murmurou Haron, desconfiado —, o que esse cara está fazendo aqui?

    — Vamos pra casa. — Celina respondeu, com voz curta, já guardando o canivete.

    — Calma — Haron ergueu as mãos, ainda meio tenso —, esse aí é confiável?

    — Estaria morto se não fosse. — Celina apenas respondeu, fria, os olhos varrendo a rua.

    O soldado que apoiava as costas na parede, ao lado de uma grande lixeira verde metálica com rodas na base, deu um passo à frente.

    — O nome é Ross.

    — Ah, Ross… o único sobrevivente do fiasco em Lyberion. — Haron ergueu uma sobrancelha, provocando. — Não esperava te ver dentro dessas muralhas outra vez.

    — Pois aqui estou. — Ross respondeu, seco, antes de virar o olhar para Celina. — Hey, trombadinha, vamos levar isso como? — apontou para a lixeira.

    Haron franziu o cenho.

    Pelo tom do soldado, entendeu que o conteúdo ali dentro não era exatamente lixo.

    — Aposto que você tem as chaves de ignição dessa belezinha — disse Celina, abrindo a porta do CSR —, já que não achei nada nos outros dois corpos.

    O interior se revelou em um estofado de couro preto impecável. O cheiro de material novo escapou do veículo, quase destoando do ar metálico e úmido da rua.

    — O pessoal do exército da elite ossuiana vive bem, hein? — Haron comentou entre um assovio.

    Enquanto Celina vasculhava o painel, o olhar de Haron caiu sobre o bolso atrás do banco do motorista. De lá, puxou uma manopla de ferro negro, gravada com runas que pulsavam em vermelho apagado.

    — Aí está, minha querida. — Ele sorriu.

    Ao vestir a manopla na mão direita, o brilho das runas reacendeu. Quando cerrou o punho, três garras de metal vermelho curvas e energia ígnea se projetaram, crepitando como lâminas em brasa.

    — Que saudade… — murmurou, admirando o reflexo flamejante nas próprias pupilas.

    Celina lhe deu um tapa leve na nuca.

    — Para de namorar seu ARGUEM e vai amarrar aquela lixeira no CSR. Vamos levar nossos espólios pra casa.

    — Deixa comigo! — Haron respondeu, animado, usando as mesmas cordas que o haviam prendido para amarrar a lixeira ao para-choque do veículo.

    Celina se virou para Ross, o olhar frio como aço.

    — Você. — Apontou para ele. — Dirige.

    Ross assentiu em silêncio, contornando o CSR até assumir o volante.

    — Vai mesmo dizer a alguém que acabou de conhecer onde fica o esconderijo dos Vagalumes de Ferro? — perguntou, com um olhar enviesado, enquanto ligava o motor.

    — Vou. — Celina cruzou os braços. — Se aquele cara confiou em você para executar o velho Zodíaco do Touro e o seu pupilo da Lança do Ego, então não tenho motivo pra duvidar.

    Ross desviou o olhar por um instante. De fato, aquela pessoa não confiaria tamanha tarefa a qualquer um.

    — Siga em frente — ela ordenou, recostando-se no banco. — Pegue a rua principal. Aposto que ninguém vai estranhar um soldado do exército dirigindo um carro do exército.

    O motor rugiu. A luz dos néons refletiu no para-brisa e pintou o rosto de Celina de azul e vermelho conforme o CSR avançava pela avenida onde a chuva já caia freneticamente.

    O CSR serpenteava pelas ruas bem asfaltadas, ladeadas por passeios e vitrines reluzentes. Em contraste com as cidades anteriores, aquela parte da Cidade de Ferro exibia um ar moderno, quase luxuoso.

    — Vire ali. — disse Celina, apontando para uma viela estreita e pouco movimentada.

    Ross obedeceu, franzindo o cenho. — Isso vai ser interessante — murmurou. — O exército ossuiano passou vinte anos tentando achar a base dele dentro do nosso território. Reviramos cada rua, cada viela, demolimos metade das cidades… e nunca encontramos nem um rastro.

    “O segredo de quem sabe tudo sobre os outros é fazer com que ninguém saiba nada sobre ele.”

    A voz ecoou na mente de Ross, fria e firme como aço. Ele freou bruscamente o CSR ao se deparar com uma parede sólida no final da rua sem saída.

    — Calma. — disse Celina, sem pressa. — Ele gosta de fazer isso com os recém-chegados. Só pra mostrar que pode entrar na sua mente quando quiser… e descobrir suas intenções.

    — Isso aí. — Haron riu, com um tom entre o divertido e o ameaçador. — Se tiver tramando alguma coisa, é bom repensar. Porque ninguém sai daqui se ele não quiser.

    De repente, o som metálico de travas se espalhou. As rodas do CSR, e até a lixeira verde acoplada a ele, foram presas por ganchos invisíveis. Estalos reverberaram pelo solo. O chão sob o veículo começou a vibrar, soltando vapor pelas frestas.

    Então veio o ranger pesado de pistões. O chão inteiro desceu, como um elevador de concreto. Luzes piscavam nas bordas da estrutura enquanto a rua lá em cima desaparecia, fechando-se sobre eles.

    Quando o CSR parou, estavam no subsolo. À frente, uma rampa se estendia em declive, iluminada por faixas de luz amarelada.

    Houve um estalo seco, e as travas se soltaram. Ross acelerou devagar, guiando o veículo por um corredor circular. As lâmpadas se acenderam em sequência, revelando uma entrada monumental de azulejos prateados, dourados e vermelhos, tudo refletindo uma luz branca ofuscante que tornava difícil distinguir o chão do teto.

    Foi então que Ross o viu.

    O rosto envelhecido, mas vívido e firme, o olhar de quem já havia feito muitas coisas que não podia se dar ao luxo de se arrepender.

    — Bem-vindo à Toca de Ferro. — Anunciou Blando, com um sorriso que misturava poder e cansaço.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (3 votos)

    Nota