Índice de Capítulo

    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    Com o feitiço de grande escala de Flügel, o rumo da batalha estava caminhando para o melhor possível. Dellia e seu exército avançavam com uma velocidade impressionante. Os magos auxiliavam, concentrando feitiços de dano em área nos monstros mais distantes, garantindo que a linha de frente de Tournand não fosse atingida e pudesse avançar sem medo.

    O exército aliado avançou com um vigor renovado. Embora precisassem progredir devagar por conta das poças de gelo, eles derrubavam os gigantes e esqueletos imobilizados com uma velocidade impressionante.

    Do alto, Flügel analisava seu feito. Ele só era capaz de conjurar o cumulonimbus médio, mas ao forçar sua mana a limites nunca antes alcançados, conseguira aumentar seu tamanho e potência para cobrir grande parte do campo. A magia do gelo, que não estava em seu repertório formal, era apenas a drenagem brutal do calor térmico das moléculas de água, uma combinação perigosa que esvaziou suas reservas mais do que em qualquer batalha anterior.

    O cansaço o atingia em ondas, uma exaustão que ele havia esquecido o quão debilitante era quando a mana caía tanto.

    Vendo o quanto tinha conseguido ajudar na investida de Dellia, Flügel decidiu que era hora de voltar para o lado de Borghen. Olhou ao redor. Não havia como descer da montanha rapidamente. Ele teria que ir voando.

    Agitou sua pouca mana, mas então ele a recolheu, deixando-a apenas como uma tênue reserva. — Eu fiz o bastante por enquanto… — Sim… ele não precisava se matar dessa maneira. Todos tinham um momento de descanso, ele se daria alguns minutos para descansar e tentar acordar Nytheris. Estava cansado, a sensação do seu próprio corpo esfriando ainda o cercava.

    Sentando-se no fundo de seu raso túnel, ele fechou os olhos, concentrando-se em absorver a mana global.

    O processo era lento, mas revigorante. Sua mente estava turva e o corpo reagia à falta de mana como se estivesse doente. Ele sentiu a mana do ambiente fluir para dentro dele, uma corrente constante que tentava preencher seu reservatório quase esgotado. Cada gota de mana absorvida era um alívio, mas ele precisava de muito mais para sequer sustentar o voo, quanto mais reativar Nytheris. 

    Enquanto tentava alcançar um nível mínimo de mana, a fúria do campo de batalha chegava até ele sem dificuldade. Ele ouvia os gritos distantes de triunfo de Tournand, seguidos de estalos, indicando que os monstros estavam superando o efeito do gelo. 

    Apertou o punho esquerdo, onde Nytheris estava. Flügel teorizava que o teleporte o havia levado para além da distância segura do seu vínculo. Nessas viagens curtas, Nytheris perdia apenas uma quantidade ínfima de energia ao ser puxado de volta. Contudo, devido à distância extrema, a criatura começou a vazar mana a uma taxa descontrolada. Por não possuir um reservatório próprio, Nytheris esgotou sua energia interna completamente para sustentar a conexão forçada até Flügel. 

    Ele estava com medo. E se Nytheris tivesse perdido suas memórias? Afinal, Nytheris teria seu corpo reconstruído. Mesmo sendo Nytheris, uma pessoa só é quem ela é por conta de sua vivência e memórias, e assim que alguém perdesse suas memórias, era como se ela tivesse morrido, não? 

    — Não… sendo Nytheris, sempre podemos criar novas memórias. Contanto que você esteja bem, eu estou feliz. — Acariciou seu próprio punho, como se esperasse que seu familiar pudesse sentir a leve carícia e talvez acordar, uma esperança boba. 

    Ele sabia que ele acordaria quando tivesse mana o suficiente. Seu momento de descanso foi perturbado quando bolas de fogo caíram do céu como estrelas cadentes. Elas atingiam o solo próximas demais das tropas aliadas, engolindo homens e mulheres em labaredas. Os gritos de dor ecoavam como um coro de agonia. 

    Os magos tiveram uma resposta rápida: alguns usaram bolas de água sobre os soldados, fazendo com que apagassem o fogo e diminuíssem o calor; outros tentaram interceptar as bolas de fogo com magia de água e barreiras de terra. 

    — Que porra é essa…? — rosnou Flügel, aproximando-se da borda do túnel. De onde estava, podia ver o caos. A confiança que antes dominava o campo fora substituída por puro terror. Os soldados se debatiam, tentando apagar as chamas que devoravam seus corpos. Mas, mesmo assim, não recuaram. Sob os gritos de Dellia, que os incitava a avançar lembrando-os de que, se perdessem, suas famílias morreriam, assim o medo se transformava em combustível. 

    Dellia estava à frente de todos. Seu braço esquerdo havia derretido do ombro ao cotovelo, o cabelo chamuscado, a bochecha enegrecida. Mas seus olhos ardiam mais intensamente do que qualquer fogo naquele campo. Ela avançava, sem hesitar, brandindo sua espada com a força de quem se recusa a morrer enquanto ainda houver algo a proteger.

    Dellia não lutava por glória nem por honra, ela lutava porque sabia que, se parasse, todos atrás dela morreriam. Ela precisava carregar o fardo de ser a luz guia para todos aqueles soldados. Ela precisava ser a soldada que merecia ser seguida.

    Flügel não sabia o que fazer. Ele tinha mana o suficiente para voar até o topo da montanha e chegar ao Lich, mas para quê? Não tinha mais parte de sua armadura nem uma espada, e mesmo com a mana jamais conseguiria matar o Lich sozinho. Sem sua mana, ele seria morto em segundos.

    O Lich poderia tê-lo matado em todos os seus encontros se quisesse, mas ele valia mais vivo do que morto. Por isso ainda conseguia respirar. A sensação de estar vivo apenas porque o outro estava permitindo lhe causava um aperto em seu peito: ele nunca seria forte o suficiente para andar por conta própria?

    Todos querem controlar sua vontade, ele sempre esteve sendo preso por algo. Seja pelos seus próprios demônios ou por entidades estranhas.

    Uma forte ventania o forçou a semicerrar os olhos e flexionar os joelhos, com medo de cair do túnel raso onde se abrigava. O bater de asas de Severus dispersou algumas nuvens, enquanto ele criava uma sombra sobre todo o campo de batalha. Sua cauda fez um movimento de chicote, e a ponta dela, que era parecida com uma maça de cristais, acertou o topo da montanha. O impacto causou uma chuva de pedras, terra e tudo o que estava no cume.

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