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    “Ei, isso é algum tipo de piada, Fernando?” Arslan perguntou, tentando forçar uma risada, mas logo o rapaz pálido olhou para ele com uma expressão calma e um leve sorriso.

    Esse cara, ele realmente não está brincando! Como alguém assim… pensou, olhando para o enorme sujeito.

    Ao lado, a mulher chamada Camille também tinha um rosto assustado, quando olhou para Arslan com uma expressão estranha como se dissesse ‘eu te avisei’.

    Após ter a venda removida de seu rosto, o homem alto e levemente esguio olhou ao redor, com um olhar vazio, mas agressivo. Seus olhos logo pousaram no jovem pálido.

    “Tenente Fernando.” disse, quando puxou levemente seus braços para frente, fazendo os Soldados ao redor entrarem em pânico, quando puxaram de volta, fixando-o no lugar. Alastor olhou o entorno, mas não se importou, focando novamente no rapaz. “Então era realmente você que estava por trás da minha transferência. O que quer de mim?”

    O jovem Tenente tinha uma expressão calma, mesmo diante do olhar pesado e intimidante do gigante.

    “Acho que você sabe… Alastor, trabalhe para mim.”

    Ouvindo as palavras do rapaz, o gigante não teve qualquer mudança de expressão, quando respondeu quase que imediatamente:

    “Eu recuso.”

    Todos ao redor, que estavam perplexos pela proposta inusitada do rapaz, de recrutar um prisioneiro, agora ficaram novamente confusos, ao verem o mesmo recusando.

    O que exatamente está acontecendo aqui? Arslan se perguntou, enquanto seu olhar divergia entre o gigante e o rapaz pálido.

    “Então você prefere voltar para a prisão? Sabe que vão te executar em breve, não?” Fernando falou, com uma voz calma.

    Apesar das palavras provocativas do jovem Tenente, o sujeito gigante não parecia afetado, como se já tivesse aceitado seu destino, sem demonstrar qualquer inclinação a mudar de opinião.

    Embora o homem parecesse imutável em sua decisão, Fernando não desistiu.

    “Entendo. Parece que seu medo pelas pessoas que te mandaram me matar é maior do que sua vontade de viver.” disse, com uma voz calma.

    Ouvindo isso, Arslan, Camille e os Soldados ao redor ficaram chocados.

    “T-tenente… Esse homem tentou te matar?” A mulher loira exclamou, hesitante. “Se é assim, por que está tentando recrutá-lo? Isso não faz o menor sentido!”

    O rapaz pálido olhou em sua direção, quando sorriu levemente.

    “Porque ele é forte e também… não é uma má pessoa.” respondeu brevemente, sem dar qualquer explicação adicional.

    Enquanto todos ao redor ficavam ainda mais confusos com essa resposta, a sobrancelha de Alastor se ergueu em surpresa, mostrando uma leve alteração de humor pela primeira vez. 

    Logo Fernando continuou. “Alastor, você com certeza não teme a própria morte, mas o mesmo pode ser dito quanto a vida da sua irmã?”

    Quando essas palavras foram ditas, os olhos do gigante mudaram, quando veias se formaram em seu rosto e seu braço direito moveu-se como um chicote, causando um forte solavanco, puxando dois Soldados junto num movimento rápido e explosivo.

    Bang!

    O soco, que visava acertar o rosto do rapaz pálido, foi facilmente parado por sua palma. Os olhos frios de Fernando observaram o homem, que pela primeira vez tremeu diante de seu olhar.

    “Não me entenda mal, não estou te ameaçando, apenas expondo os fatos.” A voz calma do jovem Tenente soou, como se ele não fosse afetado pelo ato do homem. “Era por isso que você obedecia às ordens daquelas pessoas, certo? Eu andei pesquisando a seu respeito. O motivo da sua prisão foi que você matou estrangulado um Capitão recém-nomeado, que cometeu uma série de crimes que vinham sendo sorrateiramente encobertos, como assassinar mulheres avalonianas. E claro, também sei sobre sua irmã, Kiara.”

    E-esse monstro matou um Capitão usando apenas as próprias mãos?! Todos ali exclamaram mentalmente, completamente aterrorizados.

    “Eu não acho que esteja errado, matar um cretino que usa sua posição para prejudicar inocentes, é um ato louvável que poucos teriam coragem de fazer.”

    Ouvindo tudo isso, Alastor parecia inquieto, perdendo claramente a compostura.

    Anteriormente, Fernando havia instruído Argos a reunir informações sobre o gigante e sem grandes dificuldades soube de sua história por meio de relatórios não-oficiais, que não constavam no Salão, provindos dos documentos de algumas Guildas destruídas de Garância que vigiavam as ações do Salão. Ele sabia que mesmo com as provas incriminadoras apresentadas pelo gigante na época, comprovando os crimes do Capitão, Alastor ainda havia sido preso injustamente.

    Mesmo que o homem tivesse revelado as ações cruéis do Capitão morto, do ponto de vista dos Legionários, não mudava o fato de que ele havia se rebelado na cadeia de comando e agido por conta própria. Além de que, muitos nas altas patentes acreditavam que não valia a pena perder um Capitão por causa de algumas meras civis avalonianas.

    Também descobriu sobre o fato do homem ter uma irmã que havia chegado recentemente a Garância. Após saber disso, conseguiu deduzir com facilidade sua situação, afinal, se ele fosse apenas um simples assassino, o sujeito não teria se importado em conversar com ele para aliviar sua culpa.

    “Ouça bem. Se me servir, você terá sua liberdade e irei garantir moradia e segurança aqui no Batalhão Zero para sua irmã da melhor forma que eu puder.” garantiu, o que fez Alastor ter uma forte reação e recuar o braço.

    Vendo isso, o rapaz manteve a mesma expressão, mas sorriu consigo mesmo.

    Hora de martelar, enquanto o ferro está quente! pensou.

    “Claro, se não quiser, basta fingir que nunca ouviu nada e te mando de volta de onde veio e talvez você viva mais um dia ou dois.” falou, de forma direta, contendo significados claros. Se Alastor retornasse para a prisão de oficiais, ele sequer viveria tempo suficiente até sua execução, já que aqueles que estavam em conluio com Herin certamente o matariam secretamente para apagar evidências.

    Quanto mais o jovem Tenente falava, mais o gigante parecia ficar irritado, porém, depois de um breve momento de silêncio, toda a tensão em seu rosto diminuiu, quando olhou para ele  diretamente em seus olhos.

    “Você não teme que eu tente te matar novamente?” Alastor perguntou.

    Em resposta a isso, Fernando deu um passo a frente, quando ergueu a mão, apontando o dedo indicador e do meio em direção ao sujeito.

    Ziii!

    Um intenso chiado soou, quando usou sua Habilidade de Vibração e logo os dois dedos pareciam ir de um lado ao outro, quase translúcidos, quando o rapaz atacou.

    Swish! Swish!

    Alastor ficou completamente imóvel, mesmo diante da investida.

    Crack! Plac!

    Quando Fernando terminou o movimento com seu braço, uma a uma, as correntes que prendiam o gigante caíram aos seus pés.

    “O-o quê?!” Os Soldados ao redor ficaram estarrecidos e assustados, quando caíram para trás, segurando o que sobrou das correntes metálicas.

    Mesmo Arslan e Camille, inconscientemente, deram um passo para trás.

    “É bem simples.” O jovem Tenente falou, com um semblante calmo e confiante. “Se tentar algo, terei que te dar uma surra novamente.”

    “…”

    Quando essas palavras foram ditas, todos ficaram em um silêncio absoluto, mesmo Alastor pareceu estar atônito. Mas isso só durou um instante. enquanto olhava para o pequeno Tenente a sua frente.

    “Hahahahaha!” O sujeito gigante e quase esquelético, caiu em uma gargalhada intensa. “Isso seria algo divertido.”

    Fernando não disse nada em resposta a isso, apenas riu junto. A verdade é que a luta brutal que teve com o sujeito na cela, ainda estava gravada em sua mente, fazendo seu coração palpitar de emoção e ele sabia que era o mesmo para o lunático a sua frente.

    Enquanto ambos riam, Arslan olhou para as correntes no chão, parecendo chocado.

    Ele realmente as destruiu apenas com as mãos?

    Deve-se saber que as algemas Ardot eram um metal muito difícil de ser quebrado e mesmo se não estiver sobre os efeitos dela, a maioria dos ataques não teria tanto efeito. Mas Fernando havia realmente as destruído como se não fossem nada de mais! O sujeito sentiu que isso não era algo que um Tenente que havia sido nomeado há pouco tempo deveria ser capaz de fazer.

    Logo o sujeito gigante abaixou-se, quando colocou um dos joelhos no chão, apoiando um dos braços ao chão e o outro sobre o joelho.

    “Eu, Alastor Caine, prometo servi-lo, Tenente Fernando, enquanto for capaz de manter sua promessa.”

    Ao longo de todo o dia, o Batalhão Zero esteve extremamente movimentado, enquanto toda a cadeia de comando, que não estava em missões externas, focou-se no processo de triagem dos candidatos.

    Sentada na mesa, Theodora estava lendo alguns relatórios, enquanto ao seu lado, Thom, Damon e Gabriel a auxiliavam.

    “Ao todo, mesmo com os desistentes, foram mais de 900 pessoas. Como a maioria são Soldados de outras tropas e mercenários, os atributos-base deles são realmente ótimos, mas é difícil cumprir com as exigências do Chefe. Como deveríamos avaliar suas personalidades com base em testes de perguntas e respostas?” Thom indagou, frustrado.

    Cada pessoa havia passado por um exame prático de Atributos, bem como um questionário com algumas perguntas aleatórias. Obviamente, no relatório, também constava a opinião do avaliador, que eram os Cabos ou Oficiais, bem como Ilgner, que ficou a frente do trabalho de testar a capacidade de luta deles.

    “Não precisa se preocupar muito com isso. Apenas foque em aprovar todos que não tiverem problemas, teremos mais triagens posteriores. O objetivo de hoje é apenas fazer uma filtragem inicial. Se achar alguém estranho ou aparentemente problemático, apenas o descarte e passe para o próximo.” Gabriel falou, parecendo indiferente a todo o trabalho, quando jogou a folha de sua mão em uma das duas pilhas, onde todas estavam demarcadas com ‘aprovado’, enquanto pegava outra.

    Ouvindo isso, Thom suspirou, abatido.

    Clac!

    Nesse momento, a porta foi subitamente aberta, chamando a atenção de todos na sala.

    “Líder?” Theodora falou, ao ver Fernando na porta, a mulher logo abriu um sorriso e estava prestes a cumprimentá-lo, quando sua expressão mudou, quando viu um enorme sujeito, logo atrás do rapaz abaixar-se para atravessar a porta. “Quem é esse?”

    O jovem Tenente não respondeu à pergunta, mas aproximou-se da mesa. Vendo as duas enormes pilhas de papel do lado, pegou um punhado de papéis da pilha de aprovados.

    Todos se entreolharam, confusos, enquanto observavam com desconfiança o sujeito gigante e magro atrás dele, que parecia uma muralha viva, mesmo com seus braços e pernas extremamente finos.

    Fernando rapidamente começou a passar as folhas uma após a outra, dando apenas uma única olhada em cada. Logo começou a descartar algumas, sem qualquer hesitação em seu rosto.

    “Tenente?” Gabriel perguntou, surpreso. Mesmo achando estranho o silêncio sobre quem era o enorme sujeito atrás dele, ficou ainda mais incomodado com o descarte de alguns dos candidatos “Nós já avaliamos esses, não há motivo para recusá-los.”

    Ouvindo isso, Fernando olhou para o homem, então pegou uma das folhas que ele havia recusado.

    “Aqui, analisando as respostas e perfil dessa pessoa, qual sua opinião sobre ela?” perguntou, ao mostrar o teste de uma mulher.

    Gabriel e os demais ficaram confusos, quando todos se levantaram, aproximando-se e analisando as folhas dessa candidata específica.

    Nela mostrava que seus Atributos-base beiravam em torno de 8 a 9 pontos, o que não era algo bom nem ruim, mas adequado para um Soldado capaz.

    Além disso, para eles a maioria das respostas lhe pareciam boas. Perguntas como ‘O que fazer em uma situação de emboscada? Recuar, atacar ou reagrupar e defender?’ e a reposta da mulher era de reagrupar e levantar uma defesa, enquanto aguardava orientação de um superior. Essa era uma resposta padrão, mas que mostrava que ela tinha uma noção básica de formações militares. Se recuassem enquanto desorganizados, poderiam ser aniquilados pelo inimigo com ataques pelas costas, mas se atacassem de forma imprudente, também poderiam estar caindo em sua armadilha, então a opção mais segura certamente seria reagrupar.

    “Não me parece haver nada de errado, senhor.” Damon falou ao lado, também confuso com a decisão de descarte da candidata.

    Suspirando, Fernando apontou para uma pergunta especifica, uma das que ele próprio havia formulado.

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