Capítulo 628 - Planos destruídos
‘Caso haja dois aliados lutando a sua frente, um extremamente ferido, mas ganhando o combate e outro aparentemente saudável, mas em desvantagem, qual dos dois você apoiaria?’
Theodora e os demais pareciam em dúvida, já que era uma pergunta aparentemente sem solução, que nem eles próprios saberiam qual deveria ser a correta. Como exatamente iriam julgar a mulher com base nisso?
Na resposta, a candidata escolheu ajudar o saudável, pois segundo ela ‘ele teria mais chances de sobreviver’. Do ponto de vista deles, parecia uma resposta fundamentada e com sentido, fazendo-os se perguntar o que havia de errado com isso.
Após isso, o rapaz apontou para outra.
‘Ao ter que escolher entre dois inimigos para lutar, um experiente, mas ferido, e um novato, mas em plena forma, qual dos dois você engajaria?’ A resposta da mulher foi que optaria pelo novato, por ser mais fácil de eliminar.
Logo indicou outra.
‘No campo de batalha, se você estivesse cercada e tivesse dois companheiros feridos, um deles gravemente ferido e outro com apenas machucados superficiais, mas apenas uma Poção de Cura disponível, como procederia nessa situação?’ Nessa pergunta, a mulher respondeu que daria a poção ao menos ferido, pois poderiam unir forças contra os inimigos ou recuar.
Após isso, Fernando apontou mais uma série de perguntas, principalmente das que ele havia formulado. Elas estavam espalhadas ao longo do questionário, do início ao fim.
“Individualmente, cada questão não diz grande coisa em relação à pessoa, pois independente da decisão, não tem certo ou errado nessas situações. Porém, há um padrão comportamental em suas respostas. Não importa a situação, ela sempre opta por descartar os feridos ou mais fracos. Também sempre decide pelo alvo ou ação que exige o menor esforço de sua parte, nunca cogitando lidar com a maior ameaça, mas a que lhe é mais conveniente. Vocês acreditam que se essa pessoa estivesse lutando conosco e estivéssemos prestes a sermos derrotados, ela lutaria até o amargo fim, ou desertaria em meio a batalha?” O jovem Tenente perguntou, com uma expressão séria.
Ouvindo isso, todos pareciam ter entendido o ponto de vista do rapaz. Mesmo que a mulher fosse uma boa Soldado com um bom treinamento, de nada adiantaria se ela não demonstrasse as qualidades que almejavam, como lealdade e companheirismo, dois pilares fundamentais do Batalhão Zero.
Nesse momento, Gabriel, que havia achado as perguntas de Fernando sem sentido e até um pouco idiotas, teve uma mudança de opinião. Apesar de parecerem simples e até um pouco infantis, cada pergunta foi feita para apanhar um pouco da personalidade do candidato ao longo do questionário e lentamente montar um quebra cabeça sobre quem eles realmente são e seu modo de agir.
Mesmo que mentissem ou se fingissem de bonzinhos na maior parte das respostas, eventualmente cometeriam alguns deslizes.
Ele realmente pensou nisso tudo? Gabriel pensou, intrigado. Se as perguntas fossem feitas uma após a outra, seria fácil notar a intenção delas, mas como estão distribuídas, é mais difícil ligar os pontos.
Nesse momento, o rapaz pálido continuou:
“Pessoas como essa não necessariamente são más, mas foram condicionadas e treinadas para agir dessa forma pelas suas experiências e situações.” Fernando explicou, com um rosto sério. Desde que chegou em Avalon, ele entendeu bem esse ponto. Avalon revelava o melhor e o pior de cada um e se isso não fosse o suficiente para sobreviver, obrigaria o indivíduo a quebrar a si mesmo e se reformular caso quisesse sobreviver. Ele próprio havia passado por esse processo, assim como cada pessoa ali naquela sala. “Obviamente, em alguns casos, é possível reformar esse tipo de mentalidade se houver tempo suficiente, mas não somos nenhum tipo de instituição de caridade e nem temos tempo para isso.” declarou com indiferença, quando novamente descartou a folha da mulher.
Após isso, pegou mais uma folha, de outro candidato que havia recusado.
Alastor, que estava logo atrás, ouviu e observou tudo em silêncio, interessado no modo de pensar pouco convencional do rapaz pálido.
“Além das perguntas, também precisamos avaliar a opinião dos avaliadores, que testaram os candidatos pessoalmente. Como aqui.” indicou, apontando para a próxima folha.
‘Candidato com grande experiência em combate, mas seu modo de agir e lutar são estranhos, sempre visando pontos vitais, como testículos, artérias ou tendões. É como se essa pessoa estivesse acostumada a ferir outros seres humanos. Além disso, seu modo de responder às questões soou vago e pouco natural. O individuo em questão não me passou uma boa impressão.’
Essa era uma avaliação de Lenny, dando detalhes sobre o estilo de luta do homem.
“Não devemos selecionar apenas com base nas respostas, mas também do que aqueles que lidam diretamente com os candidatos puderam ver.” O jovem Tenente falou. “Vocês entenderam o porquê de termos que recusar essa pessoa?”
Damon, como um Sargento experiente e com uma longa vivência em Avalon, identificou imediatamente o problema.
“O biotipo de Orcs e outras criaturas têm semelhanças com o dos Humanos, mas, ao mesmo tempo, são bem diferentes. Se alguém tem familiaridade profunda com isso, significa que o candidato está acostumado a matar outras pessoas. Então esse homem pode ser algum tipo de criminoso ou até um saqueador.” O velho homem declarou, com uma expressão escura, ao pensar que quase deixaram alguém assim passar nas avaliações iniciais.
Ouvindo isso, Gabriel e Thom ficaram envergonhados, pois estavam pulando o resumo final da avaliação, tirando suas próprias conclusões com base nas respostas mais critícas.
“Se é assim, deveríamos tomar medidas, Chefe?” O Sargento indagou, apreensivo, pois lembrava vagamente da folha e achava que poderia ser uma das suas, fazendo-o sentir-se culpado e determinado a resolver isso. “Se essa pessoa é uma criminosa, poderíamos prendê-lo e fazê-lo confessar!”
Theodora, que estava ao lado, balançou com a cabeça em negativa, declinando da ideia.
“Prender alguém apenas por suspeitas quanto a forma de lutar? Não tem como fazermos algo assim, seríamos penalizados pelos nossos inimigos no Salão da Recepção. Além disso, se começássemos a prender candidatos, quem mais iria querer fazer os testes para se juntar ao Batalhão Zero no futuro?”
Ao ouvir isso, Thom coçou a cabeça, envergonhado, entendendo que havia sugerido algo idiota.
“Algum de vocês tem mais alguma dúvida quanto as minhas rejeições?” Fernando perguntou, com um rosto calmo, ignorando o vexame do Sargento.
Todos negaram com a cabeça. Anteriormente, ao ver o jovem Tenente apenas passando folhas uma após a outra, recusando os candidatos, pensaram que ele estava apenas sendo leviano ou imprudente, mas agora entenderam que sua avaliação não só não era rasa, como levava em conta muito mais fatores do que eles próprios poderiam pensar.
Como ele conseguiu ler e entender tudo aquilo tão rápido? Gabriel, Thom, Damon, Theodora e mesmo Alastor, que estava logo atrás, não puderam deixar de pensar, intrigados.
Fernando havia dado apenas um leve vislumbre em cada documento, mas havia assimilado tantas informações. Isso não era algo que uma pessoa deveria ser capaz de fazer, certo?
Nesse momento, Gabriel ficou pensativo.
“Mesmo que peguemos algumas pessoas ruins com esses métodos, pode ser que alguns mais inteligentes notem a armadilha e respondam de acordo, certo? Se eles tiverem competência suficiente para burlar isso, não tenho certeza se seremos capazes de notá-los nas próximas etapas.”
Mesmo que houvesse outras entrevistas, nem todos maníacos ou pessoas de má índole revelariam seus traços facilmente e todos sabiam disso. Além do mais, nem todos precisavam ser algum tipo de psicopata para trazer problemas ao Batalhão Zero. O caso de Ruther Eular, que expôs o segredo da Sopa Revitalizante a estrangeiros por ser vencido por sua ganância pessoal, era um exemplo disso.
“Se a questão for apenas identificar se alguém é um cretino ou não, acho que posso ajudar. Afinal, sou especialmente bom nisso.” Uma voz grave e imponente soou, fazendo todos olharem em sua direção. Não vinha de outra pessoa se não o sujeito esquelético e gigante que Fernando havia trazido.
Gabriel franziu a testa ao ver isso e mesmo Theodora e Damon não pareciam satisfeitos. Eles nem conheciam essa pessoa, por que estava se metendo em seus assuntos?
“Quem é esse, Líder?” A Medusa indagou, observando o sujeito com desconfiança.
“Oh, esse é…”
Fernando estava prestes a explicar, mas Alastor interviu.
“Eu sou Alastor Caine, tentei matar o Tenente Fernando na prisão há alguns dias. Prazer em conhecê-los!” O sujeito gigante falou, com um sorriso intimidador.
Ao ver o homem falar isso, o jovem Tenente suspirou.
Esse cara… ele realmente gosta de problemas? pensou, sem entender o que se passava em sua cabeça.
Fernando estava planejando esconder o incidente que tiveram na prisão de oficiais, para que Alastor não fosse rejeitado pelos demais, mas agora seu plano havia sido destruídos pelas mãos do próprio sujeito.
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