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    Ouvindo a afirmação do sujeito gigante, todos se entreolharam, pensando se isso era algum tipo de piada, mas ao verem que Alastor não deu qualquer indicativo de que era brincadeira e mesmo Fernando havia ficado calado, perceberam que o sujeito realmente estava falando sério!

    Theodora semicerrou os olhos, quando moveu o pulso, retirando uma adaga e apontando em direção ao gigante.

    “Líder, o que esse homem disse é verdade?”

    Vendo que não seria mais possível esconder o assunto, Fernando deu de ombros.

    “Sim, é verdade.” confirmou, com alguma indiferença.

    “I-isso…” Damon gaguejou, olhando para o enorme sujeito. “Se ele tentou te matar, então por que…?”

    Gabriel e Thom também pareciam confusos, não entendendo o que estava acontecendo.

    Theodora estava prestes a se mover em direção ao homem, quando o jovem Tenente colocou a mão à sua frente, interrompendo-a.

    “É uma longa história. O que vocês precisam saber é que ele não é uma pessoa ruim. Na verdade, eu pessoalmente o recrutei. A partir de agora Alastor fará parte do Batalhão Zero.” afirmou.

    Todos no local ficaram estarrecidos ao ouvirem isso. Não só o homem havia tentado matá-lo como Fernando ainda o recrutou?!

    Independente da maneira como ouvissem isso, era algo completamente absurdo!

    “Desculpe, Líder, mas eu não posso concordar com isso!” A mulher exclamou, com um olhar frio em direção a Alastor.

    Fernando levantou uma sobrancelha ao ouvir isso.

    “Está me dizendo o que devo ou não fazer, Subtenente?” indagou, olhando-a com um olhar frio.

    Somente quando o rapaz pálido disse isso é que a Medusa se deu conta de como havia sido rude e desrespeitosa em relação à autoridade de seu líder.

    “Eu… Me desculpe.” Theodora falou ao baixar a cabeça, parecendo frustrada.

    Vendo a situação da mulher, Fernando suspirou internamente. Ele sabia que ela só queria protegê-lo e apreciava esse sentimento. No entanto, ele ainda era o Tenente do Batalhão Zero e suas ordens deveriam ser respeitadas.

    Ele poderia apenas manter as coisas como estavam, mas se ele permitisse que algum sentimento de insatisfação crescesse entre os membros centrais do Batalhão, principalmente com Theodora, sua mão direita, isso poderia eventualmente culminar em uma grande dor de cabeça futura, então resolveu lidar com isso nesse momento.

    “Alguma vez eu errei com algum de vocês?” O jovem Tenente perguntou.

    Todos se entreolharam, sem entender a indagação repentina, mas rapidamente negaram.

    “Não, senhor!”

    “Muitos de nós tivemos nossas questões no passado. Alguns membros atuais do Batalhão Zero até mesmo apontaram suas lâminas para mim. Mas mesmo assim, hoje lutamos lado a lado, porque eu escolhi confiar em vocês, e vocês em mim.” Fernando falou, varrendo seu olhar sobre todos ali. “Então, apenas confiem em mim mais uma vez. Alastor é uma boa pessoa e também é talentoso. Sua presença aqui somente irá fortalecer o Batalhão Zero.” afirmou, cheio de confiança.

    Percebendo que o Tenente estava tão sério sobre isso, nenhum deles, nem mesmo Theodora, ousou questioná-lo novamente ou se opor a sua decisão.

    Na verdade, Theodora entendeu o que o rapaz quis dizer em suas palavras, afinal, quando se conheceram, ela própria era uma espiã dos Elfos Negros que só havia se aproximado dele por achar que poderia ser um alvo adequado para subir na cadeia de Comando da Legião.

    Mesmo após descobrir quem ela realmente era, Fernando não a denunciou aos Leões Dourados e nem mesmo a rejeitou, mas a aceitou verdadeiramente, tratando-a como uma igual.

    O mesmo havia acontecido com outras pessoas dos membros centrais, como Lenny, que desafiou Fernando em seu primeiro encontro ou Argos, que tentou capturá-lo.

    Até mesmo Thom não pôde deixar de se sentir envergonhado, pois ele e Fernando não se davam bem no início, devido a sua própria covardia e egoísmo.

    Se o rapaz pálido fosse intransigente ou alguém mesquinho e rancoroso, muitos ali sequer teriam sido aceitos no Batalhão Zero e talvez até tivessem sofrido as consequências de suas ações.

    Enquanto os membros atuais do Batalhão aceitavam as palavras de Fernando, Alastor tinha uma expressão confusa em seu rosto ao ouvir tudo aquilo. Principalmente sobre ele próprio ser uma boa pessoa, já que não se considerava como tal.

    A verdade é que sabia que se estivesse no lugar do próprio rapaz, jamais o aceitaria em suas fileiras, muito menos daria tantos votos de confiança.

    Qual o problema desse garoto? pensou, sentindo-se estranho com tudo que havia ouvido. Além disso, o que ele quer dizer com talentoso? Eu sou mais velho que ele!

    Normalmente, apenas aqueles mais velhos eram aptos e tinham o direito de reconhecer o talento dos mais novos. Então ver um Tenente tão jovem falar isso sobre ele, o deixou levemente constrangido.

    Gabriel, que estava mais neutro sobre o sujeito, não pôde deixar de ter algumas dúvidas sobre o assunto.

    “Tenente, se me permite. Qual será a posição do senhor Alastor no Batalhão Zero?”

    Já que Fernando havia se dado ao trabalho de recrutar o homem pessoalmente e ser tão enfático sobre sua entrada, Gabriel sabia que a opinião dele sobre o sujeito não deveria ser baixa. Então claramente ele não seria apenas um Soldado comum. No entanto, todas as altas posições estavam ocupadas e restavam apenas algumas poucas vagas para Cabos.

    Ouvindo a pergunta, Fernando ficou em silêncio por um momento, pensativo.

    “Na verdade, Alastor não irá ocupar posições de comando, eu pretendo nomeá-lo como um Tenente Combatente enquanto ainda formos um Batalhão.” afirmou, com uma expressão calma.

    Ao ouvir isso, Theodora e os demais ficaram sem palavras. O próprio Alastor também ficou surpreso com isso.

    A verdade é que mesmo que acreditasse no potencial do sujeito gigante, não o conhecia tão bem, então colocá-lo para liderar tropas sem saber se ele era um bom comandante poderia ser um grande tiro no pé. Logo, dar uma posição de Combatente seria a solução perfeita.

    “T-tenente… não acredito que possamos fazer isso.” Damon interrompeu, parecendo preocupado, acreditando que o jovem Tenente não estava ciente de algumas questões hierárquicas. “Há dois grandes problemas nisso. Somente Capitães Nomeados detém o direito de incorporar um Combatente em suas fileiras e a outra questão é que é necessário ser ao menos um Capitão para se tornar um Combatente real.”

    Diferente das tropas normais, Combatentes normalmente não dispunham de grande autoridade ou subordinados, estando restritos ao comando direto do Comandante da tropa. Somente assumindo posições de liderança em situações extremas. Em suma, eles eram como Soldados de Elite, cuja única função era atuarem em missões designadas.

    Além disso, alguém só se tornaria verdadeiramente um ao atingir a patente de Capitão, logo não existiam Combatentes de patente inferior. O termo ‘Tenente Combatente’ era comumente usado de maneira informal pelas tropas, mas não existia de fato essa patente na hierarquia da Legião. Esses Tenentes Combatentes eram, na realidade, ‘Combatentes em Treinamento’ sendo preparados.

    “Estou ciente. Eu citei ‘Tenente Combatente’ para facilitar o entendimento. Conforme as regras da Legião, um Tenente Nomeado detém o direito de treinar futuros Combatentes, para que possam ter mais estabilidade antes de se tornarem uma Brigada. O único impedimento é que requer a autorização de um General, que raramente aceitam esse tipo de solicitação, mas para nós isso não vai ser realmente um problema.” Fernando explicou, com um leve sorriso.

    Treinar um Combatente era um processo extremamente caro e também poderia desvirtuar possíveis futuros Comandantes, sendo assim, era algo extremamente restrito, praticado principalmente por Generais e às vezes por Capitães Nomeados. Devido a isso, havia inúmeras barreiras que impediam que um Tenente Nomeado obtivesse tal autorização.

    Porém, Fernando sabia que esse não era seu caso. Tanto Dimitri, quanto Zado, eram seus aliados absolutos e não recusariam seu pedido. Logo, não havia qualquer obstáculo para que usassem dessa brecha a seu favor.

    “Um Combatente em Treinamento?” Damon e os demais ficaram confusos com a afirmação do rapaz, mas o jovem Tenente assentiu.

    “Se realmente quisermos nos tornar uma Brigada Nomeada em três meses, precisaremos de Combatentes. Sendo assim, esse é o momento perfeito para nos planejarmos.”

    Ouvindo isso, Theodora e os demais pareciam entender o que o rapaz queria dizer. Se quisessem passar pela missão de Trucidação com mais facilidade, ter pessoas fortes além dos Comandantes, seriam algo essencial.

    Ao mesmo tempo, todos notaram algo. Se Fernando estava indicando o homem para essa posição e disse que ele seria um ‘Tenente Combatente’ enquanto fossem um Batalhão, significava que ele tinha ao menos a força de um Tenente! Ao perceberem isso, seus olhares em direção ao gigante imediatamente mudaram.

    Vendo a mudança de atitude de todos em relação a Alastor, o jovem Tenente assentiu, satisfeito.

    Ao lado, o próprio gigante teve uma mudança de expressão ao ouvir tudo.

    Esse cara, ele realmente planeja aplicar para uma missão de Trucidação em três meses? Ele é louco? pensou, estarrecido.

    Apesar de saber que o rapaz pálido era alguém realmente forte, pelo embate que tiveram na prisão, ele estava muito aquém da força necessária para estabelecer uma Brigada. Somente Tenentes que estavam a um passo de se tornarem Capitães, ou aqueles que já tinham tal força, deveriam ser capazes de assumir tal tipo de missão.

    Vendo que o assunto do sujeito gigante estava resolvido, Fernando rapidamente mudou o tópico.

    “Alastor, você disse que tem uma forma de identificar pessoas ‘desonestas’. Como exatamente você faria isso? Você algum tipo de método?” perguntou, com alguma curiosidade. Logo todos focaram nele, inclusive Theodora, que ainda não parecia contente com a presença do homem ali.

    Sendo questionado, o sujeito alto e magro não se importou com os olhares e opiniões.

    “Não há método algum.” afirmou de forma desleixada, o que deixou todos surpresos. “Eu apenas sei se alguém é um cretino ou não.”

    A expressão de todos mudou com isso, a aparente falta de confiança estava presente em seus olhares. Mesmo Fernando não pôde deixar de pensar o mesmo.

    “Bem… Vamos deixar esse assunto de lado por enquanto.” O jovem Tenente falou, sem querer constranger o sujeito. “Quanto a questão de recrutamento, vocês já têm alguma noção de quantas pessoas precisamos para reformar os Pelotões em desfalque?”

    Theodora assentiu ao ouvir isso.

    “Pelo relatório da Maga de Cura Anastasia, tivemos alguns indivíduos incapacitados ou que precisarão de próteses, mas mesmo assim ainda temos cerca de 300 homens nos Pelotões. Precisaremos de um pouco mais de 200 para reformar os Esquadrões e Pelotões em desfalque. Isso é claro, caso não tenhamos que nos preocupar em recriar as Tropas de Reserva ou fazer adições a Unidade de Logística.”

    Ouvindo isso, Fernando assentiu. Com os cerca de 900 candidatos, mesmo que fizessem uma seleção rigorosa ainda tinham números mais que suficientes para as vagas necessárias. Logo o rapaz olhou na direção do velho Subtenente.

    “Senhor Damon, o que acha? Precisarão de mais mão de obra?”

    O homem de cabelos brancos ficou pensativo.

    “Atualmente temos 55 pessoas na Unidade de Logística. Se considerarmos um Batalhão completo com 500 Soldados, teremos em torno de um membro da Unidade para cada 10 Soldados, isso é mais que suficiente para atender as demandas com alimentação e outros afazeres. No entanto, se tivermos números maiores que isso, provavelmente precisarei de mais alguns pares extras de mãos e pernas. Mas se os custos extrapolarem o orçamento podemos de alguma forma conseguir de lidar com isso com o pessoal que temos.”

    Mesmo que a Unidade de Logística tornasse a vida dos Soldados extremamente prática, não era algo realmente vital para o funcionamento do Batalhão e gerava um excedente de custos que não era subsidiado pela Legião. Sendo assim, qualquer expansão deveria ser cuidadosamente analisada, já que não poderiam simplesmente mandar as pessoas embora no futuro após recrutá-las.

    Fernando concordou ao ouvir isso, achando legítimas as preocupações do velho Sargento. Mesmo que tivessem alguns fundos atualmente, deveriam se preocupar com a manutenção do Batalhão no longo prazo.

    Ao mesmo tempo, o jovem Tenente ficou contente com a honestidade de Damon. Mesmo que manter menos pessoas na Unidade de Logística diminuísse sua influência dentro do Batalhão Zero, o homem não hesitou em ser franco quanto à situação.

    “Tudo bem. Por enquanto não iremos nos preocupar com isso. Seja a Unidade de Logística ou as Tropas de Reserva, só pensaremos em preenchê-las caso tenhamos um excedente de pessoas qualificadas para as Tropas Principais.” declarou. Então, o jovem Tenente lembrou-se de algo. “Eu esqueci de mencionar isso, mas além do senhor Alastor, também recebemos algumas tropas transferidas pelo General Dimitri. Serão cerca de dois Esquadrões e estarão se apresentando pela manhã, então levem isso em consideração e façam os preparativos necessários.”

    Theodora, Thom e os demais ficaram surpresos com isso, já que estavam aguardando por novas tropas há um longo tempo.

    “Teria sido mais conveniente se recebêssemos isso antes de abrirmos o recrutamento…” Gabriel falou, parecendo insatisfeito.

    “Não há o que fazer, pelo que soube, o General Dimitri também está enfrentando problemas com mão de obra.” Theodora comentou. “Além disso, esse problema não é um caso isolado. Muitas outras tropas estão tendo a mesma dificuldade. Por isso casos como dos Tenentes Nomeados batendo na nossa porta provavelmente se repetirão no futuro.”

    Quando a mulher teve que lidar com as transações com outras tropas, comprando seus Cristais, acabou aproveitando a oportunidade para adquirir alguns contatos. Além disso, é claro, de frequentemente representar Fernando em encontros com Tenentes e Subtenentes.

    Mesmo que alguns deles estivessem relutantes em se relacionar com o Batalhão Zero, devido a sua má fama depois da destruição da Guilda Fúria e da prisão de Fernando, muitos mantinham algum contato com Theodora para terem uma ponte de diálogo. Então a mulher não era totalmente ignorante quanto à situação de outros Tenentes e Capitães.

    Enquanto Fernando ouvia tudo, uma mensagem da Tesoureira Lina chegou em seu Cubo Comunicador. Ao ver o conteúdo, sua expressão mudou.

    Finalmente está aqui! pensou, animado.

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