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    Suzano conduzia o Corcel Sem Rédeas pelas ruas pavimentadas da Cidade dos Corajosos, rumo à imensa muralha de ferro que dominava o horizonte e, à distância, parecia tocar as nuvens.

    Pela janela direita da carruagem, Cassian observava o movimento vibrante das ruas. As pessoas caminhavam em fluxo constante, divididas em duas direções: ao norte e ao sul.

    Os que seguiam para o norte, na mesma direção do grupo dos príncipes, exibiam passos firmes, mas a mana que os envolvia tremulava em tons de medo e ansiedade contida. Cassian percebeu isso facilmente e, nos que não possuíam mana, essa inquietude se via nos olhos, vidrados na distante Muralha de Ferro.

    Eram, certamente, os aspirantes à ascensão, sonhadores que viam naquela muralha o limite entre o que eram e o que poderiam ser.

    Helick, por sua vez, observava os que iam para o sul. Suas manas eram mais fracas, mas suas posturas denunciavam confiança, até soberba em alguns casos. Ele percebeu rapidamente: eram os que iam assistir aos combates na Arena dos Corajosos.

    Rhyssara estava sentada junto aos príncipes e aos soldados na parte de trás do CSR, já que Kadia os acompanhou dessa vez e sentava ao lado de Suzano. O olhar rápido e analítico de Rhyssara correu sobre os príncipes e percebeu no que eles tanto olhavam do lado de fora.

    — Perceberam o contraste dessas pessoas? — Ela perguntou, curiosa para saber a resposta que eles dariam.

    Cassian foi o primeiro a falar:

    — Sim. — Ele riu, mas uma risada nervosa. — Chega a ser engraçado.

    Tály que parecia não entender sobre o que eles falavam perguntou:

    — O que é engraçado?

    Helick respondeu pelo irmão:

    — Aqueles que estão indo para a Arena de Ferro estão receosos e nervosos. Quase com medo. E os que seguem para a Arena dos Corajosos são confiantes e é notável até um grau de soberba em seu andar.

    — E o que tem isso? — Marco perguntou.

    — Os mais fortes, os que sonham, são os que tem medo. Já os “destemidos” e soberbos são aqueles que se acomodaram e não pretendem sair do conforto de se acharem superiores aqueles a baixo deles. — Helick concluiu.

    — E esse espírito parasita está a se espalhar por cada uma das muralhas. — Rhyssara pontuou, seu olhar se tornando severo. — Não vou deixar que isso se alastre nem mais um dia sequer. Hoje, vocês enfrentarão guerreiros soberbos e narcisistas que dominam o topo da cadeia alimentar na Cidade de Ferro. Em teoria, é para cada um de vocês perderem os combates que escolhi, mas depois dessa semana de treinamento intensivo, acredito que descobrirão os caminhos corretos para vencerem.

    — Então no final, acabamos contribuindo para Ossuia se seguirmos com nossa missão, não é? — Redgar pontuou.

    — Mas é claro. — Morgan sorriu em resposta. — Não acham que faríamos todo aquele esforço para fortalecer os soldados de um reino rival sem ganhar nada em troca, né?

    A luz do sol que brilhava naquele dia foi tapada quando se aproximaram da imponente Muralha de Ferro.

    — Chegamos. — Suzano disse.

    Os príncipes olharam ansiosos para frente e viram várias tendas e lojas em casas nas proximidades da arena.

    A Arena de Ferro, no entanto, era um espetáculo à parte. Não se erguia sobre o solo. Ela se abria nele. Uma imensa fissura cortava o chão diante da Muralha de Ferro, como se a própria terra tivesse sido dilacerada para revelar o coração metálico de Ossuia.

    Do abismo profundo, colunas de vapor subiam entre as plataformas sobrepostas que se erguiam em camadas, cada uma sustentada por correntes grossas do tamanho do Corcel Sem Rédeas de Suzano. As correntes rangiam, estalando sob o peso das estruturas titânicas.

    Cada plataforma possuía seu próprio mundo: em uma delas, ventos cortantes sopravam sobre picos cobertos de gelo e nevasca; em outra, o brilho alaranjado do magma escorria pelas bordas de um vulcão ativo, o ar quente tremulando como véus de fogo. Um pouco acima, uma floresta densa e enevoada se movia com vida própria, folhas farfalhando ao som de criaturas invisíveis.

    O ar era denso, carregado de cheiro de ferro queimado e óleo antigo. O som das engrenagens que moviam as plataformas misturava-se ao eco de trovões distantes e ao rugido abafado da multidão que já aguardava dentro.

    No nível mais alto, a luz refletia na superfície polida da Muralha de Ferro, onde um portão monumental marcava o limite entre a arena e a passagem para os que ascendessem, ou ousassem sobreviver.

    Era mais do que uma construção. Era uma prova viva do orgulho ossuiano: a fusão entre tecnologia, arquitetura e magia em um só organismo de metal e poder.

    Os olhos de todos os lyberianos no CSR brilharam, refletindo o mesmo espanto. Era como se presenciassem algo que desafiava o próprio senso de realidade. Era absurdo, inacreditável, impossível de se compreender mesmo vendo.

    — O que é isso?… Como é possível? — Redgar murmurou, sem tirar os olhos da colossal  construção à baixo.

    Rhyssara, com um sorriso contido e o olhar distante, respondeu:

    — O maior símbolo de progresso e harmonia que o Império de Ossuia já alcançou. Cada plataforma suspensa depende de um equilíbrio perfeito de arquitetura. O peso é distribuído entre as correntes e o solo abaixo, como se toda a estrutura respirasse como um só.

    Ela fez uma breve pausa, observando as colunas de vapor que subiam do abismo.

    — E há mais… — continuou. — Uma magia usada há mais de oito séculos ainda pulsa no núcleo de cada plataforma, mantida viva por catalisadores de mana feitos de diamantes negros desenvolvidos pelo Departamento de Pesquisa e Estratégia da Cidade de Ferro para sustentar o que o tempo deveria ter apagado.

    O som distante das engrenagens ecoou, grave e constante, como o batimento de um coração metálico que jamais deixou de pulsar.

    Os olhos de Helick brilhavam diante do ápice do conhecimento humano — a síntese perfeita entre engenho, técnica e ousadia.

    — Que absurdo… — murmurou, um sorriso largo surgindo em meio ao espanto. — Estou incrivelmente animado de repente!

    A empolgação do príncipe foi interrompida quando Suzano freou o Corcel Sem Rédeas.

    — É aqui que nos despedimos, meus caros. — Disse ele, acionando um comando no painel. As portas traseiras se abriram com um leve som pneumático.

    Cassian por um instante pareceu esquecer que o anfitrião não seguiria com eles.

    — Obrigado pela hospitalidade, senhor Suzano. E a você também, senhorita Kadia. — Helick inclinou-se numa breve reverência antes de sair do veículo.

    Os demais repetiram o gesto, até mesmo Rhyssara.

    — Estaremos nas arquibancadas torcendo por vocês. — respondeu Kadia com um sorriso sincero. — Boa sorte.

    O CSR se afastou pela estrada, o ronco metálico de seu motor ecoando até sumir no ar.

    — Por aqui. — disse Rhyssara, retomando a liderança.

    Eles seguiram entre as tendas e lojas que vendiam salgados, doces, bebidas e roupas com estampas das colossais plataformas, algo inédito aos olhos dos lyberianos, acostumados apenas a símbolos de reinos e brasões.

    O burburinho do povo crescia a cada passo até que, finalmente, ficaram diante de um grande elevador protegido por dois guardas, um empunhando um ARGUEM, o outro, um ARGENTEC.

    — Aqui é a passagem que leva à sala dos desafiantes. — explicou um deles. — Ao passarem pelo arco do elevador, o Livro de Desafios escaneará suas manas e presenças. Se forem reconhecidos como desafiantes legítimos, serão conduzidos às câmaras de espera.

    Sem olhar para trás, Helick, Cassian, Tály, Redgar, Marco, Morgan e Rhyssara atravessaram o arco.

    O som do mecanismo ativando ecoou pelo corredor, um zumbido metálico que parecia anunciar o início de algo muito maior que uma simples batalha.

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