Capítulo 2334 - Amarga Solidão
Enquanto Sunny trabalhava, Kai permaneceu em silêncio por um tempo, descansando. Não parecia estar pronto para dormir, e não havia realmente nada para fazer naquele vulcão árido. O charmoso arqueiro olhou para as muralhas da fortaleza em ruínas por um instante — ou melhor, através delas. Ele provavelmente observava os inimigos.
As Vespas de Cristal restantes, o verme da neve, o gigante mecânico…
“Pare de ficar olhando para as assustadoras Criaturas do Pesadelo, Kai. Isso só vai te dar mais trabalho, não vai te ajudar a se recuperar.”
Kai lentamente desviou o olhar do horror que observava e se concentrou em Sunny. Por fim, perguntou:
“Essa é uma forma estranha de feitiçaria. Acho que nunca vi ninguém encantar algo dessa maneira antes.”
Sunny assentiu.
“Acho que não existe mais ninguém no mundo capaz de realizar esse tipo de feitiçaria. Sou o único.”
Kai precisava ter uma ideia de quais eram suas Habilidades de Aspecto. Assim, ele saberia que criar Memórias era uma habilidade que Sunny aprendeu, não uma Habilidade dada pelo Feitiço. O charmoso arqueiro olhou para ele com interesse.
“Como você aprendeu isso?”
Sunny respondeu sem olhar para cima, suas seis mãos formando a trama mágica dentro do arco negro, um fio de essência sombria de cada vez. “Ah. Um dos meus Atributos me permite ver a trama mágica das Memórias, enquanto outro me permite tocá-la. Uma vez… eu estava em uma situação bem desesperadora. Então, descobri como criar uma Memória rudimentar para escapar dela.”
Ele sorriu fracamente.
“Depois, foi só muita pesquisa, estudo e experimentação. Aos poucos, aprendi a fazer mais, observando o que o Feitiço faz.”
Ele olhou brevemente para Kai.
“E você? Parece ser perfeitamente adequado para a Modelagem, com esse seu Aspecto. Não tentou dominá-la?”
Kai riu baixinho.
“Ah… eu tentei. Mas parece que sou um caso especial. Algumas pessoas têm talento para Moldar, enquanto outras não. O que eu tenho, no entanto, é um talento negativo.”
Sunny levantou uma sobrancelha.
“Como assim?”
Kai deu de ombros com um sorriso. “Por causa do meu Aspecto, os Nomes Verdadeiros que invoco são extremamente poderosos. Em troca, porém, é especialmente difícil para mim dominá-los… Lady Nephis acredita que essa é a maneira de o mundo equilibrar as coisas.”
Ele suspirou.
“Eu nem consigo pronunciar os Nomes como humano — pelo menos não ainda. Consigo invocá-los com bastante facilidade como dragão, quase como se a boca de um dragão fosse feita para dizê-los. Mas não adianta nada, na verdade, já que mal consigo manter os Nomes na mente. Mesmo depois de anos de esforço, só dominei alguns poucos.”
Sunny refletiu sobre suas palavras por alguns segundos. “Não acredito que alguém como você não deva ser um Moldador. Talvez você ainda não tenha atingido o requisito para dominar a Feitiçaria dos Nomes. As coisas provavelmente mudarão drasticamente quando você atingir um Nível mais alto. Ou então… pode estar conectado ao seu Legado de Aspecto. Ou não. Você ainda não o recebeu, recebeu?”
Kai balançou a cabeça.
“Não. Mas não vejo como um Legado de Aspecto pode me ajudar a me tornar um feiticeiro melhor. Relíquias de Legado geralmente não são apenas Memórias poderosas?”
Sunny deu uma risadinha.
“Normalmente sim. Mas nem sempre. Ah, e tecnicamente, Relíquias de Legado não precisam ser poderosas — elas só precisam complementar bastante o seu Aspecto.”
Ele apontou para si mesmo com um dos seus quarenta e dois dedos.
“Veja eu, por exemplo. Meu Legado de Aspecto é, na verdade, uma espécie de… conjunto de habilidades. Eu o desenvolvi sozinho, mas o Feitiço me ajudou a dar o primeiro passo — ou melhor, a ir mais rápido. Ele também costumava me recompensar com Relíquias quando eu alcançava certos marcos. E tem o de Nephis, cujo Legado de Aspecto se baseia na compreensão, e que é recompensada por isso com nada além de conhecimento.”
Ele voltou a tecer os fios da essência das sombras.
“Então, embora a maioria dos Legados de Aspectos sejam de fato Memórias, ou mais raramente Ecos, nem todos eles são.”
Eles permaneceram em silêncio por um tempo. Em dado momento, porém, Kai o observou com uma expressão neutra e perguntou, hesitante:
“Sunny… posso te perguntar uma coisa?”
Sunny assentiu enquanto mantinha o foco no golpe negro. Kai hesitou por alguns segundos.
“Antes… você me disse que minha sobrevivência dependeria dos meus companheiros, enquanto a sobrevivência deles dependeria de mim. Que ninguém sobrevive sozinho no Reino dos Sonhos.”
Sunny levantou uma sobrancelha.
“Sim…”
Kai permaneceu ali por um tempo.
“Mas você estava vivendo na Sepultura dos Deuses, completamente sozinho, quando nos conhecemos. Um santo solitário, completamente sozinho no mundo. Você… você falou por experiência própria, ou foi simplesmente sabedoria popular?”
Sunny sorriu fracamente.
Um Santo… um Santo era alguém que havia desbravado o Reino dos Sonhos e conquistado três Pesadelos. Até onde Sunny sabia, havia apenas uma pessoa que havia conquistado o Terceiro Pesadelo sozinha — a Princesa da Guerra, Morgan de Valor.
Kai parecia curioso sobre sua solidão anterior. Ele suspirou.
“Falei por experiência própria. Eu também tive alguém em quem confiar no passado. Tive companheiros.”
“Você era um deles, idiota.”
Kai olhou para ele com tristeza, sem dizer nada… e, ainda assim, parecia que queria que Sunny dissesse mais. Sunny riu baixinho.
“Bem, não terminou bem.”
Ele pegou mais um fragmento de alma e o colocou na trama, ancorando cuidadosamente inúmeras cordas de essência nele.
“Não terminou bem porque traí meus companheiros e os perdi. Quero dizer que tive um bom motivo para abandoná-los… talvez tenha tido… mas, no fim das contas, foi um motivo egoísta. Sou uma pessoa muito egoísta, Kai. Sou uma pessoa muito gananciosa também. Minha ganância e egoísmo foram minha ruína.”
O que teria acontecido se Sunny tivesse ficado com seu grupo e enfrentado a Primeira Procuradora com eles? Se ele tivesse feito um pedido diferente? Teria sido para o bem? Ou teria passado o resto de seus dias vivendo em arrependimento? Teria cometido um erro imperdoável? Ele não sabia.
Ele sabia, porém, que lamentava amargamente a perda dos seus companheiros. Em certos dias, era amargo demais para suportar.
Kai balançou a cabeça lentamente.
“Você não parece alguém insatisfeito, Sunny.”
Havia alguma verdade nisso, afinal, Sunny era um Soberano.
Ele olhou para Kai e sorriu.
“As aparências enganam.”

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