Capítulo 2344 - Natureza da Besta
Faltavam poucos minutos para o pôr do sol.
Sunny, Kai e Caçadora estavam na encosta do vulcão, esperando que as pontes de obsidiana atravessassem a vasta divisão entre eles e a montanha onde o Verme da Neve estava à espreita. Sunny estava calmo, enquanto Caçadora estava com a mesma maldade de sempre. Kai, no entanto, parecia preocupado.
Observando-o contar suas flechas pela décima vez, Sunny suspirou.
“Aquele verme é uma Besta. O que significa que é enorme, forte — e burro. Lidar com uma besta burra não é tão difícil… no entanto, ele também é do Nível Amaldiçoado. O que significa que é um deus inferior. Eu sei que você é especialista em matar dragões, Kai, mas você já matou um deus?”
O charmoso arqueiro balançou a cabeça lentamente.
“Não. Você já?”
Sunny riu. “Na verdade, não. Mas eu matei um deus morto uma vez.”
Kai respirou fundo, o que fez Sunny sorrir.
“Era um deus menor, e o Reino das Sombras fez a maior parte do trabalho. Eu só dei o golpe final.” Ele parou por um momento e então deu de ombros.
“Ainda não matei nenhuma Besta Amaldiçoada, mas em circunstâncias normais, não teria sido um problema tão grande. Infelizmente, estou gravemente enfraquecido pelas circunstâncias atuais. Então, teremos que nos esforçar bastante hoje. Se não matarmos aquela coisa antes do anoitecer, provavelmente morreremos.”
Eles não precisavam simplesmente matar o Verme da Neve — precisavam matá-lo antes que o sol desaparecesse no horizonte. Se não conseguissem matar a Besta Amaldiçoada a tempo, teriam que recuar para o vulcão. E se recuassem, as três Abominações da Neve os atacariam ao amanhecer — duas Bestas Amaldiçoadas e um Diabo de Nível desconhecido. A derrota não era garantida, mas Sunny não considerava altas as chances de repelir as três criaturas de pesadelo.
Ele sorriu. “Mas já vi o bom e velho Anvil lutar contra um Tirano Amaldiçoado uma vez. Então, eu sei uma coisa ou duas sobre lutar contra deuses.” Sunny refletiu sobre suas palavras por um momento.
“Lutar contra um deus, inferior ou não, é diferente de lutar contra qualquer outra Criatura do Pesadelo. Isso porque os deuses existem fora dos limites das leis absolutas que governam toda a existência. Eles não estão livres delas, mas… digamos apenas que têm mais liberdade para interpretar como essas leis funcionam, conforme aplicadas a eles. O que quero dizer é que a existência de divindades, do ponto de vista de nós, mortais, é inerentemente irracional.”
Ele balançou a cabeça.
“Isso… é um longo caminho para dizer que quando enfrentamos o Verme da Neve, você não deve se surpreender quando coisas estranhas começarem a acontecer.”
Kai riu baixinho.
“Coisas estranhas? Ah, acho que desenvolvi uma alta tolerância a esquisitices… depois de passar um tempo com você, quero dizer. Acho que você é mesmo um semideus, Sunny! Em mais de um sentido.”
Sunny lançou-lhe um olhar distraído. “Hã? O que você quer dizer? Eu, estranho?”
Kai piscou algumas vezes. “Esqueça o que eu disse.” Ele permaneceu em silêncio por um instante, depois falou novamente:
“Mas estou curioso. Você e Nephis… vocês querem se tornar Sagrados, não é?”
Sunny ficou um pouco surpreso com a pergunta. Ele deu de ombros. “Não tenho certeza se é algo que queremos. Na verdade, é um meio para um fim. É algo que temos que fazer.”
Kai sorriu. “Isso não significa que, em breve, você também se tornará inerentemente irracional? Não tem medo?”
Sunny coçou a nuca. “Bem. Nunca pensei nessa questão desse ponto de vista antes.”
Ele hesitou.
“Mas… sim. Estou com um pouco de medo. Na verdade, estou com muito medo. Do que vou me tornar e do que não serei mais.”
Ele permaneceu em silêncio por um tempo, depois deu de ombros. “Mas eu tenho alguma experiência com isso. Tornar-me algo novo e deixar um pouco de mim para trás, quero dizer. Não sei se devo dizer isso, mas… você sabia? Na verdade…”
Sunny olhou para Kai sombriamente. “Você pode não acreditar, mas eu nem sempre fui tão bonito.”
Kai olhou para ele. “Uh…”
Sunny assentiu solenemente. “De fato. Sei que é difícil de acreditar, mas se alguém consegue, é você. Afinal, você sente quando as pessoas mentem.”
Kai pigarreou. “Entendo. Então… me corrija se eu estiver errado… mas você está dizendo que se tornar atraente é uma mudança da mesma magnitude que um mortal se tornando um deus?”
Sunny olhou para ele com indignação. ‘Definitivamente não! Esse desgraçado!’
Mas pelo menos Kai não estava mais contando suas flechas. Em vez disso, balançou a cabeça e riu baixinho.
“Por mais que isso valha, duvido que você deixe muito de si para trás, mesmo que se torne uma divindade, Sunny. Não sei bem como descrever, mas… você parece alguém que sempre será o mesmo, não importa as circunstâncias.”
Sunny sorriu. Então, franziu a testa. “Você está, por acaso, insinuando que eu já sou tão estranho que ficar ainda mais estranho será impossível?”
Kai tossiu. “Não, claro que não! Eu definitivamente… não estava insinuando que…”
Sunny sorriu. “Ótimo, ótimo. Porque se você tivesse… eu ia encarar isso como um desafio.”
Nesse momento, o sol finalmente tocou o horizonte, e o vulcão onde estavam cuspiu uma nuvem ondulante de cinzas. Logo, uma ponte de obsidiana brilhante conectava a encosta cinzenta à montanha distante, brilhando sob o brilho escarlate do sol poente.
Sunny sorriu. “Vamos logo. Você sabe o que dizem… quem cedo madruga pega a minhoca!”
Ele pulou para a superfície da ponte, completamente horrorizado consigo mesmo. ‘Deuses… o que diabos eu acabei de dizer? Eu disse mesmo isso? Quem acorda cedo pega a minhoca?!’
Parecia que conviver tanto com Kai depois de tanto tempo privado da companhia do charmoso arqueiro estava tendo um impacto negativo em sua sanidade. Aquela piada era verdadeiramente imperdoavelmente terrível, digna de ser dita por aquele velho tolo desprezível, Jest. A última coisa que Sunny queria era se parecer com Jest de qualquer forma.
Gemendo por dentro, ele avançou. Precisava matar uma Besta Amaldiçoada, e precisava matá-la rapidamente.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.